(Entrevista a Vladimir Pliassov, in AbrilAbril, 23/05/2023)

Vladimir Pliassov vive e trabalha em Portugal desde 1988. O antigo Director do Centro de Estudos Russos da Universidade de Coimbra foi demitido, sumariamente, sem direito a contraditório, pelo reitor da Universidade de Coimbra, Amílcar Falcão, a 10 de Maio de 2023. As acusações, infundadas, feitas por activistas ucranianas e amplificadas por José Milhazes, já foram alvo de contestação por vários alunos, antigos e actuais, de Pliassov. A entrevista é de Bruno Amaral de Carvalho.
Trabalha em Portugal desde 1988. Coimbra foi amor à primeira vista e ensinou várias gerações a falar russo. Desde que a Rússia invadiu a Ucrânia, o seu carro foi atacado com ovos e a filha recebeu avisos por telefone. Foi o prólogo das várias acusações que saíram a público num artigo publicado por dois cidadãos ucranianos nos jornais. De um dia para o outro, Vladimir Pliassov viu o seu contrato a título gracioso cessado por decisão do reitor da Universidade de Coimbra sem qualquer inquérito. O professor defende-se dizendo que nunca fez propaganda nas suas aulas e que isto é mais um caso de russofobia.
Como é que se dá o primeiro contacto com a língua portuguesa?
Começou na faculdade. Fui um dos primeiros alunos a aprender português. Depois, mandaram-me para África porque havia acordos com países em vias de desenvolvimento. Outros foram para a Europa mas, como eu não era membro do Partido Comunista, não tive essa escolha, eu nunca estive na primeira trincheira ideológica. Fui para Moçambique. Queria ir para Angola mas a minha esposa escolheu Moçambique. Entretanto, o contrato não foi renovado e voltei para Moscovo.
Creio que foi em Março ou Abril de 1988 que participei num encontro das associações de amizade com a União Soviética, com a participação de Valentina Tereshkova [primeira mulher no espaço], onde estava António Avelãs Nunes, que assinou um acordo entre as duas partes. Valentina Tereshkova pediu-me para traduzir e depois disse-me que devia ir para Portugal. Eu queria ir para Angola ou Moçambique. Mas acabei em Portugal. A cosmonauta lançou-me para Portugal.
Quando cá cheguei, não queria ficar em Lisboa. Queria uma cidade mais pequena e quando cheguei a Coimbra foi amor à primeira vista. Comecei, então, a dar aulas na Associação de Amizade Portugal-URSS e, depois, o professor Avelãs Nunes recomendou-me à universidade para dar aulas de russo. No período conturbado da perestroika, eu pensei que vinha para trabalhar dois ou três anos e que regressaria à Rússia quando tudo acalmasse. Isto foi em 1988.
Estou aqui muito bem, eu escolhi Portugal para viver e não para ganhar dinheiro. Para ganhar dinheiro seria noutro país, não Portugal. Os meus amigos que trabalham na Áustria e na Suíça ganham cinco vezes mais do que eu e trabalham muito menos.
Em 2012, funda o primeiro centro dos estudos russos da península ibérica na Universidade de Coimbra com o apoio da fundação Russky Mir. Alguma vez esta fundação tutelou o seu trabalho do ponto de vista político ou alguma vez se sentiu pressionado para defender politicamente os governos russos nas suas aulas?
Claro que não. Em 2007, havia problemas económicos na faculdade e propuseram-me reduzir o contrato a 60% ou ir embora. Decidi continuar a trabalhar lá, recebendo menos, porque havia muitos alunos a quererem aprender russo. Depois, em 2009, fui a Moscovo e quis falar com alguém que pudesse ajudar. Ouvi falar na fundação Russky Mir. Expliquei-lhes todo o meu trabalho em Coimbra e como eles estavam a abrir centros em todo o mundo pensei que poderiam abrir também em Coimbra, até porque já havia todas as condições. Só precisava de financiamento.
Em 2011, um representante da fundação apareceu em Coimbra, na universidade, e foi assinado um acordo de colaboração. No ano seguinte, foram feitas todas as obras necessárias e recebemos os livros. Tudo o que estava no centro foi comprado com dinheiro da Russky Mir e a fundação passou a enviar uma verba à universidade. A minha situação económica melhorou porque passei a trabalhar a 100%. Eu quase não tinha dinheiro para pagar a renda da casa, nem tinha dinheiro para alguma eventualidade. Mas os programas letivos foram todos feitos aqui, por mim, e os relatórios do meu trabalho eram apresentados ao conselho científico do departamento das línguas e culturas.
É verdade que quando surgiu esta polémica já não havia o apoio da fundação Russky Mir?
