O 5G e o domínio do “multiverso”

(Hugo Dionísio, in Facebook, 12/06/2023)

No meio de uma discussão, na imprensa ressonante e no “multiverso”, que pulula entre a prometida contraofensiva, exigida por Biden e Sullivan, e as inundações provocadas pela destruição da barragem de Novaya-Kharkovka, em que nos fazem crer que, os inimigos de sempre, provocaram mais um acto do seu já proverbial haraquíri (começa a ser fastidioso tanto tiro nos próprios pés!!!!), há um tema que tem sido abordado com alguma atenção, mas, como sempre, com pouca profundidade e muitíssima propaganda. Trata-se da 5G e da Huawei.

Ao contrário dos tanques Lepard2, que eram apresentados como mais uma “wonderwaffe” ocidental, e que, quando usados pela “wolksstrum”, durante o adiado “blitzkrieg”, falharam em assustar o inimigo, que os tem destruído como outra lata velha qualquer; o desenvolvimento, crescimento e expansão da Huaway e da sua 5G ao redor do mundo, bem como da oferta telemóvel, que antes do ataque ameaçava tornar-se líder mundial de vendas, assusta, e de que maneira, os poderes, de facto, do ocidente colectivo.

Mas não é só da Huawei que a Casa Branca tem medo; tem medo do Tik-Tok, como tem medo do Weechat. No fundo, tem medo de toda a alta tecnologia de qualquer país que não controle, sendo que, no caso concreto das tecnologias digitais, Washington, nem aos seus mais submissos vassalos, permite qualquer intervenção nesse domínio.

Enquanto ouvimos, lemos e vemos, vezes sem conta, o chavão ideológico, segundo o qual, os americanos “gostam da competição” porque “a competição fá-los avançar e extrair o que de melhor têm”, quando assistimos ao que tem sido feito para travar o desenvolvimento de tecnologias de fronteira por países que não controlam, rapidamente nos damos conta de que a propaganda é só isso mesmo… propaganda. A susceptibilidade de outros países deterem tecnologias que concorram e superem as suas, ao contrário de ser visto como um estímulo, é visto como algo a abater.

Daí as sanções à Huawei, à venda de chips e máquinas litográficas, ou à aquisição de lítio, pela China. Adoram competir, portanto. Mas com coxos, estropiados, esfaimados e servos. Como qualquer mafioso e batoteiro, os EUA sentem-se os maiores apenas junto dos desgraçados e graxistas. Daí as ameaças, as sanções e os embargos unilaterais e a disputa férrea pelo controlo das tecnologias e recursos vitais, sempre usados como arma de arremesso.

Não obstante a guerra do 5G, o facto de a Huawei se estar a tornar, à data do primeiro ataque e ainda sob Trump, no líder mundial de vendas de telefones constituía, na minha opinião, uma ameaça ainda maior do que o domínio do mercado 5G – daí o ataque à empresa e não apenas ao negócio 5G. Ainda por cima a Huawei que até é uma espécie de cooperativa, provando que o mundo não precisa de “patrões” ou “empresários”, apenas de quem trabalhe.

Edward Snowden já nos tinha dado a conhecer o porquê deste receio, por parte da Huawei, considerado um ataque frontal à segurança dos EUA. No meio das acusações costumeiras das “ligações ao Partido Comunista Chinês” e do acesso à informação “pelo Partido Comunista Chinês”, Snowden, a seu tempo funcionário da NSA (Agência de Segurança Nacional), denunciou que os Iphone eram instrumentos de espionagem e vigilância, abertos às agências de segurança e de investigação do tio Sam.

Mais recentemente, a também banida Kaspersy – um dos mais conhecidos antivírus do mercado – confirmou as denúncias de que o Iphone pode ser infetado com um malaware que permite às agências de segurança do tio Sam aceder aos dados, mas também ao controlo do próprio aparelho, para que este filme e registe áudios do seu portador. A Apple negou, claro!

Ao fazermos uma análise superficial de que tipo de pessoas utilizam Iphone, principalmente os mais vulneráveis à utilização destas portas traseiras “back door” – os mais caros e modernos -, rapidamente nos damos conta de que se tratam de empresários, políticos, dirigentes partidários e associativos, gente da elite ocidental, em geral. E tal é o conhecimento desta situação – abafada pelo poder mediático da Apple e pelo poder coercivo da Casa Branca -, que em alguns países já existem restrições ao uso de Iphones por altos funcionários e dirigentes do Estado. Não, nenhum desses países é do Ocidente colectivo! Ai deles! O Iphone é a sua trela!

