Migrações, naufrágios e milhões

(André Campos, in comentários na Estátua de Sal, 23/09/2023)

Eis um assunto que gostava de comentar. Conheço alguns que arriscaram a travessia! Para ser mais correto foram homens, mulheres e crianças, bem….10996 homens, 2 mulheres e 2 crianças!

Os migrantes vão para onde a relva é mais verde… O que é preciso saber é que alguns meios de comunicação social explicam que existe ajuda social nos nossos países para os acolher, em Portugal também. Quando tal representa pelo menos 10 vezes o salário mensal no seu próprio país, é fácil perceber porque é que arriscam a travessia. O que não lhes dizemos é que o custo de vida é 30 vezes mais alto.

São os dirigentes ocidentais que estão a organizar a deportação destes pobres africanos, estas pessoas não estão ali por acaso e não é possível reunir tanta gente sem marcação, não é possível trazer estas pessoas em barcos normais, é impossível. Foi um barco que trouxe estas pessoas e continuo convencido de que estas pessoas estão a ser pagas para vir para a Europa.

Não se fala em usar a força contra os migrantes porque eles são o lucro para muita gente: contrabandistas, comerciantes do sono, hoteleiros, advogados, cuidados de saúde, multinacionais, etc. Além disso, um migrante é apenas mais um consumidor a quem vamos dar dinheiro público, o nosso dinheiro, e que vai aumentar o PIB e o crescimento na Europa. Quando esse dinheiro provém da dívida ou da criação de moeda, não é surpreendente que tenhamos inflação.

Factfulness, de Hans Rosling, (páginas 212, 213 e 214 na versão inglesa, Flatiron Books 2020): o autor explica que os migrantes pagam 1000 euros para atravessar a Europa em canoas, enquanto um bilhete de avião custa cerca de 50 euros. Porquê pagar 1000 euros e arriscar a vida quando se pode voar em segurança por 20 vezes menos? Uma diretiva do Conselho da Europa, de 2001, obriga as companhias aéreas a lutar contra a imigração clandestina (que é difícil de controlar ao balcão). Por isso, os imigrantes são obrigados a embarcar em botes e arriscam-se a morrer afogados. Que hipocrisia! Por um lado, a UE fica comovida quando os imigrantes se afogam e, por outro, impede-os de apanhar o avião.

Quem beneficia com a criminalidade? A imigração fornece mão-de-obra imediata (não temos de suportar 18 a 25 anos de infância “inativa” para que, tal como os nossos filhos, eles entrem no mercado de trabalho) e faz baixar os salários, criando fontes de insegurança que justificam medidas coercivas que vão muito além dos riscos que pretendem combater.

A imigração em massa é, portanto, PERFEITA na constituição do neofascismo de Davos: a família deixa de ser promovida, as políticas de natalidade são postas de lado, as formas estéreis de sexualidade são culturalmente encorajadas e a imigração é empurrada para compensar a carnificina.

Há quem diga que a intenção das autoridades europeias é claramente a de destruir a soberania das nações, organizando o caos a partir do interior, através do afluxo de migrantes para apoiar o pacto de migração decidido pela União Europeia. Um eletrochoque, como um presente para o governo globalista.

A nova ordem mundial precisa deste pacto para reinar sem a ajuda das nações. O mesmo se passa com a Ucrânia usada para consolidar a ação da NATO e apoiar um mundo unipolar e, finalmente, como a pandemia de COVID organizada para dar à OMS plenos poderes sobre a saúde global. Resta-nos entender isto e não sermos enganados …!

O discurso de Von der Leyen (na quarta-feira passada, se não estou em erro) onde, de facto, de forma bastante incongruente, ela mencionou o problema dos passadores de pessoas…foi chocante, porque, na sua miscelânea de auto congratulação e negação (“somos ótimos, a Europa é ótima, sempre tivemos razão, o céu ao lado é o inferno, etc.”), vir com este assunto do nada, e sem mais nem menos, tem um sabor desagradável a encenação.

Sim, a cronologia dos acontecimentos é bizarra, e vai ser um sucesso para os caçadores de conspirações que vão dizer que é normal porque os bons são bons e os maus são maus… mas, por outro lado, é óbvio que o objetivo desta Europa é servir de potencial pequeno David contra o grande Golias que está a crescer (olá BRICS).

