Os velhos hábitos

(Miguel Sousa Tavares, in Expresso, 02/06/2023)

Miguel Sousa Tavares

Talvez tenha errado o alvo ao atribuir à PJ o “vazamento” em bruto de todo o processo Tutti Frutti para a imprensa. Talvez a façanha tenha tido origem mais acima e mesmo acima do Ministério Público. Seja como for, desta vez o rol de suspeitos pela fuga é consideravelmente menor, uma vez que não há arguidos, nem advogados dos mesmos, com acesso ao processo. Com um mínimo de esforço e vontade, até agora não demonstrados, a senhora procuradora-geral está em condições de, por uma vez, chegar à origem do mal. A menos que se pense, como já vi escrito, que não são graves actos como colocar o telefone de alguém sob escuta, apreender o seu computador e devassar o seu correio electrónico, que de tal forma violam o direito constitucional à intimidade da vida privada que só podem ser cometidos mediante prévia autorização de um juiz, no âmbito de uma investigação onde existam fortes suspeitas de cometimento de um crime grave que não possa ser investigado de outra forma, mas que sirvam, afinal, não para a instrução de um processo na qual o suspeito é chamado e constituído arguido, sendo então confrontado com as suspeitas e podendo defender-se delas, mas sim para vazar tudo para a imprensa, expondo desde logo à maledicência e condenação popular quem nem sequer sabia que estava a ser investigado. Aqueles que acham que destes velhos hábitos de “investigação” não vem mal ao mundo, pois o que interessa é a “verdade”, presumida ou real, sobretudo quando ela atinge alguém com quem não simpatizamos, ou são perigosamente ingénuos ou malformados. A diferença entre o Estado de direito e o Estado dos magistrados é que, vigorando o primeiro, este controla o segundo; mas, vigorando o segundo, é este que controla o primeiro. E perceberão melhor a diferença no dia em que, inocentes e ­alheios a tudo, mas porque a vida é muitas vezes imprevisível, souberem que alguém anda a escutar as suas conversas ao telefone e alguém foi buscar o seu computador para o vasculhar de alto a baixo e expor tudo nos jornais, talvez porque entretanto entraram para a vasta categoria dos “politicamente expostos” — uma tentação para os arqueólogos da verdade e justiceiros de tablóide. Aí perceberão definitivamente a diferença entre estar protegido pela Constituição e por um “juiz das garantias” ou estar nas mãos do simples impulso de um procurador do Ministério Público e um juiz ao seu dispor.

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2 Como seria de esperar por todas as razões à vista, Recep Erdogan fez-se reeleger Presidente da Turquia por mais cinco anos. A Europa e o Ocidente antecipam agora mais cinco anos de divergên­cias e afastamento do seu círculo de influência de um membro da NATO de importância geopolítica fundamental. Vêem, e acertadamente, a Turquia de Erdogan a criar obstáculos à adesão da Suécia à NATO, a manter-se numa posição de neutralidade relativamente à guerra da Ucrânia ou a querer mediar um processo de paz (o que, para o Ocidente, equivale a ser pró-Putin), a manter relações próprias com a China, ao mesmo tempo que se afasta cada vez mais da Europa e do que chamam os valores das sociedades liberais democráticas, e, tal como a Rússia, a revelar uma nostalgia imperial que a eleva já ao nível de potência regional. Tudo verdadeiro, tudo previsível, quase tudo preocupante.

