(Carlos Marques, 20/06/2022)

(Este texto resulta da resposta a:
1) um comentário a um artigo que publicámos de António Jorge, ver aqui.
2) um comentário a um artigo que publicámos de Carlos Matos Gomes, ver aqui.
Perante tanta verdade junta, resolvi dar-lhe o destaque que, penso, merece.
Estátua de Sal, 20/06/2022)
Ver comentário de André Campos Campos ao 1º Artigo aqui.
Resposta 1
«Teremos um França ingovernável e com uma guerra civil à porta com os aumentos dos combustíveis e escassez de quase tudo»
Não, o que temos finalmente é um pequeno vislumbre de representatividade democrática no regime NÃO-representativo da 5ª República.
Os macronistas deviam ter vergonha na cara de obter maiorias só com 25% dos votos. E mesmo hoje, deviam ter vergonha de ficar com mais de 200 deputados, ao mesmo tempo que a NUPES fica com mais ou menos 150, numas eleições em que o nº de votos é semelhante para ambos.
Isto dos círculos uninominais, do bipartidarismo forçado, da NÃO-proporcionalidade, só agrada a quem não gosta da Democracia. Tipo António Costa (adepto de Macron, e do Pinochetismo em geral) que tem também uma “maioria” à francesa: só com 41% dos votos, só de 21% dos eleitores.
A candidata a Primeira-ministra, em vez de pedir desculpa pela governação que tantos franceses prejudica e levou a este cartão amarelo, em vez de prometer uma reforma eleitoral que torne a França numa Democracia representativa de facto, preferiu fazer estas declarações: “estes resultados são um perigo”
Esta gente, estas “elites”, esta oligarquia de Davos e Bruxelas, não tem mesmo noção nenhuma, pois não?
Quanto ao “ingovernável”, vamos ver. Sendo o Pinochetismo/Neoliberalismo uma coisa tão de Direita na economia, e sendo a economia o que interessa (“it´s the economy, stupid”), obviamente o que veremos é o Macron a formar um governo minoritário (a mandar a Esquerda às urtigas como A. Costa desde 2019), em que todos os ataques aos trabalhadores, pensionistas, consumidores, e Estado Social, serão feito com uma “abstenção violenta” do Partido Republicano (que já agora antecipo que será a última vez que terá um grupo parlamentar com poderes de voto plenos naquele sistema, ou seja, a última vez que terá mais de 60 deputados).
Se a NUPES (Mélenchon, os Comunistas, os “Socialistas”, e os Verdes) jogarem a sua cartada como devem: intransigência que obrigue os Pinochetistas a depender da abstenção dos Republicanos, e a NUPES se mostrar do lado do povo, vai ser uma legislatura interessante de acompanhar, e de saber se chega ao fim.
Até lá, a NUPES tem também de colocar uma reforma eleitoral no topo das prioridades, que isto de ter +50% de abstenção (devido ao descontentamento contra o sistema político e económico), e de chegar ao poder com +40% dos deputados quando só se teve 25% dos votos na primeira volta, é tudo menos democrático e legítimo. Nem no pior momento do regime de Maduro na Venezuela se chegou a uma vergonha destas.
Basicamente, teremos em França agora o cenário de Portugal após as legislativas de 2019, mas com uma grande diferença: um povo bem menos manso e menos ignorante do que o povo que deu a “maioria” aos cangalheiros do SNS… É que em Portugal o PS pode votar 99% das vezes ao lado da Direita (Pinochetistas da IL e Fascistas do Chega incluídos), que o seu eleitorado cego e ignorante continua nas eleições a abanar bandeiras vermelhas com um punho e a gritar “Socialista”. Mas em França, não. Se os Macronistas passarem, como é expectável, a legislatura a votar ao lado dos Republicanos, cairá a ilusão do “Centrismo” ou do “ex-Ministro do PS”.
Ora, é mesmo esse o contexto (aliado a esta derrota história de um Presidente neste sistema eleitoral NÃO representativo) que, espero eu, seja o que a Esquerda precisava para ser a favorita nas próximas eleições, que dificilmente serão daqui a 5 anos, mas sim mais cedo.
