Versão portuguesa de A Nova Arte da Guerra — tocar corneta e não desafinar

(Carlos Matos Gomes, in Medium.com, 17/10/2023)

Tenho ouvido com surpresa alguns militares de altas patentes comentarem os atuais conflitos, o da Ucrânia e agora o de Israel. Os tudólogos e as tudólogas apresentam horóscopos. São artistas convidados por razões conhecidas das direções editorais dos meios de comunicação para convencer os clientes mais vulneráveis intelectualmente e não merecem um olhar. Pelo seu lado, os militares são (eram?) tomados como analistas racionais e metódicos. É nesta perceção que assenta a sua credibilidade e que me custa vê-los desbaratar.

A maioria dos militares convidados pronunciam-se sobre a manobra das forças, os armamentos e tomam notória posição a favor dos regimes da Ucrânia e de Israel, replicando as posições da NATO e dos Estados Unidos. O chocante dessas apresentações não é a tomada de partido, é ela não ser assumida e comunicada, como FB faz, indicando que a mensagem tem origem num meio sob controlo da Rússia. Mas, mais surpreendente, são os maus tratos que eles dão aos princípios da guerra, à relação entre a manobra tática e a organização das forças que as realizam e ainda da história das batalhas.

A opção de um analista pode ser muito parcial em termos ideológicos, mas a vontade de transmitir uma mensagem de bons de um lado e maus do outro não pode anular princípios básicos da arte da guerra, como acontece. Vi e ouvi esses militares considerarem um ato ilícito que uma população cercada num castelo (os palestinianos em Gaza) organize uma força que sai da fortaleza a coberto da noite e ataque as sentinelas do inimigo. É uma manobra comum ao longo da história. Estas operações estão tipificadas em todos os manuais de tática e organização militar como operações especiais, ou operações irregulares.

É estranho a ignorância do que é uma sortida. As fortalezas dispunham quase sempre de uma saída secreta, de um túnel ou de uma vala disfarçada para estas ações. Considerar uma ação tão antiga como esta como um ato bárbaro e fora das leis da guerra é, ou uma grosseira manobra de manipulação para enganar o público em geral, ou uma prova de ignorância de história tanto da antiga como da recente. As forças portuguesas realizaram ações deste tipo, de grande violência, contra forças que as cercavam ou atacavam, ou mantinham reféns portugueses. Fizeram-no em várias ocasiões, as operações Mar Verde, de ataque às prisões do PAIGC em Conacri é uma delas e não foi sem sangue e com bons modos. A operação Ametista Real, de ataque a uma base do PAIGC no Casamance, no Senegal, e que cercava a guarnição de Guidaje, foi outro exemplo, violento e sangrento. O assalto à aldeia de Wiriamu, em Moçambique, é ainda outro. Seria de boa norma que os oficiais comentadores conhecessem estes exemplos de operações irregulares levadas a cabo pelos militares portugueses, antes de seguirem a narrativa americana e israelita, o que evitaria apresentarem uma sortida de um grupo de guerreiros de uma população encerrada no último baluarte, que mata sentinelas inimiga, como um ato de terrorismo e não como uma ação militar legítima, e, mais, que as ações de bombardeamento com catapultas de bolas incandescentes, ou de animais infetados com vírus, como o faz a artilharia, a aviação e a marinha israelita, são atos legítimos de defesa dos atacantes!

Regressando às análises de especialistas militares que têm surgido nos grandes meios de comunicação, eles trazem a público uma nova teoria militar que substitui A Arte da Guerra, de Sun Tzu , e Da Guerra, de Clausewitz, mas também o desenvolvimento de uma nova da Lógica, que substitui o uso do raciocínio, da proporcionalidade entre argumentos, da correta e equilibrada relação entre todos os termos de uma situação.

Há, na argumentação dos profetas do novo Ocidente alargado para justificar a defesa dos regimes de Zelenski e de Netanyahu, da Ucrânia e de Israel, defensores da superioridade étnica e religiosa, uma nova Lógica que substitui a que foi estudada em várias civilizações da Antiguidade, desde a Índia, onde a recursão silogística, Nyaya remonta há 1900 anos, à China, com o Moísmo e, por fim e mais próximo de nós, na Grécia Antiga em que a lógica foi estabelecida como disciplina por Aristóteles. Não é coisa pouca a obra destes comentadores sem obra, mas com currículo e carreira!