Ora, era também neste mercado “flagship” que a Huawei estava a entrar e não apenas no mercado comum. O facto de apresentar telemóveis cada vez mais sofisticados, com as melhores máquinas e que competem com os melhores Iphone e Samsung, estava a colocar em causa a utilização destas estratégias de vigilância pelos mesmos de sempre. No caso dos Huawei, a existirem vulnerabilidades desse tipo – também amplamente negadas, como seria de esperar -, elas funcionam para o outro lado. O facto é que, com a expansão da Huawei, estava a reduzir-se, lenta mas paulatinamente, o campo de recolha de “inteligência” em relação a pessoas de interesse.

Não é preciso ir muito longe para se perceber a importância destas coisas. Quando o Google se generalizou e todos ficámos a saber que a China se tinha recusado a ter um “Google livre”, desse facto saíram dois tipos de conclusões: 1. A da propaganda, segundo a qual “a China é uma ditadura e tem de condicionar o Google”; 2. O Google é um instrumento de controlo de mentes, monitorização de comportamentos e recolha de dados pessoais, logo, um país como a China não poderia dar essa vantagem aos EUA.

Hoje todos sabemos como funciona o Google, a forma como faz a gestão da informação, como a suprime, promove e bloqueia ao sabor dos poderes dos seus criadores e financiadores de facto. A mim, só me admirou, como foi possível que países como a Rússia, a India, o Brasil, a Indonésia ou Irão tivessem ido no conto do vigário, optando por não criar ferramentas nacionais homólogas. Tratou-se de um erro crasso que muito tem custado a suprimir. No início, estas nações, ao contrário da China, prescindiram da luta pelo “multiverso”.

A questão do 5G já não é tão importante, do meu ponto de vista, para o domínio do multiverso. Embora a Casa Branca tenha a intenção e controlar toda a gama de tecnologias digitais de ponta, o facto é que, mesmo assim, nesta área, permite à Suécia – Erickson – e a Finlândia- Nokia – desenvolverem redes 5G. O que a Casa Branca já não permite a ninguém é o desenvolvimento das próprias tecnologias digitais.

Digam-me uma plataforma digital do Top 20 que tenha origem Europeia, Japonesa, Coreana ou Australiana? Pois é aí que se situa o cerne do controlo e monitorização das mentes. E como recentemente divulgado e confirmado pelo próprio Guterres, o tio Sam monitoriza até a sua mãezinha. Não confia em ninguém e ainda menos nos seus mais submissos servos. O líder real sabe sempre que o seu servo de hoje, pode ser o de outro, amanhã.

Desde muito cedo pudemos constatar que, também em Portugal, a 5G da Huawei iria ser banida. Tive mesmo essa discussão com um utópico da IL, que me dizia não ser assim. A própria lei habilitadora e reguladora do 5G denunciava, a alta voz, essa possibilidade, ao criar condições especiais para a entrada de “novos operadores”. Operadores esses que são a Nokia e a Erickson. Huawei e ZTE nem pensar. Santos “fantoche” Silva ainda falou grosso ao embaixador dos EUA: “em Portugal há um governo soberano para decidir essas coisas”, terá dito! Mas era apenas mais um acto da farsa. Portugal não tem, hoje, líderes capazes de lutar pela sua independência real.

Depois de ameaças, bullying e promessas de apoio à candidatura de Costa à presidência do Conselho Europeu (isto sou eu que digo), eis que o resultado final não poderia ser outro. Só os iludidos não o viram logo desde o ataque de Trump. Os países ocidentais não têm soberania para decidir destas coisas. Isto é decidido por gente como Victoria Nuland e Tony Blinken e transmitido à NATO. A 5G da Huawei é banida e veremos o que dirão os tribunais sobre o assunto, mas vendo como vai a justiça… Para já, as regras da concorrência foram todas atropeladas. E os utópicos neoliberais que gostam tanto do “mercado livre”. Uma utopia construída para permitir a acumulação de riqueza pelos que já eram os mais ricos.

