O melhor dinheiro que já gastámos

(Hugo Dionísio, in Facebook, 30/05/2023)

Lindsay Graham, senador republicano estado-unidense volta a expor a terrível farsa e a bárbara agressão de que o nosso país é cúmplice, co-autor e entusiasta apoiante. Apenas uma pequena mão-cheia, cuja percentagem mal caberá nos dedos das mãos, dá atenção aos sinais que foram sendo dados pelos próprios promotores da farsa. Como Merkel e Hollande ou Biden, Lindsay Graham proporcionou-nos um raro momento de clarividência – para muitos deveria tornar-se numa verdadeira epifania.

Malogradamente, vivemos tempos em que a turba parece não reconhecer a verdade quando esta intermitentemente aparece. Abordar um facto isolado, não nos traz a verdade. Apenas nos dá informação. É na conjunção dos factos que constatamos a verdade. Perdidos num círculo vicioso e cada vez mais acelerado de factos dispersos, quem não se esforçar por estar atento, não identifica a verdade quando esta lhe surge à frente dos olhos.

Chega mesmo a ser doentio que, perante a intervenção de Lindsey Graham, o espectador sempre pronto a julgar os “políticos” pela sua “iniquidade”, nesta situação não adoptem o mesmo tom de condenação imperativa e irreversível. O senador americano não poderia ser mais explícito: “os russos estão a morrer”; “É o melhor dinheiro que já alguma vez gastámos”!

O discurso de Lindsay Graham apresentou mais contradições insanáveis em relação à narrativa oficial, como o “agora são livres”, como se o “ser livre” dependesse da instauração de uma ditadura civil-militar de inspiração neonazi, do derrube de um governo eleito, da negação do direito ao voto de uma parte da população e da extinção de todos os partidos políticos da oposição democrática. Mesmo quando Lindsay Graham agradece e diz, por tudo “obrigado”, também está em contradição com a realidade. Roma não agradece, tal como não se desculpa. Roma exige e pune a insubordinação. Daí que o “obrigado” do senador saiba mais a um “obrigado por te autoflagelares ao ponto de provocares o teu próprio desaparecimento”. Que é o que esta guerra significa para a Ucrânia, e a traição do comediante corrupto e belicista representa para o povo que diz defender.

Se dúvidas existiam de que esta guerra é uma guerra contra o povo russo, contra o mundo russófilo e russófono, e que o maior país do mundo se encontra, uma vez mais, numa luta existencial, veio, uma vez mais, o agressor confirmá-lo.

Contudo, duvido mesmo muito que, mesmo perante tão luminosa revelação sobre a natureza, identidade e intenção do verdadeiro agressor, algum sectário atlantista consiga a partir das palavras de Lindsay Graham, retirar alguma verdade.

No mundo em que vivemos podemos constatar em directo e ao vivo que a perseguição das massas, motivada por Hitler e os seus, a judeus ou a comunistas, afinal, não se tratou de algo assim tão difícil de conceber e realizar. Tal como hoje, a Alemanha de então já era uma “democracia liberal”, acossada pela crise económica, como também estamos nós e com o império – ou o bloco imperialista – a enfrentar um contendor de peso que ameaçava a sua hegemonia mundial – antes a URSS, hoje a China, para mais aliada à Rússia.

Tal como ontem, o medo e o ódio são os sentimentos de mais fácil promoção, utilizando-se as redes sociais para propagar, como fogo, a histeria e os sentimentos fundamentalistas. Hoje são os russos, e com cada vez maior expressão, também os chineses. Apenas, e apenas o Ocidente os vê assim. O que diz muito de tudo isto.

Tornou-se comum assistir a pessoas despedidas apenas por serem russas, a conferências e espectáculos suprimidos por falarem da cultura russa e ao boicote de acontecimentos apenas por abordarem uma perspectiva equilibrada e neutra face ao conflito. Uns, os perseguidores, fazem-no por convicção e xenofobia, outros, como o caso do sr. reitor da Universidade de Coimbra, pelos vistos alguém que seguia a cultura russa, fazem-no por cobardia, seguidismo e egoísmo. Nesta questão, os padrões morais simplesmente deixaram de existir. E isto está a acontecer no país dos “brandos costumes”. No centro da Europa, prendem-se, perseguem-se e confiscam-se jornalistas, intelectuais e personalidades apontadas como pró-russas. A continuar por aqui, não faltará quem diga: têm de ser mortos!

E nem nos poderemos refugiar na ideia de que ainda existe gente capaz de identificar o processo histórico em que nos encontramos, de o denunciar e contra ele combater. Nos anos 30 também existia gente assim… Talvez até muito mais do que hoje.

