(Por Carlos Marques, 01/09/2022)

(Este texto resulta de um comentário a um discurso que publicámos de Daniel Oliveira ver aqui. Pelas questões que levanta e com as quais se debate a esquerda, resolvi dar-lhe o destaque que, penso, merece.
Estátua de Sal, 02/09/2022)
«Nunca lidarei bem com o moralismo agressivo dos convertidos».
Diz o fã #1 do Zelensky, que tanto atacou o PCP quando o partido recusou, e muito bem, ouvir o chefe da Nazilândia no Parlamento Português, após já ter ido falar ao Parlamento Grego e mostrar um vídeo de um Nazi de Azov.
De repente era Daniel o moralista, e o PCP o amoral. Já se esqueceu… Mas eu lembro bem demais!
«Nunca significou um apoio a todas as posições do PCP, que incluíram conivência com algumas ditaduras».
Foi escrita do Daniel, ou exigência editorial do irmão Costa, deixar de fora a parte final óbvia deste parágrafo: com exceção do BE/Livre/PAN, os TODOS os restantes partidos do Parlamento Português também têm historial nesta conivência com algumas ditaduras e, pior, com invasões/guerras que destruíram países inteiros.
«Não tinha grandes razões de queixa do tratamento mediático desde a chegada de Jerónimo de Sousa à liderança. Não tem grande espaço no comentário».
Como se os sucessivos comentários com o PCP de fora, e os IL/CDS/Ch em grande destaque não fosse uma coisa má, uma manipulação da perceção, uma caça ao voto não-oficial, e um ataque descarado ao PCP, e acrescento, ao BE, e PAN. Curiosamente, o Livre/Tempo de Avançar teve mais representação sozinho durante vários anos do que estes partidos todos juntos: Daniel Oliveira, Ana Drago, Rui Tavares, só para referir a troika principal.
«Não há um documento oficial ou uma declaração do secretário-geral – que vinculam o partido – que reconheça a invasão. E que a trate como um ato contra a autodeterminação de um povo, sem responsabilizar imediatamente a Ucrânia e os EUA por isso. Só que, no que toca a invasões militares criminosas, ilegais e imorais, o PCP não é um estreante».
Chama-se factos. O Daniel pelos vistos aderiu à pós-verdade do regime da NATO. A invasão foi o que a ditadura ucraniana fez contra o povo do Donbass, por 3 vezes. Acto contra a autodeterminação de um povo, é o que o Ocidente fez à Catalunha, e continua a fazer à Crimeia, neste caso Daniel incluído. E se o Dia D não é uma invasão criminosa, ilegal, e amoral, então a intervenção militar da Rússia para travar a agressão Nazi contra o povo do Donbass, também não é. Antes, o Daniel era um comentador de esquerda interessante. Hoje, não passa de um idiota útil do Pentágono. E este parágrafo prova isso mesmo.
«PSD e CDS não se limitaram a apoiar a criminosa, ilegal e imoral invasão do Iraque. Envolveram Portugal nessa aventura.»
Muito interessante o deixar de fora o PS em relação a todas as outras operações criminosas da NATO em geral, e dos EUA em particular. O PS, quando chegou ao poder, recusou participar com as tropas portuguesas nessas invasões? Pois claro que não!
«Critico Jerónimo como critiquei Barroso e Portas. A sua posição é imoral, porque insensível aos valores da autodeterminação dos povos».
Para despistar os mais desatentos, começa por invalidar a equiparação do PCP com os fachos. Certo. Mas depois chega aqui e equipara a posição dos pró-paz do PCP com a dos NeoCon belicistas. É igualmente incomparável, mas se o reconhecesse, depois como é que o Daniel ia atirar a matar no PCP no mesmo texto que começa com o título que nos tenta enganar no sentido contrário? O Daniel, a mim, enganou durante muito, demasiado, tempo, mas já não me engana mais.
«Incoerente com o que os comunistas defenderam no Iraque».
O PCP defendeu a paz em ambos os casos. Criticou a agressão da NATO em ambos os casos. Condenou o imperialismo porco dos EUA em ambos os casos.
Mas mais uma vez o Daniel precisa da sua própria incoerência para chegar ao seu real objetivo: atirar a matar no PCP no mesmo artigo em que nos tentou convencer que ia defender a liberdade política/festiva do Avante e do partido.
Com que então, para este idiota útil do Pentágono, prestar ajuda ao povo vizinho do Donbass a partir de dia 24-Fevereiro com uma operação limitada na dimensão e território e cirúrgica (em que as 5 mil vítimas civis são devido aos crimes de guerra da ditadura ucraniana), já a ser bombardeado desde dia 16 de Fevereiro pelos NAZIS violadores dos acordos de PAZ de Minsk, é “equiparável” a inventar armas de destruição massiva e invadir um país inteiro no outro lado do Mundo, com bombardeamentos indiscriminados e matando direta e indiretamente um milhão de pessoas… Está tudo dito sobre a capacidade de raciocínio do Daniel. É idiota útil até dizer chega.
