Logros

(João Ramos de Almeida, in Blog Ladrões de Bicicletas, 28/04/2018)    

logros

Vem esta citação do livro de Yanis Varoufakis Comportem-se como adultos, a propósito de tantos portugueses que contribuíram para o maior logro da História económica dos últimos tempos.

Entre eles, gostava de salientar três sociais-democratas – Cavaco Silva, Jorge Braga de Macedo e Vítor Gaspar – e dois socialistas cujos sorrisos nos deviam fazer pensar: de Vítor Constâncio, numa altura em que sai de cena do BCE, e de Mário Centeno, quando entra em cena no eurogrupo.

“A maioria dos europeus gosta de pensar que a falidocracia americana é pior do que a sua homóloga europeia, graças ao poder de Wall Street e à infame porta giratória entre os bancos dos Estados Unidos e o governo daqule país. Estão redondamente enganados. Os bancos da Europa foram geridos de forma tão atroz nos anos que antecederam 2008 que os bancos inanes de Wall Street quase ficam bem na fotografia em comparação. Quando a crise rebentou, os bancos de França, Alemanha, Holanda e Reino Unido tinham uma exposição de mais de 30 biliões de dólares, mais do dobro do produto nacional dos Estados Unidos, oito vezes o produto nacional da Alemanha e quase três vezes os produtos nacionais do Reino Unido, Alemanha, França e Holanda somados. Uma falência grega em 2010 teria exigido, de imediato, um resgate dos bancos pelos governos alemão, francês, holandês e britânico no valor aproximado de dez mil dólares por criança, mulher e homem que vivesse naqueles quatro países. Em comparação, um revés de mercado semelhante contra Wall Street teria exigido um resgate relativamente diminuto: não mais de 258 dólares por cidadão americano. Se Wall Street mereceu a ira do povo americano, os bancos da Europa mereciam 38,8 vezes essa ira.”

“Mas não é tudo. Washington podia empurrar os activos tóxicos de Wall Street para os livros da Reserva Federal e deixá-los ali até recomeçarem a ter bom desempenho ou serem eventualmente esquecidos, para que os descobrissem os arqueólogos do futuro. De uma forma simples, os americanos não precisavam sequer de pagar os relativamente magros 258 dólares por cabeça com os seus impostos. Já na Europa, onde os países como a França e a Grécia abdicaram dos seus bancos centrais em 2000 e o BCE estava proibido de absorver dívidas más, o dinheiro necessário para resgatar bancos tinha de ser buscado aos cidadãos. Se alguma vez se interrogar porque é que o regime europeu se empenha mais na austeridade do que o americano ou o japonês, eis a razão. O BCE não tem autorização para enterrar os pecados dos bancos nos seus próprios livros, o que significa que os governos europeus não têm outra opção senão financiar resgates bancários através de cortes de benefícios e aumentos de impostos.”

     
Por outras palavras: a austeridade é o mecanismo que a doutrina liberal e o edifício da moeda única europeia encontraram para poder evitar que os accionistas dos bancos paguem as suas dívidas ou simplesmente paguem pelos erros dos seus actos de gestão, transferindo-as para aqueles que eles tanto gostam de designar por consumidores contribuintes, mas que são, na verdade, pessoascom as suas vidas e as suas famílias. Tudo sob um lema tristemente ingénuo ou cúmplice que já ouvimos tanto entre nós: Devemos honrar as nossas dívidas. 

“Quando os bancos franceses enfrentaram a morte certa, que escolha lhe restava” – a Christine Lagarde – “enquanto ministra das Finanças francesa, com os seus colegas europeus e do FMI, senão fazer o que fosse preciso para os salvar – mesmo que isso implicasse mentir a 19 parlamentos europeus ao mesmo tempo sobre o objectivo dos empréstimos gregos?”

O nosso resgate – aquele que aumentou consideravelmente a nossa dívida pública, a ponto de Centeno ficar agora tão feliz por descer um pouco o montante de juros a pagar e de condicionar o investimento público a essa descida – foi verdadeiramente um resgate aos bancos europeus pagos pelos cidadãos mais pobres da Europa.

Dir-se-á: Mas não há altenativa agora e convém ser prudente. Talvez. E mesmo isso conviria ser melhor discutido. Mas havia uma coisa que era importante fazer: nunca estar sentado a presidir ao grupo de personalidades que são o guardião daquele histórico logro.