Embora esta 2ª iteração histórica do 3.º Reich seja mais débil do que a primeira, a todos os níveis, actuando sob o signo de “Stefan Bandera”, apanha os povos e as massas trabalhadoras quase totalmente desarmadas nas suas organizações e instrumentos de combate. Ao contrário dos anos 30, em que, sendo incomensuravelmente mais forte a iteração nazi-fascista germânica, também existia, contudo, uma URSS – que viria a cometer a proeza de a derrotar. Existiam também os grandes partidos comunistas da França ou da Itália ou um movimento sindical em crescendo. Hoje, perante esta versão eslava do nazi-fascismo, a resistência progressista, socialista ou comunista é muito mais ténue. Em Portugal, basta uma meia dúzia de Sadokas para amedrontar as instituições que albergavam debates sérios sobre a Europa, o país e o conflito que opõe os EUA à Rússia, a acontecer na Ucrânia.

Por outro lado, tal como com a Alemanha nazi, esta Ucrânia nazi também não está sozinha. Polónia, Reino Unido, Itália, Holanda, em breve Espanha e Itália, talvez Portugal (a continuar a desagregação do PS, que se esqueceu de ter sido salvo pela Geringonça), encetam caminhos cada vez mais à direita, mais reaccionários, russófobos e intolerantes. O impensável já acontece, tendo todos passado a ter de inventar formas de lidar com a censura de conteúdos e canais de informação.

A própria Rússia de hoje também não é a URSS e não cumpre o mesmo papel. Sendo louvável a forma estóica como se tem aguentado, face à histeria sancionatória dos EUA/EU, falta ao regime russo a consistência ideológica e a coesão interna com que outrora contou. A ver vamos se o consegue agora também.

Em suma, se o agressor – incluindo o próprio bloco imperialista liderado pelos EUA – é hoje mais fraco, também o são as defesas que os povos contra ele têm, pelo menos aqui no Ocidente. No Sul Global, a conversa é outra e a histeria do regime oligárquico dos EUA face à China – India e Irão também – bem o demonstram. São sanções para todos os tipos, de forma a impedir que a China atinja a fronteira e a independência tecnológica em áreas fundamentais, como a indústria de chips ou de baterias, ao 5G e a outras dimensões tecnológicas de ponta.

O resultado? O mesmo das sanções do “inferno” à Rússia. Nações cada vez mais resilientes e independentes do ponto de vista estratégico. E com cada vez mais aliados, o que também conta. Já lá vai o tempo em que o bullying dava os resultados desejados, e o recente discurso do presidente do Quénia no parlamento pan-africano, referindo que terão de começar a tratar África com respeito e como igual, demonstra que o mundo está, de facto, em mudança acelerada, não se tornando, por isso mesmo, menos perigoso.

E o perigo é de facto grande. Do outro lado está a génese do terrorismo, do ódio, da xenofobia e do supremacismo cultural. Se a realização do G7 em Hiroshima, como vários o assinalaram, foi lida pelo Sul Global como um aviso muito sério, nomeadamente de que, os únicos que experimentaram um holocausto nuclear localizado, continuam prontos para repeti-lo e, como bem se viu, não sentem quaisquer remorsos pelo facto; será precisa muita racionalidade, paciência e tolerância para não se embarcar numa guerra nuclear global.

E não será fácil de o conseguir. Como se já não bastassem as listas de alvos a abater (Mirovonets), que, com o apoio da CIA listam desde músicos, artistas, jornalistas, políticos e militares, agora a fábrica de ilusões, em que transformaram a comunicação social dos interesses oligárquicos, saiu-se com uma teoria de arrepiar: existem “dissidentes russos” em luta armada contra o “regime” de Moscovo. Não porque alguém o tenha confirmado… Foi Kiev que o disse, e se o disse, deve ser para acreditar.

O que não dizem, é claro, não fossem as pessoas questionar-se, é que todos os supostos “combatentes” são ucranianos (caso da “invasão” de Belgorod) e usam armas americanas, ou todos os que são apanhados pela FSB antes ou depois de cometerem actos terroristas (contra a população civil e alvos que constam da Mirovonets, como acontecia com Dugin, cuja filha (Dária Dugina) foi assassinada em seu lugar), para além de atentarem contra alvos assim definidos pelo regime que ocupa a Ucrânia, têm sempre em sua posse informação que os liga aos serviços secretos do regime de Bandera.

Não se trata, portanto, de uma espécie de “exército partisani”, trata-se sim, de uma organização terrorista, organizada segundo as impressões digitais dos mesmos de sempre: CIA e MI6, desta feita encontrando terreno fértil no ódio xenófobo plantado no oeste da Ucrânia desde o final da Segunda Guerra Mundial.

Se Lindsey Graham confessa a verdadeira intenção por detrás desta maquinação ucraniana, a recriação de um 3.º Reich eslavo, revela que, tal como com o Estado Islâmico na Síria, os Talibãs no Afeganistão e as células da Al-Qaeda em África, a experiência dos EUA/NATO/EU na criação de entidades terroristas é cada vez mais profícua e experimentada.