A invocação do direito de defesa quer na Ucrânia, quer em Israel escapa à Lógica como ela tem sido entendida, não porque não tenham esse direito, mas porque o tomaram como um direito de que se apropriaram, negando o direito de defesa dos outros. É uma corrupção do conceito vulgar entre “porta vozes” contratados à peça, como meio de manipular a realidade para a dobrar aos interesses dos manipuladores.

Quanto aos militares, há (havia?) um capital de respeito por eles que está a ser desbaratado ao vê-los integrar o coro que alguns fazem na orquestra que tenta ensurdecer as opiniões públicas ocidentais. Que se salvasse, ao menos, a teoria, o conhecimento da arte da guerra, a honra! Mas não, temos músicos de orquestra, ou cornetas que tocam afinadas e à ordem.


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Sobre as possibilidades das FA’s ucranianas

(Major-General Raúl Cunha, in Facebook, 11/09/2023)

Usamos com demasiada frequência a frase “até ao último ucraniano” para enfatizar e reforçar o argumento que as FA’s Ucranianas estão a ter demasiadas perdas e sempre combinámos isso com a sua ininterrupta mobilização e, agora, também, com a mobilização daqueles que estão inaptos para o serviço militar. No entanto, tendemos a esquecer algo crucial. Em Bahmut, muitos dos que lutaram pelas FAU pertenciam a unidades de defesa territorial, com pouca ou nenhuma instrução. Tinham sido enviados, juntamente com tropas mais bem treinadas e equipadas, para tentar manter a cidade. Como conclusão lógica da sua participação, a sua maior parte foi exterminada até aos últimos homens, ou tornada ineficaz devido às terríveis perdas sofridas. Ninguém contesta esse facto, porque é verdade e está bem referenciado. Nesta ação o grupo Wagner teve sucesso. Mas também devemos ter presente que muitas dessas unidades eram de defesa territorial. Apenas alguns meses depois, as FAU atacaram com forças mais poderosas em Zaporozhye e, recentemente, em Donetsk. E ainda mantêm na sua posse Marinka, Avdeevka e Ugledar, estando a recuar lentamente na região de Kupyansk.

Neste momento, as forças que atacam em Zaporozhye e Donetsk são tropas treinadas no ocidente e internamente, fortemente armadas e em quantidades significativas, com bastantes armas ocidentais. Deve ter-se presente que em Bahmut se estava a desenvolver uma ação retardadora que foi paga de uma forma exagerada pelas FAU. O comando das forças ucranianas decidiu ganhar ali tempo em troca de sangue (de certo modo, não o poderiam ter feito de outra forma), mas enviou aqueles que tinham menor valor em termos de capacidade de combate, de forma a poupar as melhores tropas para o futuro ataque principal. Agora e depois de todo este tempo, o ataque principal não foi nem decisivo nem letal, como alguns previam. Mas no QG das FAU, não existem idiotas, eles foram formados nas mesmas escolas que os generais russos. Se alguém acreditar no contrário, estará errado. Provavelmente sob a influência dos generais da OTAN foi tentada uma manobra do tipo guerra relâmpago, que se veio a revelar inútil. No entanto, ainda continuam a atacar. E nesse caso resulta uma questão lógica. Por que razão estão a atacar? Não será o momento de cancelar essa ação?

A maior parte das vezes a resposta que aparece é: 1) Não o podem fazer, porque a OTAN não permite; 2) É por ordem do presidente; 3) O ataque é a melhor defesa. Enquanto o grupo de forças que actualmente está a ser consumido (neste momento, já são mais de 100.000 KIA/WIA/MIA), as FAU estão a fazer a mesma coisa que fizeram em Bahmut – ou seja: formar, treinar e equipar outro corpo de forças de combate principal, e ao mesmo tempo criar, novamente, um corpo secundário que será composto por unidades de defesa territorial. A tarefa deste último será aguentar, amortecer e tentar absorver o contra-ataque russo tanto quanto possível, sem que seja necessário sacrificar demasiado o corpo de forças de combate principal, em termos de homens e equipamento. A ideia é parecida com a dos russos, permitir que o inimigo ataque, desacelerá-lo, desgastá-lo o máximo possível e quando chegar a hora adequada, atacar novamente com um corpo de forças de combate principal recém-criado. E, se necessário, repeti-lo em seguida. Entenda-se que o comando das FAU reclama do pessoal, mas talvez não por causa do que se pensa.

