O cancro não se cura com votos ou palavras bonitas

(Carlos Marques, in Estátua de Sal, 29/03/2024, revisão da Estátua)


(Este texto resulta de um comentário a um artigo que publicámos de Miguel Sousa Tavares ver aqui, mormente a critica ao seguinte excerto:

“Esta nossa doentia tendência para dar sempre mais voz e mais importância a quem mais berra ou desfila pelas ruas a cantar o hino tem como contrapartida o esquecimento de todos os outros. E os outros são os 80% que não votaram no Chega ou os 50% que pagam IRS. Só num país desnorteado é que a prioridade são aqueles e não estes.”

Pelo seu incisivo sentido de contraditório – o qual prezo e ao qual dou palco – e pelo seu carácter de quase manifesto, resolvi dar-lhe o destaque que, penso, merece.

Estátua de Sal, 29/03/2024)


De todo o texto do Miguel Sousa Tavares, na realidade só esta citação importa: “E os outros são os 80% que não votaram no Chega ou os 50% que pagam IRS”.

O Ventura pode ser o demagogo, mas a corja como Miguel Sousa Tavares e Francisco Mendes da Silva, é que é o verdadeiro fascismo que trouxe o país a este ponto.

Com que então, os que não pagam IRS não valem a pena… Devem ser desprezados por terem salários e pensões miseráveis, decorrentes de um regime político, (NeoLiberalismo e USAtlantismo, EUropeísmo e Globalismo), e de um sistema económico, (€uro, ataques aos trabalhadores, recusa em distribuir riqueza, Estado fraco para com os fortes, etc), que é profundamente fascista e que é exatamente o que o MST e o FMS defendem…

Esta citação do MST diz-me tudo o que preciso de saber dele e dos do “centro moderado” e da “democracia liberal”. Eles, do PS até ao CDS, passando por PSD e IL, e incluindo os mais EUrofanáticos e fans da NATO no Livre e PAN, e agora também em parte do BE, é que são o cancro. O Ventura é apenas uma metástase.

E, enquanto não perceberem isto, o Ventura e os Venturas por esse Ocidente fora vão continuar a crescer como cogumelos. Até ao dia em que se volta à ditadura de facto, com o fascismo de botas cardadas. E isto é inevitável, pois como se vê no texto do MST, as elites não têm capacidade mental nem predisposição social para perceber.

Agora a culpa é de quem vota no Ventura… Quem não vota nos amigos do MST e do FMS é ignorante… E há que escolher entre ser livremente miserável ou abdicar da liberdade para sair da miséria, como se não houvesse mais nada pelo meio… É insultuosa a “lógica” do MST e companhia. Mas eles precisam desta “lógica” para evitar a realidade.

Vamos a ela:

1) O offshore da Madeira continua aberto, e os ricos têm todos os esquemas e mais alguns à disposição, legalizados, para poderem fugir aos impostos, mas os que votam no Ventura é que são maus…

2) em Portugal fecham urgências por falta de pessoal, por falta de r€sp€ito pelos profissionais, mas quem não paga IRS (por ter salário ou pensão miserável) é que é mau…

3) Portugal atacou direitos laborais e destruiu a contratação coletiva e o sindicalismo, tudo isto matou qualquer hipótese de se poder subir o poder de compra dos salários, mas quem desespera e vota em protesto é que é ignorante…

4) Portugal é um dos maiores prejudicados da ditadura neoliberal do €uro e isso condena o país a uma morte lenta, mas ai, ai, aí: os populismos é que são a causa do problema…

5) Tudo quanto é público é cada vez mais gerido na “lógica” privada (RTP, Lusa, CGD, TAP) ou já foi privatizado a privatizado a estrangeiros que não querem saber do país, (ANA, Galp, EDP, REN, CTT, PT, Cimpor), privando-nos de qualquer rumo ou sector estratégico. A seguir, vão vender o que falta da Escola Pública, do SNS, e das pensões, mas as pessoas a quem é dito pela propaganda que isto é certo e não há alternativa, por mais que sintam os efeitos nefastos, é que são o problema…

