Os romanos estão cercados pelos gauleses

(Hugo Dionísio, in Facebook, 24/04/2023)

Será possível pegar num livro de “Asterix – o Gaulês” e, após uma ávida leitura, chegar ao final e… Ao contrário do que vos tinham dito, ficarem profundamente convencidos de que quem invade são os gauleses e é o Império romano quem está cercado?

Se consideram esta conclusão uma impossibilidade em si mesma, então, deixem-me dar-vos uma notícia: este é nosso prato do dia. Todos os dias, no “jornalismo” de taberna, na “literatura” de supermercado, na “investigação” de pacotilha e na “narrativa política” de jardim de infância, somos levados a acreditar que os romanos estão cercados pelos gauleses. E, o mais grave, é que muitos parecem acreditar.

Façamos de conta que, tal como vos omitem as factualidades históricas que antecedem os factos que justificam todas as falácias, Goscinny, ao invés de apresentar Roma como um Império e a aldeia de Asterix como resistente, faria o seguinte, daria uma de jornalixo “woke” e contava a história assim:

  • Omitia o carácter imperial de Roma, não falando da sua expansão territorial, a derrota gaulesa em Alésia.
  • Apresentava Vercingétorix como um bárbaro tirano, não eleito em eleições “credíveis” aos olhos romanos, como resistindo à civilização, à democracia e violador de direitos humanos, como os LGBTQP+.
  • Apresentava Roma como uma ampla democracia civilizadora, profundamente respeitosa dos “direitos humanos” dos escravos, a quem tratava com toda a dignidade.
  • Narrava os gauleses como desorganizados, gulosos por javalis, que comiam com as mãos, bêbados e belicosos.
  • Roma era caracterizada como sendo governada por um senado, por elevada gente oligarca, mas democrática, aristocrata, mas civilizada, com as suas estradas, o direito romano, a cidadania romana.
  • A Gália seria retractada como ultrapassada, resistindo à modernidade, governada por um tirano chefe de clã, sem processo eleitoral e sem direito romano, ou seja, sem o “estado de direito”, o “rule of law”, o “rules based order” (ordem baseada em regras).

No final disto tudo, como ficariam a ver os gauleses? Julgo que alguns nem precisariam de tanto. Bastava Uderzo ter pintado as vestes gaulesas de vermelho, dar uma foice a Asterix (já a tem) e um martelo a Obelix e, voilá…. Acudam que vêm aí os gauleses!

Com ou sem foices e martelos, Uderzo e Goscinny contentar-nos-iam com “inspiradíssimas” narrativas, segundo as quais os desonestos, ladrões de propriedade industrial e aldrabões dos gauleses, tinham uma poção cuja receita era “roubada” aos laboratórios romanos, obtendo assim, Asterix e os seus, uma desonesta vantagem na batalha.

Os desenhos só consagrariam para a eternidade, retumbantes imagens de Asterix e Obelix a massacrar romanos nas batalhas, a “roubar” comida das colheitas dos “pobres” latifundiários romanos, omitindo todas as factualidades romanas que pudessem apontar para um cerco, uma invasão, um massacre e sanções unilaterais para matar a aldeia gaulesa à fome.

Enquanto assolados por sanções e sem bens de subsistência, livro após livro, os Gauleses seriam desenhados como comendo o que não tinham, em devassos banquetes, com Javalis comidos à mão, regados a vinho a martelo, bebido directamente da ânfora, ao passo que dos romanos só apareceriam os discursos de Cícero, os banhos públicos e as grandes proezas tecnológicas de Roma… Grandes carroças, templos e praças… Escravos felizes e contentes.

Ou seja, basta imaginarem que Uderzo e Goscinny, tinham, através de um qualquer artifício da física quântica, sido trocados pelo Rogeiro e Milhazes. Colocariam centuriões a fazerem inflamados monólogos sobre como os Gauleses, ao abrirem a porta da sua aldeia, tinham ocupado dois metros quadrados de território romano, jamais dizendo que, o que apresentavam como romano, havia, algum tempo antes, sido gaulês. Tal como contam que a URSS, ao combater os nazis, aproveitou para ocupar e controlar o leste europeu, com isso provando que, não fosse a NATO, e já teríamos Putin às portas de Lisboa.  

