(Um acto de guerra, terrorismo de Estado, são essas as credenciais do Império. O que há muito se suspeitava fica agora provado com uma abundante descrição de detalhes, qual deles o mais sórdido. E é de notar que o jornalista, agraciado em tempos com o Prémio Pulitzer, não tenha conseguido publicar o artigo em nenhum jornal de grande circulação e tenha que se ter ficado pelo seu blog. E também é de notar que a Europa, mormente a Alemanha, se tenha ajoelhado e calado perante o acto criminoso, a destruição de um ativo onde houvera investido milhões de euros. É a cobardia dos vassalos em todo o seu esplendor nauseabundo.
Estátua de Sal, 09/02/2023)
O New York Times chamou-lhe “mistério”, mas foram os Estados Unidos que executaram uma operação marítima secreta mantida em segredo – até agora.
O sr. Luís Delgado profetizara na Visão, de 20/6que – oh! – com as novas armas americanas “a vitória da Ucrânia é inquestionável. O que está em causa não é só a inqualificável invasão russa, que os ucranianos enfrentaram com bravura, mas também o orgulho e a demonstração de força dos aliados, dando o que de melhor têm nos seus arsenais. A diferença vai notar-se em julho.”
A diferença notou-se, mas para pior para os ucranianos em termos de vidas perdidas e povoações controladas pela Rússia. Não acerta, mas a culpa não é dele. O problema com o sr. Delgado, (eminente administrador e dono da sociedade Trust in News – 12 revistas compradas por 10,2 milhões de euros) são os seus Orixás, seria aconselhável que mudasse. Não se trata de mudar de camdonblé “norte atlantista”, mas para a adivinhação aconselha-se o Orixá Orunmila-Ifá.
Agora o sr. Delgado garante que no dia 24, Dia da Independência da Ucrânia, deverá sermuito visível a contraofensiva militar de Kiev. “Serão momentos peculiares e estranhos: no Sul e Leste da Ucrânia, unidades russas correm o risco real de ficarem isoladas, cercadas e rendidas. São imagens antagónicas, bipolares, esquizoides.” (??)
O Der Spiegel de 17/8, tem outra “visão”, e explica por que uma grande ofensiva de Kiev no sul da Ucrânia dificilmente é possível. Uma guerra subversiva e ataques terroristas da Ucrânia são prováveis. Às Forças Armadas da Ucrânia “faltam experiência ofensiva e preparação para manobras maiores”. Após ferozes combates no Donbass, a Ucrânia carece de unidades bem treinadas e de armas.
No campo militar a guerra na Ucrânia já foi vencida pela Rússia que atualmente decide o ritmo da operação militar especial, os soldados ucranianos mais qualificados e experientes foram mortos ou capturados, os recrutas idosos e jovens não farão diferença. É triste que um país seja forçado por potências estrangeiras a lutar até o último homem sem esperanças de conseguir qualquer coisa.
O Der Spiegel exprime o que resta a Kiev: guerra subversiva e ataques terroristas. As ações de Kiev limitam-se ao que em qualquer parte do mundo se designa por atos terroristas. Comentadores e jornalistas, saúdam em regozijo ações que praticadas num país da NATO dariam origem à indignação coletiva nos media.
No descalabro do que resta da Ucrânia a propaganda da NATO ao mesmo tempo que esconde as baixas ucranianas, alegra-se com atos terroristas, disfarçando o abismo para onde os povos são conduzidos. Celebra-se o ataque a zonas meramente civis como triunfos militares, uma central nuclear é atacada e os media querem convencer-nos que os russos se bombardeiam a eles próprios. Se alguém acredita nisto, entramos no campo das imagens do sr. Luís Delgado.
A cobertura que é dada pelos media demonstra o baixo nível que a NATO atingiu, celebrando triunfantes o assassinato de uma jornalista de 29 anos – sujeita a sanções pelos EUA e RU – cujo delito é ter opiniões favoráveis ao seu país. Propagandistas na TV disseram que ela queria a morte de todos os ucranianos, não sendo possível verificar a veracidade, diga-se que esta não é a política da Rússia. Se assim fosse, se procedesse como a NATO na Jugoslávia, Iraque ou Líbia, a Ucrânia tinha sido destruída em poucas semanas.
Se a jornalista se referiu aos grupos nazis que obrigam as tropas de Kiev a combater e perseguem – e matam – cidadãos suspeitos de querer a paz com a Rússia, está de acordo com a política russa de desnazificar e julgar os grupos criminosos que aterrorizam a população ucraniana e aterrorizaram o Donbass.
Para o Wall Street Journal A Ucrânia está à beira do colapso financeiro. Kiev luta para encontrar fundos, pondo em risco a estabilidade do sistema financeiro. De acordo com o maior jornal de negócios dos EUA, os impostos cobrem apenas cerca de 40% do orçamento, mais de 60% do qual são gastos militares.