6) Os portugueses ou ficam em Portugal na miséria e a ver todos os dias a desigualdade, ou emigram, ou ficam a ver as suas famílias partidas quando seus filhos emigram. No país sobram trabalhos mal pagos, quase escravatura, que são aproveitados por imigrantes a quem o nosso país não diz nada. As elites acham muito bem, pois isto é para eles apenas um número bonito na folha de excel de pagamentos das suas empresas. Acham que os humanos devem andar de país em país a adaptar-se às necessidades da elite económica. E depois, quando esse povinho f*dido decide votar zangado, o povinho é que é chamado de ignorante pelos amigos da elite que são os únicos com voz na imprensa mainstream

7) No ano de 2023, o poder de compra do salário médio só subiu na China, na Rússia, e no México. E só não subiu em Cuba, Venezuela, Irão, e outros, devido às sanções ILEGAIS que acabam por ser mais eficazes contra países mais pequenos ou com limitações de recursos. É bom não esquecer também como o FMI esmaga países, como Egipto, ou destrói totalmente países como o Haiti.

A elite ocidental está a fazer guerra contra a Rússia, está a preparar outra contra a China, e um grupo de senadores em Washington já ameaçou invadir o México. E, claro, as sanções ILEGAIS são para manter. E o FMI é o Nosso Senhor Jesus Cristo da economia Mundial…

8) Após anos e anos de austeridade e “contas certas” (cortar onde o povo precisa, para satisfazer as metas das elites), agora esbanja-se na guerra como se não houvesse amanhã, ora para apoiar nazis em Kiev, ora genocidas em Telavive, fora todas as outras poucas vergonhas, como bombardear o Iémen – como se navegar no Mar Vermelho para levar armas aos sionistas genocidas fosse um direito divino do povo “superior” do Ocidente…

Mas o povinho, se está zangado, miserável, e se protesta na rua, é porque lhe falta chá… É porque é demasiado ignorante para perceber o genial plano (globalismo belicista) da elite, e não entende a perfeição do regime político (ditadura da burguesia ocidental) em que vive.

Pois, meu caro MST e companhia, se há problema por estes lados, é exatamente por ainda só existirem 20% de votos antissistema. Deviam ser mais! E não deviam ser só votos, deviam ser paus, pedras, cocktails molotov, bombas, forcas e guilhotinas!

É para mim insultuoso que perante tanto fascismo da elite, belicismo, colaboração com nazis e sionistas genocidas, perante um sistema económico de roubo e ameaça aos não-ocidentais, e de desigualdade pornográfica contra os próprios povos ocidentais, ainda não tenha havido nenhuma bomba em Bruxelas, Frankfurt, Washington, Wall Street, Davos, Doha, Langley, Pentágono, em Westminster, na City e um pouco por todos os países vassalos, nas filiais do império a que, os ainda cegos, chamam “parlamentos nacionais”, mas onde já nada se decide e onde já nenhum povo se representa.

Estão à espera de quê? Que o senil octogenário Genocide Joe dê início à ÚLTIMA guerra mundial, e que imbecis como Macron, Kaja Kallas, Duda, Meloni, etc, peguem nos tais “miseráveis” que não pagam IRS e nos mobilizem a todos à força para morrer numa trincheira às portas de um país não-ocidental? Estão à espera que os EUA cumpram a promessa (como fizeram no Nord Stream) de destruir Taiwan só para impedir que a China destrone os EUA na liderança do mercado dos chips?

Querem mesmo empobrecer, ainda mais, em nome da “liberdade” de um multibilionário fazer passeios espaciais de 10 minutos?

Querem esperar pela finalização do GENOCÍDIO da Palestina e pela ativação da guerra na Sérvia só para que a NATO possa, respetivamente , ter uma enorme base militar na Mesopotâmia e anexar o Kosovo?

Querem continuar a ser “bons alunos” que aceitam o autoritarismo e a censura impostos por não-eleitos na EUropa?

Querem esperar para ver os vossos filhos a viver em barracas, em nome da “liberdade” das elites acumularem propriedade e especularem com casas de habitação vazias, e no final ainda terem de ouvir os mete-nojo, como o MST, a dizer que o problema são os vossos filhos, que são preguiçosos demais para terem 2000€/mês para pagar de renda?