Não contariam, claro, que, farta de ser devastada pelos impérios ocidentais, países como a Rússia, perdendo, uma vez mais, milhões de pessoas com uma invasão que não provocaram, aproveitariam a luta, que foram obrigados a fazer, para garantir que, por aquelas bandas, nunca mais! Tal como, aproveitariam para recuperar territórios perdidos, perante a agressão, que tinha sofrido 30 anos antes. O caso de parte da Ucrânia e 3 bálticos, que eram russos antes da invasão aliada após a revolução russa.

Claro, Uderzo e Goscinny, travestidos de Rogeiro e Milhazes, também omitiriam o papel que os bálticos tiveram na invasão da URSS, nomeadamente a Finlândia e a Suécia, mas não só. Contariam jamais que, desde tempos imemoriais, a Rússia é uma terra cobiçada pelos impérios ocidentais, tendo sido invadida, pelo menos, por:

  • pilhagens sazonais dos Vikings;
  • Império Lituano no século XIV,
  • Império Polaco no século XVII, que o voltou a fazer já no século XX, em 1918, pelo
  • império Sueco no Século XVIII, pela
  • França no século XIX
  • invasão nazi e a invasão das
  • “potências aliadas” da 1ª guerra mundial (14 nações imperiais), perdeu a Finlândia, Países Bálticos (Estónia, Letónia e Lituânia), Polónia, Bielorrússia e Ucrânia (tratado Brest-Litovsk).

Esta listagem, hoje praticamente proibida nos corredores imperiais, é substituída por milhares de páginas da invasão da Ucrânia. Nem um texto sobre a contagem (nula) de quantas vezes, o Império Russo, a URSS ou a Rússia, se estenderam para a Europa Ocidental, saindo das suas fronteiras mais próximas, como o leste Europeu (Ucrânia e Bielorrússia, Checoslováquia ou Polónia) ou países bálticos (Finlândia, Estónia, Letónia e Lituânia), relativamente às quais actuaram sempre como resposta e perante situações de ameaça às suas fronteiras…

Claro que, considerando o Asterix ao contrário, Rogeiro e Milhazes também não contariam isto. À falta de invasões ocidentais, premeiam-nos com infindáveis e repetidas invasões da Ucrânia, reiteradas tomadas da Crimeia e “reflectidas” especulações sobre futuras invasões nunca antes praticadas. Tudo para que possam ler a história ao contrário, focando apenas a lente na imagem, no facto, que lhes interessa, fazendo a “ideia” (reaccionária, retrógrada e xenófoba) aderir à realidade.

Apontando a esta forma de idealismo pró-imperialista, Rogeiro e Milhazes, noutra tirada de “os irredutíveis romandos ameaçados pelos gauleses”, gastam horas, pagas com a infindável publicidade que invade todos os conteúdos do nosso tempo, fazem-nos crer que a China está a criar tensões no estreito de Taiwan, omitindo que esta ilha sempre foi chinesa. Tal como, vestindo-se de Uderzo e Goscinny, diriam que, deslocando-se para a batalha, os Gauleses tinham sujado as ruas à passagem e violentado os romanos civilizados que lá iam, apenas, ensinar-lhes as “democráticas” virtudes do Império, apostar na democracia, defender os direitos humanos e proteger as minorias, de preferência, sempre com o cuidado de dizer LGBTQP+.

Nesta dinâmica e aproveitando o embalo, Rogeiro e Milhazes fariam a ponte para o presente, aproveitando para dizer que a China se está a expandir, que nos vai invadir, que é um império… Mas, é claro, teriam de omitir que, em toda a história chinesa, apenas descobrimos uma invasão… O Vietname em 1979 e em resposta às ações do Kmher Vermelho. Fora disso, nada.

E quando estivéssemos já em lágrimas com tanto sofrimento do cidadão aristocrata romano, Rogeiro e Milhazes, qual Geriatrix (o velho que se esquecia do que lhe convinha), nunca nos contariam das vezes em que a China foi, ao invés, invadida por potências ocidentais, como no caso das guerras do ópio, pela Inglaterra, ou da guerra Franco-chinesa, ambas no século XIX e com a degradação da dinastia Qing. Assumiriam estar proibidos de fazer qualquer referência ao facto de que, em finais do século XIX e inícios do século XX, a China ser já um país extirpado pelos interesses ocidentais, com concessões humilhantes aos EUA, França, Inglaterra ou Japão.

