Das mordidelas dos Pitt Bull

(Carlos Matos Gomes, 24/05/2021)

O que fazer quando não se tem princípios? Assobia-se e espera-se que os Pit Bull não nos mordam!

O terrorismo do ditador Bielorusso é o resultado do pragmatismo dos tiranos. O pragmatismo dos tiranos foi exemplarmente exposto por esse flibusteiro da política, nascido na Alemanha como Heinz Alfred Kissinger, que adotou o nome de Henry Kissinger, do Estado de que que foi um servidor sem escrúpulos.

Explicou Kissinger o apoio dos EUA aos tiranos sul-americanos e a crítica aos que serviam outros senhores: apoiamos os nossos FDP. O nosso Pit Bull obedece-nos e morde os nossos adversários. É um bom Pit Bull.

Estamos a viver os resultados da falta de princípios chamada pragmatismo.

Há 15 dias que os Estados Unidos apoiam Netanyahu, o seu Pit Bull para o Médio Oriente no ataque a Gaza. Agora com que cara criticam o Pit Bull Lukashenko, da Bielorrússia, um estado tão satélite da Rússia como Israel dos EUA e tão FDP como Netanyahu? E como criticar a prisão e sequestro de um jornalista opositor do regime da Bielorrússia, quando se tem preso e sequestrado Julien Assange?

A classificação dos FDP, ou dos Pit Bull, entre os nossos, a quem todas as mordidelas são desculpadas e os FDP dos outros conduz a estas situações. O ataque dos Pit Bull de Netanyahu a Gaza foi aqui mesmo à porta. O avião desviado pelos Pit Bull do Lukashenko pertencia a uma companhia de um estado da União e voava entre cidades da União. Mas a União está a estudar os assuntos, e tem medo dos Pit Bull.

O dito Lukashenko gozou com a situação declarando que recebera informação (julga-se que de Israel) de que fora o Hamas a colocar a colocar explosivos na aeronave da Europa. Uma habilidade que já os EUA haviam utilizado com as armas de destruição em massa no Iraque, as tais que o Portas e o Barroso viram… Uns especialistas em distinguir Pit Bull bons dos maus e até videntes!


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O silêncio: a pior resposta do Estado português

(José Goulão, in Resistir, 26/11/2019)

O chefe de Estado e o governo da República portuguesa estão em silêncio perante as atrocidades contra a democracia e os direitos humanos praticadas na Bolívia e no Chile. Em circunstâncias onde o poder neoliberal se vê forçado a mostrar a sua verdadeira face ditatorial para evitar a aplicação plena da democracia, com todas as suas consequências, as principais figuras do Estado português escolhem o silêncio, talvez a maneira mais indigna de se identificarem com a crueldade do sistema – ao mesmo tempo que ignoram a Constituição da República.

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Na Bolívia, depois do golpe com todos os velhos ingredientes político-militares, a repressão fascista com matizes racistas avança através do país e não poupa sequer os senadores eleitos que constituem a maioria absoluta do Senado. No Chile, a repressão do pinochetista Sebastián Piñera castiga cruelmente o levantamento popular que exige uma Constituição democrática e uma vida digna. A tudo isto as principais figuras do Estado português dizem nada. Respondem com um longo e profundo silêncio como se não lhes coubesse ter opinião própria e fossem obrigadas a respeitar o não menos profundo e longo silêncio da União Europeia. Tentemos decifrar o enigma – que tem, certamente, um eminente significado político.

Todos sabemos o quão loquazes são, por exemplo, o chefe de Estado e o ministro dos Negócios Estrangeiros. Essa veia comunicadora que lhes permite ter as palavras certas nos momentos certos para a comunicação social certa é de tal maneira expressiva e expectável que nos permite dispor de elementos para compreender os conteúdos dos seus silêncios sem uma exagerada margem de erro.

Na Bolívia deu-se um golpe de Estado – ainda há quem tenha pudor em qualificar assim o que está a acontecer – que derrubou e exilou o presidente eleito com mais de 47% dos votos e o fez substituir por uma senadora de uma força minoritária no Senado – que teve de usurpar dois cargos de uma assentada: o de presidente do Senado e o de chefe do Estado.

Na sequência do processo, que atropela as mais elementares normas democráticas porque não foi apresentada, até ao momento, qualquer prova de viciação dos resultados eleitorais, as forças militares e policiais entregam-se a orgias de violência especialmente contra as camadas mais desfavorecidas, as comunidades indígenas dos campos bolivianos, precisamente as que formaram a base social maioritária que sustentou as administrações progressistas, soberanistas e anti-neoliberais de Evo Morales.