Na Imprensa ressonante não se fizeram esperar as explicações do charlatão. Não, não são dadas para salvar o Governo! São dadas para lavar a face da UE e dos EUA. Então, por entre mesas redondas de comentadores plurais, o diapasão afinava todo pela mesma treta “a avaliação que a UE faz hoje da China, não é a mesma que fazia há uns anos”.

Por amor… Mas a UE faz alguma avaliação de alguma coisa que não seja a de avaliar como aplica as ordens que lhe são transmitidas directamente de Washington? A UE tem tantos problemas com a China, faz uma avaliação tão terrível deste país, que continuou a aumentar o volume de negócios, parecerias e investimentos com o mesmo, havendo inclusive vários países que até fazem parte da BRI. Eis a avaliação que a UE fez!

Quem não gostou foi o tio Sam, logo vindo colocar os seus grãos de areia na engrenagem, porque esta não funciona a seu favor. E através de um sistema de “reinar para dividir” e do conhecido e experimentado método da “cenoura e do burro”, não demorou muito a que os servos europeus, que se fazem passar por dirigentes políticos, mas não passam de fantoches bem pagos e com trela (Iphone), sucumbissem à derrota dos seus povos, dos seus países. Hoje, é certo que a UE irá entrar em recessão e no final disto tudo sairá com uma economia arrasada. Mas “tudo em nome da democracia” certo?

Se a 5G representa o acesso de um país em vias de desenvolvimento – em tanto mais avançado do que os que se dizem “avançados” – a tecnologias da fronteira tecnológica, o Tik-Tok e o Weechat representam o acesso e a capacidade de disputa do “Multiverso”. O multiverso (universo virtual) é o local onde o tio Sam nos quer encarcerar as mentes para que, vivendo uma vida de miséria, possamos fugir para uma vida falsa de ilusões, onde tudo podemos ser nunca sendo nada. O multiverso é a metáfora perfeita da farsa democrática em que vivemos.

Se o Tik-Tok permite o controlo das mentes, neste caso, ao contrário de Twitter, Facebook, Apple e Google, não contém as portas traseiras e os interruptores censórios ao dispor da Casa Branca. A contê-las, funcionam para outros que não os EUA. Mas, a ver pelas publicações em causa, não entrou na onda da censura.

Se o Weechat permite o controlo do dinheiro, ao contrário do Googlepay, Visa, Mastercard e outros, não concorre para a preservação do dólar como moeda de reserva, antes para a sua desagregação. Também não comporta as portas traseiras de acesso, ao dispor das mais de uma dezena de agências de segurança dos EUA.

Eu não sei se, este tipo de tecnologias, funcionam para o governo chinês como funcionam para o dos EUA. Também não sou ingénuo ao ponto para dizer que não o possam fazer. O que sei é que o ladrão tende a ver todos os outros como ladrões e a espelhar nos outros o mesmo comportamento que assume. É um efeito psicológico conhecido: nós lemos os outros com os nossos próprios olhos.

Sei também que, nunca em toda a história humana um regime político teve nas suas mãos um sistema tão perfeito de vigilância, controlo e manipulação. A diferença é que, este sistema, em utilização no Ocidente e bem traduzido em comportamentos acríticos e de rebanho pela maioria das pessoas, incluindo da elite, é apelidado de “defensor da democracia”. Um sistema destes usado num país competidor, é apelidado de tiranizador.

Mas, no final, tal como se passa no mundo real, que vive numa disputa entre quem defende a unipolaridade – EUA e vassalos – e quem defende a multipolaridade – povos e nações livres -, o multiverso também assiste à mesma disputa. E neste caso, a China está para o real como para o virtual. Assume-se como o grande motor e pilar da transformação da arquitectura mundial. Não se trata de uma questão de gosto, é uma realidade e temos de viver com ela. E eu que pensava que os liberais gostavam muito de “mudança” e “reformas”. Está na hora de saíres da zona de conforto, ó Passos Coelho!

No fundo, no fundo, o multiverso não existe…. Pois não passa de uma extensão do mundo real, das relações reais. Existisse ele de per se, como nos querem fazer crer, e seria um mundo de paz, liberdade e felicidade para nos prender a todos. A prova disso mesmo é a sua disputa pelos imperialistas EUA.