«EUA, NATO e a UE estão, excecionalmente, do lado do ocupado.»
Não. Não estão do lado do ocupado. Estão do lado do imperialismo que invadiu a Ucrânia desde 2014, derrubando uma democracia, e substituindo-a por um regime etno-naZionalista. Estão do lado de quem invadiu o Donbass, e ameaçou invadir a Crimeia. Estão do lado dos NAZIS. Estão do lado de quem prometeu que ia destruir a Rússia. Estão do lado do ódio. E nem sequer estão em graus semelhantes, pois os EUA são o Império, a UE é o seu vassalo financiador, e a NATO é o braço armado dos criminosos de guerra.
«Em que outros impérios resistam. Na realidade, o comunismo pró-soviético não combatia o imperialismo, escolhia um imperialismo contra outro.»
Aqui a lição que o Daniel merece já foi dada pelo Pacheco Pereira: só idiotas e ignorantes confundem o programa histórico com o programa atualmente activo. O PCP é anti-imperialista. Escolhe a autodeterminação dos povos contra TODOS os impérios. Oportunidade perdida para falar do imperialismo do €, do português, e de como é totalmente errado falar de imperialismo soviético. Os soviéticos nasceram contra o imperialismo russo. Deram autonomia a outros povos que nunca a tinham tido antes. Ajudaram em várias lutas pela independência e/ou anti-imperialistas em todo o globo. Cuba e o PCP não apoiaram o MPLA em nome de um “imperialismo”. Apoiaram-no em nome da luta contra o imperialismo português.
Se depois o Daniel confunde imperialismo com uma grande potência, se confunde imperialismo com a disseminação de uma ideologia, confunde imperialismo com a união de outros povos contra o imperialismo ocidental, isso só mostra os seus erros de análise logo à partida.
«Automatismo antiamericano, é um espelho fiel do automatismo pró-americano de quem determina a sua agenda política e moral pelos interesses circunstanciais da Casa Branca».
Mais uma frase, mais uma desonestidade intelectual. Como se estar do lado das regras, da paz, do anti-imperialismo, como se ser a favor da independência/autodeterminação, como se ser antiguerra dos EUA, anti invasão dos EUA, antifascismo dos EUA, anti-imperialismo dos EUA, anti interferência dos EUA, anticorrupção dos EUA, anti mentira dos EUA, etc, fosse um “espelho fiel” dos mete-nojo que defendem tudo o que o imperador Darth Sidious na Casa Branca defende.
Esta parte é tão, mas tão estúpida, que seria equivalente a dizer que o automatismo de autodefesa perante um agressor de violência doméstica, é o “espelho fiel” do automatismo do próprio agressor em impor a sua vontade pela violência. E eu que pensava que o Daniel não conseguia descer mais baixo em mais uma das suas “defesas” do PCP…
«Lições sobre a ditadura de Pequim».
É engraçado este termo em relação à China, vindo de um gajo que chama “democracia liberal” quer aos EUA, quer a Israel, quer à União Europeia.
«Nesta autossatisfação tribal, está a afundar estruturas necessárias para os tempos que se avizinham, como a CGTP.»~
Agora condenar a criminosa NATO e os agressores EUA, e os assassinos NAZIS, é ficar num “buraco de autossatisfação tribal”. Enfim…
«Tornou mais difíceis posições ponderadas sobre a guerra, que não se querem confundir com a sua amoralidade».
Imagine-se um gajo com uma posição completamente imponderada sobre esta guerra, como o Daniel, tentar dar lições de moralidade a quem defende a paz e critica os que provocaram a guerra.
E aqui vemos um exemplo claro do real trabalho do Daniel na imprensa mainstream: servir como a opinião “alternativa” que define o tamanho da Janela de Overton no debate político em Portugal. Até chegar ao Daniel, ainda é uma posição moral. À sua esquerda (PCP, BE) passa a ser “amoral”. Na teoria o termo é “unthinkable”. Mas este fica ainda melhor em tempos de guerra com imagens de criancinhas em Kiev a saudar o “heroico” batalhão Azov… depois de 8 anos (e principalmente aqueles dias entre 16 e 24 de Fevereiro de 2022) em que não se mostrou nada do que estes filhos da p*ta todos andaram a fazer no Donbass.
É para os interesses desses, EUA/NATO, NAZIS, ditadura de Kiev/Lviv, que a idiotice do Daniel é tão útil. Vá lá, acertou em cheio em todo o parágrafo sobre Mikhail Gorbachev. O Daniel mostra que até alguém como ele pode ser um relógio avariado… acerta duas vezes ao dia.
«O PCP é nostálgico da URSS (nenhuma novidade nisso)».