E considerando que, de uma assentada e a dar resultado, os EUA estoiram com a Europa (o principal competidor ocidental), enfraquecem a Rússia e abrem caminho para o isolamento da China…. É razão para pelo menos acreditar que o dinheiro, de que fala Lindsay Graham, foi muito bem gasto.

Para já, a Alemanha e Reino Unido estão de facto em recessão, a EU não tem projecto que não seja o da propaganda fascizante do culto dos “valores europeus” e a França está em convulsão interna. E isto apenas um ano após o início do investimento! Não há dúvida de que os juros estão altos, já os estamos todos a pagar com língua de palmo!


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Bilderberg: A Câmara Corporativa global

(Hugo Dionísio, in Facebook, 25/05/2023)

As contradições entre o discurso proferido e a prática são tão presentes e monstruosas que, como uma qualquer mobília caseira, por elas passa o povo sem as ver, seguro que está de que, mesmo não as olhando, elas, inamovíveis, inexoráveis, incontornáveis, se encontram lá, intocadas, ocultadas pela indiferença de uns, pela cobardia de muitos e pela ignorância, de outros. É assim! É pelo peso excessivo da sua presença, que as ameaçadoras contradições, que tão árdua e crescentemente moldam as nossas vidas, são mantidas secretas.

Olhar para estas contradições é penoso, revoltante e tortuoso. O olhar deixa-nos revoltados, primeiro, para depois vir a amargura, a frustração, a depressão e, por fim, a indiferença causada pela sensação de impotência. Esta sensação de impotência também pode, no ignorante – sem culpa assim tornado -, ser transformada em ódio, regra geral, contra os menos culpados, contra os elos mais fracos de uma realidade que oprime de forma directa, mas também subliminar… Uma opressão que tantas vezes deixa escondida a sua origem real, a sua natureza e a sua causa. As consequências esmagam-nos com a sua realidade concreta, mas são as causas que oprimem.

É assim que sinto o que se passou em Lisboa, por estes dias, com a realização da 69ª sessão do Bilderberg. Antes totalmente secreto, não foi sem ameaça e vítimas que se tornou visível. Mas, uma vez mais, “visível”, não significa “reconhecível” ou “identificável” em relação ao que realmente é. Uma vez mais, o Bilderberg é uma das causas da contradição que nos esmaga.

O Bilderberg, assim chamado porque nasceu no Hotel Bilderberg nos Países Baixos, por iniciativa das pessoas mais ricas e influentes do mundo. À data, desse mundo constavam gente importante como a coroa britânica, neerlandesa, gente do clube de Roma e muitos outros, tratando-se de um clube restrito que constitui, na prática, a Câmara Corporativa do Império anglo-saxónico, conjugando os mais importantes interesses políticos dos partidos da governação (ministros presentes e futuros), os mais relevantes interesses económicos, comunicação social e defesa. A Indústria, hoje, ocupa um lugar pouco importante, tendo sido trocada pelas tecnológicas da internet.

Gente eleita pelo poder que o dinheiro compra dedica-se, durante alguns dias, a discutir o domínio do mundo e a sua repartição pelos interessados aí representados. Qualquer sinal de democracia é uma mera miragem ou utopia irrealizável. A democracia liberal, na sua forma milenar, garante a eleição dos mais fidedignos governantes que o dinheiro consegue comprar e a comunicação social promover, não mais sendo do que o instrumento histórico que garante um reinado sem convulsões, estabilizadas e desarmadas que ficam nas mentes e nas massas.

Para se ter uma ideia do “peso” real destas coisas da “democracia”, de Mário Soares para cá, apenas Passos Coelho não foi pré-aprovado pelo Bilderberg! Nada que não se tenha resolvido com uma presença após a eleição. Mas este facto marca tanto que, Passos não tem poiso nas mais importantes estruturas do poder ocidental. Para além dos Primeiros-ministros, já lá foram receber a bênção imperial e a cassette ideológica muitas outras figuras, de Medina a Rio, passando por Portas e muitos outros possíveis governadores. Apenas contam os dispostos a prosseguir o reinado neoliberal. Ninguém mais. Os identitários, que também os cá temos, disfarçados de “esquerda radical” fazendo o trabalho do Império, ficam na Open Society de George Soros. A Iniciativa Liberal está hoje representada também, através dos CEO’s  do costume.

Passar pelo Bilderberg significa a iniciação nas coisas dos Deuses, significa sair da maralha que constitui o comum dos mortais, o acesso aos segredos divinos. E não se pense que é porta aberta a qualquer um que o consiga. Implica passar por determinados locais, principalmente durante a fase de estudo, pois são esses locais que garantem a formação (ou formatação) de ouro, platina ou diamante. Não acreditem quando vos disserem que um determinado “jovem” levantou (raise) milhões em investimento para uma start-up. Esse “jovem” teve de passar por determinados locais, ou não lhe colocam o dinheiro nas mãos. Desculpem revelar-vos que as portas do Olimpo não são igualitárias!