Nenhum império se constrói de quimeras virtuais. O poder imperial é bem real. Sentimo-lo todos os dias nos nossos ossos, hoje, como o sentem os povos do Sul Global de há 500 anos a esta parte. Assim, o “multiverso” não é um mundo independente, é uma ferramenta do mundo que temos.

E o que está em questão com a 5G, os telemóveis, os chips, as plataformas digitais, mais não é do que a disputa do mundo real. Um mundo que agora foge, finalmente, ao Ocidente. É esta a realidade e só existe uma!

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O melhor dinheiro que já gastámos

(Hugo Dionísio, in Facebook, 30/05/2023)

Lindsay Graham, senador republicano estado-unidense volta a expor a terrível farsa e a bárbara agressão de que o nosso país é cúmplice, co-autor e entusiasta apoiante. Apenas uma pequena mão-cheia, cuja percentagem mal caberá nos dedos das mãos, dá atenção aos sinais que foram sendo dados pelos próprios promotores da farsa. Como Merkel e Hollande ou Biden, Lindsay Graham proporcionou-nos um raro momento de clarividência – para muitos deveria tornar-se numa verdadeira epifania.

Malogradamente, vivemos tempos em que a turba parece não reconhecer a verdade quando esta intermitentemente aparece. Abordar um facto isolado, não nos traz a verdade. Apenas nos dá informação. É na conjunção dos factos que constatamos a verdade. Perdidos num círculo vicioso e cada vez mais acelerado de factos dispersos, quem não se esforçar por estar atento, não identifica a verdade quando esta lhe surge à frente dos olhos.

Chega mesmo a ser doentio que, perante a intervenção de Lindsey Graham, o espectador sempre pronto a julgar os “políticos” pela sua “iniquidade”, nesta situação não adoptem o mesmo tom de condenação imperativa e irreversível. O senador americano não poderia ser mais explícito: “os russos estão a morrer”; “É o melhor dinheiro que já alguma vez gastámos”!

O discurso de Lindsay Graham apresentou mais contradições insanáveis em relação à narrativa oficial, como o “agora são livres”, como se o “ser livre” dependesse da instauração de uma ditadura civil-militar de inspiração neonazi, do derrube de um governo eleito, da negação do direito ao voto de uma parte da população e da extinção de todos os partidos políticos da oposição democrática. Mesmo quando Lindsay Graham agradece e diz, por tudo “obrigado”, também está em contradição com a realidade. Roma não agradece, tal como não se desculpa. Roma exige e pune a insubordinação. Daí que o “obrigado” do senador saiba mais a um “obrigado por te autoflagelares ao ponto de provocares o teu próprio desaparecimento”. Que é o que esta guerra significa para a Ucrânia, e a traição do comediante corrupto e belicista representa para o povo que diz defender.

Se dúvidas existiam de que esta guerra é uma guerra contra o povo russo, contra o mundo russófilo e russófono, e que o maior país do mundo se encontra, uma vez mais, numa luta existencial, veio, uma vez mais, o agressor confirmá-lo.

Contudo, duvido mesmo muito que, mesmo perante tão luminosa revelação sobre a natureza, identidade e intenção do verdadeiro agressor, algum sectário atlantista consiga a partir das palavras de Lindsay Graham, retirar alguma verdade.

No mundo em que vivemos podemos constatar em directo e ao vivo que a perseguição das massas, motivada por Hitler e os seus, a judeus ou a comunistas, afinal, não se tratou de algo assim tão difícil de conceber e realizar. Tal como hoje, a Alemanha de então já era uma “democracia liberal”, acossada pela crise económica, como também estamos nós e com o império – ou o bloco imperialista – a enfrentar um contendor de peso que ameaçava a sua hegemonia mundial – antes a URSS, hoje a China, para mais aliada à Rússia.

Tal como ontem, o medo e o ódio são os sentimentos de mais fácil promoção, utilizando-se as redes sociais para propagar, como fogo, a histeria e os sentimentos fundamentalistas. Hoje são os russos, e com cada vez maior expressão, também os chineses. Apenas, e apenas o Ocidente os vê assim. O que diz muito de tudo isto.