P”TA QUE PARIU ISTO TUDO! Se não perceberam que é para aqui que vamos, e que os Venturas são apenas uma consequência, e não a causa do problema, então não perceberam nada!

O 25 de Abril está morto, após facadas sucessivas. E nem houve um único dia de luto pelos Capitães de Abril que nos deram a verdadeira Liberdade. Mas o Parlamento português obedeceu aos não eleitos da UE/NATO, para declarar luto por um racista, fascista, criminoso, chamado Navalny…

Nos bálticos já se vai ao ponto de destruir estátuas dos soldados soviéticos que derrotaram o nazismo, de proibir a celebração do Dia Da Vitória a 9 de Maio, de prender idosos veteranos que vão colocar flores nesses locais nesse dia, ameaçaram prender qualquer russo que se atrevesse a votar (o Francisco Mendes da Silva e companhia defenderam o mesmo para os catalães…), permitem marchas que glorificam as milícias nacionalistas e fascistas que colaboraram com Hitler, apoiam os seus equivalentes no Ucranazistão e, a Kaja Kallas, já faz declarações a preparar o povo para “não ter medo das armas nucleares” e que “ser a favor da paz é suicídio”… E, no final disto tudo, as elites globalistas NeoLib e NeoCon, com os MST e os FMS incluídos – e até os Daniel Oliveira -, ainda se atrevem a chamar-lhe “democracia”…

Meus senhores, a ditadura fascista de Salazar ajudou Hitler da forma mais tímida possível, sendo neutral (em vez de respeitar a aliança mais antiga do Mundo e ir em auxílio do Reino Unido). Mas a atual ditadura fascista de Portugal tem ainda menos decência, e viola a sua neutralidade inscrita na Constituição de forma a ajudar diretamente os nazis na Ucrânia e os imperialistas genocidas dos EUA em qualquer parte do globo!

A Alemanha está a enviar armas para o genocídio de um povo semita (os palestinianos), e os sionistas de Israel vão ao ponto de mandar a polícia do regime de opressão racial/étnica/religiosa (apartheid) espancar até os Judeus ortodoxos que se manifestam pela paz e recusam ser mobilizados. Por menos que isto, a NATO destruiu a Líbia inteira. Portanto o que é que os países da NATO mereciam agora que lhes fizessem?

Nós, no Ocidente (em graus diferentes em cada país) estamos, de facto, inseridos num Império genocida, cuja política externa é de belicismo, e a política interna é de fascismo económico disfarçado de “liberdade individual” ou de “democracia” liberal.

No plano interno, a desigualdade será cada vez mais pornográfica: os países vassalos serão cada vez menos soberanos e cada vez mais esmagados. No plano externo, continuam as forever wars para lucro dos oligarcas do Military Industrial Complex, as sanções ilegais para provocar miséria e fome nos países que se atrevem a dizer não ao Tio Sam e, numa destas agressões ocidentais contra a maior potência nuclear do mundo, o Ocidente gastas biliões dos seus recursos para ajudar meia dúzia de nazis a executar os planos de meia dúzia de pançudos em Washington.

Nesta conjuntura, os Venturas não passam de uma insignificante metástase. O próprio regime político e a sociedade dominada pela elite globalista (da “democracia” liberal) é que é o cancro. E o cancro não se cura com votos ou palavras bonitas. Cura-se com quimioterapia. O paciente só sobrevive se MATAR todas as células cancerígenas! E, como é óbvio, qualquer metástase morre também durante esse tratamento. Ninguém sobrevive tolerando o cancro. Não é um amigo com quem possamos chegar a entendimento. Temos mesmo de o matar!