Uma informação sobre o teor fascista e selectivo da vaga repressiva, e que talvez possa interessar ao aparentemente desinformado ministro Santos Silva, decorre do conteúdo do decreto emanado pela presidente usurpadora, Jeanine Áñez, e que no seu artigo terceiro estipula que “o pessoal das Forças Armadas que participe nas operações de restauração da ordem e de estabilidade política ficará isento de responsabilidade criminal quando, no cumprimento das suas funções constitucionais, actuarem em legítima defesa ou estado de necessidade”.

Uma medida de encorajamento ao tiro livre que tem a sua equivalente jurídica – os golpistas bolivianos informaram-se da prática de lawfare com quem de direito, por exemplo a corte de Bolsonaro – na proposta da presidência para constituir “um aparelho especial” da Procuradoria que permita prender os senadores do Movimento para o Socialismo (MAS) que promovam “a subversão e a sublevação”, ou seja, para meter na cadeia, no limite, a maioria absoluta do Senado.

Estas pinceladas abreviadas sobre a situação na Bolívia permitem deduzir que haveria matéria capaz de puxar pela palavra fácil do chefe de Estado, do ministro dos Negócios Estrangeiros, do próprio primeiro-ministro.

Correspondência no Chile

As principais figuras do Estado português permanecem igualmente silenciosas sobre o que se passa no Chile.

E o que se passa no Chile é um imenso e pacífico levantamento popular, torpedeado por fenómenos de banditismo accionados para tentar retirar legitimidade à revolta e servir de manobra de diversão para a comunicação mainstream, contra o sistema de ditadura económica herdado do regime terrorista de Pinochet.

Sebastián Piñera, presidente em exercício e admirador confesso de Pinochet, tem recorrido à violência repressiva e ao manobrismo político para se manter, comportamento em que arrastou grande parte da oposição num processo que visa estabelecer uma “nova” Constituição em que o essencial do regime continue inalterado.

Obviamente, também no Chile os mecanismos democráticos continuam a sofrer maus-tratos. Talvez interesse ao ministro Santos Silva conhecer a sádica tendência criminosa de Piñera manifestada através do aparelho repressivo: usa munições de borracha, sim, mas disparadas contra os olhos dos manifestantes. Os casos de cegueira e outros problemas de visão daí decorrentes elevam-se a cerca de 230. Muito compatível com o respeito pelos direitos humanos.

Mutismo quase absoluto.

Apesar destas circunstâncias muito graves, a Presidência da República e o governo de Portugal entendem que não há razões para se pronunciarem.

É verdade que a União Europeia também está em silêncio. Será por isso que Lisboa também nada diz?

No entanto, a Constituição Portuguesa tem particularidades explícitas em matéria de soberania, respeito pelos direitos dos povos e os direitos humanos que não se encontram em outras leis fundamentais dos parceiros europeus.

Nada exigiria que o silêncio comunitário impusesse o silêncio lusitano; pelo contrário, a soberania portuguesa tal como é estipulada na Constituição exige que as autoridades do Estado tomem posições por si próprias, sem estarem à espera dos “aliados”.

Mas não. Ao que parece continua a prevalecer o complexo de bom aluno.

É verdade que foi dita uma coisa sobre a Bolívia: os portugueses “devem evitar qualquer deslocação” a esse país, aconselhou o portal do Ministério dos Negócios Estrangeiros no dia 11 de Novembro; e, no dia 14, uma fonte da Secretaria de Estado de Negócios Estrangeiros fez notar à agência Lusa que é “muito raro” o Ministério fazer recomendações deste tipo.

Portanto, na óptica ministerial o caso é grave; transformou-se até numa situação atípica de risco elevado. Mais uma razão para assumir uma posição política capaz de ajudar a população a compreender a situação.

Então, das duas uma: ou o silêncio é cúmplice com as atrocidades que estão a passar-se; ou o governo só tem margem de manobra, em termos de vínculos internacionais, para saudar a reimplantação do fascismo neoliberal – preferindo, desta feita, defender-se com o mutismo.

