O cuco americano no ninho europeu

(Por Alastair Crooke, in A Viagem dos Argonautas, 18/12/2022)

Para a Europa, a adoção irrefletida deste pensamento “intruso” americano no seu próprio ninho europeu é nada menos que catastrófica.

Ler artigo completo em:

A Viagem dos ArgonautasA Guerra na Ucrânia e para lá dela — O “intruso” americano no ninho europeu.  Por Alastair Crooke


Tanta verdade junta mereceu publicação – take XXV

(Carlos Marques, 10/12/2022)


(Este texto resulta da resposta a um comentário a um artigo que publicámos de Stephen Bryen, ver aqui. Quanto ao referido comentário de André Campos: ver aqui. Perante tanta verdade junta, resolvi dar-lhe o destaque que, penso, merece.

Estátua de Sal, 11/12/2022)


E quem tornou a guerra inevitável?

1- Os EUA, ao insistirem em alargar a NATO e provocar e ameaçar ainda mais a Rússia; 2 – Os restantes países da NATO por aceitarem essas ordens dos EUA; 3- Os nazis ucranianos pois foi quem fez o golpe e ameaçou a vida dos muitos que são anti golpe Maidan.

E o que faz a máquina de propaganda (“imprensa livre” ou mainstream merdia) perante isto? Mente, manipula, omite, apoia os culpados, torce pela morte das vítimas do Donbass e Crimeia, atira a culpa para os últimos a intervir no conflito (Rússia), e ainda tem a lata de calar quem diz a verdade, e de perseguir quem defende a paz.

Sim, mais culpado do que quem faz a guerra, é quem a tornou inevitável. Mas olha que a culpa de quem mente sobre a guerra, branqueia nazis e crimes da NATO, e impede a maioria do povo de saber quem planeou, provocou, tornou inevitável, começou, e recomeçou a guerra violando acordos de paz, é também um cúmplice que merece muita condenação. Sem os “jornalistas” dos mainstream merdia, nada disto tinha sido possível. Portanto, nas mãos dos Rodrigo Guedes de Carvalho, das Ana Lourenço, etc, está também o sangue de todas as mortes que poderiam ter sido evitadas.

Que o Macron venha agora finalmente dizer que afinal tem que se negociar com a Rússia, tem de haver cedência territorial, e que as suas preocupações de segurança (feitas 2 meses antes da intervenção militar) têm de ser atendidas, só mostra a quão errada tem sido a posição do regime genocida ocidental, o quanto vai ter de mudar e engolir sapos, e o tamanho record das cambalhotas que os mainstream merdia ainda vão ter de dar.

É bom lembrar que Macron há 10 meses atrás pedia “só” para que a derrota da Rússia não fosse total e demasiado humilhante. Daqui a mais 10 meses, se continuar a pirueta completa, ainda ouviremos Macron a dizer que a Finlândia afinal não pode entrar na NATO, que não podem ir mais armas para a Ucrânia, e a pedir desculpa por ter traído o acordo de Minsk ao ajudar quem o violou. Deste ponto de vista, até vai ser engraçado observar as piruetas e cambalhotas.

E ainda agora está a começar o primeiro inverno desde o “início” desta estória… E ainda agora estão os 300 mil mobilizados a terminar os treinos… E ainda agora começou muito levemente o conflito económico (ainda só muito discretamente e com palavras muito tímidas), entre EUA e UE… E isto chega a um certo ponto em que já não é como começou, mas sim como acabará.

Do “nosso” lado, mente-se descaradamente e, quando se descaem (por exemplo sobre o PROPOSITADO bombardeamento ucraniano de falsa bandeira na Polónia, ou a Ursa can der Lata a falar dos 100 mil mortos nas tropas ucranianas), logo apagam tudo e assobiam para o lado. É mentira em cima de mentira. A partir de certo ponto o castelo de cartas começa a ruir!

Do outro lado a Rússia, mais propaganda menos propaganda, sabe o que está em causa, apoia a intervenção, e é informada sobre a realidade inconveniente: tem havido problemas. Até Putin já o reconheceu. Isto, para mim, foi a confirmação de que a Rússia irá ter uma vitória clara neste conflito. Quem fala abertamente, defende os factos, admite os problemas, e os resolve, é quem fica melhor no final.