Tornou-se comum assistir a pessoas despedidas apenas por serem russas, a conferências e espectáculos suprimidos por falarem da cultura russa e ao boicote de acontecimentos apenas por abordarem uma perspectiva equilibrada e neutra face ao conflito. Uns, os perseguidores, fazem-no por convicção e xenofobia, outros, como o caso do sr. reitor da Universidade de Coimbra, pelos vistos alguém que seguia a cultura russa, fazem-no por cobardia, seguidismo e egoísmo. Nesta questão, os padrões morais simplesmente deixaram de existir. E isto está a acontecer no país dos “brandos costumes”. No centro da Europa, prendem-se, perseguem-se e confiscam-se jornalistas, intelectuais e personalidades apontadas como pró-russas. A continuar por aqui, não faltará quem diga: têm de ser mortos!

E nem nos poderemos refugiar na ideia de que ainda existe gente capaz de identificar o processo histórico em que nos encontramos, de o denunciar e contra ele combater. Nos anos 30 também existia gente assim… Talvez até muito mais do que hoje.

Embora esta 2ª iteração histórica do 3.º Reich seja mais débil do que a primeira, a todos os níveis, actuando sob o signo de “Stefan Bandera”, apanha os povos e as massas trabalhadoras quase totalmente desarmadas nas suas organizações e instrumentos de combate. Ao contrário dos anos 30, em que, sendo incomensuravelmente mais forte a iteração nazi-fascista germânica, também existia, contudo, uma URSS – que viria a cometer a proeza de a derrotar. Existiam também os grandes partidos comunistas da França ou da Itália ou um movimento sindical em crescendo. Hoje, perante esta versão eslava do nazi-fascismo, a resistência progressista, socialista ou comunista é muito mais ténue. Em Portugal, basta uma meia dúzia de Sadokas para amedrontar as instituições que albergavam debates sérios sobre a Europa, o país e o conflito que opõe os EUA à Rússia, a acontecer na Ucrânia.

Por outro lado, tal como com a Alemanha nazi, esta Ucrânia nazi também não está sozinha. Polónia, Reino Unido, Itália, Holanda, em breve Espanha e Itália, talvez Portugal (a continuar a desagregação do PS, que se esqueceu de ter sido salvo pela Geringonça), encetam caminhos cada vez mais à direita, mais reaccionários, russófobos e intolerantes. O impensável já acontece, tendo todos passado a ter de inventar formas de lidar com a censura de conteúdos e canais de informação.

A própria Rússia de hoje também não é a URSS e não cumpre o mesmo papel. Sendo louvável a forma estóica como se tem aguentado, face à histeria sancionatória dos EUA/EU, falta ao regime russo a consistência ideológica e a coesão interna com que outrora contou. A ver vamos se o consegue agora também.

Em suma, se o agressor – incluindo o próprio bloco imperialista liderado pelos EUA – é hoje mais fraco, também o são as defesas que os povos contra ele têm, pelo menos aqui no Ocidente. No Sul Global, a conversa é outra e a histeria do regime oligárquico dos EUA face à China – India e Irão também – bem o demonstram. São sanções para todos os tipos, de forma a impedir que a China atinja a fronteira e a independência tecnológica em áreas fundamentais, como a indústria de chips ou de baterias, ao 5G e a outras dimensões tecnológicas de ponta.

O resultado? O mesmo das sanções do “inferno” à Rússia. Nações cada vez mais resilientes e independentes do ponto de vista estratégico. E com cada vez mais aliados, o que também conta. Já lá vai o tempo em que o bullying dava os resultados desejados, e o recente discurso do presidente do Quénia no parlamento pan-africano, referindo que terão de começar a tratar África com respeito e como igual, demonstra que o mundo está, de facto, em mudança acelerada, não se tornando, por isso mesmo, menos perigoso.

E o perigo é de facto grande. Do outro lado está a génese do terrorismo, do ódio, da xenofobia e do supremacismo cultural. Se a realização do G7 em Hiroshima, como vários o assinalaram, foi lida pelo Sul Global como um aviso muito sério, nomeadamente de que, os únicos que experimentaram um holocausto nuclear localizado, continuam prontos para repeti-lo e, como bem se viu, não sentem quaisquer remorsos pelo facto; será precisa muita racionalidade, paciência e tolerância para não se embarcar numa guerra nuclear global.