Fonte aqui

A granada ainda não rebentou

(Daniel Oliveira, in Expresso Diário, 23/06/2015)

         Daniel Oliveira

                          Daniel Oliveira

A propaganda faz-se sempre de meias verdades e simplificações. E a simplificação mais grosseira fez a senhora Lagarde, ao acusar o Governo da Grécia de não ser composto por adultos. Não foi este o Governo responsável pela falsificação das contas. Não foi o Syriza que viveu atolado em casos de corrupção. Não foi Tsipras que permitiu ou pediu a intervenção externa. Pelo contrário, este foi o primeiro Governo grego sem qualquer currículo nos muitos erros que, independentemente das responsabilidades da Europa e do desastre que foi o euro para os países periféricos, foram cometidos na Grécia.

No entanto, a imagem que se tentou passar, ao longo destes meses, foi a de irredutibilidade do governo grego, desmentida pelas sucessivas propostas, cada vez mais recuadas, que os gregos foram fazendo. Ou de um suposto amadorismo, a roçar a irresponsabilidade, do ministro das Finanças Yanis Varoufakis. Até se vendeu a ideia de que este tinha sido afastado do processo por Tsipras, tentando assim enfraquecer a sua imagem pública, elemento importante nesta negociação. Um suposto amadorismo difícil de engolir para quem tem acompanhado as suas intervenções e conhece o seu percurso.

A forma mais eficaz de desmascarar a manipulação foi a que o próprio Varoufakis usou: a transparência. Perante o retrato de exigências delirantes ou insensatas da Grécia, divulgou, na íntegra, a sua intervenção no Eurogrupo e as propostas que apresentou.

Os objetivos definidos pelo Governo grego para esta negociação eram puro bom senso. Ela deveria ser a última a fazer-se no meio da crise. Ou seja, a Grécia não deveria passar por processos destes, de seis em seis meses, enquanto definha. A negociação deveria ter como resultado soluções sustentáveis para tirar a Grécia da crise em que está. Para isso, as reformas deveriam contribuir para pôr fim a uma recessão ininterrupta de seis anos, não para a aprofundar. Elas deveriam poupar os mais pobres, que foram as maiores vítimas de tudo o que aconteceu desde que a troika chegou a Atenas. E deveriam tornar a dívida sustentável, para garantir que a Grécia regressa aos mercados, paga o que deve e se torna autónoma.

OLHAR PARA A PROGRAMA ELEITORAL DO SYRIZA, VER O QUE VAROUFAKIS ESTAVA A PROPOR E INSISTIR QUE O GOVERNO GREGO TINHA UMA POSIÇÃO INFLEXÍVEL ULTRAPASSA A DESONESTIDADE INTELECTUAL. É MENTIR

Todos estes objetivos têm de ser subscritos por qualquer pessoa que esteja a procura de uma solução para a Grécia e para a Europa. Infelizmente, não é o caso. Quem propunha reforçar medidas recessivas que se mostraram desastrosas para a economia grega tencionava continuar a negociar com a Grécia em ambiente de crise, para conseguir, tendo-a sempre com uma corda na garganta, tudo o que deseja. Quem queria cortar em pensões que já sofreram uma contratação de quase 50%, quando sabia que os reformados se tornaram, com o desemprego superior a 25%, no amparo de toda a família, estava-se nas tintas para os efeitos sociais do que defende. Quem insistia na mesma receita, mesmo sabendo que a dívida grega passou, depois de dois perdões, de 115% do PIB para 177%, não queria tornar a dívida sustentável.

Não é verdade, como recordou Varoufakis, que a Grécia não tenha feito a sua parte. Nenhum povo fez tanto como os gregos. Nem os portugueses. O seu défice passou a superavit à custa de um ajustamento de 20%. Nunca se tinha feito. Os salários caíram 37%. As pensões foram reduzidas em 48%. O número de funcionários públicos foi reduzido em 30%. O défice caiu 16%. Isto teve um preço. O PIB caiu 27%, o que corresponde a uma hecatombe económica. O mercado de trabalho informal já corresponde a um terço do total. A dívida pública atingiu números estratosféricos. E a Grécia vive uma gravíssima crise social.