E tal como o bardo “Assurancetourix” insiste em fazer crer que sabe cantar, Regeiro e Milhazes, convidando Ana Gomes ou Paulo Rangel, apresentariam um mapa da Gália, em que a irredutível aldeia de Asterix, teria um tamanho desproporcionado e ameaçador, colocando-a ao lado de um mapa mundi actual, sem as 1000 bases americanas e apenas com as 10 bases Russas (9) e Chinesas (1). E, fazendo crer que pimba é música clássica, apenas essas míseras e desesperadas 10 bases seriam uma ameaça à paz, significado de Imperialismo e expansão, à escala mundial.

Neste quadro, Asterix seria apresentado como estando a tomar o Egipto, quando lá fosse buscar Cesarion, o filho de Julio César e Cleópatra segundo os autores, para o proteger de Brutus. Entretanto, chamariam o TPI para o prender por rapto e sequestro, quando estaria a afastar uma criança do perigo.

Já quanto a Brutus que queria matar a criança que lhe bloqueava o acesso ao trono, seríamos obrigados a acreditar, através das imaginações de Milhazes e da “inteligência” de Rogeiro, que este era um democrata respeitador do povo. Tal como nos fazem acreditar que, um país que tem 1000 bases a cercar os outros dois, está a ser invadido por estes, os quais, juntos, têm uma dezena de bases fora do seu território e nenhuma fora dos continentes em que se situa o seu território nacional.

Aliás, é isto mesmo que acontece quando fazemos uma busca pelo Google. Somos levados a crer que, um país com uma base no exterior (a China), está a expandir-se rumo à hegemonia global. Ao passo que um que tem mil – os EUA -, está cercado e está a ser atacado.

Recorrendo a uma manobra de ilusionismo mental, Rogeiro e Milhazes, na versão de autores de Asterix, apresentariam Obelix como uma prova viva de que os gauleses exploravam o trabalho forçado, obrigando-o a carregar menires e davam drogas a crianças, quando estas tomassem a poção de Panoramix (o curandeiro), para ficarem mais fortes para se protegerem dos romanos. Focando a atenção do espectador num facto desinserido da sua dinâmica histórica, jurariam, Milhazes e Rogeiro, que os gauleses eram um povo a abater, que, face à sua iniquidade, justificariam todo o tipo de intervenções pelos romanos.

Não se apercebendo desta armadilha mental – que Marx desmontou com o seu materialismo (a matéria é que precede a ideia) -, os espectadores seriam levados para uma dimensão sem adesão à realidade. Quanto mais longe da terra, menos se aperceberiam da contradição.

Tecendo loas a Roma, os “Asterixes invertidos” diriam que o país mais invasor e desrespeitador que existe no mundo é a Rússia, porque invadiu a Ucrânia, omitindo e perseguindo todos os que apontassem Roma por responsável no acirrar este país, para uma vez mais na História humana, o atirar contra o vizinho russo.

Desta forma sim, é possível a um entusiasta e missionário – ou inadvertido – pró-imperialista, ler o Asterix e ficar a pensar que os romanos estão a ser invadidos e cercados pelos gauleses. É tudo uma questão de perspectiva, narrativa, escolha dos factos que validam as ideias pré-concebidas e domínio das emissoras de comunicação.

Eis porque razão não há nazis na Ucrânia, os EUA são um país pacifista e nunca invadiram ninguém, o Staline começou a Segunda Guerra, a Rússia invadiu o Ocidente, os nazis eram de esquerda, quem faz a guerra é Putin, o Churchill era mais democrata do que Washington, a monarquia inglesa respeita os direitos humanos, os migrantes estão a invadir a Europa e os mexicanos os EUA e, o liberalismo é democrático.

Nunca se questionam porque é que todos os “tiranos” designados como tal pelos EUA, são aqueles que protegem, normalmente, os seus povos, dos abusos da oligarquia e, porventura, expulsando as oligarquias ocidentais… Tão bem que Michael Hudson explica isto no seu último livro. A palavra “tirano” é criada pelas oligarquias ocidentais (gregas e romanas), para designar um governante que decidia perdoar as dívidas dos ricos e dos pobres, e não apenas dos ricos, como se faz por cá, ainda hoje. Lapidar!

Acudam-me que estou a ser invadido pelos gauleses!