E não será fácil de o conseguir. Como se já não bastassem as listas de alvos a abater (Mirovonets), que, com o apoio da CIA listam desde músicos, artistas, jornalistas, políticos e militares, agora a fábrica de ilusões, em que transformaram a comunicação social dos interesses oligárquicos, saiu-se com uma teoria de arrepiar: existem “dissidentes russos” em luta armada contra o “regime” de Moscovo. Não porque alguém o tenha confirmado… Foi Kiev que o disse, e se o disse, deve ser para acreditar.

O que não dizem, é claro, não fossem as pessoas questionar-se, é que todos os supostos “combatentes” são ucranianos (caso da “invasão” de Belgorod) e usam armas americanas, ou todos os que são apanhados pela FSB antes ou depois de cometerem actos terroristas (contra a população civil e alvos que constam da Mirovonets, como acontecia com Dugin, cuja filha (Dária Dugina) foi assassinada em seu lugar), para além de atentarem contra alvos assim definidos pelo regime que ocupa a Ucrânia, têm sempre em sua posse informação que os liga aos serviços secretos do regime de Bandera.

Não se trata, portanto, de uma espécie de “exército partisani”, trata-se sim, de uma organização terrorista, organizada segundo as impressões digitais dos mesmos de sempre: CIA e MI6, desta feita encontrando terreno fértil no ódio xenófobo plantado no oeste da Ucrânia desde o final da Segunda Guerra Mundial.

Se Lindsey Graham confessa a verdadeira intenção por detrás desta maquinação ucraniana, a recriação de um 3.º Reich eslavo, revela que, tal como com o Estado Islâmico na Síria, os Talibãs no Afeganistão e as células da Al-Qaeda em África, a experiência dos EUA/NATO/EU na criação de entidades terroristas é cada vez mais profícua e experimentada.

E considerando que, de uma assentada e a dar resultado, os EUA estoiram com a Europa (o principal competidor ocidental), enfraquecem a Rússia e abrem caminho para o isolamento da China…. É razão para pelo menos acreditar que o dinheiro, de que fala Lindsay Graham, foi muito bem gasto.

Para já, a Alemanha e Reino Unido estão de facto em recessão, a EU não tem projecto que não seja o da propaganda fascizante do culto dos “valores europeus” e a França está em convulsão interna. E isto apenas um ano após o início do investimento! Não há dúvida de que os juros estão altos, já os estamos todos a pagar com língua de palmo!


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Bilderberg: A Câmara Corporativa global

(Hugo Dionísio, in Facebook, 25/05/2023)

As contradições entre o discurso proferido e a prática são tão presentes e monstruosas que, como uma qualquer mobília caseira, por elas passa o povo sem as ver, seguro que está de que, mesmo não as olhando, elas, inamovíveis, inexoráveis, incontornáveis, se encontram lá, intocadas, ocultadas pela indiferença de uns, pela cobardia de muitos e pela ignorância, de outros. É assim! É pelo peso excessivo da sua presença, que as ameaçadoras contradições, que tão árdua e crescentemente moldam as nossas vidas, são mantidas secretas.

Olhar para estas contradições é penoso, revoltante e tortuoso. O olhar deixa-nos revoltados, primeiro, para depois vir a amargura, a frustração, a depressão e, por fim, a indiferença causada pela sensação de impotência. Esta sensação de impotência também pode, no ignorante – sem culpa assim tornado -, ser transformada em ódio, regra geral, contra os menos culpados, contra os elos mais fracos de uma realidade que oprime de forma directa, mas também subliminar… Uma opressão que tantas vezes deixa escondida a sua origem real, a sua natureza e a sua causa. As consequências esmagam-nos com a sua realidade concreta, mas são as causas que oprimem.

É assim que sinto o que se passou em Lisboa, por estes dias, com a realização da 69ª sessão do Bilderberg. Antes totalmente secreto, não foi sem ameaça e vítimas que se tornou visível. Mas, uma vez mais, “visível”, não significa “reconhecível” ou “identificável” em relação ao que realmente é. Uma vez mais, o Bilderberg é uma das causas da contradição que nos esmaga.

O Bilderberg, assim chamado porque nasceu no Hotel Bilderberg nos Países Baixos, por iniciativa das pessoas mais ricas e influentes do mundo. À data, desse mundo constavam gente importante como a coroa britânica, neerlandesa, gente do clube de Roma e muitos outros, tratando-se de um clube restrito que constitui, na prática, a Câmara Corporativa do Império anglo-saxónico, conjugando os mais importantes interesses políticos dos partidos da governação (ministros presentes e futuros), os mais relevantes interesses económicos, comunicação social e defesa. A Indústria, hoje, ocupa um lugar pouco importante, tendo sido trocada pelas tecnológicas da internet.