O Governo grego propunha-se a uma verdadeira reforma da economia e do Estado gregos. Aliás, o Syriza, distante do ambiente eticamente pouco recomendável que sempre dominou a política grega, seria dos poucos partidos com condições para as propor. Aceitava continuar a fazer privatizações, cedendo, na minha opinião excessivamente, à pressão europeia. Apenas não queria, como deseja quem tem poder junto de Bruxelas para garantir bons negócios para si, vender ao desbarato e à pressa. Propunha medidas concretas de combate à evasão e fraude fiscal e de controlo do défice, criando estruturas independentes do governo que garantissem transparência e rigor. Queria liberalizar vários sectores importantes da economia e fazer reformas profundas na administração pública. E, contando com o apoio técnico da OCDE, queria avançar com medidas eficazes de combate à corrupção. Nas reformas laborais, propunha trabalhar em parceria com a OIT. Qualquer pessoa moderada, de centro esquerda, abraçaria sem qualquer dificuldade o seu programa. E até com algum incómodo por algumas das cedências.

Mas há três coisas que o governo grego não queria mesmo fazer. A primeira: comprometer-se com metas que toda a gente sabe serem impossíveis. Era uma atitude responsável. Fazer mais cortes nas pensões baixas, num sistema de pensões que sofreu uma diminuição de recursos de cerca de 40%. Era uma atitude humanitária. E aumentar mais o IVA. Era uma atitude economicamente racional. O que pretendia era mais profundo e mais sério: mudar a economia e o Estado gregos. Como explicou Varoufakis, tratava-se de escolher entre fazer “reformas que ataquem ineficiências ou comportamentos parasitas e oportunistas” ou ficar pela receita simples e falhada de fazer “mudanças de parâmetros que aumentem as taxas de juro e reduzem os benefícios dos mais fracos”.

Para além das reformas, o Governo grego propunha-se enfrentar a questão da dívida. Começando por definir um calendário e forma de pagamentos racionais que não se limitassem a adiar mais uns meses a morte grega. Ao contrário de Samaras, de teve direito a uma reestruturação insuficiente de dívida enquanto destruía o país, Tsipras pedia uma plano de pagamento realizável, com a prioridade de tirar o FMI da equação. Depois, propunha um programa de investimentos fundado no Plano Juncker.

Olhar para a programa eleitoral do Syriza, ver o que Varoufakis estava a propor e insistir que o Governo grego tinha uma posição inflexível ultrapassa a desonestidade intelectual. É mentir. Pelo contrário, quando olhamos para a imutabilidade das posições da Europa e do FMI, insistindo numa receita que tão rotundamente falhou na Grécia, sabemos quem andou a negociar e quem, pelo contrário, se ficou pelos ultimatos. Não houve qualquer problema no estilo de negociação que os gregos usaram. Apenas acontece que, para negociar, é preciso que as duas partes o queiram fazer.

O acordo que agora se vai desenhando no horizonte não é propriamente alguma coisa. Insiste em metas impossíveis, a que a Grécia poderá optar por dizer que sim, seguindo, por insistência dos credores, o exemplo do governo antecessor e mentindo aos europeus. Parece que não haverá cortes nas pensões. Apenas mais descontos dos pensionistas para a saúde e aumento da idade da reforma. Há uma brutal redistribuição da carga fiscal, sobretudo sobre as empresas. E a promessa de um plano de investimento de 35 mil milhões de euros. Os mais pobres são salvaguardados. Há mais produtos a irem para a taxa máxima do IVA, o que terá efeitos recessivos. Mas nada se resolve sobre a dívida. O que quer dizer que daqui a seis meses volta tudo ao mesmo.

Se for isto, apesar de não ser tão grave como o que era desejado pelas instituições europeias e pelo FMI, não cumpre o objetivo de Tsipras e Varoufakis: relançar a economia e ser a última negociação em crise e estado de necessidade. Como dizia um amigo meu, é uma granada que continua a ser atirada de um campo para o outro, sem rebentar. O pacote é de austeridade, mas não a aprofunda, ao contrário do que desejava a Europa. Sem nada sobre a dívida, serve de muito pouco. E é isso que pode impedir que o acordo passe no parlamento grego. Não chega a ser um erro. É uma inutilidade. Veremos se faz cumprir um dos objetivos de vários Estados da União: fazer cair o governo do Syriza. Tudo defende de como Tsipras conseguir lidar com a frente interna. Tem uma coisa do seu lado: a ausência de oposição política fora do seu partido, esfrangalhada nas sondagens. Apesar de tudo, os gregos apreciam quem, como vitórias ou derrotas, se bate por eles.