Os centros de recrutamento estavam sob pressão para cumprir as quotas. Sendo corruptos, deixaram muitos escapar. Kiev e as maiores cidades estão cheias de homens com capacidade militar. O problema está na ineficiência dos recrutadores. Todos os aptos irão receber uma melhor instrução para formar um novo corpo de forças de combate principal. Todos aqueles inaptos, jovens, velhos, mulheres (talvez), previstos para conter o ataque russo receberão um treino mínimo. Não precisam de nada melhor, excepto saber atirar, porque estarão sentados nas trincheiras e fortificações, à espera que o exército russo os expulse, mas ao mesmo tempo fique desgastado nesse processo. Tudo o que foi visto até agora, desde o início da guerra em diante, nos leva a considerar que um tal desenvolvimento não só é possível como já foi utilizado em diversas ocasiões. Uma tal abordagem tem um custo elevado em termos de vidas humanas e não é muito digna, mas quem pretende combater e vencer mantendo a dignidade, obviamente nunca esteve numa guerra.

Na realidade, podemos encontrar exemplos semelhantes nos anais de outras guerras e em antigos manuais e registos históricos da era soviética, alguns oriundos diretamente dos campos de batalha da Segunda Guerra Mundial contra os alemães, onde algumas divisões de baixa qualidade foram colocadas na primeira linha, para tentar enfraquecer os alemães, permitindo assim o sucesso de tropas soviéticas mais capazes para capitalizar o enfraquecimento do inimigo. Ambos os lados deste conflito sabem disso.

Em relação às perdas de armamento e viaturas de combate, de facto as perdas em hardware são enormes para as FAU, mas estas ainda têm muitas ao seu dispor. Há que ter presente que as armas para a Ucrânia fluem sem parar. A notícia, de há poucos dias, que os EUA estão a enviar 190 MRAPs, passou quase despercebida. Existem muitos casos assim. Portanto, não, a Ucrânia não ficará sem armas tão cedo.

Pessoalmente, acredito que o caminho escolhido por Moscovo, para obter a vitória neste conflito, é acabar com a possibilidade das FAU em travarem uma guerra nas gerações vindouras. A solução que foi optada consiste na degradação, exaustão, quebra de vontade e derrota total, uma espécie de guerra de desgaste, mas numa escala muito maior.

De forma semelhante também assim estava definido na doutrina estratégica soviética. E isso significa que a guerra não terminará tão cedo. Depois disso, não haverá mais Ucrânia.

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Militares comentadores ou militares propagandistas?

(Major-General Raúl Cunha, in Facebook, 03/08/2023)

Aproveitando e copiando uma grande parte do notável texto, em resposta aos dislates do coronel DFA, pelo meu amigo MGen Carlos Branco (a quem pedi autorização para o efeito) e após introduzir as necessárias alterações para o referir à minha pessoa e acrescentar algo da minha lavra, especialmente o adjetivar que me é característico, produzi o artigo que se segue e que mais uma vez importa salientar – só foi possível graças ao extraordinário talento do meu Camarada:

“As posições dos comentadores militares sobre o conflito na Ucrânia podem ser, em termos genéricos, divididas em dois grupos, cujos fundamentos refletem, curiosamente, as suas experiências profissionais. De um lado estão os que estiveram na guerra e, do outro, os que não estiveram (ter passado pela ex-Jugoslávia, quando já não havia guerra, ou mesmo no Afeganistão, mas sem sair do alojamento, não conta como guerra). As vivências pessoais parecem afetar o modo como se percecionam os acontecimentos. Se é que é possível enquadrar a posição dos indefectíveis apologistas do Zelensky, ela é mais característica do segundo grupo. É infantil reduzir o presente conflito ucraniano a uma conveniente fórmula maniqueísta e despojá-lo da complexidade que ele encerra. Os bons contra os maus; de um lado, os invadidos, do outro, os invasores. Será, talvez, uma mensagem forte para efeitos de Comunicação Estratégica, porque é simples e fácil de ser apreendida, mas não é útil para ajudar a compreender um conflito complexo.