Para se ter uma ideia da importância destas coisas, este ano discute-se a Ucrânia, claro, a desdolarização, como não poderia deixar de ser, a “liderança” dos EUA no Mundo (não lhes chega o Ocidente), inteligência artificial para nos invadir as mentes, a China, India e Rússia, como factores dissonantes…

Se há guerra mundial; se o regime neonazi do comediante louco continua a receber armas, mercenários africanos e árabes a quem prometem dinheiro e cidadania europeia; se o regime que ocupa a Ucrânia continua a receber biliões dos nossos impostos; se o tik-tok é proibido – e com ele o acesso da China às coisas das mentes, do conhecimento e do dinheiro; se os nossos dados pessoais continuam ao dispor da CIA e FBI; se a soberania dos Estados-membros da EU se continua a degradar; se a EU continua a comportar-se como uma região administrativa do estado de Washington DC; se a inteligência artificial é colocada ao serviço da Humanidade ou dos interesses económicos… Entre outras decisões importantes, é ali que encontram a resposta que lhe trilha o caminho subsequente, mais tarde constatável nos “actos” de Úrsula, nas prioridades de Costa, nos ataques de Montenegro, nas efabulações da IL, na propaganda de Portas ou nos achaques de Costa. Nada sai fora da caixa, nem um milímetro…

O site noticioso http://www.epoch.com divulgou a lista de presentes. Entre as gentes da NATO, Comissão Europeia, Casa Branca e muitos ministros, é só escolherem entre banqueiros, CEO’s de tecnológicas, barões da comunicação social e jornalistas (os futuros directores de redacção é aqui que recebem a confirmação de um estrelato programado e recebem a medalha da ordem da propaganda do império), dissidentes russos, chineses e turcos, grandes firmas de advogados, todos, todos, mas mesmos todos, apenas do Ocidente.  De Portugal a lista é a seguinte:

•            Pinto Balsemão (o pólo de contacto para o país)

•            Durão Barroso (não há maior servidor que este!!!)

•            José Luis Arnaut

•            Duarte Moreira da “Zero Partners” (consultoria financeira)

•            Nuno Sebastião da Feedzai (start-up’s tecnológicas, unicórnios e outras formas de exploração)

•            Miguel Stilwell de Andrade da EDP

•            Filipe Silva da Galp

O quê? Acham que se chega a “CEO” de uma coisas destas, a “partner” de uma coisa daquelas, a ministeriável de um país da NATO, sem a devida bênção de quem realmente detém o poder de criar e destruir, com sanções, embargos, guerras e bloqueios tudo o que vive, nasce, cresce e morre? Acordem, que o processo é muito “democrático”. É esta a “eleição” que realmente conta! Quem ganhar esta “eleição”, passa a poder ganhar as outras todas!

Como? Sim… É esta verdadeira “eleição original”, uma primária a sério, que conta. Ganhando esta, um servidor fica capacitado para receber os milionários apoios financeiros, humanos e logísticos que compram tempo de antena nas TV’s, horas de comentário em hora nobre, convites para conferências e seminários televisionados, avenças em programas de encher chouriços e boa imprensa… Todo um exército a louvar as suas qualidades enquanto “eleito”. Esta “eleição”, a par de outras, como a da ida a Davos, funciona como um sinal apenas reconhecível pelos da mesma espécie. Todos os membros da matilha recebem o sinal, reconhecem-no e sabem como se comportar face ao mesmo. A partir daí, nasce um novo génio da lâmpada que nos passa a ofuscar a vida. Em vez de concretizar desejos, impede-os de se concretizarem. E o facto é que, a cada eleição, o povão afaga a lâmpada e sai sempre a mesma magia: o fim dos seus desejos e a constatação da terrível realidade.

Eis o que significa a “democracia” liberal. Lamento desiludir-vos… Mas, se pensavam que aquelas directivas comunitárias que se discutem no Parlamento Europeu, aquelas iniciativas da Comissão Europeia de que Úrsula tanto se orgulha e tantas agendas para isto e para aquilo que são aplicadas, as “recomendações” do semestre europeu, vinham mesmo do povo, como numa democracia, ou dos representantes do povo, como numa democracia representativa…. Lamento desiludir-vos, uma vez mais. Perante vós apenas tendes servidores e todos os “valores” europeus, não passam de buracos negros vazios de vida que nos sugam para a morte e a desgraça. A governação não passa de um processo de aplicação de regras estandardizadas que têm de ser seguidas, sob pena de punição severa.