<span class="creditofoto">ILUSTRAÇÃO HUGO PINTO</span>
ILUSTRAÇÃO HUGO PINTO

Aconteceu com a Turquia o mesmo que aconteceu com a Rússia no mundo unipolar dominado pelos Estados Unidos que sucedeu ao da Guerra Fria. O Ocidente julgou poder determinar sozinho as regras do jogo à escala planetária, fundadas em princípios como o direito à autodeterminação dos povos, o comércio global, a democracia e direitos humanos para todos, etc. Mas não só os princípios enunciados variavam conforme as geografias e os amigos (o Kosovo tem direito à autodeterminação, mas a Catalunha ou a Córsega não, a democracia e os direitos humanos valem para a Rússia, mas não para a Arábia Saudita) como a própria globalização deixou de servir quando o comércio livre começou a beneficiar mais os pobres do que os ricos, para grande espanto dos liberais e dos esquerdistas. Mas, acima de tudo, tanto na Rússia como na Turquia, na China e noutros lados, o Ocidente acreditou que podia ditar as suas regras de conduta universal sem ter em conta a história de cada um, as suas divisões étnicas e diferenças sociais e religiosas. Achou que podia exigir tudo em troca de oportunidades de negócio, que, em muitos casos, como na Rússia ou na Ucrânia, foram apenas oportunidades de parcerias mistas de corrupção. Na Rússia, após a dissolução do Pacto de Varsóvia, ignorando a traumática história dos russos com a II Guerra Mundial e quebrando a solene promessa do secretário de Estado americano de então (“não avançaremos nem uma polegada para leste”), a NATO foi absorvendo novos membros, anteriormente membros do Pacto de Varsóvia, cercando e aproximando-se cada vez mais das fronteiras russas até acabar agora a vangloriar-se de ter conquistado mais mil quilómetros de fronteira com a Rússia através da adesão da Finlândia. À Turquia, membro da NATO e que há uns 15, 20 anos estava a fazer um claro esforço de modernização e aproximação à Europa, apoiada num sector militar ainda herdeiro das ­ideias de Kemal Atatürk, a ­União Europeia prometeu a adesão, mas que arrasta até hoje e que já todos perceberam que adiará eternamente. Mas, ao mesmo tempo, deu urgência ao pedido de adesão da Ucrânia, feito 20 anos mais tarde. Foi esta falta de visão estratégica do Ocidente num momento crucial para os destinos da Turquia que permitiu a Erdogan tornar-se o intérprete do caminho oposto ao da modernização e abertura à Europa, cavalgando o sentimento de despeito e humilhação com que os turcos se sentiram tratados pelo Ocidente: aliados na NATO, sim, dá-nos jeito; membros da UE, não, saía-nos caro.

O Ocidente transformou um potencial aliado, que a Rússia chegou a ser, num inimigo. A China já o é quase oficialmente e a Turquia vai pelo mesmo caminho. E ou muito me engano ou outros se vão seguir: a Índia, a África do Sul, talvez até o Brasil. É o que acontece quando velhos hábitos de pensamento, esclerosados nas mesmas universidades, os mesmos gurus e a mesma imprensa de sempre, persistem em ver o mundo segundo os seus padrões imutáveis de análise e de ética, que julgam exportáveis e eternamente aplicáveis a um mundo que deixaram de querer entender.

3 Utilizando o seu espaço de comentário da guerra da Ucrânia na SIC — verdadeiro modelo de isenção e profundidade de análise —, José Milhazes teve um contributo decisivo para o saneamento por razões políticas do russo-português Vladimir Plias­sov como professor de Língua e Cultura Russas do Centro de Estudos Russos da Universidade de Coimbra. Baseando-se apenas numa denúncia de dois “activistas ucranianos”, Milhazes deu voz e amplitude à acusação, provadamente falsa, de que Pliassov usava as aulas para fazer propaganda a favor da Rússia. Foi quanto bastou para que o reitor da Universidade, Amílcar Falcão, sem sequer ouvir o visado ou o testemunho dos seus alunos, todos desmentindo a acusação, o despedisse sumariamente por delito de opinião — que, a ter existido, seria fundamento inadmissível num país democrático; não tendo sequer existido, é simplesmente escabroso. Longe, porém, de ficar envergonhado ou arrependido com o seu contributo para tão edificante história, Milhazes voltou antes à carga. Agora atirou-se aos artistas que aceitaram participar na Festa do Avante!, acusando-os de serem coniventes com um partido que “apoia um regime de bandidos e assassinos”. Presume-se que se ele mandasse nem os artistas seriam autorizados a participar, nem haveria festa, nem mesmo o PCP estaria legalizado. Usando a sua tribuna televisiva, José Milhazes autoinvestiu-se da função de delator oficial dos “amigos de Putin e da Rússia”. Um papel que lhe assenta como uma luva, não tivesse sido ele um exilado político voluntário na Rússia soviética, onde estes eram velhos hábitos de convivência social: uma vez estalinista, para sempre estalinista. José Milhazes é para mim a demonstração viva daquilo que eu sempre pensei: a desculpa dos 20 anos para justificar passados fascistas ou estalinistas não colhe; aos 20 anos todos temos obrigação de distinguir muito bem o que é verdadeiramente essencial. O estalinismo, ainda que juvenil, não revela apenas imaturidade ideológica, mas sim um defeito de carácter.