Aqui, um exemplo de “com a verdade me enganas”. Sim, o PCP fala muita vez de muitas das coisas boas da URSS. Sabem porque temos SNS, escola pública, pensões, salário mínimo, direitos laborais, etc? É graças à URSS, pelo que fez no seu território, e pelo que obrigou o capitalismo a fazer para não dar “ideias” aos povos nos seus regimes ocidentais.
Mas que eu saiba, e aqui até a direitolas Clara Ferreira Alves consegue ser mais intelectualmente honesta que o Daniel na sua omissão “por descuido”, o PCP é crítico do autoritarismo da URSS já desde o tempo de Álvaro Cunhal.
Isto que o Daniel fez, e este tipo sectário e ultraminoritário da esquerda está sempre a fazê-lo, é uma desonestidade argumentativa equivalente aos que chamam “saudosista de Salazar” a quem ainda hoje fala bem do Padrão dos Descobrimentos. São aquela esquerda muito “progressista” que quer demolir este monumento. Porque para eles, a história não se interpreta, a história demole-se, como se fôssemos o Estado Islâmico, ou pior, os países Bálticos…
«Invasões imperiais de países soberanos que custaram centenas de milhares de vidas».
Um simples erro factual, não foram centenas de milhares, foram milhões, entre mortes diretas e indiretas das consequências da destruição dos países, suas sociedades, e infraestruturas. Já para não falar das sanções ILEGAIS, autêntico terrorismo económico, que provoca miséria, fome, e morte também. Algo que o Daniel defende contra o povo Russo… A um comentador qualquer num blog ou numa rede social, perdoava-se o lapso no número. A um gajo que escreve num “jornal” e fala na TV, e é pago para investigar antes de dizer asneiras, é inaceitável.
«Não querem banir o PCP».
Ai querem, querem! Veja lá as declarações do ultra-NaZionalista ucraniano do Svoboda a dizer que não percebia como o PCP ainda estava legalizado, e a onda de apoio a esse NAZI dada por todos à Direita, e também por tantos Rosas e até alguns mais Livres… Aliás, é assim na ditadura ucraniana, a tal que serve de exemplo do “melhor” que o Ocidente tem para dar a outros povos que também se queiram defender da “agressão” Russa.
«Com tudo o que me separa do PCP».
Ah, isso sim. Esta frase é que não podia faltar. O tal Daniel, um autodenominado radical, a fechar a Janela de Overton. Ele é o Radical. Ouçam-no, para dar a sensação de pluralismo, mas não o sigam, e parem por ali. À sua esquerda está a “imoralidade”, o Unthinkable.
E assim, agora que abri os olhos em relação à real utilidade deste senhor, se desmonta a manipulação por trás do artigo que, pelo título, iria ser uma defesa do Avante, do PCP, e da Liberdade política, de pensamento, e de expressão. Vai enganar outros, Daniel, que a mim não me enganas mais.
O que eu não adorava pagar a este rapaz a viagem para o Donbass, para ele ir lá dizer aos invadidos, bombardeados, e assassinados, que os Russos que os foram salvar é que são os agressores, e que os NAZIS é que estão do lado da moralidade… Isso é que ia ser levar no focinho. Era só o que merecias, Daniel. Mais nada!
PS: e peço desde já desculpa a quem ler, e à Estátua de Sal, mas hoje precisava mesmo de destilar o ódio todo contra esta figura. É incrível as voltas que a vida dá, mas hoje tenho mais simpatia por um Coronel Douglas McGregor dos EUA cuja opinião comecei a ouvir recentemente, do que por um “camarada” que tantas vezes ouvi no passado.
Mas eu sou assim, não escolho as minhas simpatias consoante a ideologia, mas sim com base nos princípios, valores humanos, e respeito pelos factos e honestidade intelectual, que são definidos ainda antes da escolha da ideologia. Sem isso, a ideologia é apenas uma máscara em cima de um monte de esterco.
Hoje não tenho ninguém em quem votar em Portugal. E apesar de ideologicamente estar entre o Socialismo Democrático do BE, e a Social-Democracia demasiado Liberal da ala “esquerda” do PS, só tenho um partido merecedor do meu respeito: os Marxistas-Leninistas do PCP. Uma opinião criada desde que conheço a história do partido em Portugal, lutador pela Liberdade e construtor da Democracia. Uma opinião crescente à medida que fui conhecendo o programa atual ativo do partido. E uma opinião reforçada com as posições do PCP nestes 6 meses, até mesmo nos casos das discordâncias, pois tenho total capacidade para reconhecer que a divergência é apenas na conclusão.
Até a essa opinião chegar, quer eu, quer o PCP regemo-nos pelos mesmos princípios: factos, coerência, honestidade intelectual, contexto histórico. É com esta gente que tenho o prazer de discutir e discordar. Não é com idiotas úteis, ignorantes, mentirosos, mal-intencionados, fachos, e branqueadores de nazis.