Talvez porque em situação anterior optou por pronunciar-se e ficou com um trambolho político nas mãos chamado Juan Guaidó. O Estado português, a exemplo de várias potências da União Europeia, mas não a comunidade em si, identificou-se com o golpe na Venezuela que tinha como objectivo instalar organizações e figuras fascistas no governo. E fê-lo pondo em risco a situação de centenas e centenas de milhares de portugueses que vivem na Venezuela, ao contrário do que aconteceu agora com escassas dezenas que vivem na Bolívia. Que merecem todo o respeito, tornando procedente a advertência governamental. Uma atenção que, por maioria de razão, deveria ter estado sempre no espírito do governo em relação à Venezuela

Deduz-se que o governo de Lisboa tem consciência de se ter saído muito mal na Venezuela, pelo que tentará agora evitar catástrofe política idêntica. Tal como em Caracas, identificar-se-á com a usurpação do poder em La Paz mas acha melhor não dar sinal de si, fingir-se de morto, a não ser quando puder fazê-lo com a cobertura dos “nossos parceiros e aliados”.

Um pau de dois bicos

O chefe de Estado, por seu lado, poderia dizer de sua justiça sobre os acontecimentos na Bolívia e no Chile porque teve até um contexto internacional em que tal viria a propósito: a visita oficial a Itália.

Mas não; preferiu glosar o mote da NATO como entidade “defensiva” e amiga “dos desfavorecidos”, como gosta de dizer o seu anfitrião de ocasião, o presidente italiano. Seguir nesse rumo até à Bolívia, porém, seria traiçoeiro: ao elogiar a NATO, Marcelo Rebelo de Sousa fez a apologia da organização que formou operacionalmente os militares decisivos para o golpe em La Paz e agora têm mãos livres para espalhar o terror fascista. Abordar a situação na Bolívia neste contexto deixaria o presidente mal na fotografia, mesmo sendo reconhecida a sua habilidade para dar a volta a casos intrincados em termos de comunicação. O silêncio revelou algum pudor mas agride os princípios em que assenta a Constituição da República em termos de respeito pela democracia e pela liberdade dos povos.

Tudo menos o silêncio

Perante o que está a acontecer na Bolívia e no Chile, os democratas sintonizados com a Constituição da República, os princípios democráticos, a soberania e o respeito pelos direitos humanos só podem assumir uma posição: denunciar e condenar o golpe, a repressão e o manobrismo utilizado para iludir os resultados de eleições legítimas e as reivindicações populares.

Não existem dúvidas sobre quem são os agressores e os agredidos, os golpistas e as vítimas, de que lado está a legitimidade e como se impõe a trafulhice criminosa.

Mas também na Venezuela o cenário é muito claro, como aliás o fascismo sob o poder na Ucrânia, e o governo não deixou de dizer de sua justiça – ignorando os princípios democráticos.

Ao assumir agora o silêncio sobre situações dramáticas que vitimam populações carenciadas, o governo da República Portuguesa parece ter mudado de táctica na sua estratégia de cumplicidade com casos de usurpação da democracia.

Na verdade, o que está em causa, tanto na Bolívia, como no Chile, como na Venezuela é a alternativa entre a democracia com todas as suas consequências e a ditadura neoliberal.

Não é difícil perceber de que lado estão o chefe de Estado e o governo da República. O silêncio é apenas uma defesa tornada recomendável perante o indisfarçável complexo de Guaidó.

Ainda assim seria de bom-tom que os portugueses soubessem o que têm a dizer realmente as principais autoridades do Estado sobre as atrocidades à democracia e os direitos humanos que, nos dias que correm, estão a ser cometidas na Bolívia e no Chile. Porque o silêncio é a mais indigna das atitudes.


A Vitória de Trump

(Dieter Dellinger, 27/04/2018)

coreia

Donald Trump é um presidente populista, mentiroso, arrogante e altamente imprevisível. Como tal suscita temor a uns e pouca credibilidade a outros. No fundo é um segundo Ronald Reagan que derrotou a URSS com uma ideia estapafúrdia, a da Guerra das Estrelas.

Trump sempre quis travar os avanços da Coreia do Norte no campo do nuclear militar e a construção de mísseis balísticos intercontinentais, sabendo, como toda a gente, que por de trás da Coreia do Norte está a China que mantém relações comerciais intensas e fornece muito do que o país necessita e importa e exporta.

Há quem acredite que o armamento nuclear do Norte tem origem parcial ou total na China que admitiria um conflito nuclear por interposto país. Mas, se todos pensarem bem, o nuclear militar não tem qualquer sentido, é quanto muito um conjunto de armas de resposta, pelo que não servem para o ataque e a Coreia do Norte nunca poderia destruir os EUA, podendo suceder o contrário, os americanos podem anular a capacidade nuclear do Norte. Todavia, a arma termonuclear dá um estatuto de potência e importância a qualquer país e regime político. É, no fundo, uma arma diplomática a nível mundial.