Há certamente a ideia de reduzir as nações a sociedades anónimas (trocadilho não intencional), mas também a ideia de continuar a praticar o dumping social sob a capa de grandes refrões humanistas (Von der Leyen insistiu em acelerar o advento da Europa dos 30), para continuar a poder participar na corrida da competitividade, mesmo que esta já esteja condenada. A política do curto prazo está mais ansiosa do que nunca de ver o fim dos tempos, fazendo da urgência a ordem do dia e recorrendo a uma estratégia de pensos rápidos cada vez mais frenética. Como sempre, saquear, esmagar e destruir enquanto se pode e, no mínimo, fazer negócios sobre as ruínas, é edificante, ao mesmo tempo brutal e alucinante, como Kubrick, sem a encenação, mas com o mesmo cinismo brilhantemente incutido.

De acordo com Phillipe Fabry, que tem um contacto no local, alguns migrantes disseram que não tiveram de pagar aos passadores, o que aponta para algo planeado, mas por quem? A Tunísia, sem a qual nada pode ser feito, na prática? Terá sido financiada pela EU… e porque não pelos EUA? Por outro lado, é difícil dizer que se trata de um acordo entre a Tunísia e a UE, tendo em conta as recentes discussões, a não ser que se trate apenas de teatro, o que é bem possível.

Todos os países da União estão subordinados ao maná financeiro europeu, e foi isso que tornou esta estrutura demasiado poderosa. Além disso, o endividamento endémico dos estados-membros torna-os maleáveis. Este desequilíbrio económico, deliberadamente provocado internamente pela desagregação do tecido industrial, a instrumentalização da miséria, os debates estéreis sobre temas inúteis, as mentiras e a cegueira de uma população amorfa, só serviram para reforçar a tomada de poder pelas hienas europeístas.

As migrações, um flagelo humano obsceno pelo qual as políticas desestabilizadoras das grandes potências são em grande parte responsáveis, querem fazer-nos sentir culpados através de imagens e de um discurso paternalista de privilegiados que certamente não têm nada a ver com a miséria quotidiana.

Esta empatia seletiva significa que apoiam a privação de direitos fundamentais de alguns dos seus concidadãos que se recusaram a aceitar um envenenamento geral imposto por gurus maliciosos, incluindo a Presidente da UE, mas a pobreza extrema já existe no nosso país, nas zonas rurais, no mundo estudantil e em toda uma franja de pessoas comuns que foram marginalizadas pela precariedade do emprego e pela inflação excessiva.

Em vez de se pretender mostrar o fim da história, através da chegada em massa de imigrantes a Itália, porque não aprofundar o prólogo, ou seja, as raízes profundas destes movimentos e realizando um investimento político coletivo para travar estas partidas em massa? Mas é mais fácil acusar-nos de intolerância do que pedir contas aos poderosos, a quem lambemos as costas para conseguir um lugar ao sol.

Enquanto os europeus não compreenderem que a imigração é um negócio organizado que rende mais de 10 mil milhões de euros por ano, não compreenderão porque é que 8000 pessoas se levantam como uma só e são contadas. É tudo uma hipocrisia à custa desta pobre gente que merece um pouco mais de respeito.

Por um lado, os europeus dizem que a Rússia tem a sua quota-parte de responsabilidade e que deve mesmo contribuir para os fluxos migratórios, nomeadamente no caso dos nigerianos.

Por outro lado, há os soberanistas, que consideram que é a Europa que tem a sua quota-parte de responsabilidade e que está a levar a melhor…

Quando se é imparcial e não sectário: em quem acreditar?

A verdade está no meio,..  Algures.

Dá que pensar…


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O dom da ubiquidade

(Hugo Dionísio, in Facebook, 22/09/2023)

De repente fez-se luz! Percebemos porque é que diziam ser possível estar na Crimeia após a primeira semana de ofensiva. Simplesmente não existe nenhum poder no mundo, capaz de competir com quem tenha o dom da ubiquidade!

Iniciada a inversão da maré mediática – foi o próprio NY Times quem escreveu que o míssil contra o mercado de Konstantinovka -, com rumo a uma provável e crescente culpabilização dos próprios, outro que não o próprio Zelensky, debateu-se com uma sala vazia, aquando do seu discurso na Assembleia Geral da ONU.