4 Antecipando um Verão de fogos terríveis, a ­União Europeia activou a sua recente frota aérea de combate a incêndios, capaz de intervir em cada país conforme as suas necessidades: são 24 ­aviões e quatro helicópteros para toda a Europa. Cerca de um terço ou metade da “coligação de F-16”, a última exigência para a guerra que Zelensky fez e que, como de costume, irá obter dos europeus, Portugal incluí­do. Cada F-16 custa 20 vezes mais do que um dos aviões de combate a incêndios, e Portugal, que já ofereceu à Ucrânia, para a guerra, os seus helicópteros Kamov, que servi­riam para combater os incêndios, está muito satisfeito por ver cá estacionados dois ­meios aéreos da frota de incêndios europeia. É a lógica dos tempos que vivemos: tudo para a guerra, pouco ou nada para o resto.

5 Depois de tanta promoção, lá fui espreitar o “Rabo de Peixe”, a segunda produção portuguesa a ter honras de Netflix. E, tal como com a primeira, a decepção foi absoluta. Os velhos e maus hábitos do cinema português persistem, nada aparentemente se tendo aprendido com as boas experiências alheias. Uma história muito mal desenvolvida, com ligações por fazer ou sem sentido, uma incapacidade recorrente de conseguir contá-la através só dos actores, lá tendo de vir o inevitável e pré-histórico narrador, descrevendo até emoções e sentimentos dos personagens, e, por fim, claro, também o incontornável som digno dos tempos do cinema pós-mudo. Lastimável mistura entre som ambiente e som directo, inenarrável captura do som das falas, não se percebendo nada do que os actores dizem, excepto os palavrões, que, talvez para compensar, são gritados e frequentes. Caramba, como é ainda possível fazer-se tão mal? E como não há um crítico que se atreva a dizê-lo? OK, esta é a minha opinião e de quem só esforçadamente aguentou dois episódios, mas há-de haver alguém mais que pense o mesmo. Ou não: aquilo é magnífico?

Miguel Sousa Tavares escreve de acordo com a antiga ortografia

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O melhor dinheiro que já gastámos

(Hugo Dionísio, in Facebook, 30/05/2023)

Lindsay Graham, senador republicano estado-unidense volta a expor a terrível farsa e a bárbara agressão de que o nosso país é cúmplice, co-autor e entusiasta apoiante. Apenas uma pequena mão-cheia, cuja percentagem mal caberá nos dedos das mãos, dá atenção aos sinais que foram sendo dados pelos próprios promotores da farsa. Como Merkel e Hollande ou Biden, Lindsay Graham proporcionou-nos um raro momento de clarividência – para muitos deveria tornar-se numa verdadeira epifania.

Malogradamente, vivemos tempos em que a turba parece não reconhecer a verdade quando esta intermitentemente aparece. Abordar um facto isolado, não nos traz a verdade. Apenas nos dá informação. É na conjunção dos factos que constatamos a verdade. Perdidos num círculo vicioso e cada vez mais acelerado de factos dispersos, quem não se esforçar por estar atento, não identifica a verdade quando esta lhe surge à frente dos olhos.

