Deviam ter-se habituado

(Pacheco Pereira, in Público, 31/12/2022)

Pacheco Pereira

Há algum exagero e uma ecologia venenosa de crítica à governação que vem mais da nova comunicação social da direita do que da oposição, mas sobra, mesmo assim, uma série de erros consideráveis.


O pior que se pode dizer de um governo no Portugal democrático é que é parecido com o de Santana Lopes. Este paralelo é excessivo, mas o próprio facto de ter sido feito revela até que ponto o actual Governo do PS presidido por António Costa atingiu um grau de desagregação nestes dias que permite a infâmia da comparação. Sejamos justos, há algum exagero, e uma ecologia venenosa de crítica à governação, sem paralelo nas últimas décadas, que vem mais da nova comunicação social da direita do que dos partidos da oposição que vão a reboque, mas, pesando tudo, sobra mesmo assim uma série de erros e asneiras consideráveis, e que não são conjunturais.

É esse aspecto estrutural que me interessa, porque ele não é específico do PS, nem de António Costa, mas sim do estado da política em Portugal – se fosse outro partido a governar em tempo contínuo há quase uma década, o mesmo tipo de desagregação aconteceria. Ou talvez não, porque a ecologia política à direita e à esquerda não é a mesma.

O pessoal dos partidos é hoje muito semelhante, e portanto existe uma parecença profunda no tipo de trapalhadas que o currículo desse pessoal origina, mas o envolvimento do poder político não é o mesmo à esquerda e à direita. Os problemas de nepotismo, carreirismo, amiguismo, separação do sucesso político dentro dos partidos do prestígio social e profissional, o tráfico de influências, a pequena corrupção são idênticos no PS e no PSD, mas quando se sobe no patamar dos interesses, as dependências dos partidos não são iguais.

O PS será sempre o partido de serviço, mais usado do que parte, habitando o downstairs, e o PSD era até há pouco tempo parte do upstairs, mas está a deixar de o ser. O PS era consentido no mundo dos altos interesses –​ Sócrates foi um bom exemplo –,​ o PSD tinha uma agressividade que o fazia aceitável e temido, mas esse mundo também já acabou. Os interesses continuam a ser os mesmos, só que o modus operandi evoluiu, após a queda dos Espíritos Santos.

A causa não é existir uma maioria absoluta – o que se passa hoje não tem qualquer comparação, por exemplo, com a maioria absoluta de Cavaco Silva. É um problema de 2022, que já começava a existir nos anos 90 do século passado, mas não tinha ainda esta dimensão. Querem ver uma demonstração do que estou a dizer? Vejam a composição dos grupos parlamentares e por extensão dos governos.

Repare-se como nenhum dos “casos” importantes ou triviais –​ porque do ponto de vista comunicacional essa distinção não é feita – que afectaram o Governo do PS atinge um patamar inequívoco da corrupção. São todos do mesmo tipo: incompatibilidades entre a governação e actividades de familiares, atrasos (dentro da lei) no pôr em ordem o património antes de se assumirem os cargos, escolhas por amiguismo ou partidarite, decisões levianas para o erário público também por amiguismo ou incompetência, decisões dúbias quanto aos interesses patrimoniais, muitas vezes conformes a pareceres judiciais, mas consideradas hoje inaceitáveis.

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Como, com excepção do caso muito mais mediático do que real de Pedro Nuno Santos, a maioria dos atingidos são completos desconhecidos fora dos meios socialistas, e sem carreira fora da política ou da nomeação política, é mais do que evidente que o escrutínio que devia ter sido feito quando entraram para o Governo não o foi. Os media encontraram com facilidade razões para os porem em causa, conduzirem uma campanha de alcateia, nuns casos com razão, noutros sem razão nenhuma, mas o efeito de desgaste é o mesmo. O Governo, cujos dinheiros mais mal gastos são em especialistas de comunicação social, fala tarde e mal, e acaba por estar na defesa, encurralado, decidindo igualmente tarde e mal.

Quando refiro que há um problema estrutural na governação, como no Parlamento, esse problema tem muito que ver com o modo como os partidos na nossa democracia perderam uma relação com a sociedade que não passe pelo exercício do poder. Salvo raríssimas excepções, fecharam-se ao reconhecimento e prestígio social dos seus membros e ainda menos do seu pessoal político dirigente, mostram-se incapazes de recrutar fora de si mesmos e criaram uma selva de incompatibilidades, de condições de remuneração, inaceitáveis para quem tem conhecimentos e situação profissional. O caminho para a exclusividade política é um erro da nossa democracia, bom para o carreirismo juvenil das jotas, mas mau para a qualidade da governação.

Mas tem outro efeito perverso.

Uma das consequências deste desligamento da sociedade é que, quando se recruta um tecnocrata, este tende a ser tão politicamente ignorante e incapaz que, com a sua multiplicidade de cursos de Gestão e cargos com nome em inglês, não percebe que não pode ser governante depois de ter recebido uma indemnização obscena de uma empresa suportada pelo erário público como a TAP. E os que precisam de tecnocratas disponíveis e controláveis como de pão para a boca, porque aí o pessoal partidário é inútil, e que certamente sabiam que a indemnização era tóxica, ainda não perceberam que hoje a ecologia política é ainda mais tóxica, por boas e más razões, e facilitaram.

Deviam ter-se habituado ao mundo em que vivem e não se habituaram.