Para terem uma ideia da forma como esta gente olha para o mundo e para os seres humanos que têm o “azar” de não pertencerem a esta meia dúzia de brancos iluminados, aqui ficam dois exemplos:

•            Na Inglaterra os migrantes passaram a ser monitorizados 24/7 com pulseiras electrónicas como um qualquer cão que leva o chip. A gravidade assume proporções olímpicas quando o Primeiro-Ministro deste país, de ascendência indiana, permite a privatização das políticas de migração, o que levou cinco empresas do sector a afirmarem esta bela coisa: Multimilionário não é sinónimo de “livre”, muito pelo contrário;

•            Na Florida (EUA) os cidadãos chineses foram proibidos, por lei, de comprarem propriedade (imobiliária, participações sociais em empresas, por exemplo), apenas e só por serem chineses. Isto acontece num estado governado por um descendente de migrantes Italianos. Se és chinês, levas com um carimbo da foice e martelo e… A ver vamos onde chega. Se não chegará onde tantas vezes já se chegou na história humana.

Isto são apenas dois exemplos do nível de traição de que esta gente é capaz. Depois falam do “crédito social” experimental na China. Mas poderíamos ir mais longe, nomeadamente a tudo o que é feito que nos trama as vidas (privatizações, PPP’s, perdões e isenções fiscais, concessões de exploração, reformas laborais, reformas dos serviços públicos, etc…), tudo sob a bandeira da “democracia” e “liberdade”, para acabarmos, todos os dias, mais prisioneiros da indigência.

Todos os dias acordamos um pouco mais pobres, todos os dias, pelo menos de há 20 anos a esta parte!Podem agradece-lo também ao Bilderberg e aos vossos milionários preferidos! Tudo é negociado na Câmara Corporativa Global.


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O (neo)fascismo em pezinhos de lã

(António Garcia Pereira, in NoticiasOnline, 17/05/2023)

Desde há bastante tempo que se vêm verificando acontecimentos preocupantes, mas a memória histórica e a firmeza de princípios devem fazer-nos reagir, pois é precisamente a permanente desvalorização desses mesmos princípios, a narcotização colectiva que nos é imposta pela lógica do instantâneo, o individualismo extremo e a busca do sucesso a todo o custo, que nos vêm impedindo de despertar para o combate cívico que, porém, se torna a cada dia mais imperioso e urgente.

Devido ao chamado “caso do computador” do ex-assessor do ministro Galamba, falou-se agora alguma coisa do SIS e da sua actuação completamente fora dos respectivos limites legais, já que, não sendo um órgão de polícia criminal, não pode tomar quaisquer medidas de polícia. Todavia, a (esquecida) verdade é que já há umas décadas foi tornado público que o SIS andava a seguir e a vigiar dirigentes políticos, sindicais e até de associações de estudantes, tendo mesmo sido revelado o nome de um dos envolvidos nessas “operações”. Como se soube também que um capitão dos Serviços Secretos Militares da África do Sul (“evacuado” para Portugal no fim do regime do apartheid), de nome Peter Groenwald, fora preso e apanhado com inúmero e altamente sofisticado equipamento de escutas telefónicas, tendo confessado que trabalhava para o SIS e identificado quanto ganhava, quem eram os seus superiores e qual fora o último “trabalho” desempenhado. E, todavia, esses espiões ilegais e quem os chefiava puderam safar-se impunes porque o Ministério Público – o tal “campeão” da luta contra a alta criminalidade… – não quis levar as investigações até ao fim. Em suma, operações ilegais e mesmo pidescas puderam ser branqueadas e esquecidas, e os dados e informações com elas obtidos “convenientemente” mantidos em algum ficheiro secreto.

Na sequência do ataque às Torres Gémeas a 11/09/2001, intensificou-se de forma praticamente imparável a lógica, recauchutada e modernizada, das teorias do III Reich do “Direito Penal do inimigo” (que deve ser perseguido e aniquilado por qualquer forma), de que os fins justificam os meios, de que a “autoridade executiva máxima” (ou seja, o “Chefe” supremo), porque encarnando os supostos interesses da colectividade, tem legitimidade “natural” para tudo fazer, digam as leis e as Constituições o que disserem. E, assim, também tudo aquilo que ele afirma será verdade, por mais gritante que seja a respectiva mentira – por exemplo, se George Bush declara que os EUA não praticam a tortura contra prisioneiros, então mesmo as maiores atrocidades praticadas em prisões como a de Abu Ghraib, no Iraque, não são tortura…