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Fez-se luz sobre Zaporozhie

(Hugo Dionísio, in Facebook, 21/04/2023)

Fez-se luz. Meses a fio de tentativas desesperadas, com vista à tomada da Energodar NPP, em Zaporozhie, subitamente iluminadas. A última destas suicidas incursões envolveu dezenas de barcos através do Dniepre e centenas de soldados – da Ucrânia claro -, enviando-se para a morte os filhos dos outros! Meses a fio de bombardeamentos, às proximidades da maior central nuclear da Europa, contando com a leal – e previdente – direção de coordenação da comunicação social mainstream

Sem o desejar, tentar ou enunciar, foi a própria CNN quem desvendou o porquê das duas atividades. Ficámos a saber, no dia 19 de Abril, que os EUA avisaram a Rússia para não tocar na tecnologia nuclear americana, guardada na NPP, (ver aqui ). Senão fosse trágica, a narrativa encomendada à CNN, seria de rir a bandeiras despregadas.

Como não poderia deixar de ser, tanto a notícia, como a carta, só falam de informação técnica, software, etc. Contudo, devemos sempre questionar-nos sobre o que está para além do muito que não é dito, quer na carta enviada à ROSATOM, quer no que a CNN apurou.

Partindo do critério de que, o que é dito visa esconder o que ficou por dizer, ou, a narrativa adotada é o contrário da realidade concreta – o que a recente fuga do Pentágono confirma de todo -, julgo que podemos confirmar ou, pelo menos, tomar como muito prováveis, as seguintes informações:

Na Energodar estão armazenados mais de 300 mil milhões de dólares, em urânio enriquecido a níveis acima dos necessários para produzir energia elétrica, o que vai para além do caracter, meramente “civil”, da “tecnologia” em poder dos russos;

As declarações do comediante Z. sobre a necessidade de o seu regime se armar com armas nucleares, poderiam ter mais na manga que um mero desejo, sendo plausível que, hoje, se especule se os EUA não estariam a promover o desenvolvimento da tecnologia nuclear ucraniana, no sentido de estes poderem chegar, “por si próprios”, à aplicação militar da tecnologia nuclear.

Esta técnica não é nova, tendo sido já usada pelos próprios EUA em Israel, por exemplo. Na notícia aponta-se que esta cooperação foi tornada “pública” pelo Departamento de Energia dos EUA em 2021. A justificação reside em “ajudar a implementar novos procedimentos de manutenção e operações no reactor que visam fortalecer a segurança energética”.

Parece-me que, face ao que os russos terão encontrado, esta carta visa dois objectivos muito concretos:

1. O de tornar conhecida uma narrativa que “desmonte” e substitua qualquer acusação futura, que os russos possam fazer, sobre o facto de os EUA estarem a ajudar um regime hediondo, como o de Z., a armar-se com armas nucleares.

2. Orientar a atividade noticiosa, da imprensa ajoelhada, para a narrativa do caracter civil da cooperação, criando um muro entre a narrativa “oficial” e qualquer outra que surja, logo a classificando como “teoria da conspiração” ou “propaganda russa”.

Seja o que for que lá esteja e a que os russos tenham jogado a mão, o seu valor é superior às largas centenas de homens mortos na tentativa de tomar a central. É, pelo menos, esse o entendimento de quem os mandou para lá! O elevado valor do “material” também justificou o bombardeamento das proximidades, para criar uma ideia de insegurança permanente, face aos combates, e, dessa forma, obrigar a Rússia a aceitar a entrega da central, pelo menos, a uma força da ONU (ou da AIEA), o que equivaleria a dizer que seria uma força controlada pelos EUA. Dessa forma, conseguiriam remover o que lá colocaram.

Estes bombardeamentos foram tão desesperados que justificaram a construção de uma narrativa absolutamente inverosímil, segundo a qual os russos bombardeiam o que é seu. O que envolveu, não apenas, a imprensa ajoelhada, como o próprio Director da AIEA, o qual, estando na central e vendo de onde vinham os bombardeamentos, dizia “não consigo perceber quem os faz”.

Estar sob escuta 24/7/365 e sob bullying constante causa grandes problemas ao nível da percepção da realidade: fala-se do que não existe e vê-se o que não está lá. Basta olhar para os desgraçados dos diretores de informação, comentadores do regime e demais arautos psicóticos, para perceber que o fausto em que vivem, se paga bem pago. Não sinto mais por eles que não pena. Pena por se descer tão baixo, por pensar tão pouco, por estar sempre atrás, por estar sempre para trás.

Não podendo pensar à frente – não vão pensar algo que lhes esteja interdito – também não poderão, alguma vez, pensar no tipo de narrativa que se preparou para a Energodar. Esta narrativa está ao nível de um Nord Stream – já devidamente desmontada -, de umas armas de destruição em massa ou de um “russiagate”. Por comparação e face ao trabalho a que se deram, podemos antever o real valor do que lá está.