Chega mesmo a ser doentio que, perante a intervenção de Lindsey Graham, o espectador sempre pronto a julgar os “políticos” pela sua “iniquidade”, nesta situação não adoptem o mesmo tom de condenação imperativa e irreversível. O senador americano não poderia ser mais explícito: “os russos estão a morrer”; “É o melhor dinheiro que já alguma vez gastámos”!

O discurso de Lindsay Graham apresentou mais contradições insanáveis em relação à narrativa oficial, como o “agora são livres”, como se o “ser livre” dependesse da instauração de uma ditadura civil-militar de inspiração neonazi, do derrube de um governo eleito, da negação do direito ao voto de uma parte da população e da extinção de todos os partidos políticos da oposição democrática. Mesmo quando Lindsay Graham agradece e diz, por tudo “obrigado”, também está em contradição com a realidade. Roma não agradece, tal como não se desculpa. Roma exige e pune a insubordinação. Daí que o “obrigado” do senador saiba mais a um “obrigado por te autoflagelares ao ponto de provocares o teu próprio desaparecimento”. Que é o que esta guerra significa para a Ucrânia, e a traição do comediante corrupto e belicista representa para o povo que diz defender.

Se dúvidas existiam de que esta guerra é uma guerra contra o povo russo, contra o mundo russófilo e russófono, e que o maior país do mundo se encontra, uma vez mais, numa luta existencial, veio, uma vez mais, o agressor confirmá-lo.

Contudo, duvido mesmo muito que, mesmo perante tão luminosa revelação sobre a natureza, identidade e intenção do verdadeiro agressor, algum sectário atlantista consiga a partir das palavras de Lindsay Graham, retirar alguma verdade.

No mundo em que vivemos podemos constatar em directo e ao vivo que a perseguição das massas, motivada por Hitler e os seus, a judeus ou a comunistas, afinal, não se tratou de algo assim tão difícil de conceber e realizar. Tal como hoje, a Alemanha de então já era uma “democracia liberal”, acossada pela crise económica, como também estamos nós e com o império – ou o bloco imperialista – a enfrentar um contendor de peso que ameaçava a sua hegemonia mundial – antes a URSS, hoje a China, para mais aliada à Rússia.

Tal como ontem, o medo e o ódio são os sentimentos de mais fácil promoção, utilizando-se as redes sociais para propagar, como fogo, a histeria e os sentimentos fundamentalistas. Hoje são os russos, e com cada vez maior expressão, também os chineses. Apenas, e apenas o Ocidente os vê assim. O que diz muito de tudo isto.

Tornou-se comum assistir a pessoas despedidas apenas por serem russas, a conferências e espectáculos suprimidos por falarem da cultura russa e ao boicote de acontecimentos apenas por abordarem uma perspectiva equilibrada e neutra face ao conflito. Uns, os perseguidores, fazem-no por convicção e xenofobia, outros, como o caso do sr. reitor da Universidade de Coimbra, pelos vistos alguém que seguia a cultura russa, fazem-no por cobardia, seguidismo e egoísmo. Nesta questão, os padrões morais simplesmente deixaram de existir. E isto está a acontecer no país dos “brandos costumes”. No centro da Europa, prendem-se, perseguem-se e confiscam-se jornalistas, intelectuais e personalidades apontadas como pró-russas. A continuar por aqui, não faltará quem diga: têm de ser mortos!

E nem nos poderemos refugiar na ideia de que ainda existe gente capaz de identificar o processo histórico em que nos encontramos, de o denunciar e contra ele combater. Nos anos 30 também existia gente assim… Talvez até muito mais do que hoje.

