Durante meses publiquei as crónicas de Baptista Bastos do Jornal de Negócios e também do Correio da Manhã, sempre que conseguia ultrapassar a aversão de visitar este último.
Baptista Bastos era senhor de uma prosa magnífica e de um refinado domínio da palavra, um português sempre cerimonial mesmo quando escrevia sobre casos simples, da vida dos mais simples, mas que nunca eram pequenos casos porque se transformavam em grandes paradigmas quando tratados pela sua pena. É sempre com mágoa que vemos partir um viciado da liberdade, um lutador pela democracia, um artífice da palavra e do verbo a servir a liberdade e a democracia.
Que fiques entre flores, Baptista Bastos, para todo o sempre. Qual Cão Velho entre flores, como intitulaste um dos teus mais emblemáticos romances que nos deixas.
Estátua de Sal, 09/05/2017
(In Diário de Notícias, 09/05/2017)
1934-2017. Conhecido como colunista nos últimos anos, começou na António Arroio pois queria ser arquiteto. Foi das palavras, apenas
Quem morreu hoje aos 83 anos nunca ponderou retirar o “P” do nome à conta de modernices e por isso ficou sempre Armando Baptista-Bastos. Havia esse cuidado nas redações em evitar um deslize que irritaria o jornalista, o escritor e o polemista que ficou conhecido por muitas reportagens e entrevistas, bem como o género que gostava de cultivar: a crónica. E livros, muitos, reeditados há uns anos em género de obras completas. Mesmo que a frase que mais lhe estava agarrada à pele nos últimos anos fosse “Onde é que você estava no 25 de Abril?”, que era a pergunta que lançava de rajada no início de um conjunto de entrevistas que fez. Sobre esse tema, desiludido com os passos atrás na Revolução de Abril, escreveu Elegia Para um Caixão Vazio. Está tudo dito.
Fonte aqui: Óbito – A morte de BB, aquele que sabia bem onde estava no 25 de Abril