Dos EUA o Express revela que o défice mensal da Ucrânia é de 5 mil milhões de dólares. O governo de Kiev sobrevive com as ajudas de Washington e Bruxelas. A Ucrânia perdeu a independência financeira ao mesmo tempo que os EUA perdem a sua influência. Washington não conseguiu resolver o problema da Ucrânia com Moscovo por meio da diplomacia. No Médio Oriente, os EUA também estão perdendo o controle, deixando um vácuo para concorrentes preencherem. Biden, não tem a credibilidade e a reputação de antecessores para superar os tempos difíceis. A depressão económica é basicamente assumida, com uma situação particularmente crítica na Alemanha. Os preços da energia na UE continuam a crescer, pelo que famílias e indústrias irão falir. A situação nos EUA não será tão má quanto na UE – com uma inflação imparável a aproximar-se dos 10% – mas a depressão económica na Europa levará à recessão também nos EUA.
Perante isto, os propagandistas exultam com atos terroristas apresentando-os como triunfos estratégicos…
O episódio do estudante detido pela Polícia Judiciária “em flagrante delito” no local onde estava a preparar um acto terrorista (não uma cave, que sempre daria mais verosimilhança ao guião, mas um apartamento partilhado com outros estudantes) que iria perpetrar na sua faculdade deve ser levado muito a sério porque é quando a realidade é levada ao extremo da caricatura que ela melhor revela a sua verdade.
O que se revela neste caso — e isso, sim, é muito sério — é o modo como se constrói um terrorista (os procedimentos policiais e retóricos que o dotam de uma figura) e como o terrorismo é hoje uma noção tão vaga e armadilhada que serve para designar qualquer fenómeno político ou criminoso e aplicar-se a qualquer pessoa que apresente alguns signos a que os métodos semiológicos de detecção policial e a cibervigilância dão um significado preciso. O terrorismo tornou-se um campo de alucinações e é hoje uma palavra-espantalho.
Para quem gosta de observar as estratégias fatais da reversibilidade, este é um caso exemplar: o “terrorista”, mesmo na prisão, mesmo sem ter pronunciado uma única palavra, acaba por nomear e objectivar quem o nomeou e objectivou. Para o caso, pouco interessa se no dia seguinte ele iria efectivamente passar ao acto com os meios de que dispunha (muito embora eles sejam manifestamente inadequados para a verosimilhança da história). O que interessa de facto é que a realidade, ou aquilo que nos foi relatado com um aspecto de ficção exactamente para produzir o efeito de real, fez-nos perceber, se não o sabíamos já, que o realismo, em matéria de terrorismo, não é uma questão de verdade.
O indivíduo foi detido porque tinha uma “intenção terrorista”, expressão que mostra bem que o terrorismo existe (sem dúvida que existe, temos provas suficientes de que não é uma fábula) a partir do momento em que nós creditamos a cena em que ele se realiza de uma certa pretensão, de uma certa vontade. Neste caso, segundo a polícia, a “intenção terrorista” era confirmada por actos preparatórios e por certas atitudes e hábitos que não se parecem, no entanto, com os dos fanáticos terroristas. Por exemplo, o facto de frequentar a dark web.
Esta informação introduziu um imaginário nocturno que veio alimentar imediatamente a seguir o modelo policial do trabalho jornalístico. Assim, o trabalho de construção do terrorista iniciado pela Polícia Judiciária é prosseguido e completado pelo jornalismo das televisões, coadjuvado por “especialistas” de múltiplas disciplinas.
O modelo policial do trabalho jornalístico (não confundamos isto com jornalismo de investigação) foi imediatamente activado para tentar descobrir a zona secreta e povoada de intenções terroristas daquele estudante de Informática. E o que se faz nestes casos? Tenta-se reconstituir a sua história de modo a que as “intenções terroristas” tenham lógica e ganhem sentido, seja por actos interpretáveis a posteriori, seja pela construção selvagem de um perfil psicológico.
O imaginário sombrio ou mesmo nocturno, alimentado pela referência à dark web, permite passar do modelo policial ao que já foi chamado “modelo paleontológico” do jornalismo. E então o trabalho jornalístico aproxima-se demasiado dos mecanismos com que se fabricam as teorias da conspiração, reconstituindo informações e opiniões segundo a lógica do puzzle. As peças vão encaixando até ganhar forma a figura que se quer construir ou que se acredita que, por dever de verdade, deve ser construída. E o que não se ajusta à teoria é rejeitado.
Muito antes de o conspiracionismo ter ao seu dispor as poderosas ferramentas que tem hoje, já Umberto Eco, enquanto semiólogo, se tinha ocupado desse fenómeno. Na sua perspectiva semiótica, o conspiracionismo é um modo de interpretação da realidade que se aplica a encontrar ligações entre signos aparentemente desligados, até formar com eles uma superior unidade de significação. O mundo seria assim um conjunto de signos cujo significado secreto, a decifrar, remete para outros signos, formando uma rede de conexões, analogias e correspondências escondidas que é preciso descobrir e saber ler. Esta semiologia alucinada, com os seus métodos indutivos, foi praticada pela Polícia Judiciária e depois por um certo tipo de jornalismo para o qual os meios espectaculares da televisão é uma condição indispensável.