Mas a carta é elucidativa noutros aspectos também. Uma das piadas mais interessantes que conta é o facto de sublinhar que “é ilegal, segundo a lei dos EUA, a pessoas não autorizadas, como a ROSATOM e as suas subsidiárias, conscientemente aceder, possuir, controlar, exportar, armazenar, reter, rever, reexportar, embarcar, transferir, copiar, manipular a tecnologia ou os dados, ou autorizar outros a fazê-lo, sem que essas entidades russas sejam autorizadas” pelos EUA. É razão para perguntar o que farão. Se vão prender o diretor da ROSATOM e seus funcionários. Se vão à Rússia buscá-los.

Claro que não podemos ser ingénuos, sobre o real significado desta jurisdição extra fronteiriça que, os EUA, atribuem a todas as suas leis. Na minha opinião, o que a carta – e o correio televisivo da CIA que é a CNN – diz aos russos é o seguinte: “se vierem a público dizer qualquer coisa que contrarie o que dizemos, ficamos a saber que praticaram um dos actos que consideramos ilegais”. Nos termos em que o colocam na lei, até olhar para a coisa é crime. Mas não se ficam por aqui. Agora vem o principal: “se o fizerem, qualquer russo que apanhemos pelo mundo, que trabalhe em qualquer coisa relacionada com o “nuclear”, será sequestrado, raptado, enviado para a estância humanitária de Guantánamo Bay e tratado como espião, por capturar e revelar segredos de estado”. Eis porque se deram ao trabalho de escrever esta carta.

Então, mas porquê a notícia? Porque, como a ROSATOM pegou na carta e a meteu num cartucho de 155 mm e enviou-a aos congéneres do regime de Bandera – estes também vieram falar disto -, teve de se garantir que os russos receberam mesmo a mensagem. Ninguém pensará que eles não ouvem a CNN, certo? Pode nem ser isto e se calhar não é, mas não pensem é que, nos dias que correm, a CNN ou outra gaiola (de papagaios) da mesma estirpe, traria um assunto destes à baila sem objetivos muito concretos. O de preparar o público para a narrativa de substituição da verdade, é um, o outro, pode ser uma tomada de posição pública, numa era em que os canais diplomáticos estão entupidos de ignorância, imbecilidade, estupidez e muita poia que sai das cabeças pensadoras que pensam, por conta do que Biden não pode, nem é capaz de pensar.

Agora, a conclusão que retiro, desta muito confirmativa “notícia”, é a de que esta é mais um resultado das malfeitorias da elite, que controla o regime paranoico que domina os EUA. Por muito que me custe, considerando os dados históricos, o “modus operandi” e sendo tal a predisposição desta gente para o crime, a mentira e a ocultação da informação ao povo, sou obrigado a lançar a suspeita de que estava em marcha um projeto que resultaria, a médio prazo, no armamento do regime Bandera com armas nucleares. Não digo, porém, que fosse objectivo usar armas nucleares… Contudo, um gangue de loucos nazis, com armas nucleares… Já estão a ver o que tal implicaria em termos de submissão da Rússia.

Esta terá sido, para mim, a par de outras, uma das principais causas de entrada dos russos na “Operação Militar Especial”. Tenho a certeza de que eles souberam desta situação e ficaram em pânico, o que obrigou o presidente Putin a tomar, finalmente, a decisão de agir.

Ter a certeza de que, sendo verdade, os russos acederam facilmente à informação, não é nada de fantástico. Só para dar um exemplo do nível de informação que os russos teriam do que se passava em Zaporozhie, temos o canal Telegram de um nazi dos AZOV de Zaporozhie, que lutam pela recuperação da Energodar (chama-se “atual  Energodar”), e dedicam-se a identificar, no Telegram, os trabalhadores da central e da cidade, os quais, sendo ucranianos de nascimento, segundo eles, se “venderam” aos “orcs”. Colocam as fotos, os nomes, currículo, morada, data de nascimento, telefone, tudo, e ameaçam de morte como fazem os nazis que pretendem imitar e que perseguiam as pessoas de que não gostavam. Isto só comprova que, ao contrário do que dizem os sempre desinformadores serviços “secretos” britânicos, não faltavam lá trabalhadores ”pró-russos”, o que equivale a dizer “ucranianos, falantes de russo”.