Embora esta 2ª iteração histórica do 3.º Reich seja mais débil do que a primeira, a todos os níveis, actuando sob o signo de “Stefan Bandera”, apanha os povos e as massas trabalhadoras quase totalmente desarmadas nas suas organizações e instrumentos de combate. Ao contrário dos anos 30, em que, sendo incomensuravelmente mais forte a iteração nazi-fascista germânica, também existia, contudo, uma URSS – que viria a cometer a proeza de a derrotar. Existiam também os grandes partidos comunistas da França ou da Itália ou um movimento sindical em crescendo. Hoje, perante esta versão eslava do nazi-fascismo, a resistência progressista, socialista ou comunista é muito mais ténue. Em Portugal, basta uma meia dúzia de Sadokas para amedrontar as instituições que albergavam debates sérios sobre a Europa, o país e o conflito que opõe os EUA à Rússia, a acontecer na Ucrânia.

Por outro lado, tal como com a Alemanha nazi, esta Ucrânia nazi também não está sozinha. Polónia, Reino Unido, Itália, Holanda, em breve Espanha e Itália, talvez Portugal (a continuar a desagregação do PS, que se esqueceu de ter sido salvo pela Geringonça), encetam caminhos cada vez mais à direita, mais reaccionários, russófobos e intolerantes. O impensável já acontece, tendo todos passado a ter de inventar formas de lidar com a censura de conteúdos e canais de informação.

A própria Rússia de hoje também não é a URSS e não cumpre o mesmo papel. Sendo louvável a forma estóica como se tem aguentado, face à histeria sancionatória dos EUA/EU, falta ao regime russo a consistência ideológica e a coesão interna com que outrora contou. A ver vamos se o consegue agora também.

Em suma, se o agressor – incluindo o próprio bloco imperialista liderado pelos EUA – é hoje mais fraco, também o são as defesas que os povos contra ele têm, pelo menos aqui no Ocidente. No Sul Global, a conversa é outra e a histeria do regime oligárquico dos EUA face à China – India e Irão também – bem o demonstram. São sanções para todos os tipos, de forma a impedir que a China atinja a fronteira e a independência tecnológica em áreas fundamentais, como a indústria de chips ou de baterias, ao 5G e a outras dimensões tecnológicas de ponta.

O resultado? O mesmo das sanções do “inferno” à Rússia. Nações cada vez mais resilientes e independentes do ponto de vista estratégico. E com cada vez mais aliados, o que também conta. Já lá vai o tempo em que o bullying dava os resultados desejados, e o recente discurso do presidente do Quénia no parlamento pan-africano, referindo que terão de começar a tratar África com respeito e como igual, demonstra que o mundo está, de facto, em mudança acelerada, não se tornando, por isso mesmo, menos perigoso.

E o perigo é de facto grande. Do outro lado está a génese do terrorismo, do ódio, da xenofobia e do supremacismo cultural. Se a realização do G7 em Hiroshima, como vários o assinalaram, foi lida pelo Sul Global como um aviso muito sério, nomeadamente de que, os únicos que experimentaram um holocausto nuclear localizado, continuam prontos para repeti-lo e, como bem se viu, não sentem quaisquer remorsos pelo facto; será precisa muita racionalidade, paciência e tolerância para não se embarcar numa guerra nuclear global.

E não será fácil de o conseguir. Como se já não bastassem as listas de alvos a abater (Mirovonets), que, com o apoio da CIA listam desde músicos, artistas, jornalistas, políticos e militares, agora a fábrica de ilusões, em que transformaram a comunicação social dos interesses oligárquicos, saiu-se com uma teoria de arrepiar: existem “dissidentes russos” em luta armada contra o “regime” de Moscovo. Não porque alguém o tenha confirmado… Foi Kiev que o disse, e se o disse, deve ser para acreditar.

O que não dizem, é claro, não fossem as pessoas questionar-se, é que todos os supostos “combatentes” são ucranianos (caso da “invasão” de Belgorod) e usam armas americanas, ou todos os que são apanhados pela FSB antes ou depois de cometerem actos terroristas (contra a população civil e alvos que constam da Mirovonets, como acontecia com Dugin, cuja filha (Dária Dugina) foi assassinada em seu lugar), para além de atentarem contra alvos assim definidos pelo regime que ocupa a Ucrânia, têm sempre em sua posse informação que os liga aos serviços secretos do regime de Bandera.