Este apoio de financiamento existiu entre 2012 e 2021. No ano letivo, 2022 já não tivemos nada. Dois meses antes do início do conflito, já não havia qualquer ligação. Aliás, a fundação enviou mais dinheiro do que era necessário e a universidade queria devolver essa verba. Não sei se devolveram ou não. Nunca perguntei e não me interessa.
E alguma vez abordou a questão da guerra nas suas aulas?
A questão da guerra nunca foi tema das aulas. Nunca. Mas, naturalmente, às vezes era obrigado a responder a perguntas dos alunos.
Mas não houve alunos a acusá-lo de fazer propaganda pró-Putin?
Não, mas num jornal de Maio li que um ucraniano afirmou que um português lhe tinha dito que eu fazia propaganda. Perguntei aos meus alunos se sabiam de alguma coisa. Responderam que não sabiam de nada. Também houve quem dissesse que eu era um agente do KGB. Mas um agente não vive como eu.
Você conhecia estes dois cidadãos ucranianos que o acusam agora?
Nunca os vi na vida. No jornal Público fizeram a pergunta sobre como é que diziam que eu fazia propaganda se nunca tinham assistido às minhas aulas. Responderam que não era preciso, que bastava passar perto do centro. Uma das acusações era haver, na parede, fotografias do Kremlin, que é património da UNESCO. É curioso porque até 2015 havia imagens de Moscovo na parede feitas pelo então diretor da Faculdade de Letras, Carlos André, numa viagem à capital russa.
E o que tem a dizer sobre as acusações?
Quais? São tantas…
Acusaram-no de expor fotografias de Eduard Limonov, de Zakhar Prilepin, também de oferecer fitas com as cores de São Jorge…
Para nós, as fitas de São Jorge são símbolos da memória, de respeito, de reconhecimento daqueles anos da Segunda Guerra Mundial, da libertação do fascismo. Nós usamos essas fitas só no dia 9 de Maio e eu, na Faculdade de Letras, distribuí essas fitas entre 2010 e 2016 porque, depois, deixei de recebê-las. Só em 2016 é que essas fitas foram proibídas na Ucrânia.
Em relação a haver nomes com Transcarpatia e [República Popular de] Donetsk foram os meus alunos que escolheram como forma de identificação em alguns trabalhos. Um deles era da Transcarpatia e preferiu meter Transcarpatia e não Ucrânia. Outra era da Ucrânia mas identificou-se como sendo da República Popular de Donetsk. Um aluno meu da América Latina identificou-se enquanto italiano. Perguntei-lhe se era italiano e explicou que os pais são italianos assim como os avós. Nunca escolhi nem sugeri nada disto.
E o cartaz com 66 escritores?
Estes escritores foram escolhidos para serem conhecidos, para dar conhecimento, mas alguns deles não têm sequer obras traduzidas em português. No caso dos retratos dos primeiros 20 anos do século XXI, falei, entre outros, de Limonov e Prilepin cerca de um minuto ou dois. Estes dois autores fazem parte do panorama literário russo do século XXI.
Trabalha a título gracioso enquanto professor reformado. Porque é que o faz?
Havia estudantes interessados mas nem todos tinham a possibilidade de pagar. Tenho um contrato gracioso assinado como outros professores. Não sou caso único.
Como soube da cessação do contrato?
Recebi uma mensagem dos serviços centrais onde me informaram do efeito imediato. Eu não percebi. Imprimi e fui ao gabinete do diretor da faculdade. Perguntei-lhe o que era aquilo e ele respondeu-me que também não sabia. Depois, esteve com o reitor e veio ter comigo. «Vladimir, entregue-me as chaves. Não pode entrar mais no centro», disse-me. Podia entrar na faculdade mas não no centro dos estudos russos. Cortaram-me o acesso à plataforma digital interna, também ao correio eletrónico. E eu não compreendo porque há muitos professores aposentados que continuam a usar o endereço eletrónico da faculdade.
Portanto, não houve qualquer inquérito, ninguém o tentou ouvir, ninguém dos serviços o contactou para ouvir a sua versão dos factos?
Não, por isso é que estou surpreendido, como é possível? Tem de se ouvir as duas partes. Até os nazis tiveram direito a serem ouvidos [no tribunal de Nuremberga].
Chegou a falar com o reitor?
Eu queria falar mas o diretor da faculdade disse-me que não valia a pena, que ele não ia mudar de opinião.
Vai recorrer aos tribunais?