Isto explica o porquê de, logo nas primeiras horas da operação, terem corrido a tomar a central – foram logo lá -, numa operação que teve tudo de previamente planeada, pensada e executada com forças especiais, de forma que não falhasse, o que só sucedeu com infraestruturas militares muito prioritárias, como o caso dos laboratórios bio militares secretos. Simplesmente, eu não compro a treta de que “ah, foi para garantir a segurança da central”, à qual os Banderas responderam com “ah, nós é que garantimos a segurança”, ao que os caniches ingleses bradaram “ah, os russos estão a violentar os trabalhadores”, concluindo os seus donos com “os russos estão a bombardear a central que tomaram e querem segurar”.

Todos queriam tanto aquela central. Não por ser “aquela”, mas por estar em mão dos russos e, no caso destes, pelo que esta teria lá dentro. Ainda o havemos saber com certeza absoluta. Ultimamente não temos esperado muito tempo pelas confirmações absolutas. Mas, esta confirmação nunca virá do reduto territorial da NATO. Imaginam o que seria saber-se que, para além das outras razões todas que assistem aos russos, ainda acrescentássemos esta?

Agora, o que isto tem de extraordinário? A meu ver, muito pouco. Para quem instalou dezenas de laboratórios bio militares secretos, pagos com dinheiro do orçamento americano e de empresas privadas como a Pfizer, os quais, segundo está documentado, provado e reportado às Nações Unidas – que Guterres leu de olhos fechados para depois vir dizer que não sabia -, desenvolviam perigosíssimas estirpes de vírus, bactérias, fungos e suas formas de transmissão, via humana ou animal… Esta é apenas mais uma aplicação do que constitui o plano de ataque dos falcões e suas crias.

A construção de um projéctil social para ser atirado contra o inimigo russo demorou muitos anos e representa a construção de um edifício que foi crescendo ao longo do tempo. Quando começámos a ouvir falar que havia falcões que consideravam possível ganhar uma guerra nuclear com a Rússia, não deveríamos ter considerado improvável tal acontecimento. Deveríamos ter questionado: como vão fazê-lo? Talvez produzindo uma guerra nuclear contida. Como agora tentam fazer em Taiwan, possivelmente.

Gente desta não tem limites. Portanto, aplicar-lhes os mesmos limites morais e éticos de alguém que trabalha, vive a sua vida e quer simplesmente viver em paz, é um erro crasso. O projecto – hoje mais difícil de concretizar -, passava pelo escudo balístico na Europa que impediria os mísseis de passarem para o Ocidente, necessitando de um país mártir, que fosse traído ao ponto de ser usado como terreno de uma luta nuclear geograficamente contida, mas que destruísse a Rússia. Que tal um país que já estava contaminado? Que tal um país em que foi – pelo menos no Ocidente – criada uma política de ódio tal, que tivesse alguém louco – e corrupto – o suficiente, para o fazer? Seria apenas necessário fazer avançar a tecnologia nuclear de que já dispunham, mas a um ritmo muito mais rápido e no sentido militar.

Mais tarde, quando acontecesse, viriam dizer que os ucranianos o tinham conseguido sozinhos e nem toda a verdade do mundo, destruiria o muro propagandístico que a imprensa ajoelhada criaria para a conter. A verdade seria, como hoje, apenas de uns quantos teimosos e “malucos das teorias da conspiração”.

Não o tendo conseguido e estando em caminho de se dar por perdida a aventura neonazi na Ucrânia – há quem diga que os documentos vazados visam começar a preparar o público para o inevitável – a solução a adoptar está a ser iniciada pela Finlândia, que consiste na construção de mais um muro altíssimo, que separará o país da Rússia.

Considerando o que está em preparação em Taiwan e que visa o mesmo tipo de isolamento… O que ocorrerá na cabeça de vento desta gente, passará talvez por isolar a China e a Rússia do mundo que eles acham que lhes pertence. Não se esqueçam eles é que, a história nunca corre bem para os que erguem os muros…. Normalmente ganha quem os deita abaixo. Vai tentando, tentando até conseguir.

Nem as muralhas mais altas, os castelos mais fortificados e os muros mais sólidos impediram a história de avançar. O Ocidente está prestes a descobrir que o mundo não se confina ao Império anglo-saxónico.

E é isso que espero. Não existe nenhum muro capaz de parar a luz da verdade! E a luz da Energodar é apenas um começo.


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Sr. Primeiro-ministro, será isto uma conspiração?