No dia em que Julien Assange for libertado, e em que Bruno Amaral de Carvalho for diretor da RTP ou da LUSA (e a LUSA deixar de ser mero repetidor da AP/Reuters/etc); no dia em que Edward Snowden puder voltar vivo e livre aos EUA, e que, gente como Leyen, Stoltenberg, Nuland, estiverem em prisão perpétua, em que a NATO for desmantelada, e em que a Palestina deixar de estar ocupada; no dia em que os embaixadores russos forem convidados de honra no 9 de Maio na Europa inteira, e em que Pequim seja a primeira visita oficial de um Presidente português; no dia em que o Brasil, um país árabe e um país africano, tiverem assento permanente no Conselho de Segurança da ONU (ou do que vier a substituir a ONU…); no dia em que a maioria dos trabalhadores esteja sindicalizada, e que a comunicação social volte a falar a verdade (e as atuais PRESStitutas despedidas e condenadas por colaboração tal como se fez em Nuremberga); no dia em que cada país tenha a sua moeda e o dólar não seja moeda de reserva, e que a prioridade de todos os Bancos Centrais seja o pleno emprego e o fim da pobreza, então nesse dia saberemos que a quimioterapia funcionou.

Uns sonham com o dia em que todos tenham casa, educação, saúde, e possam ir de transporte público a todo o lado, possam viver em paz, ninguém passe fome, e a preocupação com o dinheiro no final do mês seja coisa do passado.

Outros sonham com a continuação deste longo dia em que só um grupo restrito pode viver no luxo, em que o Império domina pela guerra e genocídio, em que se chama ignorante ou preguiçoso a quem passa dificuldades, e onde tanto os demagogos como as elites (de formas diferentes) se aproveitam dos miseráveis.

Não há lugar para estes dois tipos de pessoas neste planeta. Ou o paciente mata o cancro, ou o cancro mata ambos e de caminho ainda destrói o planeta.

Exemplo prático: ou alguém dá um tiro em Netanyahu e mais meia dúzia de tiros no grupo central do sionismo (em Israel, na Europa, e nos EUA), ou milhões de humanos continuarão a sofrer.

As leis do chamado “estado de direito” não se aplicam aqui. A proibição de matar só se aplica em tempos de normalidade. E os demónios genocidas não merecem, não podem, ser tratados com as leis dos humanos. Aliás, foram eles próprios (os sionistas cristãos USAmericanos) a dizer que uma resolução de cessar-fogo aprovada no Conselho de Segurança da ONU “não é” vinculativa, Isto é, eles próprios admitem que nenhuma Lei do Mundo se lhes aplica. Portanto, estamos à espera de quê? Quimioterapia! Já!


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Tanta verdade junta mereceu publicação…

(Estátua de Sal, 08/03/2024)

Não resisti a não publicar o vídeo do programa de Miguel Sousa Tavares, a 5ª Coluna, exibido em 07/03/2024. Nem sempre concordo com o MST mas, desta vez, todos os assuntos tratados são de uma atualidade candente e foram abordados contra a corrente das ladaínhas dos jornaleiros serventes das narrativas do poder dominante.

O primeiro assunto é do âmbito da política nacional e tem a ver a queda do governo de António Costa. Em véspera das eleições de dia 10, ainda o Ministério Público não informou os portugueses sobre o que de errado fez o ex-primeiro ministro, de que é acusado, que indícios existem contra ele, etc. Aliás, a revista Visão publicou, também nessa data, um artigo em que revela que o próprio Ministério Público não tem indicios de crime, nos dois casos que levaram às buscas que deram origem ao comunicado que fez cair o Governo:

“Ao fim de quatro anos de investigação e milhares de escutas telefónicas, o Ministério Público (MP) admitiu não ter a certeza de que foram praticados crimes nos casos do lítio e do hidrogénio, assim como noutras situações que envolvem antigos ministros, como João Galamba e João Matos Fernandes. Quando separaram as investigações por processos autónomos, os procuradores do Departamento Central de Investigação e Ação Penal (DCIAP) assumiram estar ainda por “comprovar a existência de indícios da própria ocorrência de crime” naquelas duas situações, o que carecerá de análise necessariamente mais demorada”, acrescentaram”. (Visão, 07/03/2024).

MST pergunta, e eu também pergunto: como pode a justiça fazer cair um governo sem ter nada de sólido e concreto para acusar o chefe e outros membros do governo?! Um golpe de estado para levar o Chega e companhia ao poder? Quem sabe?