Por agora, não. Há uma petição pública, há também na faculdade [uma petição de professores], vamos ver o resultado. De qualquer forma, não quero nada com este reitor. Não quero voltar. Se me tratam assim…
Disse que há abaixo-assinados a decorrer. Também há artigos em diferentes jornais condenando a forma como foi cessado o seu contrato. Tem recebido muitas mensagens de solidariedade?
Mensagens e chamadas. Falo muitas horas ao telefone por dia. Eu nunca antes li a imprensa portuguesa como agora. Eu acho que esta ação contra mim foi muito bem planificada porque aconteceu no dia 9 de Maio [Dia da Vitória soviética sobre o nazismo]. Saiu aquele artigo, depois as declarações de Milhazes. Ele e aqueles cidadãos ucranianos fazem isto porque sabem que agora é o tempo em que podem dizer o que lhes apetecer que ninguém os vai condenar. Também foi atacado o antigo diretor do Conservatório de Coimbra, Manuel Pires da Rocha, por ter participado num evento da Associação Iuri Gagarine [no Dia da Vitória]. Acusam-no de ser pró-Putin. É uma situação triste.
Têm sido noticiados vários casos de ameaças. A comunidade russa sente medo?
Medo não temos, mas temos preocupação com as nossas vidas, os nossos filhos. Por exemplo, na primeira escola eslava, em Lisboa, onde estudam ucranianos, russos, uzbeques, etc, começaram a ter problemas depois do carro de um russo ter sido pintado com a bandeira ucraniana. O meu carro foi atacado com ovos. Ligaram à minha filha a pedir-lhe para falar comigo para eu tirar as imagens do centro de estudos russos. E a minha filha disse-me que tinha medo do que esta gente me pudesse fazer.
2. Sobre esta demissão e sobre o que ela representa e antecipa dos tempos negros para onde, tudo indica, estamos a caminhar perante a indignação apenas de uma minoria, publico abaixo um libelo cruel mas oportuno contra o silêncio cúmplice de quase toda a nossa classe política.
Estátua de Sal, 23/05/2023
Resta ao reitor da Universidade de Coimbra ter vergonha na cara
Resta ao reitor da Universidade de Coimbra ter vergonha na cara e demitir-se porque envergonhou toda a comunidade académica de Norte a Sul do país.
Resta aos dois ativistas serem investigados e interrogados pelas mentiras que difundiram e, se foram propositadas sofrerem as consequências pelo seu radicalismo e racismo. Não se estraga a vida de pessoas íntegras e não se fazem assassinatos ao carácter das pessoas. Aliás, deviam era meterem-se a andar já que deixaram de ser bem vindos ou darem-se como voluntários para a frente de batalha onde são mais necessários em vez de difundirem mentiras. Uma coisa são as redes sociais e as opiniões, outra é assassinarem publicamente o carácter das pessoas e a sua vida com mentiras.
Resta ao José Milhazes e seus cúmplices, onde incluo a Clara de Sousa que está a arruinar completamente a imagem, retratarem-se e publicamente pedirem desculpa aos portugueses que não se reveem nestas atitudes irresponsáveis e racistas, bem como ao Prof. Pliassov.
Resta à SIC responder também judicialmente pela rubrica “Guerra fria” e o camião de mentiras propagadas há mais de um ano, sem qualquer contraditório o que viola a nossa CRP, aliás, não é a primeira vez que se ataca o carácter de pessoas com aldrabices e coscuvilhices e sem quaisquer provas.
Resta à ERC atuar perante não só a SIC como todas as televisões que andam a violar a lei portuguesa há mais de um ano.
Resta ao Sr. Ministro dos Negócios Estrangeiros e ao Governo português terem vergonha na cara e fazerem cumprir as leis, ao invés de andarem a posar em fotos com radicais e a alimentar a confusão que já mina as nossas instituições e o país, colocando o regime ucraniano e mais especificamente a embaixada da Ucrânia em Portugal no seu devido lugar. Haja decência e que se respeitem os valores da democracia, do livre pensamento e da liberdade de expressão, sem que para tal se censurem ou persigam pessoas pelas suas ideologias, opiniões ou nacionalidade. A censura e a PIDE acabaram há 49 anos, o racismo é condenável e a russofobia atingiu níveis dementes, tal como o tratamento privilegiado em relação aos refugiados ucranianos em comparação com os restantes imigrantes ou refugiados de outras nacionalidades, até mesmo em relação aos portugueses, o que é outra violação à igualdade da CRP. As leis europeias não prevalecem em relação às nacionais: leiam os tratados europeus.
A Ucrânia não manda em Portugal, os portugueses não são ucranianos, nunca foram, e chegou ao limite a palhaçada que armaram durante um ano porque não nos vamos calar.