O autor é colunista do PÚBLICO


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A Ucrânia proíbe o último partido político da Oposição

(In Rede Voltaire, 01/11/2022)

(Continuar a ouvir a Europa dizer que defender a Ucrânia é defender os “valores ocidentais” causa-me arrepios mentais cognitivos. A não ser que da nossa cartilha de valores conste a ilegalização e a perseguição de partidos políticos, o que me parece ser, no mínimo, absurdo.

Estátua de Sal, 02/11/2022)


O Tribunal de Apelo da Ucrânia acabou de proibir os 12 Partidos políticos da Oposição. O último era o Partido Socialista da Ucrânia.

É criticado a estas formações terem agido com respeito pelos Acordos de Minsk (2015), reconhecidos pelo Conselho de Segurança das Nações Unidas (Resolução 2202).

Em Março, o Conselho de Segurança ucraniano tinha decidido proibir estas formações. Uma lei foi aprovada pela Rada (Parlamento-ndT), em 3 de Maio, depois assinada pelo Presidente Zelensky, em 14 de maio. Como a Federação Russa decidiu intervir para proteger as vítimas das violações dos Acordos de Minsk, qualquer referência a estes Acordos é considerada como uma «alta traição».

Apenas o “oblast” da Transcarpatia (próximo da Hungria) se recusa a demitir os eleitos locais com origem nos partidos políticos proibidos.

Segundo a OTAN, a Ucrânia é uma « grande democracia » (sic).


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Tanta verdade junta mereceu publicação – take XVII

(Por Carlos Marques, 12/09/2022)


(Este texto resulta de um comentário a um artigo que publicámos de Ana Sá Lopes ver aqui. Perante tanta verdade junta, resolvi dar-lhe o destaque que, penso, merece.

Estátua de Sal, 12/09/2022)


Um comentário ao artigo foi este:

“Aos socialistas e seus encabrestadores europeus agora o que os move é o cagaço que o que se avizinha lhes faz. O resto são joguinhos de fazer de conta dentro do ps, entre o ps e o ppd e os urros da il e do chega. Está o mundo em movimento, salvo o gás e o petróleo da Rússia em direcção ao manicómio europeu.”

Em resposta este artigo considera um abuso usar o termo “socialista”, como segue abaixo.

Estátua de Sal, 12/09/2022


«Aos socialistas» – é impossível eu não me irritar sempre que vejo/ouço isso em relação aos rosas. A culpa não é de quem o escreve/diz.

Gostava de saber se é possível em Portugal um grupo de cidadãos processar o PS de forma a obrigá-lo a mudar de nome, uma vez que o próprio nome é logo a primeira mentira que esse partido conta a toda a gente. E já agora o mesmo com o PSD.

Ou então uma lei que obrigasse à descrição exata das ideologias ao lado do nome do partido, no boletim de voto, e nos documentos oficiais.

Da Esquerda para a Direita:

PCTP/MRPP – Isto é tudo um putedo! Acabou-se a esperança em 1991.

PCP/PEV – Partido da Constituição Portuguesa de preâmbulo marxista, com leninistas à mistura. à nossa direita é tudo traidor pequeno-burguês. Adeus deputada Apolónia, ficámos sem apêndice no Parlamento…

BE – Socialistas Soberanistas, com Trotskistas à mistura, sem coragem para dizer abertamente que defendem a saída do €uro. Agora as meninas também têm pilinha. À nossa direita é tudo facho.

Livre – Sociais Democratas Europeístas e Ecologistas, que abdicam de tudo a troco de pouco, por isso também não importa muito saber aquilo que dizem defender… O nosso deputado agora não gagueja.

PAN – Animalistas que votam com quem lhes der mais jeito, ora Esquerda, ora PS, ora Direita. É preciso é que se comam alfaces em vez de bifes. Andem todos a pé! A bochechuda também tem estufas, mas as dela são “verdes”.

PS – Sociais-Liberais, aka Neoliberais com algumas preocupações (simbólicas) sobre questões sociais. Fanáticos da igreja do €europeísmo. Não temos sedes partidárias, temos agências de emprego…

RiR – Eu xou analfabeto e bebo munto binho. Acho cu Tino de Rans, xim xenhôre! Deribado que, portantos, coiso. Pôum, pôum, pôum, com quêiju é munto bôum!

PPD/PSD – o mesmo que o PS, mas um pouco mais à Direita e mais Conservadores. Desde que a U€ nos exija austeridade (com os 1% de fora, claro) eles não têm críticas a tecer a Bruxelas. Ai o meu Sá Carneiro. Ai o meu Passos. Ai o meu tacho…

CDS/PP – Rest In Peace, desde que a morte não seja medicamente assistida… Amém. Se forem à feira, não se esqueçam de tirar o blazer e colocar a boina.

IL – o Pinochet de Extrema-Direita na economia, mas a meio de PS e PSD nas questões sociais. Fumar ganza enquanto se “ganha” dinheiro em cripto. Fazemos gráficos para fingir que defendemos o que existe nos países Nórdicos. à nossa esquerda é tudo xuxalistas.

Chega – no tempo do Salazar é que era bom. Sair das colónias foi um crime! Dizemos a demagogia que der mais votos em cada momento. Que é isto? Ciganos?! Vão mas é trabalhar! A nossa esquerda é tudo comunas.

PNR/Ergue-te – isto agora na Ucrânia é que se está bem. Heil Stepan Bandera! Bora lá amarrar um preto ou um esquerdalho a um poste… Afinal já somos um partido do “centro moderado” e nem tínhamos dado conta. Ou foram eles que se chegaram a nós?!

Chama-se a isto um comentário à Augusto Santos Silva sob efeito de esteroides: malhei em todos!

O manicómio Europeu é engraçado, mas olha que o Português não fica nada atrás! Eheheh


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