Ora, entre nós, as sucessivas reformas do Processo Penal, intensificando uma tendência repressiva e policial que já vinha de antes – sempre, note-se bem, em nome do combate ao terrorismo, e às formas mais violentas de criminalidade, bem como aos crimes “de colarinho branco” e de branqueamento de capitais –, passaram a permitir coisas que nem no tempo da Pide se passavam, tais como entradas em casa dos cidadãos a altas horas da noite ou prisões sem culpa formada durante todo um ano. E possibilitaram mesmo a instituição e consolidação de um modelo de Processo Penal em que, como se tem visto, o Ministério Público está transformado num autêntico “Estado dentro do Estado”, em que faz o que quer e não o que devia, em que não tem que prestar contas a ninguém do que foi a sua actividade, e em que é dono absoluto, sem qualquer controlo jurisdicional efectivo, da primeira e mais importante fase dos processos-crime (o inquérito), tendo a fase seguinte (a instrução) sido reduzida a uma inutilidade, para não dizer uma farsa. De par com tudo isto tem sempre andado, e de forma sucessivamente agravada, a autêntica náusea das sempre impunes e cirúrgicas (mas sempre toleradas, elogiadas e até incentivadas por super-procuradores e super-juízes) violações do segredo de justiça, que cada vez mais foram servindo para, numa lógica digna da Inquisição, propiciar “julgamentos” na praça pública e condenações tão sumárias quanto irremediáveis.

A desvalorização dos princípios éticos e cívicos (para além dos jurídicos…) mais básicos fez com que, de uma forma geral, os responsáveis políticos e partidários, mesmo os ditos de esquerda, adoptassem a posição sumamente oportunista de apoiarem toda a sorte de desmandos policiais e judiciários (bem como políticos) se eles visavam adversários políticos, só se lembrando de protestar (mas ainda assim sempre muito timidamente) quando esses mesmos desmandos tocavam nas suas próprias hostes. E fez também com que se fosse procurando impor como normal, e até digna de elogio, a busca do poder, do dinheiro e do “sucesso” social, político e económico. E, assim, por exemplo, os corruptos, os corruptores, os autores das grandes fraudes financeiras e todos os seus cúmplices, encobridores e facilitadores, permanentemente glorificados como banqueiros, gestores, políticos e empreendedores de sucesso, e até presidencialmente condecorados por isso, apenas são censurados se e quando são enfim apanhados!… 

O processo de imposição do pensamento dominante, senão mesmo único, já vem de longe, mas também sempre sem uma resistência democrática digna desse nome. Por exemplo, não obstante a proclamação formal na Constituição do princípio da igualdade de tratamento de todas as candidaturas, sempre se foi verificando, e designadamente sob o pretexto dos famigerados “critérios jornalísticos” – como se estes se pudessem sobrepor aos preceitos e princípios da Lei Fundamental do País!… –, a discriminação e a censura dos candidatos que não interessavam aos interesses dominantes. Chegou-se ao ponto de, nas eleições de 2006 para Presidente da República, em que havia 6 candidatos, as televisões, a começar pela pública RTP, organizarem debates com apenas 5. E as “eminências democráticas” deste país mantiveram-se então mudas e quedas, sem sequer perceberem que, a se deixarem ir por esse caminho, um dia chegaria a sua vez…

É óbvio que a cumplicidade com este tipo de práticas fascizantes de organização e funcionamento da sociedade se aprofundaram e se agravaram em períodos de mais marcada crise. No tempo da Tróica e do governo PSD/CDS, e sob a invocação da chamada emergência financeira, valeu praticamente tudo para impor a diminuição de salários e pensões, o aumento dos tempos de trabalho, a facilitação e drástico embaratecimento dos despedimentos e contratos precários e a violenta restrição dos direitos e prestações sociais! Do mesmo passo que a Constituição era considerada um “empecilho”, que não deixava os “dedicados” governantes trabalharem devidamente, os críticos e divergentes eram mandados calar ou, pelo menos, emigrar… 

Depois, aquando da pandemia da covid-19, e sob o pretexto de outra emergência, agora sanitária, assistimos ao revivescer e agravar deste tipo de concepções e de práticas: actos gravemente restritivos de direitos e liberdades fundamentais adoptados pelo governo da “geringonça” em frontal violação da Constituição (o Tribunal Constitucional haveria de, e “a título póstumo” porque o fez apenas cerca de dois anos depois, declarar por 23 vezes a inconstitucionalidade de tal tipo de actos), com o Primeiro-Ministro a declarar acintosamente que o governo fazia o que entendia em defesa dos interesses da comunidade e que iria – como efectivamente foi! – continuar a fazer o mesmo “diga a Constituição o que disser”. Os críticos, os opositores ou simplesmente os opositores foram então por completo isolados, achincalhados e silenciados. E, ao mesmo tempo, incentivou-se e procurou-se normalizar o apelo à delação, apontando como normais, e até dignas de elogio, situações em que cidadãos foram, por exemplo, multados e até detidos pelas autoridades policiais por estarem a comer uma sandes no interior do seu próprio carro, após terem sido denunciados por um “bufo” mais zeloso. Tudo isto, recorde-se, sempre em nome da alegada “legitimidade dos fins” e com muitos dos que se pretendem democratas e, mais, de “esquerda”, a olharem para o lado ou até a apoiarem declaradamente este estado de coisas.