Gente eleita pelo poder que o dinheiro compra dedica-se, durante alguns dias, a discutir o domínio do mundo e a sua repartição pelos interessados aí representados. Qualquer sinal de democracia é uma mera miragem ou utopia irrealizável. A democracia liberal, na sua forma milenar, garante a eleição dos mais fidedignos governantes que o dinheiro consegue comprar e a comunicação social promover, não mais sendo do que o instrumento histórico que garante um reinado sem convulsões, estabilizadas e desarmadas que ficam nas mentes e nas massas.

Para se ter uma ideia do “peso” real destas coisas da “democracia”, de Mário Soares para cá, apenas Passos Coelho não foi pré-aprovado pelo Bilderberg! Nada que não se tenha resolvido com uma presença após a eleição. Mas este facto marca tanto que, Passos não tem poiso nas mais importantes estruturas do poder ocidental. Para além dos Primeiros-ministros, já lá foram receber a bênção imperial e a cassette ideológica muitas outras figuras, de Medina a Rio, passando por Portas e muitos outros possíveis governadores. Apenas contam os dispostos a prosseguir o reinado neoliberal. Ninguém mais. Os identitários, que também os cá temos, disfarçados de “esquerda radical” fazendo o trabalho do Império, ficam na Open Society de George Soros. A Iniciativa Liberal está hoje representada também, através dos CEO’s  do costume.

Passar pelo Bilderberg significa a iniciação nas coisas dos Deuses, significa sair da maralha que constitui o comum dos mortais, o acesso aos segredos divinos. E não se pense que é porta aberta a qualquer um que o consiga. Implica passar por determinados locais, principalmente durante a fase de estudo, pois são esses locais que garantem a formação (ou formatação) de ouro, platina ou diamante. Não acreditem quando vos disserem que um determinado “jovem” levantou (raise) milhões em investimento para uma start-up. Esse “jovem” teve de passar por determinados locais, ou não lhe colocam o dinheiro nas mãos. Desculpem revelar-vos que as portas do Olimpo não são igualitárias!

Para se ter uma ideia da importância destas coisas, este ano discute-se a Ucrânia, claro, a desdolarização, como não poderia deixar de ser, a “liderança” dos EUA no Mundo (não lhes chega o Ocidente), inteligência artificial para nos invadir as mentes, a China, India e Rússia, como factores dissonantes…

Se há guerra mundial; se o regime neonazi do comediante louco continua a receber armas, mercenários africanos e árabes a quem prometem dinheiro e cidadania europeia; se o regime que ocupa a Ucrânia continua a receber biliões dos nossos impostos; se o tik-tok é proibido – e com ele o acesso da China às coisas das mentes, do conhecimento e do dinheiro; se os nossos dados pessoais continuam ao dispor da CIA e FBI; se a soberania dos Estados-membros da EU se continua a degradar; se a EU continua a comportar-se como uma região administrativa do estado de Washington DC; se a inteligência artificial é colocada ao serviço da Humanidade ou dos interesses económicos… Entre outras decisões importantes, é ali que encontram a resposta que lhe trilha o caminho subsequente, mais tarde constatável nos “actos” de Úrsula, nas prioridades de Costa, nos ataques de Montenegro, nas efabulações da IL, na propaganda de Portas ou nos achaques de Costa. Nada sai fora da caixa, nem um milímetro…

O site noticioso http://www.epoch.com divulgou a lista de presentes. Entre as gentes da NATO, Comissão Europeia, Casa Branca e muitos ministros, é só escolherem entre banqueiros, CEO’s de tecnológicas, barões da comunicação social e jornalistas (os futuros directores de redacção é aqui que recebem a confirmação de um estrelato programado e recebem a medalha da ordem da propaganda do império), dissidentes russos, chineses e turcos, grandes firmas de advogados, todos, todos, mas mesmos todos, apenas do Ocidente.  De Portugal a lista é a seguinte:

•            Pinto Balsemão (o pólo de contacto para o país)

•            Durão Barroso (não há maior servidor que este!!!)

