Uma mensagem contundente para Israel

(Samuel Moncada, in ONU, 28/11/2023)

Samuel Moncada, embaixador da Venezuela na ONU, dirigiu-se à Assembleia Geral na terça-feira.

Senhor Presidente, a República Bolivariana da Venezuela condena veementemente a agressão israelita contra a população civil nos territórios palestinianos ocupados. Esta é uma operação de expulsão em massa de um povo inteiro para anexar o seu território pela potência ocupante. É um novo ciclo de terror expansionista, de tantas coisas sofridas pelo povo palestiniano ao longo de 75 anos de ocupação.

Nas últimas oito semanas assistimos a uma escalada dos crimes perpetrados pelo regime israelita contra o povo palestiniano. Quase 15.000 civis inocentes foram assassinados pelas forças de ocupação na Faixa de Gaza, principalmente mulheres e crianças, numa operação de limpeza étnica que nem sequer poupou o pessoal das Nações Unidas, que também foi massacrado.

É repugnante ver como, apesar da crueldade dos factos que estão à vista do mundo, o governo dos Estados Unidos da América e os seus satélites pretendem justificar o injustificável:

Que a potência ocupante está a levar a cabo um genocídio contra o povo palestiniano, tal como definido na Convenção para a Prevenção e Punição do Crime de Genocídio e no Estatuto de Roma do Tribunal Penal Internacional. Perguntamo-nos onde estão aqueles que noutros casos se apressam em aplicar a responsabilidade de proteger, mas agora ignoram os direitos humanos dos palestinianos submetidos à ocupação israelita?

Onde estão os activistas do código de conduta do Conselho de Segurança contra o genocídio ou aqueles que defendem uma redução do direito de veto no Conselho de Segurança quando são cometidas atrocidades em massa? O seu silêncio torna-os cúmplices destes crimes.

Apelamos à condenação nos termos mais firmes das políticas criminosas de Israel contra a população civil. As Nações Unidas devem agir com determinação, incluindo o Secretariado, que tem um papel crucial a desempenhar na preservação do direito à vida de milhões de pessoas inocentes. Não podemos permitir agora que as nossas acções e as nossas omissões nos tornem conjuntamente responsáveis ​​pela aniquilação de um povo inteiro.

Senhor Presidente, Israel não tem intenção de pôr fim à ocupação. Pelo contrário, visa tomar o controlo de todo o território palestiniano ocupado, ao mesmo tempo que altera a situação demográfica, reprimindo os palestinianos e privilegiando os colonos israelitas. Este é o caso da imposição de um sistema de apartheid a esta realidade.

Devemos acrescentar a destruição de dezenas de milhares de habitações, a deslocação forçada de centenas de milhares de palestinianos, bem como os ataques deliberados contra infra-estruturas vitais. Senhor Presidente, hoje temos de fazer progressos com urgência em pelo menos três áreas críticas.

Em primeiro lugar, temos de pôr fim ao ciclo de impunidade. Israel deve ser responsabilizado perante a Justiça Internacional pelos crimes contra a humanidade e pelos crimes de guerra que tem cometido ao longo dos anos, bem como pelo genocídio em curso hoje. A impunidade internacional que lhe é proporcionada por um governo de um dos seus principais parceiros que é membro permanente do Conselho de Segurança, incentiva os crimes cometidos diariamente por Israel.

Em segundo lugar, enquanto a potência ocupante continua com as suas políticas de atirar para matar, bombardear escolas, hospitais, habitações, centros de refugiados ou instalações de armazenamento de alimentos, bem como a violência sistémica por parte dos colonos israelitas contra a população civil inocente. Devemos aplicar medidas provisórias ao abrigo do direito humanitário internacional que garantam a protecção internacional do povo palestiniano.

E em terceiro lugar, é necessário pôr fim à política de colonatos ilegais, aos despejos e demolições de casas, à expropriação de terras palestinianas, às detenções arbitrárias de civis palestinianos inocentes e à perseguição de organizações palestinianas da sociedade civil. Devemos repudiar aqueles que apelam à utilização de armas de destruição maciça contra o povo palestiniano e que encorajam grupos fanáticos a cometer crimes de ódio ou a atacar locais religiosos.

Senhor Presidente, por outro lado, insistimos na nossa rejeição do incumprimento das disposições da resolução 497 do Conselho de Segurança, que há mais de 40 anos exige a retirada de Israel do Golã Sírio e também rejeitamos quaisquer ações tomadas pela potência ocupante para alterar a situação demográfica ou jurídica do Golã sírio ocupado. Rejeitamos quaisquer medidas que utilizem a força para exercer jurisdição e administração neste território.

Chegou a hora de esta Assembleia Geral exigir ações concretas e é por isso que pedimos uma votação a favor de todos os projetos de resolução hoje apresentados nos itens 39 e 40 do programa de trabalho.