Mercados financeiros satisfeitos com novas máscaras gregas

(Jorge Nascimento Rodrigues, in Expresso Diário, 28/04/2015)

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A Bolsa de Atenas continua a acumular ganhos e os juros da dívida grega caíram significativamente desde o anúncio, na segunda-feira, de que a Grécia tem uma equipa de negociadores com os credores oficiais “refrescada”

Os mercados financeiros reagiram positivamente à saída do mediático, e polémico, ministro das Finanças grego, Yanis Varoufakis, da primeira linha do embate das negociações com os credores oficiais da Grécia.

Recorde-se que Varoufakis foi atacado fortemente pelos seus pares na última reunião do Eurogrupo (órgão dos ministros das Finanças da zona euro), em Riga, na sexta-feira passada, envolvendo insultos a que o ministro grego respondeu citando Roosevelt e reenviando no tweet um cartoon jocoso à atenção dos parceiros de reunião.

Com o clima no ponto mais baixo, o primeiro ministro grego, Alexis Tsipras, e a chanceler alemã, Angela Merkel, pegaram no telefone no domingo e decidiram manter um contacto direto, uma espécie de telefone vermelho entre os dois, para evitar que as negociações descambem para algum “acidente”, o tão falado “acidente grego”, que nunca se sabe se acaba apenas em incumprimento de dívida externa já em maio ou mesmo em transição para uma saída do euro (a já famosa contração em inglês Grexit).

“Tenho de admitir que há um clima negativo. Eles [os pares do Eurogrupo] não querem negociar com Varoufakis”, referiu Tsipras na sua primeira entrevista como chefe do Governo ao programa Ston Eniko, do canal privado Star TV, dada na terça-feira à noite, ao longo de três horas.

Varoufakis, um “ativo” com 55% de apoio popular

Os media, os credores oficiais e as equipas de negociação no designado Grupo de Bruxelas e no Grupo de Trabalho do Euro (que prepara as reuniões do Eurogrupo) têm de se habituar a dois nomes novos nos lugares de chefia das negociações do dia-a-dia: Euclid Tsakalotos e Giorgos Houliarakis. Por sinal dois académicos, como Varoufakis, com doutoramentos no Reino Unido, o primeiro em Oxford e o segundo na Universidade de Warwick, até há algum tempo professor na Universidade de Manchester, onde dava aulas de Macroeconomia e Economia do Trabalho. Desde que o governo liderado pelo Syriza tomou posse, os dois já participaram em negociações e Tsakalotos acompanhou Varoufakis em muitas reuniões Varoufakis.

São ambos discretos. Tsakalotos, ministro-adjunto dos Negócios Estrangeiros, vai dirigir a equipa política; Houliarakis, chefe da comissão de peritos económicos, chefiará a equipa técnica.

Tsipras não demitiu Varoufakis, cuja cabeça era pedida por vários analistas nos media internacionais – interpretando os desejos dos pares do Eurogrupo – e pela Oposição no Parlamento grego, sobretudo por parte da Nova Democracia e do PASOK. O “refrescamento” foi entendido como uma “despromoção” de Varoufakis e o PASOK chegou mesmo a falar da “castração” do académico-ministro. Na entrevista de ontem, Tsipras considerou-o um “ativo” do país e atacou Mario Draghi, presidente do Banco Central Europeu, e Jeroen Dijsselboem, presidente do Eurogrupo, por terem faltado à palavra dada.

Os “erros” nas negociações com os credores oficiais a que Tsipras se referiu, e também Tsakalotos no Parlamento grego, têm a ver com o facto de a delegação grega – e Varoufakis à sua cabeça – ter tomado a palavra dada pelos parceiros de reunião como válida e não ter exigido compromissos escritos.