Não se trata, portanto, de uma espécie de “exército partisani”, trata-se sim, de uma organização terrorista, organizada segundo as impressões digitais dos mesmos de sempre: CIA e MI6, desta feita encontrando terreno fértil no ódio xenófobo plantado no oeste da Ucrânia desde o final da Segunda Guerra Mundial.

Se Lindsey Graham confessa a verdadeira intenção por detrás desta maquinação ucraniana, a recriação de um 3.º Reich eslavo, revela que, tal como com o Estado Islâmico na Síria, os Talibãs no Afeganistão e as células da Al-Qaeda em África, a experiência dos EUA/NATO/EU na criação de entidades terroristas é cada vez mais profícua e experimentada.

E considerando que, de uma assentada e a dar resultado, os EUA estoiram com a Europa (o principal competidor ocidental), enfraquecem a Rússia e abrem caminho para o isolamento da China…. É razão para pelo menos acreditar que o dinheiro, de que fala Lindsay Graham, foi muito bem gasto.

Para já, a Alemanha e Reino Unido estão de facto em recessão, a EU não tem projecto que não seja o da propaganda fascizante do culto dos “valores europeus” e a França está em convulsão interna. E isto apenas um ano após o início do investimento! Não há dúvida de que os juros estão altos, já os estamos todos a pagar com língua de palmo!


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Bilderberg: A Câmara Corporativa global

(Hugo Dionísio, in Facebook, 25/05/2023)

As contradições entre o discurso proferido e a prática são tão presentes e monstruosas que, como uma qualquer mobília caseira, por elas passa o povo sem as ver, seguro que está de que, mesmo não as olhando, elas, inamovíveis, inexoráveis, incontornáveis, se encontram lá, intocadas, ocultadas pela indiferença de uns, pela cobardia de muitos e pela ignorância, de outros. É assim! É pelo peso excessivo da sua presença, que as ameaçadoras contradições, que tão árdua e crescentemente moldam as nossas vidas, são mantidas secretas.

Olhar para estas contradições é penoso, revoltante e tortuoso. O olhar deixa-nos revoltados, primeiro, para depois vir a amargura, a frustração, a depressão e, por fim, a indiferença causada pela sensação de impotência. Esta sensação de impotência também pode, no ignorante – sem culpa assim tornado -, ser transformada em ódio, regra geral, contra os menos culpados, contra os elos mais fracos de uma realidade que oprime de forma directa, mas também subliminar… Uma opressão que tantas vezes deixa escondida a sua origem real, a sua natureza e a sua causa. As consequências esmagam-nos com a sua realidade concreta, mas são as causas que oprimem.

É assim que sinto o que se passou em Lisboa, por estes dias, com a realização da 69ª sessão do Bilderberg. Antes totalmente secreto, não foi sem ameaça e vítimas que se tornou visível. Mas, uma vez mais, “visível”, não significa “reconhecível” ou “identificável” em relação ao que realmente é. Uma vez mais, o Bilderberg é uma das causas da contradição que nos esmaga.

O Bilderberg, assim chamado porque nasceu no Hotel Bilderberg nos Países Baixos, por iniciativa das pessoas mais ricas e influentes do mundo. À data, desse mundo constavam gente importante como a coroa britânica, neerlandesa, gente do clube de Roma e muitos outros, tratando-se de um clube restrito que constitui, na prática, a Câmara Corporativa do Império anglo-saxónico, conjugando os mais importantes interesses políticos dos partidos da governação (ministros presentes e futuros), os mais relevantes interesses económicos, comunicação social e defesa. A Indústria, hoje, ocupa um lugar pouco importante, tendo sido trocada pelas tecnológicas da internet.

Gente eleita pelo poder que o dinheiro compra dedica-se, durante alguns dias, a discutir o domínio do mundo e a sua repartição pelos interessados aí representados. Qualquer sinal de democracia é uma mera miragem ou utopia irrealizável. A democracia liberal, na sua forma milenar, garante a eleição dos mais fidedignos governantes que o dinheiro consegue comprar e a comunicação social promover, não mais sendo do que o instrumento histórico que garante um reinado sem convulsões, estabilizadas e desarmadas que ficam nas mentes e nas massas.