Do lado de “cá”, a Rússia é o diabo, os nazis afinal são bons, a Crimeia é ucraniana, a NATO é defensiva, as sanções são legais e funcionam, os 100 mil mortos são do exército russo, a Rússia bombardeia-se a si própria na central nuclear, nenhuma bomba UcraNaziNato mata civis em Donetsk, e o herói e homem do ano, Zelensky, é o honesto democrata que está a levar os santos Azov até à vitória, em nome da liberdade. Se não fosse caso para chorar, dava para rir com o chorrilho de alarvidades ridículas com que esta gente constrói a narrativa ocidental.

Agora sei como se devem ter sentido pessoas como Stauffenberg[1], só não sei se alguém terá coragem e meios para fazer com sucesso uma operação Valquíria…
É que agora não basta um pequeno explosivo na Toca do Lobo. Há alcateias por todo o lado, e até já um conhecido judeu sionista veio dizer que os nazis ucranianos não são maus porque não matam judeus, “só” matam outros.

Este é o nível zero da decência da nossa civilização. Já tínhamos atingido este nível várias vezes na história, nas acho que, em particular na Europa, é a primeira vez que tal acontece com uma conjuntura em que o resto do Mundo tem meios e força para se livrar de nós ou pelo menos nos deixar para trás.

Na tentativa patética dos EUA de parar a SCO (Rússia + China + Eurásia) de forma a manterem a sua hegemonia, a Europa foi derrotada logo na primeira jogada, como um peão descartável. Que gente como Sanna Marin venha mesmo assim dizer que a Europa precisa dos EUA, só mostra o nível de traição ou ignorância destes “líderes”.

E aqui vamos à culpa que mais afeta os europeus: quem tornou inevitável a implosão de um projeto europeu de nações soberanas em cooperação para alcançar uma aliança continental com independência estratégica em relação aos EUA.
Por mim, era pôr todos os €uropeístas USAtlantistas atrás das grades.

Tiraram-nos a soberania, a democracia, a paz, a independência, a decência, a verdade. Tiraram-nos 20 anos das nossas vidas, a estabilidade, o crescimento, a distribuição de riqueza, os direitos, o Estado de bem-estar social, e agora tiraram-nos também o futuro.

Dito de outra maneira, o povo europeu está agora a perceber na pele o que é ser vítima do colonialismo europeu. Agora que os outros povos já são fortes de mais para colonizar, para assaltar, para aldrabar, as “elites” predatórias ocidentais viraram-se para os seus próprios plebeus. E esta nem é a parte mais triste. A parte mais triste é que o rei vai nu, e os plebeus, todos rotos, batem palmas ao rei, e atiram pedras a quem aponta o dedo e diz a verdade.

E foram os fanáticos e/ou corruptos €uropeístas USAtlantistas e seus vigaristas amestrados dos Mainstream Merdia quem tornou tudo isto inevitável. Quando serão condenados? Ou pelo menos criticados pela maioria, e substituídos por gente decente, honesta, e com princípios?

A resposta àquela pergunta é o que mais me faz doer o coração: NUNCA! Tal é o nível de manipulação e lavagem cerebral e o quão longe chegam os tentáculos desta máquina de corrupção e propaganda. Ao ponto de colocar do mesmo lado um Mário Machado e uma Ana Gomes, militantes do BE e militantes do Svoboda, gente do país do MFA e gente do país dos Azov, etc.

Como é que se combate isto?!


[1] Militar alemão que patrocinou um atentado contra Hitler, na chamada operação Valquíria.


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Os passeadores de cães — e a vida de cão

(Carlos Matos Gomes, in Medium.com, 07/10/2022)

Novas formas de organização da sociedade geram novas atividades. As sociedades de serviços e informação geraram prestadores de serviços interpessoais adequados, uberistas personal trainer, influencers, famosos de marca branca, entre tantas. Uma delas é a de passeador de cães. Pessoas que são pagas para passear os cães dos que compraram cães porque gostam muito de cães mas não têm tempo nem paciência para os aturar e que alugam um prestador de serviços para o efeito. Entendo os passeadores de cães como os herdeiros dos cocheiros e chófer contratados por maridos demasiado ocupados nos seus negócios para satisfazer as esposas.

O tratador de cães tem por missão manter os cães sossegados, permitir que deem largas à sua energia em vez de ladrarem e, nalguns casos, até morderem. Os cães, enquanto passeiam, se cheiram, satisfazem as necessidades, levantam a perna aqui e ali, não interferem com a vida dos donos — que os franceses designam e bem, no meu entender, por maîtres e não por dono.