Outro pormenor interessante: mesmo sem ser um sistema proporcional, por pouco que não havia uma maioria de deputados críticos da NATO (NUPES + Le Pen). Em termos de votos, anda na casa dos 55% versus 45% (pró-NATO versus críticos da NATO). E isto numa conjuntura em que Macron falou da morte cerebral do bicho, e propôs o tal exército europeu alternativo, ou seja, não é sequer líquido que todos no lado dos 55% sejam assim tão adeptos da atual ocupação (e desestabilização) da Europa por parte de exércitos americanos. E esta, hein?
Ver comentário de André Campos Campos ao 2º Artigo aqui.
Resposta 2
«A europa é como um grande navio! Mas quando a tripulação não fala a mesma língua, torna-se difícil pilotar.»
No mar não se “pilota”, navega-se. 😉
Mas a imagem por si descrita está certa. Aliás, o cinema já previu isto há mais de 20 anos atrás. Lembra-se do quarteto a tocar no Titanic a afundar? Foi essa a imagem que me veio à cabeça ao ver esta foto e o seu comentário. Obviamente o Zelensky é o que toca o violino…
(ou então, visto que há um italiano envolvido, isto é o Costa Concórdia, e Draghi faz o papel do Capitão Schettino)
E pior, vai ser um Inverno com muitos Jack a morrer e frio, e muitas Rose a ter a sua vida dependente de um pedaço de madeira, neste caso para se aquecerem na lareira…
Por falar nisso, esta falta de gás no Nordstream 1 é anedótica: a Europa até tinha “planeado” (não se pode usar este verbo perante a idiotice, daí as aspas) encher as reservas de gás agora no Verão, para mais tarde fazer frente ao Inverno mais descansada. Mas eis que os aparelhos da Siemens precisaram de reparação, a Gazprom enviou-os para o Canada pois a Siemens não as repara na Alemanha (a globalização é engraçada…) e agora a empresa de reparação da Siemens no Canadá, devido às sanções, não pode enviar a coisa para a Alemanha, porque é para uma empresa russa (Gazprom).
Mas há ainda mais uma anedota sobre esta mesma história: os governos da Alemanha e Canadá estão neste momento em discussões para saber como se ajudarem mutuamente a ultrapassar as sanções que os próprios impuseram. Caso contrário a empresa canadiana não será paga pelo trabalho, e a Alemanha fica sem o gás, e congelará no Inverno… São uns autênticos génios, estes líderes ocidentais.
Entretanto, como anunciado no SPIEF, a Rússia bate records de vendas de gás (e petróleo, e carvão, etc.) aos países amigáveis. E mesmo fazendo descontos (em relação aos preços inflacionados nos mercados), está a lucrar como nunca, e em rublos cheios de resiliência. E os responsáveis já disseram: a Rússia não voltará atrás. O que deixar de vir para a Europa, acabou, nunca mais voltará.
E mais uma anedota: um dia os 3 estarolas foram a Kiev convidar aquela ditadura a entrar na UE. Uns dias depois o Boris foi também a Kiev, mas desta vez para convidar o regime de Kiev a sair da UE. Vamos ver para que lado se vira o Zelensky.
Ah, e lembrei-me agora, parece que o Dmitry Medvedev também sabe contar anedotas. Disse qualquer coisa assim: a Ucrânia só recebeu promessas, e se chegar a entrar na UE, não será antes do meio deste século (como anteciparam Costa e Macron: décadas). O que torna a coisa mais complicada é que por essa altura a UE já não existirá, logo a Ucrânia entra onde?
E por fim, a anedota que nos governa a todos no Império das Mentiras, um homem que mal se aguenta em pé, que começa uma frase e a meio se esquece do que ia dizer, foi dar uma volta de bicicleta e deu um trambolhão. É a analogia perfeita sobre a situação do Ocidente. “Fast & Furious”, chamou-lhe a RT. Ah Ah Ah Ah. Ver vídeo aqui.
PS: Se eu colocasse o link https://t.me/intelslava/31490 a partir da internet da Moldávia, devido à mais recente decisão PIDEsca da Presidente Maia Sandu (mais uma Saakashvili ou Zelensky à espera de acontecer a propósito da Transnístria…), estaria a cometer um crime. Diz que é a “liberdade de expressão” da “democracia liberal”…