Substituição de importações, tema tabu

(Daniel Vaz de Carvalho, in Resistir, 16/09/2022)

Da social-democracia à extrema-direita a substituição de importações é tema algo herético. E compreende-se, visto que põe em causa a globalização neoliberal e os processos de exploração a nível global das oligarquias. Assim, o que se tem ouvido às “sumidades” que peroram como papagaios nos media é a fórmula gasta do “exportar mais” acompanhada do seu corolário de “acabar com a rigidez laboral”, eufemismo para anular a já limitada pelos processos neoliberais força sindical e contratação coletiva, em suma, os direitos laborais. Para o proletariado bastam cumprirem os seus deveres e serem “competitivos” – uns com os outros.


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Os EUA, a China, os semicondutores, o livre comércio e muito anticomunismo

(Manuel Gouveia, in AbrilAbril, 17/08/2022)

A assumpção de uma guerra contra a China, sobretudo económica, é o caminho escolhido pelos EUA para parar o desenvolvimento pacífico que estava a conduzir a uma multipolaridade que lhe não é suportável.


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Os EUA, a China, os semicondutores, o livre comércio e muito anticomunismo | AbrilAbril


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Três lições simples da guerra com a Huawei

(Daniel Oliveira, in Expresso Diário, 29/05/2019)

Daniel Oliveira

O primeiro efeito da ordem executiva que proíbe o uso de qualquer material da Huawei, assinada por Donald Trump, foi a suspensão dos negócios da Google com a operadora chinesa. A Huawei perde acesso a atualizações do sistema operativo Android, e a próxima versão dos seus smartphones fora da China vai perder acesso a aplicações como o Google Play Store e o Gmail app. Não é machadada pequena e o braço de ferro ainda agora começou, com os chineses a mostrarem a calma que os caracteriza e que os levará muito longe. É claro que o argumento da segurança, na boca de Trump, é uma piada. Estamos perante uma guerra comercial das antigas. Ponto.

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Qualquer coisa que se queira dizer sobre esta guerra será imediatamente interrompida por uma homilia sobre o mercado global. Infelizmente, os beatos da liberdade económica não costumam estar presentes nas procissões pela liberdade de movimentos de humanos – aí pedem sempre realismo – e não ficam incomodados com a frieza da realpolitik quando se trata de invadir ou bombardear um povo. Pois eu vivo melhor com disputas em torno de aplicações de telemóveis do que com milhares de mortos e deslocados. Mas mesmo com o novo tabu, que trata qualquer medida protecionista como a antecâmara de um holocausto, atrevo-me a enumerar três lições que, para já, podemos tirar deste episódio.

Primeira lição: os Estados podem muito mais do que nos dizem. A ideia de que num mundo globalizado as nações nada podem é falsa. Claro que não podem todas, e isso é dos poucos bons argumentos em defesa da União Europeia: Estados juntos num bloco económico podem mais facilmente ditar as regras. Isso não obrigava a uma moeda única e não se pode dizer que esta Europa crescentemente desindustrializada faça grande coisa com o poder que tem. Usa-o para interesses que nos ultrapassam.

Esse é o debate que deveríamos ter feito no último mês. Seja como for, a ideia de que as grandes multinacionais esvaziaram os Estados de poder é falsa. Foram os políticos que o fizeram e, para o certo ou para o errado, podem recuperar esse poder rapidamente. Trump pôde.

Segunda lição: a conversa sobre a liberdade económica global é uma treta. A Huawei fundou-se, ganhou músculo e internacionalizou-se a partir de uma economia planificada, com liberdade económica limitada e tutelada e isso não a impede de competir com outras grandes empresas, a ponto de as pôr em risco. A concorrência faz-se a partir de patamares diferentes, com ambientes económicos diferentes, e está muitíssimo longe de ser um jogo de mercado livre. Isso é conversa sobre os amanhãs que cantam. O mundo mudou menos do que pensamos.

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Terceira lição: as potências mais relevantes que se confrontam pelo domínio económico são razoavelmente protecionistas, apoiam as suas empresas e têm estratégias industriais nacionais. O liberalismo deixa andar é para papalvos e custará bem caro a quem o adotar. Por isso mesmo é vendido por potências a países periféricos como se fosse a última Coca-Cola no deserto. Veja-se como a Alemanha se prepara para mudar as regras da concorrência dentro da Europa para poder apoiar os “campeões europeus” (leia-se “campeões alemães”) contra o perigo chinês. Muitos que aplaudem esta reviravolta estarão na primeira linha do apedrejamento de Trump por ter violado tão abertamente o mito do mercado global livre. É um mito.

O grande risco disto tudo? Se esta estratégia de Trump correr bem, o povo ficará mais feliz e virá com isto tudo o resto: perseguição às minorias, ataques ao Estado de direito, violação das regras democráticas. Se a reação ao expansionismo chinês, bastante protegido pelo Estado, devolver empregos aos norte-americanos ninguém vai querer saber do resto. É por isso que ou os democratas abandonam de uma vez por todas a lengalenga das inevitabilidades e recuperam o poder dos Estados, ou a democracia está condenada. Porque o que fica a dizer às pessoas é que é fundamental que elas escolham livremente quem as governa, para que os governantes eleitos lhes expliquem que, neste mundo global, nada podem fazer por elas.