O segundo assunto é o horror dos crimes que Israel está a cometer na faixa de Gaza, nomeadamente contra crianças. MST compara, sem pejo, os crimes de Israel aos crimes dos nazis contra os judeus nos campos de concentração e no gueto de Varsóvia.

O terceiro assunto é sobre a guerra na Ucrânia e sobre as loucas decisões belicistas dos líderes europeus, com Macron à frente, que querem aumentar as despesas com armamento à custa do definhamento do estado social, e que ainda sonham com a possibilidade de derrotar a Rússia e sacarem-lhe os seus vastos recursos. Ora, qualquer mentecapto sabe que atacar a Rússia equivale a desencadear a III Guerra Mundial, mas é para esse cenário de morte e destruição do planeta que os líderes europeus nos estão a conduzir.

Por tudo isto, vejam o vídeo. MST é das poucas vozes que ainda vai tendo espaço, na comunicação social de larga audiência, para introduzir, de quando em quando, algum ruído nas narrativas dominantes que nos servem diariamente, em catadupa, por vezes quase até ao vómito.

Podem ver o vídeo aqui.

Estátua de Sal, 08/03/2024


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O Miguel, porventura, deve estar a brincar

(Por Um Cidadão, 10/09/2022)


(Este texto resulta de um comentário a um artigo que publicámos de Miguel Sousa Tavares ver aqui. Perante tanta verdade junta, resolvi dar-lhe o destaque que, penso, merece.

Estátua de Sal, 10/09/2022


O Miguel, porventura, deve estar a brincar.

É que só pode.

Não ia dizer nada, mas esta aleivosia disfarçada de benevolência filatrópico-cronística é de um tal descaramento que é preciso ter-se lata como só alguém que toma banho com melros a olhar para ele pode ter.

Então, no entender do Miguel, a conclusão implícita e não exprimida do artigo é – e não esqueçamos o que ele disse, «raras foram as vezes em que, falando da história do Brasil com brasileiros, não tive de escutar um rol interminável de explicações e lamentações com as culpas dos estrangeiros: portugueses, “castelhanos” ou americanos.» (e o Messias falou, e o povo acatou) – que os Brasileiros são uns preguiçosos e idiotas mal agradecidos que não souberam aproveitar aquilo que os colonizadores lhes deixaram no momento em que estes partiram!

Epa, que eu nesta nem tinha pensado. Como se, depois da saída dos Portugueses, tivesse subitamente nascido um Paraíso na Terra, no qual não existiriam desigualdades, exploração, senhores feudais na forma de latifundiários carniceiros, e uma classe alta que, à semelhança do que aconteceu em Portugal, explorava o país em seu benefício próprio e não em benefício do desenvolvimento das condições de vida da população e da elevação do país!

O Miguel parece que descobriu a marosca – os brasileiros são tão preguiçosos como os Alentejanos (pudera, a levar com tanto sol o ano inteiro) e ainda mais corruptos que as máfias Russas.

E aquela do “quinto real” é mesmo boa. Claro, os portugueses não levaram assim tanto do Brasil.

Daí se explique uma obra como o Convento de Mafra – foi construído com os restinhos do ouro que nos chegou dos simpáticos assaltantes que não desviaram a nossa herança divina (como se atrevem eles ?) para Minas Gerais.

Não se podem culpar os portugueses.

Os brasileiros até têm de estar agradecidos por termos levado escravos que “beneficiaram” o país, apesar da escravatura ser uma “infâmia”, mas «podemos dizer que não existiu nenhuma razão — histórica, económica, social ou política — para que o Brasil não fosse hoje um dos países mais desenvolvidos e mais justos do mundo.»

Pois claro! A exploração dos indígenas, os “ciclos de riqueza” (resultado do “mandato divino”), consequência da exploração dos recursos naturais autóctones por parte dos colonos portugueses, foram todos, indubitavelmente, para benefício do povo brasileiro!

Não foi para benefício dos nobres e colonos portugueses que lá se estabeleceram e que, uma vez cortadas as relações com a Terra Mãe, se aproveitaram da sua posição e consolidaram-na, dando continuidade à exploração de séculos.

