Foi você que pediu uma revolução 4 i? – Parte II

(Daniel Vaz de Carvalho, in Resistir, 14/01/2023)

O elevadíssimo nível de automação, digitalização, comunicação através de redes informáticas que a “revolução 4 i” pressupõe estava e está muito mal explicado nos seus processos, planeamento e consequências. Contudo, os prosélitos do grande capital exultam, parecem ignorar todo o contexto e viverem num delírio tecnocrático.


Artigo completo aqui: Foi você que pediu uma revolução 4 i? (2)


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Foi você que pediu uma revolução 4 i? – Parte I

(Daniel Vaz de Carvalho, in Resistir, 12/01/2023)

Certamente que você não pediu uma tal “revolução”. Mas vejamos em que consiste – ou consistia. A dita “4ª revolução industrial” ou 4 i, era – talvez ainda seja – o desiderato das oligarquias do “ocidente” para a reindustrialização e “nova política industrial” para o século XXI, baseado na “digitalização da indústria”, parte integrante do “novo recomeço”, o great reset.


Artigo completo aqui: Foi você que pediu uma revolução 4 i? (1)


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Tanta verdade junta mereceu publicação – take XXII

(Por José Neto, in Estátua de Sal, 16/10/2022)


(Este texto resulta de um comentário a um artigo que publicámos de André Campos ver aqui, e a um artigo de Garcia Pereira, ver aqui. Perante tanta verdade junta, resolvi dar-lhe o destaque que, penso, merece.

Estátua de Sal, 17/10/2022)


Oi, cá estou eu outra vez.

Honestamente, não li o texto de Garcia Pereira.

O que ele escreve não me interessa porque a pessoa não me interessa e certamente não disse nada que eu não esteja farto de saber. Sei que muito do que ele depositou é verdade, porque ele se baseia no Marxismo-Leninismo-Maoismo, mas todo o percurso político deste triste personagem reflete um esforço resiliente focado na divisão dos trabalhadores para melhor os enfraquecer, e consubstanciado num ódio não disfarçado à única força coerente que desde sempre combateu o Fascismo e o Capitalismo em Portugal, que foi (e continua a ser) precisamente o Partido Comunista Português.

É um dos truques mais queridos do Grande Capital, este de usar fantoches como Garcia Pereira, com linguagem esquerdista muito “prá frentex”, do tipo “vamos fazer a Revolução hoje, abaixo o Revisionismo, Mao é que é bom”, etc. Todo o percurso desse patético indivíduo foi no sentido de destruir a unidade e a luta dos trabalhadores, e é preciso esta pobre criatura não ter nenhuma vergonha na cara para vir agora, que a obra em que ele foi humilde participante, está praticamente acabada, vir para os media dar lições de moral revolucionária.

Nos dias de hoje esse mesmo trabalho é da responsabilidade dos trotskistas do BE, que com um palavreado mais meloso e socialmente equilibrado, foram gerados no seio do PS e existem justamente para retirar influência e apoio eleitoral ao PCP. “Dividir para conquistar” é a máxima que sempre norteou o Capital na sua luta incessante para manter o seu gado humano submisso e controlado. Isso nunca muda.

Quanto ao texto de André Campos, é difícil não nos solidarizarmos com o seu estilo humanista e com as preocupações sinceras que ele apresenta, mas está repleto de erros de análise cuja desmontagem me levaria mais tempo do que disponho neste momento e ter de ficar para outra ocasião. Deixarei por isso aqui apenas umas linhas gerais:

1. O já famoso “Great Reset” é uma “teoria de conspiração” sem nenhum fundamento e muito provavelmente criada e alimentada pelos ideólogos do próprio Grande Capital. Ela apenas nasceu para justificar a enorme crise global do Capitalismo que ele hoje atravessa e impedir a sua real compreensão pelas populações. Procura-se atribuir as culpas de uma situação que resulta da evolução natural do sistema capitalista, e que já aconteceu duas vezes no passado no espaço de um século, tendo os seus momentos culminantes coincidido com as guerras mundiais de 14/18 e 39/45.

O que se tenta fazer é atribuir as culpas deste desenlace inevitável a uma espécie de seita obscura que se terá revelado em Davos, assim uma espécie de história de ficção ao nível dos livrinhos de banda desenhada juvenis.

O Grande Capital não tem interesse absolutamente nenhum em reduzir a população mundial como um propósito em si mesmo. Menos pessoas significam menos consumidores, menos mercados e consequentemente um agravamento da crise da qual o Capitalismo já enferma. Uma redução dessa população poderá ocorrer em consequência da fome e de uma guerra de destruição massiva, mas ela não é um objetivo em si mesma.

Claro que uma redução da população global poderia ser um acontecimento “benéfico” para a raça humana, basicamente porque dentro de cem anos o planeta simplesmente não terá condições para a sustentar e a continuarmos assim muito mais gente terá então de morrer, e morrer muito rapidamente, mas a ecologia planetária não é um objetivo do Capitalismo. Ele vive no momento.

E de resto ninguém que não seja um maldito psicopata iria querer promover hoje um holocausto global em nome da preservação de Gaia. Esse problema terá de ser resolvido pelas gerações vindouras, mas para que a Humanidade seja capaz de mudar os seus atuais padrões de vida destrutivos, será absolutamente necessário que o Capitalismo seja destruído.