A escola neorrealista das relações internacionais explica com muita clareza o que move os Estados na cena internacional. John Mearsheimer, professor universitário nos EUA e uma das figuras proeminentes do neorrealismo ofensivo, num artigo na Foreign Affairs, em 2014, não ilibava os EUA e os seus aliados europeus da partilha de responsabilidade pela crise na Ucrânia. Foi precisamente com base nesse artigo que, no decurso do meu doutoramento, apresentei um trabalho sobre as relações Ucrânia – Rússia (disponível em academia.edu), seguindo a mesma linha de pensamento. Não venham agora os zelenkistas, acusar o Prof. Mearsheimer de ser um agente do Kremlin e um perigoso antiamericano. O que se passa é que, ao contrário de muitos dos académicos portugueses, muitos dos americanos não se “venderam” ao sistema.

É lógico que as partes envolvidas – EUA e Rússia – montem as suas campanhas de Comunicação Estratégica, que definam as suas agendas de temas e mensagens. Estranho seria se não o fizessem. Mas isso não obriga ninguém a alinhar nelas. Compreendo as demonizações que cada campo faz do adversário. Desde o início do conflito (e com isto não estou a dizer que do outro lado não há centrais de desinformação), as centrais de propaganda ocidentais construíram com entusiasmo a imagem de um “heroico cavaleiro ucraniano” que derrota facilmente inúmeras hordas asiáticas e vai assim “salvar a Europa” (?) e, em última análise, a humanidade e a Ordem baseada em regras. Será esta a única leitura dos acontecimentos? A verdade única? Será razoável reduzir esta guerra a uma luta do bem contra o mal?

Ora um tema desta importância não pode ser discutido com base na emoção e na troca de injúrias e acusações maldosas, mas sim na razão. É naturalmente legítimo que cada um defenda o campo que corresponda às suas verdades, às suas crenças e aos seus preconceitos, mas não é aceitável que essas divergências sejam reforçadas com falsidades e invencionices recheadas de injúrias e impropérios sobre a outra parte.

Cada um acredita naquilo que lhe parece mais adequado. Há quem acredite, e não são poucos, que a Rússia já não tem munições, que os soldados russos são frouxos e fogem mal avistam os “heroicos cavaleiros ucranianos”, que aprenderam a manejar as armas na Wikipédia, que foi preciso o Shoigu ser Ministro da Defesa para os soldados terem meias, que o Putin tem cancros, que Gerasimov foi morto (os russos fizeram o mesmo relativamente a Zhaluzhny e Budanov), que os russos vão explodir a central nuclear de Zaporizhzhia com minas antipessoal, que os frigoríficos na Rússia foram desmanchados a fim de lhes serem retirados os chips para o fabrico dos seus mísseis (esta pérola foi verbalizada por Ursula von der Leyen, a presidente da Comissão Europeia), etc. Podem consolar-se com as lucubrações que quiserem, mas depois não venham regurgitar que a verdade é a primeira vítima da guerra.

É especialmente deprimente assistirmos ao logro em que caíram as elites europeias, vítimas da sua própria propaganda, propaganda essa na qual acreditam sem pestanejar, sem capacidade crítica e sempre predispostos a engolir o que lhes vendem. Mas o que é verdadeiramente chocante é a sua disponibilidade para abraçar acefalamente a desinformação mais básica e rudimentar que lhes é colocada à frente. Deixou de ser necessário refinar a mensagem – seja o que for dito, por mais inverosímil que seja, é aceite sem reservas. E isto é aplicável, naturalmente, a todas as partes envolvidas.