•            José Luis Arnaut

•            Duarte Moreira da “Zero Partners” (consultoria financeira)

•            Nuno Sebastião da Feedzai (start-up’s tecnológicas, unicórnios e outras formas de exploração)

•            Miguel Stilwell de Andrade da EDP

•            Filipe Silva da Galp

O quê? Acham que se chega a “CEO” de uma coisas destas, a “partner” de uma coisa daquelas, a ministeriável de um país da NATO, sem a devida bênção de quem realmente detém o poder de criar e destruir, com sanções, embargos, guerras e bloqueios tudo o que vive, nasce, cresce e morre? Acordem, que o processo é muito “democrático”. É esta a “eleição” que realmente conta! Quem ganhar esta “eleição”, passa a poder ganhar as outras todas!

Como? Sim… É esta verdadeira “eleição original”, uma primária a sério, que conta. Ganhando esta, um servidor fica capacitado para receber os milionários apoios financeiros, humanos e logísticos que compram tempo de antena nas TV’s, horas de comentário em hora nobre, convites para conferências e seminários televisionados, avenças em programas de encher chouriços e boa imprensa… Todo um exército a louvar as suas qualidades enquanto “eleito”. Esta “eleição”, a par de outras, como a da ida a Davos, funciona como um sinal apenas reconhecível pelos da mesma espécie. Todos os membros da matilha recebem o sinal, reconhecem-no e sabem como se comportar face ao mesmo. A partir daí, nasce um novo génio da lâmpada que nos passa a ofuscar a vida. Em vez de concretizar desejos, impede-os de se concretizarem. E o facto é que, a cada eleição, o povão afaga a lâmpada e sai sempre a mesma magia: o fim dos seus desejos e a constatação da terrível realidade.

Eis o que significa a “democracia” liberal. Lamento desiludir-vos… Mas, se pensavam que aquelas directivas comunitárias que se discutem no Parlamento Europeu, aquelas iniciativas da Comissão Europeia de que Úrsula tanto se orgulha e tantas agendas para isto e para aquilo que são aplicadas, as “recomendações” do semestre europeu, vinham mesmo do povo, como numa democracia, ou dos representantes do povo, como numa democracia representativa…. Lamento desiludir-vos, uma vez mais. Perante vós apenas tendes servidores e todos os “valores” europeus, não passam de buracos negros vazios de vida que nos sugam para a morte e a desgraça. A governação não passa de um processo de aplicação de regras estandardizadas que têm de ser seguidas, sob pena de punição severa.

Para terem uma ideia da forma como esta gente olha para o mundo e para os seres humanos que têm o “azar” de não pertencerem a esta meia dúzia de brancos iluminados, aqui ficam dois exemplos:

•            Na Inglaterra os migrantes passaram a ser monitorizados 24/7 com pulseiras electrónicas como um qualquer cão que leva o chip. A gravidade assume proporções olímpicas quando o Primeiro-Ministro deste país, de ascendência indiana, permite a privatização das políticas de migração, o que levou cinco empresas do sector a afirmarem esta bela coisa: Multimilionário não é sinónimo de “livre”, muito pelo contrário;

•            Na Florida (EUA) os cidadãos chineses foram proibidos, por lei, de comprarem propriedade (imobiliária, participações sociais em empresas, por exemplo), apenas e só por serem chineses. Isto acontece num estado governado por um descendente de migrantes Italianos. Se és chinês, levas com um carimbo da foice e martelo e… A ver vamos onde chega. Se não chegará onde tantas vezes já se chegou na história humana.

Isto são apenas dois exemplos do nível de traição de que esta gente é capaz. Depois falam do “crédito social” experimental na China. Mas poderíamos ir mais longe, nomeadamente a tudo o que é feito que nos trama as vidas (privatizações, PPP’s, perdões e isenções fiscais, concessões de exploração, reformas laborais, reformas dos serviços públicos, etc…), tudo sob a bandeira da “democracia” e “liberdade”, para acabarmos, todos os dias, mais prisioneiros da indigência.

Todos os dias acordamos um pouco mais pobres, todos os dias, pelo menos de há 20 anos a esta parte!Podem agradece-lo também ao Bilderberg e aos vossos milionários preferidos! Tudo é negociado na Câmara Corporativa Global.


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