Finalmente, reafirmamos a nossa solidariedade para com o povo palestiniano, bem como o nosso apoio à autodeterminação e a um Estado palestiniano que seja independente e soberano nas fronteiras anteriores a 1967, com Jerusalém Oriental como sua capital e como membro de pleno direito das Nações Unidas.

Muito obrigado, Sr. Presidente.

Fonte aqui


Gosta da Estátua de Sal? Click aqui.

O Hamas vence a batalha por Gaza

(Por Scott Ritter, in Resistir, 28/11/2023)

O cessar-fogo recentemente anunciado é uma bênção tanto para os palestinos como para os israelenses – uma oportunidade para a troca de prisioneiros, a ajuda humanitária ser distribuída aos necessitados e para as emoções de ambos os lados do conflito arrefecerem.

Continuar a ler aqui.


Gosta da Estátua de Sal? Click aqui.

A tese dos dois Estados — Um com chuva e outro sem chuva

(Carlos Matos Gomes, in Medium.com, 28/11/2023)


A proposta da ONU, aceite pela comunidade internacional, da coexistência de dois estados na Palestina, após a saída da Inglaterra do vespeiro ali criado após a II Guerra, com a conjugação de interesses do movimento sionista mundial, dos Estados Unidos e da União Soviética, um estado judeu e um estado com o remanescente de palestinianos, foi, desde o início, um logro do género de introduzir uma espécie infestante num dado território — eucaliptos, por exemplo — atribuir uma leira de terra como reserva indígena (carvalhos, ou sobreiros) — e esperar que ambas as culturas convivam em boa paz, que os infestantes respeitem os limites dos autóctones e estes se sintam muito agradados com a invasão. A comparação serve também para os peixes achigãs, vindos do Canadá e lançados nas barragens, que devoraram as espécies indígenas.

É com este conto para pobres de espirito que desde há sete décadas tem sido justificada violência de Israel, eles estão a defender o seu estado: invadindo. O tal estado democrático, o que em termos de interesses estratégicos, de violência e desrespeito pelos direitos dos outros nada vale. Curiosamente, têm sido os ditos estados democráticos — um regime particular desenvolvido na Europa e nas circunstâncias específicas que são conhecidas — que mais invasões têm efetuado nos dois últimos séculos.

A tese da convivência dos dois estados na Palestina recebeu mais uma machadada recentemente, quando alguém decidiu revelar que os democratas israelitas tinham imposto o princípio de divindade da chuva. Agora que surgiram tantos israelitas com cidadania portuguesa, o velho provérbio português de «água deus dará» é contrariado por esses nosssos recentes compatriotas: a chuva que cai nos territórios da Palestina é propriedade dos judeus, representados pelo Estado de Israel, por ser um dom de Jeová aos seus escolhidos. Os infiéis palestinianos não têm direito à água de Jeová e, Alá, segundo os judeus, não faz chover! Por isso os guerreiros de Jeová destroem as cisternas atulhando-as de cimento (foto da UOL — notícias.uol.com.br, de 27/07/2023 — isto para os censores do FB), envenenam os poços e as cisternas onde os palestinianos há milhares de anos recolhiam as águas! Uma blasfémia!

Foi assim levantado mais um problema na falácia dos dois estados: como dividir a água que cai, não dos céus, mas das nuvens terrenas, entre o Estado de Israel e o Estado Palestiniano, a criar? Já existiam os murros, as cercas de arame eletrificado, os controlos, agora há a barreira da chuva e das nuvens!

E aqueles a quem até a água das nuvens criadas pela natureza lhes é negada não têm direito a resistir? É terrorismo lutar pela água, como pela terra, como pelas casas, como pelos rebanhos, como pelas oliveiras ou é terrorismo matar à sede, à fome, bombardear indiscriminadamente? É terrorismo um povo cercado atacar instalações militares designadas colonatos, mas é legítima defesa invasores recentes destruírem um território cercado, densamente povoado, para erradicar dali o povo que sempre ali habitou? E como propor dois estados como solução para uma tão velha questão, que chegou a agora à água da chuva, e que já tinha determinado o controlo pela força do rio Jordão pelos israelitas?

Ainda a propósito da falácia dos dois Estados partilhados entre invasores e invadidos: há algum estado Inca, ou azteca ou guarani na América do Sul? Há algum estado Cherokee nos Estados Unidos? E porque não há nenhum Estado Curdo, ou Arménio?

Por fim, na Palestina existe apenas um Estado, os Estados Unidos da América. O Estado de Israel é mais um Estado da União, uma província como a que existiu no tempo dos romanos, com o seu Herodes Antipas, que calha chamar-se agora Netanyahou. Aos Estados Unidos interessa uma província forte nos confins do império. Os palestinianos estão ali a mais. O resto são nuvens, não de água, mas de explosivos, incluindo de fósforo. Ambas israelitas.

Gosta da Estátua de Sal? Click aqui.