Particularmente perigoso é o que se passa com a Academia, a Comunicação Social e segmentos importantes da elite política que não param para pensar e que reproduzem sem pudor, sem filtros e sem refletir, tudo o que lhes é posto à frente; ou então, fazem-no porque sabem que assim garantem a continuidade das alvíssaras e prebendas que o “colinho” proporciona. O diretor do pasquim “Observador”, entrincheirado num dos campos, apelidou de idiotas úteis quem não comprava a sua versão “linear e transparente” dos acontecimentos. Parece que afinal o grupo dos idiotas úteis é outro, em que ele naturalmente se insere. No início da guerra em 2014, ainda houve quem dissesse umas coisas acertadas, antes de passarmos a ser intoxicados pelo funcionamento a todo o vapor da máquina trituradora da propaganda. Até o truão José Milhazes disse umas coisas óbvias. Mas depois impôs-se a disciplina. Fez-se tábua rasa dos temas inconvenientes (corrupção, nazismo, satanismo, tráfico de crianças, drogas e armas, etc.), que foram sendo progressivamente substituídos por outros menos “ácidos”. Limpou-se a história.

Particularmente grave, foi ter-se convencido a grande maioria das pessoas que era possível fazer recuar a Rússia, uma potência nuclear, recorrendo aos ucranianos. Não acreditar nisso não é ser putinista, é ser realista; sobretudo para quem, por motivos profissionais, teve de conhecer e lidar, o melhor que foi possível, com oficiais russos e ucranianos que então comandava e, depois, para efeitos académicos, pesquisar e estudar aprofundadamente o conflito e as suas envolventes, e, portanto, sabe alguma coisa do que está a descrever. É fácil e é barato apelidar quem tem posições antagónicas de antiocidentais ou antiamericanos, sem se justificar exatamente as razões subjacentes, seguindo assim os métodos nazis de catalogação dos divergentes. Por muito que lhes custe, temos de facto a noção que os EUA não são no seu todo como os liberais intervencionistas que fomentaram os acontecimentos de 2014, durante a Administração Obama, ou como a presente Administração norte-americana que nos conduziu à miserável situação em que agora nos encontramos.

Desejos e preferências à parte, o que o Ocidente precisa de entender com sobriedade é uma simples e dura realidade: a Rússia tem o maior arsenal nuclear do mundo, tem o seu complexo militar-industrial a funcionar sem restrições e a 200%, garantiu poderosos e firmes apoios políticos e não vai ser possível expulsá-la pela força dos territórios ocupados. Isto não é defender os pontos de vista do Kremlin. É, mais uma vez, ser realista. Os crentes nos sonhos irrealizáveis podem vociferar, esbracejar e espernear, mas isso não os vai livrar de serem confrontados com a realidade.

Tudo isto é “demasiado andamento” para os indefetíveis do sr. Zelensky, pois como só no dia 24/02/2022 “acordaram” para este conflito, são incapazes de perceber a complexidade das realidades que lhe estão associadas. Para essa malta, o deixar de confundir o neorrealismo com o putinismo, seja lá o que isto for, é um exercício muito complicado. Não será possível compreenderem o que se pretende esclarecer, pela simples razão de não lhes ser possível considerar a informação de uma forma neutral. As suas avaliações são sempre condicionadas por um filtro cognitivo que lhes atribui o significado em função de conclusões que, para eles, já estão pré-formuladas. Por isso, não será exagerado afirmar que esta gente vive numa realidade virtual em que quem não concorda com eles, ou é antiocidental, ou é putinista, ou é comuna, conseguindo assim no seu imaginário uma perfeita quadratura do círculo.

Discutir com ignorantes acaba sempre mal, e por isso mesmo já deixei de responder a comentários provocatórios sobre os meus artigos aqui no FB (simplesmente oblitero os engraçadinhos) e só dou resposta àqueles que, mesmo contrariando as minhas teses, são provenientes de amizades de longa data que quero preservar. Como dizia um famoso (de bem merecida fama) tenente-coronel no Regimento de Comandos e com razão: “Vocês nunca tentem ensinar um porco a cantar. O porco não aprende, vocês ficam roucos, e no fim o porco nem sequer vos agradece.”  


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