(Hugo Dionísio, in Facebook, 18/04/2023)

Tivesse eu a capacidade de sujeitar o Primeiro-ministro António Costa a perguntas e, entre muitas outras questões, colocar-lhe-ia, desde logo, as seguintes:

Face às últimas revelações relativas aos documentos do Pentágono, o que tem ele a dizer sobre o facto de um dos nossos principais aliados vigiar, escutar e monitorizar os órgãos de soberania de países seus aliados? Será isto compatível com uma relação transparente, alicerçada na confiança mútua, na cooperação e na partilha de valores? Será aceitável, em democracia, um estado arrogar-se do direito de vigiar os outros, para que possa saber o que pensam na sua intimidade? Como é possível confiar num aliado destes?

Face às últimas revelações de Elon Musk, numa entrevista à comunicação social, em que revela – e provou documentalmente através dos Twitter files – que os serviços de segurança e vigilância dos EUA praticam uma vigilância intrusiva que abrange todos os utilizadores, americanos e não americanos, utilizando as redes sociais americanas para o efeito; que medidas está o governo a tomar para proteger o direito à privacidade e o direito a opormo-nos à sujeição e à vigilância por parte de regimes políticos estrangeiros?

Não considera o senhor Primeiro-ministro que a vigilância dos nossos cidadãos, por parte de uma potência estrangeira, mesmo que aliada, para além da violação constitucional em matéria de direitos de personalidade, representa também um ataque direto à nossa soberania nacional? Como avalia, no quadro de um sistema democrático, a vigilância absoluta – de metadados e dados pessoais -, de todos os utilizadores das redes sociais?

Tenho a certeza de que o máximo que obteria destas perguntas seria uma rotunda e genérica remissão para: “a União Europeia está a trabalhar no sentido de acautelar possíveis violações desse tipo”… A União Europeia…. Pois. Aquela organização cujos emissários vão ao Sul Global repetir – ipsis verbis – os discursos da Casa Branca.

A divulgação dos documentos do Pentágono, por Jack Teixeira, demonstra em si todo o jogo que está em andamento. A narrativa substitui a realidade. A realidade é uma, a leitura que os EUA fazem da realidade é outra, a informação que proporcionam aos seus “aliados” é ainda outra e, a informação que providenciam à comunicação social que dominam completamente, é o inverso da realidade que constatam. Ouçam uma qualquer TV a referir-se a assuntos de interesse dos EUA – o que é difícil de separar dos demais -, interpretem tudo ao contrário e… ficarão muito mais próximos da realidade.

E a metodologia funciona tão bem que, aplicada aos documentos vazados, atinge a perfeição: a imprensa do regime e alinhada com o regime corrupto de Zelensky consegue fazer um circo enorme em torno dos documentos; mostra a detenção do delator; discute porque o fez ou não fez; refletem horas sobre como o fez… Agora, pense-se… No meio disto tudo, o que é que eles não dizem? Sobre o que é que não falam? O que é que não escrutinam? O conteúdo!

Querem um exemplo paradigmático do que é, na era do capitalismo de vigilância, o papel da comunicação social? Aqui está um exemplo concreto: desviar as atenções, encaminhando-as para onde não causam problemas, ou para onde pretende a propaganda do regime. Neste caso, não falaram das mentiras sobre a guerra, nada referem sobre a vigilância a que os EUA sujeitam os seus principais aliados, nem uma palavra sobre a contratação do New York Times e do Wall Street Journal, para que dominassem a narrativa e “ajudassem” a apanhar o delator, nem uma palavra sobre a informação que os EUA escondem dos seus aliados… Enfim… Tudo o que importaria discutir, no quadro de um regime que se diz democrático… Nada. Fossem estas revelações sobre a Rússia ou a China, e estaríamos já na 3ª guerra mundial de tipo “quente”.

Guerra que já começou! Se estas revelações nos comprovam algo – não nos trazem nada que não tivéssemos tantas vezes deduzido a partir da própria prática dos factos -, é que o nosso país e a Europa, em geral, se encontram amordaçados por um aliado que domina a informação, o discurso e o pensamento. E quando alguém não aceita, praticam atos de assédio e violência moral. No caso do Chipre, Hungria e outros, chega-se mesmo à coerção física, com a sujeição a sanções – sanções aos próprios aliados -, caso resistam a entregar armas à Ucrânia. Contudo, para fora, está tudo muito unido. Tão unido como em qualquer ditadura esquizofrénica e paranoica: à custa da repressão, da chantagem e do medo!