Os EUA possuem 6.800 ogivas e 450 mísseis de grande alcance, enquanto a China terá 260 ogivas e 62 mísseis. A diferença numérica não tem sentido e é quase uma igualdade, dado o enorme poder destruição de cada ogiva. Em caso de guerra seria como uma pessoa morrer com duas balas ou com 20.

Por isso, a questão nuclear é secundária e os EUA não entrariam em conflito militar com a China, mas não toleram a ideia de uma guerra nuclear por interposto país, A China é a nação mais gigantesca do Mundo em população e tropa numerosa, cuja conquista não interessa a ninguém como não interessa a ninguém outras conquistas.

Trump ameaçou, mas não se meteu em qualquer conflito militar. Em vez disso, fez aquilo que os chineses não esperavam, desencadeou uma GUERRA COMERCIAL. Há poucas semanas ou dias as alfândegas passar a exigir 25% do valor do aço importado pelos EUA e 10% do alumínio.

Além disso, Trump anunciou que mais de 120 artigos diversos – tidos como cópias de inventos americanos – seriam taxados a valores elevados se não pagarem royalties ou direitos de autor. Estão aí quase todos os telemóveis, computadores e muita coisa mais da Huawei e outras empresas chinesas. Uma verdadeira catástrofe para a China.

Foi instantâneo, a Coreia do Norte deixou imediatamente de lançar os seus perigosos mísseis que passavam por cima do Japão e nunca mais fez explodir qualquer ogiva nuclear de ensaio.

Em vez disso lançou a mão ao presidente Mon Jae da Coreia do Sul com a participação de desportistas do Norte nos Jogos Olímpicos de Inverno e agora com o abraço fraternal na fronteira. Ambos os presidentes defenderam as duas Coreias desnuclearizadas, apesar de muita gente não acreditar que Kim o faça.

Pelo menos pode congelar o desenvolvimento do seu armamento que deveria custar uma fortuna para uma nação com uma área ligeiramente superior à de Portugal e cerca de 24 milhões de habitantes, enquanto a Coreia do Sul tem uma área semelhante e 48 milhões de habitantes e é uma potência económica mundial que produz tudo desde os maiores navios do Mundo aos mais pequenos smartphones de pulso tipo relógio e um grande concorrente da China e do Japão nas suas exportações. Os sul coreanos já vendem mais automóveis na Europa que o Japão.

O PIB per capita da Coreia do Sul é ligeiramente superior ao português (multiplicado por 48 milhões no total), sendo da ordem dos 25 mil dólares, enquanto o do Norte anda pelos 2.500 dólares, mas não “desperdiça” em milhões de automóveis e aparelhagem eletrónica pessoal, exceto televisores que o regime de Kim necessita para comunicar ao minuto com o seu povo.

Kim já convidou Donald Trump a visitar o seu país ou a encontrar-se com ele como fez ao presidente do Sul. Para além da questão comercial que é de importância vital, a China, cujo crescimento está em desaceleração, necessita de uma imensa reconversão industrial para não se afundar numa poluição quase mortal para a sua população.

A Coreia do Norte pretende a saída das tropas americanas da Coreia do Sul, o que não teria qualquer problema dado que o sul possui muita tecnologia e forças armadas muito bem armadas com material moderno não nuclear. Nada que se compare com a situação de 1950 quando o Norte invadiu um Sul quase desarmado. Além de que num improvável conflito, os aliados americanos estariam em poucas horas a lançar os seus mísseis de cruzeiro contra bases e centrais nucleares norte-coreanas.

Curiosamente, a Coreia do Sul nunca defendeu a unificação como fazia a Alemanha Ocidental que cortava relações diplomáticas com todos os países que reconheciam a Alemanha Oriental e sempre defendeu a integração do leste na sua República Federal como veio a acontecer há 28 anos.

Por outro lado, talvez Kim não deva querer ser o líder de um protetorado da China como foi a Coreia durante séculos ou uma segunda Cuba impossibilitada de exportar e importar. Por último, há a questão da mãe do presidente da Coreia do Sul que estava retida no Norte e suponho que tenha tido autorização de se juntar ao filho. A não ser assim, seria tudo uma farsa hipócrita.

Ao contrário da Coreia do Norte, a Alemanha Oriental ou Comunista deixou sair todos os reformados para o Ocidente. Assim, o Estado Oriental Alemão poupava nas reformas e nos cuidados de saúde e espaço habitacional. Já nos anos 50, a RFA já era tão rica que pagava a reforma de todos os idosos vindos do Oriente e cuidados de saúde, lares, etc., mesmo à minha avó quando veio para Portugal nessa década.