O passeador de cães está subordinado ao maître dos cães. Cumpre as suas orientações para que os cães não perturbem as atividades do seu mestre.

Do que já é público quanto às manobras políticas que desde 2014 têm sido conduzidas pelos Estados Unidos para alcançarem os objetivos estratégicos que o Conselheiro de Defesa Zbigniew Brzezinski, definiu há 25 anos, após o fim da URSS, na conclusão do seu livro: «The Grand Chessboard»: “Está na hora de os Estados-Unidos formularem e porem em prática uma geoestratégia de longo prazo na Eurásia. (… ) O centro da Eurásia — espaço compreendido entre a Europa e a China só continuará a ser um “buraco negro” enquanto não for resolvido o seu papel na cena internacional”… O golpe designado como o da “Praça Maidan”, que depôs um presidente eleito regularmente e levou à eleição do atual delegado, numa manobra conduzida pela atual subsecretária de Estado — a que ficaria conhecida após a frase: “Fuck the EU” — e a preparação da entrada da Ucrânia na NATO, com o aluguer do território para instalação de bases militares na fronteira com a Rússia, elevaram os dirigentes europeus ao respeitável papel de passeadores de cães.

A nova administração da UE, com Ursula Van Der Leyen no topo, e com Olaf Scholz na Alemanha, acolitados pelos políticos topa a tudo — que tanto se benzem agora à virgem Maria como há uns tempos cerravam o punho a saudar Estaline — dos antigos estados satélites da URSS, e dos seus oligarcas, passou a ter por missão passear os cidadãos da Europa, União Europeia e Reino Unido. Assim passearam os cães pela frontaria de cartazes de futuras obras que os maîtres nunca pensaram realizar e que entretanto desapareceram da agenda europeia: questões do ambiente, transição energética, guerra da Síria e Líbia, migrações Sul-Norte, Palestina, a agenda social europeia, com um rendimento mínimo assegurado, uma nova política fiscal, a fome em 2/3 do mundo, as pandemias…

Graças aos passeadores de cães, todas estas questões desapareceram das preocupações dos cães — isto é, dos europeus. O que interessava era o que se estava a preparar na Eurásia, separar a Europa do seu continente de retaguarda, separar a União Europeia da Rússia, subordinar à viva força a União Europeia à estratégia dos EUA. Está feito. Os cães podem ser soltos?

Ainda não. Os passeadores de cães têm que aguentar as matilhas sob controlo pelo menos este Inverno, para ajudar o maître a manter-se na Casa Branca a tratar dos seus negócios, que incluem trocar os biscoitos das rações por armas que mantenham os cães na ordem. São os tais 2% do orçamento dos passeadores de cães para armamento.

Que pensarão os passeadores de cães — presidentes, os chefes de governo, ministros disto e daquilo, até dos negócios estrangeiros, da defesa e das finanças quando chegam a casa e se veem ao espelho? Terão consciência de que eles são, ou foram meros Lorenins para adormecer os cães enquanto os desviavam do que que iria ser o seu futuro?

Terão os passeadores de cães, nos seus carros topo de gama, nas reuniões do grupo de Arraiolos, dos sete, dos vinte, dos Bons, dos de Bildberg, de Davos, de Wall Street, que andaram desde 2014 a passear cães que daqui a uns tempos serão abandonados? Terão consciência que eles serão despedidos sem um thank you Ursula, ou Olaf, ou Macron, ou Draghi, ou Costa?

E nós, os cães, quer os que se julgam de raça, quer os que se assumem como rafeiros, como ficaremos? Já pensamos nisso ou continuamos a passear de nariz levantado?

Prevendo esta questão do abandono animal e dos riscos de surgirem matilhas esfomeadas, os sempre previdentes lordes ingleses e os seus jornais tabloides já descansaram os súbditos quanto aos cães da falecida rainha. Esses serão passeados por um príncipe da boa vida, Guilherme. Quanto aos outros estão bem entregues, a uma sucessora de Boris Johnson… A Inglaterra é uma sociedade classista.

Haverá quem garanta que a culpa do abandono da canzoada europeia à sua sorte será de um tal Putin, que estragou o passeio dos cães europeus. São os que se deixaram encantar pela bondade dos seus passeadores e dos seus maîtres. Os que gostam da vida de cão.

O que pensarão os passeadores de cães quando passeiam os cães?


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