Por mais que uma pessoa possa reconhecer que a exploração colonial portuguesa não foi nada em comparação com a exploração colonial, por exemplo, britânica, não se pode pura e simplesmente varrer uma história de exploração para debaixo do tapete, como se nada fosse e não significasse e implicasse grandes fragilidades na integridade de populações indígenas, das suas estruturas sociais tradicionais, modos de vida ou até a própria psicologia de um povo que sofre (e muito!) com exploração colonial da mais repressiva (porque fomos repressivos, mesmo que não tanto como outros o foram nas suas colónias), e, ainda por cima, afirmar-se do alto do cavalo xenófobo que montamos que a exploração e o roubo são coisas perfeitamente naturais e que «eu olho para isso sem complexos nem sentimentos de culpa.»

Então explorar um povo não deve incutir algum sentimento de culpa ? Caramba, ainda bem que há homens rijos como o Miguel para nos guiarem por esta escuridão hodierna, e para a qual ele tanto contribui em entrevistas ao Primeiro Ministro na TVI com apologias ao Chega.

É curioso, por outro lado, que o Miguel venha falar dos Chineses (ah, essoutros malditos explorados durante séculos e que agora se vêm meter nos nossos negócios!) que compram a Amazónia – provavelmente para fazer aquilo que mais ninguém faz, preservá-la – mas não fale dos Americanos a não ser para menorizar o que é e tem sido a intervenção das multinacionais americanas na totalidade da América Latina!

É curioso que o Miguel, por exemplo, não fale do GOLPE DE ESTADO PATROCINADO PELO DEPARTAMENTO DE ESTADO DOS EUA EM 1962, instaurando uma ditadura militar, e com o qual, sem dúvida, os negócios os mais variados dos sempiternos defensores da “democracia liberal”, EUA, lucraram – e não deve ter sido pouco.

Porventura, o Miguel deve achar que uma ditadura que acabou em ’85 e os seus efeitos altamente danosos se resolvem dum dia para o outro, não esquecendo que as corporações americanas nunca abandonaram os seus esforços de colonizar capitalmente o Brasil desde então e de capitalizar com o feito!

Se o Miguel tem problemas com este argumento, eu pergunto-lhe: então, os Portugueses não se livraram duma ditadura em ’74, 11 anos antes ?

E o Sr. Salazar não construiu muita infraestrutura ? É verdade, reprimia os trabalhadores, mas o país produzia alguma riqueza, não é ? Onde é que está, desde então, esse espírito inovador e empreendedor ? Essa inefável esperança no futuro ?

Não será porque o povo era explorado em benefício duma minoria de aristocratas e capitalistas privilegiados ?

O Miguel que vá para as vinhas, que bêbedo deve ter melhores visões da história do que sóbrio da atualidade.

P.S. Perdão à Estátua de Sal pelo conteúdo mais ofensivo, mas é preciso ter-se lata – para não dizer outra coisa.

Dar uma no cravo e outra na ferradura é uma coisa, mas, como as contas do gás vão ficar mais caras e este decidiu investir numa vinha, parece que é preciso compensar os prejuízos.

O nosso Eça de Queirós, frequentador das “altas sociedades” até certo ponto, chegava a ter mais juízo do que o Miguel, afirmando no livro “As Farpas” (vou parafrasear e não citar) que o brasileiro com que nós gozamos tanto (neste caso, queixamo-nos e repreendemos) é apenas um português que desabrochou plenamente no calor dos trópicos.

Dito de outra maneira: eu não sei o que é que leva alguém como o MST, que escreve crónicas conforme precisa do dinheiro, a pensar que está de alguma forma numa posição mais elevada e que lhe permita julgar os brasileiros quando ele próprio, se lhe oferecessem um milhão de euros por um artigo destes, até escrevia com o Novo Acordo Ortográfico – o que, pode parecer que não, mas diz muito, já que (independentemente de concordarmos ou não) o Miguel acha que é um paladino resistente no meio da corja conformista.

Enfim, MST tem os seus dias.


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