Eu, portuguesa, começo a ter a sensação que quem manda no nosso país é a Ucrânia e a Úrsula Von der Leyen e que o nosso governo é só um bando de vassalos. Portugal é dos portugueses e de todos os que quiserem vir por bem porque somos um povo acolhedor e tolerante mas calma… Quando a palhaçada atinge os nossos governantes que violam e deixam violar as leis nacionais, quando transformam a Assembleia da República num circo, a comunicação social, as Instituições públicas, as escolas e universidades e ainda por cima não têm o mínimo de cuidado com a segurança nacional e a segurança do povo português, permitindo que regimes estrangeiros e agentes do SBU em Portugal se movam livremente e divulguem a identidade de cidadãos nacionais ao seu regime, isto já não é uma Democracia mas sim uma palhaçada e é o fim de linha. Portugueses a serem excluídos e despedidos dos seus trabalhos por liberdade de pensamento e o Governo em silêncio, a viajar para a Ucrânia a financiar e a apoiar radicais, a enviar armas que não temos e que teremos de pagar. Não me refiro a ajuda humanitária. A ajuda humanitária tem todo o meu apoio, seja para ucranianos, sírios ou outros, de igual forma. Refiro-me a financiarem uma guerra.
Resta à maioria dos deputados portugueses eleitos pelo povo, meditarem na anormalidade que andam a apoiar há um ano. Acham mesmo que foi para isto que o povo os elegeu? Ou continuam a acreditar nas sondagens encomendadas e aldrabadas? É que o povo não acredita e sabemos bem o que está a acontecer. Eu conheço milhares de pessoas e nenhuma foi alguma vez questionada sobre a guerra. O vosso universo estatístico deve limitar-se aos partidos políticos ou aos deputados, não? Qual é o universo das vossas sondagens? Deputados e comentadores pagos para a propaganda? Não se esqueçam que Portugal tem muita gente decente e íntegra que se tem calado mas chegou ao limite, já ultrapassaram tudo o que se podia considerar aceitável, tudo…. Tenham vergonha e desempenhem dignamente as vossas funções ou demitam-se.
Ao Sr. Presidente da República que teve o desplante de dizer que os portugueses eram todos ucranianos que fale por ele, eu não sou ucraniana, sou portuguesa e com muito orgulho do meu país e da sua História, com orgulho do meu povo e não me identifico com banderistas, radicais, racistas e gente conflituosa que faz assassinatos de carácter a pessoas decentes, que mentem descaradamente para atingir objetivos e minarem a sociedade e a vida política portuguesa. Estando ou não em guerra não têm esse direito. Resta-lhe fazer o seu trabalho que é aquilo que não faz há um ano, garantir o cumprimento da CRP. Não queremos palhaçadas, se quiser ser modelo fotográfico está na profissão errada mas, nem tenho nada contra desde que faça o que deve e que é da sua responsabilidade ao invés de só debitar disparates e falar por todos os portugueses.
Resta ao Presidente da Câmara de Lisboa explicar bem as influências de uma entidade privada que trabalha com a Câmara a pedido da embaixada ucraniana, já que ainda nem disse uma palavra sobre esse assunto. Resta aos vereadores que votaram a favor de um protocolo com a associação de ucranianos para o recebimento e acolhimento de refugiados que esclareçam como foi tomada tal decisão e como é feito o acompanhamento pelas entidades oficiais e nacionais. Investigaram a associação? Os seus membros? Ligações a grupos da extrema-direita ucraniana, racista e neonazi, e até a movimentos neonazis nacionais que, estiveram a treinar em campos do Azov na Ucrânia e que publicamente agradeceram a Pavlo Sadokha? Investigaram as atividades do Sr. Pavlo Sadokha e atestaram a sua idoneidade? Ou a vossa irresponsabilidade atingiu níveis anormais? Quem acompanha o acolhimento dos refugiados das zonas do leste, do Donbass por exemplo? Da verdadeira zona onde há guerra porque, não são os cidadãos de Lviv que fogem da guerra. Esses, na sua maioria, vêm para a propaganda e em bons carros.
Quem garante que os dados destas pessoas que se refugiam não são enviados ao SBU e as suas famílias, na Ucrânia, não sofrem represálias? E as crianças? Saberão ou conhecerão os senhores vereadores a quantidade de ucranianos em Portugal que vivem amedrontados e nem abrem a boca? Que choram pela segurança da sua família na Ucrânia? É porque a tal associação e o regime de Kiev é democrático querem ver? Tenham vergonha e resolvam com urgência a confusão que armaram e andaram a apoiar, caso contrário terá de ser o povo a fazê-lo e a mandar-vos para o desemprego.
(Por Sófia Puschinka, in Facebook, 17/05/2023)