Não foi apenas Duda, presidente da Polónia, quem se baldou à reunião bilateral que tinha marcada com a figura; não foi, apenas, o próprio Duda quem anunciou o fim das armas para o territorialmente cobiçado vizinho de leste; não foi apenas o anuncio do embargo, por vários países europeus, aos cereais da Ucrânia; não foi, tão só, o pacote minimalista, com o qual o comediante teve de se contentar, apesar de ser de 5 a 10 vezes menor do que o habitual, em montante e em quantidade…

Tudo jogou contra ele. Até Byron Donalds, uma das figuras proeminentes do partido republicano e dos novos “conservadores”, veio dizer que “se tivéssemos um presidente que em vez de dormir nas assembleias, estivesse acordado, talvez o mundo não estivesse como está”, referindo-se a Sleepy Joe (Joe adormecido). Ainda acrescentou que “já chega de dinheiro para a Ucrânia, precisamos dele aqui”.

Tal como Duda, parece que o movimento desta gente é o de isolar o partido democrata, isolar Biden e os seus capos (prevenindo e prevendo uma vitória republicana possível e a inversão da tendência), sejam eles, liberais ou conservadores, fugindo da associação a uma Ucrânia que o presidente polaco designou de “homem a afogar-se, num estado em que afoga quem o quiser salvar”!

Na repetição histórica do banderismo e nazismo dos anos 30 a 40 do século XX, desta feita como farsa, a propaganda enganosa ocupa um lugar ainda mais proeminente. Contudo, nesta segunda iteração, tal como sucede com as farsas, não tarda muito que se descubram as falácias próprias da sua construção.

Foi assim que, Zelensky, em face de um – cada vez mais evidente – isolamento do Ocidente NATO (seja NATO Atlântico ou Pacífico), foi confrontado com uma sala vazia, aquando do seu discurso na AG da ONU. Como é óbvio, um poder de plástico; com pilares de areia e paredes feitas com o papel dos títulos de tesouro dos EUA e do BCE; sustentado pela força das armas e pela maior campanha de persuasão e coacção opinativa, de que há memória, no Ocidente, desde o fascismo do século passado; não poderia, este regime superficial, apresentar o seu porta-voz a falar para uma sala cheia de lugares vazios. Viver da imagem é isto mesmo!

Não poderia, principalmente, quando todos os “órgãos” de comunicação pagos com o dinheiro negro da CIA, dos contribuintes americanos e extorquido aos países do Sul Global, ainda hoje falam de “um mundo totalmente a favor”, de “um apoio global” e do “isolamento internacional de”.

Se, com Lavrov, a sala estava composta, mas não cheia, faltando aí os meninos birrentos do costume; com Zelensky, só estavam mesmo os meninos birrentos e irresponsáveis do costume. Mas com Lula da Silva, isso sim… Com Lula, a sala estava a abarrotar. Mesmo depois de este, no seu dúplice jogo de cintura, assinar um acordo com os EUA, no quadro da AFL-CIO (AFL-CIO, The American Center for International Labor Solidarity), para “reforçar os direitos dos trabalhadores”. É caricato, não é? Um país quase sem convenções da OIT ratificadas, que não reconhece o direito a férias (entre muitos outros), onde os patrões podem despedir de um dia para o outro, pagando apenas uma semana de trabalho, onde as mães não têm licença parental e os sindicatos são controlados pelo Estado…. Vir fazer parcerias com a América Latina (Peru, Colômbia e Brasil), para esta matéria… O que faz a falta de mão-de-obra!

Se, com Lula, a sala estava cheia, havia que aproveitar. Então o que fizeram os “fake” Goebbels do protetorado ucraniano dos EUA? Pegaram no vídeo, editaram, colocaram Zelensky a falar para essa mesma sala… A sala de Lula! Fizeram-no tão bem que, aos 14 segundos do vídeo passado no principal canal do país – um dos que não foi fechado à força -, é o próprio interveniente que surge na plateia! Ubiquidade? Não! Apenas a farsa do costume.