Com a guerra na Ucrânia, a lógica maniqueísta (e salazarista) do “quem não é por nós, é contra nós!”, foi levada a extremos inenarráveis: corte de estações televisivas, saneamento de comentadores, proibição de obras de arte, interdição de artistas e desportistas, simplesmente por serem russos ou por terem opiniões consideradas pró-russas, etc. Já tivemos ataques miseráveis por trolls nas redes sociais e até saneamentos sumários na Universidade (caso de Coimbra).

E, independentemente das reservas, críticas e oposições que alguns (talvez até a grande maioria) possam ter relativamente às opiniões e posições dos que não concordam e não se identificam nem com Zelensky e o seu regime, nem com a Nato nem com a União Europeia e as suas políticas, será que ninguém se apercebe que essa é precisamente a lógica dos regimes mais ditatoriais e da legitimação das suas maiores atrocidades e que um dia vai ser usada contra eles, eventualmente com novos gritos de: “Tudo pela Nação, nada contra a Nação!”?

É importante que isto se diga, até porque, nesta questão da guerra da Ucrânia, como na da Pandemia ou na da Tróica e da crise financeira, quem está em minoria num determinado momento pode afinal ter razão, e a essência da Democracia não é o esmagamento, pelas maiorias da ocasião, das minorias, mas, pelo contrário, é a salvaguarda destas! E a instigação da desconfiança, do medo e do ódio pelo outro, porque ele é diferente em origem social ou étnica, cor da pele, simpatia política ou fé religiosa é, afinal (como bem sabemos e não deveríamos esquecer), o terreno onde crescem as mais venenosas serpentes da Política. Mas também a este propósito os democratas da nossa praça, desde que alinhados com o poder e confortavelmente instalados nos interesses dominantes, de nada parecem querer saber…

Herdámos do Fascismo, e nunca a erradicámos verdadeiramente, uma concepção e uma estrutura do Estado e da sua Administração que vê nas pessoas comuns do Povo, não cidadãos que devem respeitar e servir, mas sim súbditos sobre quem têm a faculdade majestática de exercer o poder. A completa opacidade da nossa Administração Pública, a sua recusa sistemática em disponibilizar os documentos e a informação a que os cidadãos têm legal e constitucional direito (como se fosse um qualquer e enorme segredo nuclear saber-se em que estado se encontra um determinado processo, quantos funcionários tem um determinado serviço ou quem tomou, e com que fundamentos, uma determinada decisão). E complemento directo desta forma opaca e anti-democrática de funcionar é a prática, frequentíssima (até já a vimos no caso da TAP), de classificar de “confidencial” ou de “secreto” tudo aquilo que não convém ao Poder que seja conhecido.

Querem convencer-nos de que é normal e até inevitável o uso descarado, ostensivo e compulsivo da manipulação e da mentira como forma de gerir e governar, e também a gestão “científica” do medo como forma de assegurar o exercício e a manutenção do Poder. É, aliás, isso mesmo que explica a enorme dimensão e gravidade que uma calamidade como a do assédio moral no local de trabalho assume no nosso País, calculando-se que atinja já bem mais de meio milhão de trabalhadores.

Temos hoje, pois, uma sociedade cada vez mais dominada pela lei do medo. O medo de falar e sobretudo de criticar. O medo de ser despedido e perder o emprego. O medo de não conseguir pagar a casa e perder o tecto. O medo de ser denunciado como “diferente” ou “divergente” e ser prejudicado por isso. O medo de ser acusado falsamente, mas nem por isso deixar de ver a sua vida profissional, pessoal, social ou até política destruída para sempre. Tudo isto com os órgãos e instituições, supostamente encarregues de fiscalizar os actos dos órgãos e agentes do Estado e dos demais poderes, públicos e privados, e de garantir a protecção dos direitos, liberdades e garantias dos cidadãos (dos Tribunais às Entidades Reguladoras e Fiscalizadoras, passando pela Provedoria da Justiça), transformados em reais inutilidades ou “poços sem fundo”, muito fortes com os mais fracos, mas fraquíssimos com os fortes, e, sobretudo, manifestamente incapazes de desempenharem a função que supostamente lhes está atribuída.