Para se ter uma ideia do “peso” real destas coisas da “democracia”, de Mário Soares para cá, apenas Passos Coelho não foi pré-aprovado pelo Bilderberg! Nada que não se tenha resolvido com uma presença após a eleição. Mas este facto marca tanto que, Passos não tem poiso nas mais importantes estruturas do poder ocidental. Para além dos Primeiros-ministros, já lá foram receber a bênção imperial e a cassette ideológica muitas outras figuras, de Medina a Rio, passando por Portas e muitos outros possíveis governadores. Apenas contam os dispostos a prosseguir o reinado neoliberal. Ninguém mais. Os identitários, que também os cá temos, disfarçados de “esquerda radical” fazendo o trabalho do Império, ficam na Open Society de George Soros. A Iniciativa Liberal está hoje representada também, através dos CEO’s  do costume.

Passar pelo Bilderberg significa a iniciação nas coisas dos Deuses, significa sair da maralha que constitui o comum dos mortais, o acesso aos segredos divinos. E não se pense que é porta aberta a qualquer um que o consiga. Implica passar por determinados locais, principalmente durante a fase de estudo, pois são esses locais que garantem a formação (ou formatação) de ouro, platina ou diamante. Não acreditem quando vos disserem que um determinado “jovem” levantou (raise) milhões em investimento para uma start-up. Esse “jovem” teve de passar por determinados locais, ou não lhe colocam o dinheiro nas mãos. Desculpem revelar-vos que as portas do Olimpo não são igualitárias!

Para se ter uma ideia da importância destas coisas, este ano discute-se a Ucrânia, claro, a desdolarização, como não poderia deixar de ser, a “liderança” dos EUA no Mundo (não lhes chega o Ocidente), inteligência artificial para nos invadir as mentes, a China, India e Rússia, como factores dissonantes…

Se há guerra mundial; se o regime neonazi do comediante louco continua a receber armas, mercenários africanos e árabes a quem prometem dinheiro e cidadania europeia; se o regime que ocupa a Ucrânia continua a receber biliões dos nossos impostos; se o tik-tok é proibido – e com ele o acesso da China às coisas das mentes, do conhecimento e do dinheiro; se os nossos dados pessoais continuam ao dispor da CIA e FBI; se a soberania dos Estados-membros da EU se continua a degradar; se a EU continua a comportar-se como uma região administrativa do estado de Washington DC; se a inteligência artificial é colocada ao serviço da Humanidade ou dos interesses económicos… Entre outras decisões importantes, é ali que encontram a resposta que lhe trilha o caminho subsequente, mais tarde constatável nos “actos” de Úrsula, nas prioridades de Costa, nos ataques de Montenegro, nas efabulações da IL, na propaganda de Portas ou nos achaques de Costa. Nada sai fora da caixa, nem um milímetro…

O site noticioso http://www.epoch.com divulgou a lista de presentes. Entre as gentes da NATO, Comissão Europeia, Casa Branca e muitos ministros, é só escolherem entre banqueiros, CEO’s de tecnológicas, barões da comunicação social e jornalistas (os futuros directores de redacção é aqui que recebem a confirmação de um estrelato programado e recebem a medalha da ordem da propaganda do império), dissidentes russos, chineses e turcos, grandes firmas de advogados, todos, todos, mas mesmos todos, apenas do Ocidente.  De Portugal a lista é a seguinte:

•            Pinto Balsemão (o pólo de contacto para o país)

•            Durão Barroso (não há maior servidor que este!!!)