Por cá, como sempre, as nossas TV’s estão proibidas – ainda – de se referirem ao regime EUA na Ucrânia, nestes termos. Mas há-de vir o tempo. Revisite-se a história de Saddam Hussein, no tempo da guerra Irão-Iraque, em que o Iraque foi usado, dessa vez com sucesso, contra o arqui-inimigo e sempre resistente Irão, para se perceber o que lhe irá acontecer. Primeiro o salvador da democracia; depois o corrupto; por fim o ditador… E depois… Já sabemos… TPI ou forca, ou os dois!

E o desfasamento em relação ao movimento real é tao grande, pelo menos na generalidade dos órgãos, que o Expresso vem apresentar uma entrevista, com um general ucraniano na reserva, cujo nazismo é tão grande ou pequeno, que diz que dentro de um ano a Ucrânia terá recuperado as suas fronteiras de 1991 e que a Rússia se balcanizará em dezenas de estados mais pequenos.

Eu percebo que, nalguns casos, e após a recente reunião do Congresso da “Associação dos povos alógenos da Rússia”, criada pelo Império Austro-Húngaro no século XIX, para dividir o seu rival, o império russo, a ilusão seja confundida com a realidade. Percebo também que o desejo, quando doentio, possa levar à ilusão. O que eu já não entendo é como é que uma pilha de papel chamada “Expresso” foi colocada ao serviço destas coisas. Muita há-de ser a crise, para se vender desta forma.

Mas enquanto eles se divertem, de há séculos a esta parte, a projectar a destruição de um país multinacional, unido pela língua e cultura, em que dezenas de etnias vivem em paz, seria importante relembrar as palavras de Confúcio, tão bem aplicadas aos EUA, cuja elite gerontocrática se deveria olhar primeiro ao espelho:

“Para pôr o Mundo em ordem, temos primeiro de pôr a Nação em ordem; para pôr a Nação em ordem, temos primeiro de pôr a Família em ordem; para pôr a Família em ordem, temos primeiro de cultivar a nossa vida pessoal, endireitando o nosso coração”.

Num país cujas cidades estão povoadas por sem abrigos, tendas, carros e barracas; dependentes de drogas legais e ilegais; em que a taxa de suicídio entre os jovens dos 18 aos 35 anos é uma das principais causas de morte; palco de uma cultura tão individualista e consumista, em que as pessoas até prescindem de ter filhos e consideram as crianças um “fardo”; realidade em que se multiplicam as famílias desestruturadas, onde devido à desregulação das leis laborais os trabalhadores não têm tempo para os filhos e família; no qual os valores familiares e humanos são secundarizados em função de lógicas empresariais que desenraízam e alienam os trabalhadores em relação à sua terra, ás suas raízes sociais e étnicas, em relação á sua cultura; em que a cultura é produto e privilégio de uma elite; em que a educação é instrumentalizada em função dos interesses económicos, mercantilizando-a (exemplo do Bolonha), dirigindo-a para a formação de servos (vejam o teste “americano” em que a resposta já está dada, não obrigando o estudante a pensar e a construi-la) e não de pessoas livres e críticas; um país com infra-estruturas corroídas pelo desinvestimento continuado em função das lógicas liberais e neoliberais que apostam no “estado minimalista”; um país crescentemente endividado e com um aparelho produtivo subdimensionado; um país que vive da pilhagem do alheio e do seu próprio povo…

Este país desordenado, onde os fãs da cultura “woke” e transumanista migram para os estados democratas e os que são anti “woke” e defensores dos valores tradicionais (conservadores ou não), migram para os estados republicanos. Um país cheio de armas, cuja venda quase duplicou desde o Covid. Um país, no qual um avião F-35 desaparece, desviado por um grupo de extrema-direita e ninguém sabe onde está. Um país, no qual, quase metade da população acredita, já estar, ou encontrar-se a caminho de uma guerra civil.

Não admira, portanto, que Zelensky tenha encontrado uma sala vazia e tenha tentado possuir o dom da ubiquidade. O dom da ubiquidade que Zelensky cobiçou, encontra paralelo na elite oligárquica e gerontocrática dos EUA, que o apoia. É seu produto exclusivo. Quem não se governa a si próprio, não pode liderar o mundo! É da natureza das coisas.