Vivemos hoje num país – independentemente do que dizem o Governo, os seus apoiantes e uma Imprensa cada vez mais parecida com o SNI (Secretariado Nacional de Informação) de Salazar e Caetano – com um milhão e trezentos mil cidadãos sem médico de família, onde todos os dias se fecha um serviço de urgência e onde cada vez mais cidadãos têm de ir de madrugada para as portas dum Centro de Saúde ou percorrer dezenas de quilómetros para procurarem os serviços de saúde a que têm indeclinável direito. Um país onde a subida real dos preços dos produtos de primeira necessidade é o dobro da inflação “oficial” e onde começam de novo a aumentar as execuções e os despejos. Um país em que de um ano para o outro desapareceram (isto é, emigraram) cerca de 100.000 jovens trabalhadores altamente qualificados e em que a perda do poder de compra é muito superior aos miseráveis aumentos salariais dos trabalhadores públicos e privados. Este é também o país em que se exige toda a sorte de sacrifícios a quem trabalha, mas onde os Bancos e as grandes empresas, designadamente da Indústria Farmacêutica, da Energia, dos Combustíveis e das Grandes Superfícies acumulam lucros gigantescos, da ordem das centenas de milhões de euros. Um país em que, apesar de ter uma extraordinária localização geo-estratégica, uma magnífica orla costeira, um mar da Zona Económica Exclusiva maior que toda a União Europeia e portos (a começar por Sines) com excelentes condições de operação, não tem Marinha digna desse nome nem de Pesca, nem Mercante, nem de Guerra, não tem ferrovia e temos estado a destruir a transportadora aérea para ir agora privatizá-la à pressa e a preço de saldo, como já foi feito com a EDP, a GALP e os CTT, por exemplo.

E, todavia, e não obstante todos os dias, mas sempre a custo, dada a enorme e pegajosa teia de interesses envolvidos, se descobrirem casos de corrupção e de abuso de Poder (de que, porém, apenas alguns já há muito vinham falando), tudo se mantém no essencial na mesma. Ou seja, sob o argumento – aparentemente correcto, mas substancialmente hipócrita – de “à Justiça o que é da Justiça, à Política o que é da Política”, ninguém da área desta, em particular aqueles que se proclamam de esquerda, quer verdadeiramente discutir aquilo que conduz em linha recta à produção e eternização deste tipo de situações. 

E quando assim é, torna-se “normal” que dirigentes e forças políticas, que se dizem defensores da Democracia, desvalorizem e silenciem casos gritantes (como o do SIS) de teorias e práticas verdadeiramente fascizantes, com estas concordem e as subscrevam – sempre, é claro, em nome da “modernidade” e do “pragmatismo” –, pratiquem o silenciamento das vozes incómodas e de todas as formas de discriminação e perseguição aos seus opositores, contemporizem e beneficiem com as fraudes financeiras e a corrupção, apoiem revisões constitucionais (como a que o PS e o PSD estão silenciosamente a cozinhar) para se permitirem internamentos compulsivos sem mandado de um juiz, ou concordem com medidas de autêntico “fascismo sanitário”, como a nova legislação do tabaco. 

Um dia também eles vão acordar sentados em cima das baionetas, porquanto é precisamente neste terreno pantanoso do oportunismo político que podem crescer e desenvolver-se (e até obter apoio, designadamente eleitoral, daqueles que irão esmagar a seguir) os (neo)nazis, como sempre fizeram ao longo da História, primeiro com pezinhos de lã, em demagógica gritaria contra a corrupção e em discurso contra os “outros” (sejam eles os ciganos, os imigrantes ou simplesmente os que são ou pensam de forma diferente), mas depois, logo que se apanhem com o poder nas mãos… botas cardadas e facas afiadas.

É caso então para perguntar: onde estão os escritores e artistas, os Homens e Mulheres da Cultura, as elites universitárias? Onde estão as Ordens Profissionais, em particular a dos Advogados? Onde estão a Provedora de Justiça e as Associações de defesa dos direitos dos cidadãos? Onde estão, enfim, a Esquerda e aqueles que deveriam ser os seus princípios de sempre, ou seja, a defesa dos mais fracos e dos mais pobres, a vigorosa denúncia da corrupção, dos compadrios, das trafulhices e das mentiras, a constante luta conta todos os arbítrios e abusos (venham eles de onde vierem), o combate permanente contra a pobreza e todas as formas de injustiça social, o efectivo e contínuo controlo democrático sobre todas as formas de poder e sobre todos os dirigentes? Pois não é evidente que tem sido a renegação e o abandono desses mesmos princípios que nos está a conduzir até onde nos encontramos e, pior, para onde poderemos caminhar rapidamente?…

O que devem fazer então os que não se renderam definitivamente à lassidão dos princípios e à corrupção das consciências? Rendermo-nos? Não, de todo! Porque nós somos, nós temos que ser, a Resistência e, por isso, deveremos fazer aquilo que nos lembra o belíssimo poema “Antes que seja tarde”, de Manuel da Fonseca:

“Abre os olhos e olha,

abre os braços e luta!

Amigo,

antes de a morte vir

nasce de vez para a vida.”

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