•            José Luis Arnaut

•            Duarte Moreira da “Zero Partners” (consultoria financeira)

•            Nuno Sebastião da Feedzai (start-up’s tecnológicas, unicórnios e outras formas de exploração)

•            Miguel Stilwell de Andrade da EDP

•            Filipe Silva da Galp

O quê? Acham que se chega a “CEO” de uma coisas destas, a “partner” de uma coisa daquelas, a ministeriável de um país da NATO, sem a devida bênção de quem realmente detém o poder de criar e destruir, com sanções, embargos, guerras e bloqueios tudo o que vive, nasce, cresce e morre? Acordem, que o processo é muito “democrático”. É esta a “eleição” que realmente conta! Quem ganhar esta “eleição”, passa a poder ganhar as outras todas!

Como? Sim… É esta verdadeira “eleição original”, uma primária a sério, que conta. Ganhando esta, um servidor fica capacitado para receber os milionários apoios financeiros, humanos e logísticos que compram tempo de antena nas TV’s, horas de comentário em hora nobre, convites para conferências e seminários televisionados, avenças em programas de encher chouriços e boa imprensa… Todo um exército a louvar as suas qualidades enquanto “eleito”. Esta “eleição”, a par de outras, como a da ida a Davos, funciona como um sinal apenas reconhecível pelos da mesma espécie. Todos os membros da matilha recebem o sinal, reconhecem-no e sabem como se comportar face ao mesmo. A partir daí, nasce um novo génio da lâmpada que nos passa a ofuscar a vida. Em vez de concretizar desejos, impede-os de se concretizarem. E o facto é que, a cada eleição, o povão afaga a lâmpada e sai sempre a mesma magia: o fim dos seus desejos e a constatação da terrível realidade.

Eis o que significa a “democracia” liberal. Lamento desiludir-vos… Mas, se pensavam que aquelas directivas comunitárias que se discutem no Parlamento Europeu, aquelas iniciativas da Comissão Europeia de que Úrsula tanto se orgulha e tantas agendas para isto e para aquilo que são aplicadas, as “recomendações” do semestre europeu, vinham mesmo do povo, como numa democracia, ou dos representantes do povo, como numa democracia representativa…. Lamento desiludir-vos, uma vez mais. Perante vós apenas tendes servidores e todos os “valores” europeus, não passam de buracos negros vazios de vida que nos sugam para a morte e a desgraça. A governação não passa de um processo de aplicação de regras estandardizadas que têm de ser seguidas, sob pena de punição severa.

Para terem uma ideia da forma como esta gente olha para o mundo e para os seres humanos que têm o “azar” de não pertencerem a esta meia dúzia de brancos iluminados, aqui ficam dois exemplos:

•            Na Inglaterra os migrantes passaram a ser monitorizados 24/7 com pulseiras electrónicas como um qualquer cão que leva o chip. A gravidade assume proporções olímpicas quando o Primeiro-Ministro deste país, de ascendência indiana, permite a privatização das políticas de migração, o que levou cinco empresas do sector a afirmarem esta bela coisa: Multimilionário não é sinónimo de “livre”, muito pelo contrário;

•            Na Florida (EUA) os cidadãos chineses foram proibidos, por lei, de comprarem propriedade (imobiliária, participações sociais em empresas, por exemplo), apenas e só por serem chineses. Isto acontece num estado governado por um descendente de migrantes Italianos. Se és chinês, levas com um carimbo da foice e martelo e… A ver vamos onde chega. Se não chegará onde tantas vezes já se chegou na história humana.

Isto são apenas dois exemplos do nível de traição de que esta gente é capaz. Depois falam do “crédito social” experimental na China. Mas poderíamos ir mais longe, nomeadamente a tudo o que é feito que nos trama as vidas (privatizações, PPP’s, perdões e isenções fiscais, concessões de exploração, reformas laborais, reformas dos serviços públicos, etc…), tudo sob a bandeira da “democracia” e “liberdade”, para acabarmos, todos os dias, mais prisioneiros da indigência.

Todos os dias acordamos um pouco mais pobres, todos os dias, pelo menos de há 20 anos a esta parte!Podem agradece-lo também ao Bilderberg e aos vossos milionários preferidos! Tudo é negociado na Câmara Corporativa Global.


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