Tal como os EUA, também o comediante sem graça quer mais do que o que pode e lhe é fisicamente possível. Um ser sem história e base política que não seja a de um programa de comédia que usou para se promover; presidente a brincar, em que ministros assumem pastas sem falarem a língua, sem nunca terem colocado um pé nessa terra (3 ministros do governo de Poroshenko), de um país de brincar, cuja (o?) porta voz das Unidades de Defesa Territorial era uma transexual (nada contra!) de extrema-direita nascida e criada… nos Estados Unidos! De seu nome Sarah Ashton-Cirillo, recentemente demitida por defender, numa entrevista, que os opositores e críticos do regime Ucraniano devem ser silenciados e caçados.

Também os EUA, em desconstrução interna acelerada, mas armados e cheios de polícia, agências de segurança e armas até aos dentes, possuem mais de 800 bases militares à volta da China, Rússia e Irão, uma panóplia de porta-aviões e centenas de milhares de espiões e agentes diplomáticos ou indiferenciados espalhados pelo mundo.

Logo, também os EUA querem estar em todo o lado, ao mesmo tempo e a sala vazia de Zelensky é um retrato dessa impossibilidade! EUA e Zelensky cometeram um pecado mortal… O de querem ser deuses!

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0,8%

(Miguel Castelo Branco in Facebook, 19/09/2023)

A guerra, tal como nos foi narrada desde o primeiro dia, foi descomplexificada, achatada e intencionalmente evacuada daquela riqueza de aspetos que faz de qualquer conflito um objeto poliédrico de muitas faces; logo, exigindo um grande número de abordagens de análise, de comparação e ponderações geopolíticas, históricas, demográficas, políticas, económicas e tecnológicas.

Compreende-se agora como foi possível embrutecer e manipular populações inteiras, fazendo-lhes crer que o conflito surgira do nada, sem antecedentes e causas precipitantes, um absurdo que teria um culpado singular (Putin) ou um culpado coletivo (os russos). Tratou-se, simplesmente, de apresentar esta guerra com o maniqueísmo mais esquemático – o agressor e o agredido, o autocrático e o democrático – sem explicitar, retirando da narrativa qualquer elemento que pudesse travar o passo a uma adesão emocional (ou seja, irracional) a uma causa apresentada como representando o bem.

Para tal, como acontecera antes nas guerras do Iraque, da Jugoslávia, da Síria e da Líbia, importava animalizar e absolutizar o mal, fazendo calar o contraditório, proibi-lo e perseguir pela censura e pela difamação quem ousasse exercitar um discurso mais razoável e complexo. Esse caminho acabaria por facilitar a imposição de um estado de espírito predisposto a aceitar a escalada e tornar impossível que a palavra paz pudesse ser proferida.

Foi assim possível lançar a Europa numa guerra económica da qual está a sair perdedora e, até, tornar aceitável e possível se necessário uma guerra nuclear, sem que os europeus se apercebessem que tal seria o fim da Europa.

Passam hoje 14 semanas sobre o início daquela que foi apresentada como a contraofensiva que destruiria a Rússia, o seu governo e, até, a Federação, partindo-a numa miríade de pequenos estados vassalos do Ocidente. Nada se passou, para além das quase 150.000 baixas entre mortos e feridos da Ucrânia. O avanço não se deu; pior ainda, dizimou o imenso parque tecnológico militar dito de ponta com o qual pensava a NATO demonstrar a superioridade dos seus meios.

Por 60.000 mortos, a ofensiva que iria tomar a Crimeia e atingir o Mar de Azov, conseguiu lançar mão de 0,8% do território russo da Ucrânia, pelo que são agora percetíveis na imprensa ocidental – e nas ruas das capitais europeias – os primeiros sintomas de saturação e indignação.

Os últimos fogachos da contraofensiva estão em linha com mais uma reunião em Ramstein. Como sempre, a guerra mediática de tik-tok’s e twitters desenvolve intensa campanha de sugestionamento para obter o adiamento do fim da guerra, mais doações e empréstimos. Depois do dia 21, assistiremos obviamente a uma nova narrativa e suspeitamos, até, que os mesmos arlequins que durante um ano e meio nos presentearam com estridências de guerra irão lentamente passar a um novo registo. A mudança, para merecer credibilidade, vai ser progressiva, de um “congelamento da guerra” à necessidade de entabular “talks about talks” com a Rússia para, finalmente, se aceitar ter a Ucrânia de trocar território por paz. Falta pouco.

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