Tal é o horror à liberdade dos povos, à autodeterminação, à independência e autonomia, que basta ouvir um qualquer comentador na CNN ou Fox, para ouvirmos coisas como “ajudámos Lula da Silva e agora une-se à China”; “apoiámos o México e agora unem-se à China”; “suportamos a Europa, e Macron une-se à China”. Ou seja, não valendo aqui a pena, sequer, discutir o que entendem por “ajudar”, “apoiar” ou “suportar”, penso que todos ficamos a entender como esta gente olha para o mundo, considerando-o como algo que é seu, por um qualquer direito natural, que consigo identificar, mas cuja legitimidade me escapa.

E, com as informações que vamos obtendo, aqui e ali, sobre o estado paranoico, bipolar e esquizofrénico da elite neoliberal e neoconservadora e seus capachos, conclui-se que existe um tema que faz esta gente entrar em colapso nervoso. A China. Julgo mesmo que, a China, por variadas razões, os coloca em maior colapso e histeria, do que os colocava a URSS. Ao contrário da superpotência soviética, a China joga no mesmo campo e não num campo paralelo. E joga mais alto.

Por exemplo, em África, o papel da China, na elevação das condições de vida e desenvolvimento, tem sido tal, que com eles, a autoestima e amor-próprio voltaram a nascer. Passou a ser uma comédia diária assistir aos enviados “especiais” do Ocidente serem enxovalhados, envergonhados e desmentidos, presencialmente, olhos nos olhos, por quem eles achavam ser de uma categoria inferior. Por quem eles achavam poder comprar com umas meras missangas. A tal ponto que Kamala Harris, num discurso vazio de propostas concretas, promete 100 milhões de dólares de investimento para três países. Depois dos biliões investidos em infraestruturas vitais que representam a grande oportunidade de África se desenvolver, a resposta só pôde ser uma: agora trouxeram as missangas, quando é que trazem o ouro?

E tal é a psicose, a identificação de inimigos no revirar das pedras – típica de certos tipos de regime – que esta matéria me leva a outra questão, a qual gostaria de ver respondida pelo senhor Primeiro-ministro António Costa:

Está de acordo com o desacoplamento da nossa economia em relação à chinesa? O que está a ser preparado para substituir a mais do que previsível separação entre a economia chinesa e europeia, sob as ordens da Casa Branca? Vai perguntar ao povo português, se, tal como sucedeu com a economia russa, está preparado para prescindir de um dos maiores investidores e parceiros comerciais? Vai perguntar ao povo português se vai querer enviar milhões de euros em armas para “ajudar” Taiwan? O povo português vai ser consultado sobre a guerra em que entraremos, necessariamente e por ordem da Casa Branca, com a China, nomeadamente em Taiwan?

Ó senhor Primeiro-ministro, não me diga que não sabe que, nos dias de hoje, nos EUA, só se fala em guerra com a China, e no “dever” que os europeus têm de ajudar o sempre disponível e solidário aliado americano. Não me diga que ainda não constatou que a Europa não tem vontade própria e que faz tudo, em dobro, desde que venha da Casa Branca!

Não me diga que não sabe que Taiwan é o “all-in” no jogo de Washington. Se a Ucrânia era uma manobra tática para desviar recursos, Taiwan é o tudo ou nada. E não me diga que não sabe que, um conflito deste tipo, envolvendo – como sempre – o “nosso” principal aliado atlântico, não deixará de produzir roturas profundas, nomeadamente como os nossos povos irmãos, como o brasileiro, angolano ou moçambicano, que não se reveem e se afastarão, como o diabo foge da cruz, deste conflito.

Quando vierem as mentiras sobre invasões, genocídios, ameaças e ingerências que os outros não praticaram; quando vierem as narrativas, ainda mais aterrorizantes e desumanizadoras; quando todos estiverem instilados pelo ódio e pelo medo, pela paranoia e histeria; quando não for permitido pensar diferente e tudo for censurado, do Tik-Tok à CGTN… Como sucedeu agora com a Rússia…

Senhor Primeiro-ministro? Ainda vai dizer que vivemos em democracia?

Como eu gostaria que dissesse e me fizesse acreditar, pelo exemplo da retidão e da luta justa, que estes meus receios são apenas devaneios dos teóricos da conspiração.

Será isto a uma conspiração, Senhor Primeiro-ministro?


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