“Poucos apostarão na demissão de Varoufakis, que, na verdade, é um dos membros mais moderados do partido [Syriza]. Mais, provavelmente ele voltará a ter destaque . logo que as negociações cheguem a uma conclusão”, escreve o analista Chris Papadopoullos no site City AM, de Londres. Uma sondagem deste fim de semana dava a Varoufakis um apoio de 55% entre os inquiridos pela Alco para o jornal “Protothema”

Bolsa de Atenas eufórica e juros da dívida grega em queda

O anúncio do “refrescamento” das equipas negociadoras com os credores oficiais foi feito na segunda-feira pelo governo e as bolsas europeias registaram um ganho de 1,16% ao final do dia e o mercado secundário da dívida soberana da zona euro acalmou, com uma queda significativa dos juros das obrigações gregas em todos os prazos. O que contagiou positivamente os restantes periféricos, com os juros das Obrigações do Tesouro português a cair para 1,91%, nove pontos base abaixo do fecho de sexta-feira passada. Finalmente descia do patamar dos 2% em que se mantinha desde 17 de abril.

Esta terça-feira a trajetória de descida continua a registar-se para os juros gregos. No prazo a 2 anos, desceram de 26,4% a 24 de abril para 20% pelas 15h de hoje. No prazo a 10 anos, a maturidade que serve de referência nas comparações (e determina o prémio de risco de uma dada dívida soberana), a queda foi de 174 pontos base, de 12,68% para 10,94% no mesmo período, um nível que já não se verificava há um mês. A bolsa de Atenas continua com ganhos. Nas últimas cinco sessões, incluindo a desta terça-feira, a valorização do índice geral já é superior a 14%.

No entanto, o contágio positivo aos países periféricos não se verifica esta terça-feira, com os juros das obrigações portuguesas, espanholas e italianas a 10 anos em alta, com destaque para as Obrigações do Tesouro português, que estão, de novo, com juros próximos de 2% e a liderar as subidas.

Os mercados financeiros esperam que os dois novos coordenadores de negociações acelerem as negociações e contam com um compromisso já no Eurogrupo a 11 de maio. Mas a mudança de máscaras gregas não altera, por enquanto, a matéria de substância, como muitos analistas sublinham a várias vozes da zona euro. O governador do Banco de França, Christian Noyer, disse claramente esta terça-feira que o apaziguamento de tensões ajuda, mas “não muda a substância de modo algum”.

Um funcionário europeu, citado pelo site Capital.gr, referiu que “qualitativamente nada mudou”, mas que o contacto direto entre Tsipras e Merkel é muito positivo para tranquilizar os mercados financeiros. O primeiro-ministro grego fez ontem na entrevista um rasgado elogio a Merkel, agora “que a conheceu pessoalmente”.

Impasse conduz a referendo

Ora a “substância” é distinta para as duas partes – como o ministro Varoufakis não se tem cansado de escrever e dizer, e como recordou Tsipras na entrevista de ontem. O governo grego tem linhas vermelhas traçadas. Até se admitem algumas concessões mais na retaguarda dessas linhas – claramente em matéria de privatizações, um ponto que foi salientado na imprensa alemã desta terça-feira, nos comentários à entrevista de Tsipras.

O ponto do primeiro-ministro grego é que os gregos já andaram 70% do caminho para a convergência e que falta aos credores oficiais e aos parceiros do Eurogrupo andarem agora os 30% que faltam connosco. O governo tem esperado que seja possível um acordo provisório, interino, nos pontos de convergência já possíveis, mas o último Eurogrupo fechou a porta. Como a revista “The Economist” sublinhou, os pares do Eurogrupo continuam a pretender o cenário de uma “capitulação” grega. Ora as áreas mais críticas sem convergência já o eram inclusive, em boa medida, nas negociações com o anterior Governo, liderado por Antonis Samaras. E precisamente por essa razão, o exame do andamento do programa de resgate não foi concluído e a situação vem-se arrastando desde agosto do ano passado, chama a atenção Nick Malkoutzis, editor-adjunto da edição inglesa do jornal grego “Kathimerini”.

No caso do impasse no Eurogrupo se manter, apesar de esforços de convergência por parte dos negociadores gregos, o Governo helénico poderá chamar os eleitores a pronunciarem-se sobre as opções que preferem. Colocou de lado a convocação de eleições legislativas antecipadas – que, segundo as sondagens divulgadas no fim de semana, continuariam a ser ganhas pelo Syriza ,com uma votação próxima ou mesmo superior à obtida em 25 de janeiro – e deu a entender que poderia recorrer a um referendo – opção que ainda não mobiliza a maioria dos inquiridos nas sondagens.