É isso, ou a extinção pura e simples de toda a vida no planeta. E bem podem continuar a vender-nos fantasias estúpidas como a aquela da “colonização” de Marte.

2. O que realmente se passa, como foi muito bem colocado num recente texto publicado aqui, é que os Estados Unidos já estão em guerra com a Europa, representada no texto em questão pela Alemanha.

Trata-se de conquistar mercados e destruir concorrentes diretos num momento em que os mercados existentes já não são suficientes para alimentar as oligarquias existentes. Mais uma vez recordo as duas guerras mundiais. Tal como sucedeu na II Grande Guerra, a Rússia só está em palco devido às suas riquezas naturais e pela sua recusa em aceitar submeter-se ao Império Americano, e pelo facto de a sua proximidade geográfica e interesses comuns com a Europa poder colocar em causa a hegemonia de Washington. A segunda parte desta equação foi aparentemente resolvida no curto prazo com recurso a europeus traidores. Mas outros episódios se seguirão.

As verdadeiras causas da crise terminal que assola o capitalismo no Ocidente, elas prendem-se com o encurtamento dos mercados como resultado da ascensão das novas potências asiáticas, do expectável fim das excecionais condições favoráveis à economia liberal, nomeadamente a permanência do dólar como única moeda de referência mundial, e do próprio processo entrópico que está na génese do sistema capitalista e que termina sempre da mesma maneira.

A atual crise, e como já alguém disse não é uma crise, mas sim o fim de uma era, só difere das duas anteriores pela sua elevada componente financeira. A “financeirização” das economias é um fenómeno relativamente recente e posterior à II Guerra Mundial. Basicamente as sociedades ocidentais estão a pagar pelas toneladas de dinheiro falso que têm vindo a imprimir e ao longo dos anos e da gigantesca dívida pública que esse fenómeno gerou. Alguns analistas claramente confiáveis dizem que “a crise programada vem aí”, mas isso não deve ser mal interpretado.

Imaginem uma grande barragem. Já está? Agora imaginem que as águas estrondeiam com violência contra as paredes da estrutura e ameaçam desfazê-la em pedaços. O que se faz? Simples, abrem-se gradualmente as comportas para aliviar a pressão e permite-se uma inundação mais ou menos controlada das terras limítrofes para evitar um desastre maior. É exatamente o que os economistas do FED estão a fazer com a sua gigantesca e super inflada “barragem virtual”. Vai causar muitos problemas e bastante miséria, sim, mas o rebentamento brusco da economia seria mil vezes pior. Seria as pessoas matarem-se nas ruas de Nova Iorque por uma côdea de pão. Também é verdade com os níveis de criminalidade ali existentes que já pouco falta para isso.

Então, podem parar de atirar as culpas para os velhos de Davos. Eles são apenas os bodes expiatórios.

3. O André Campos diz que “a maioria da população não compreende nada”, e isso só é verdade em parte. Eu irei escrever sobre esse tema quando tiver tempo e disposição num texto que tenho na ideia, em que irei falar “de coisas que não existem”. Mas, apesar de ter muita simpatia pela candura do André, tenho que dizer que isso só é meia verdade. Claro que o Povo é ignorante, e é-o por culpa própria, O conhecimento está disponível e se o André e eu próprio, tal como muitos outros aqui, lá conseguem chegar, as outras pessoas com um volume semelhante de massa encefálica também o poderiam fazer. Na minha idade, não penso por nenhuma cartilha e já não tenho pachorra para pieguices.

A questão basilar aqui é que o Capitalismo singrou no mundo porque ele está em conformidade com a natureza humana, egoísta, agressiva e impiedosa. A raça humana sempre foi grande predadora ao longo de toda a sua existência e isso está no código genético. Na sua natureza. Foi o que impediu a sua extinção em confronto com outras espécies animais fisicamente mais poderosas nos tempos primordiais, e é também o que lhe irá ditar o fim.

Há pessoas boas no mundo, claro, mas por cada uma dessas pessoas existem cem que “não prestam”, como eu disse há dias aqui sem papas na língua, provocando algumas ondas de choque que muito me divertiram. A maioria das pessoas aceita o capitalismo porque vive na esperança de ser rica um dia, sabe-se lá por que sopro de sorte, e tornar-se ela própria um tiranete dos outros. Vivem a pensar nisso até que morrem abandonadas num lar miserável. São essas pessoas que elegem os governos.

Um bom exemplo da “solidariedade europeia” e da verdadeira natureza humana pode ser encontrado por exemplo nas manifestações de agricultores espanhóis para pressionar o governo espanhol a fechar as barragens que deixam passar ainda alguma água para Portugal. Outro, é o genocídio de todo um povo no continente americano levado à prática por imigrantes dos mais variados países europeus. Mas eu poderia citar muitos mais, e em todos os continentes. Vamos deixar os Tutsis e os Rohingyas em paz por agora.

Por outro lado, o Socialismo não singrou até hoje nas sociedades ocidentais porque ele fala de partilha e igualdade, e isso é coisa que não interessa a ninguém. Os orientais estão mais suscetíveis a estas ideias pelo seu passado em que foram colónias vítimas da brutalidade ocidental, mas tudo pode mudar no futuro com as “rotas da seda” e as riquezas que elas vão produzir e concentrar nas mãos de alguns. Isto, claro, partindo do princípio de que a Humanidade tem futuro, o que não é líquido de maneira nenhuma.

Alguém aqui acredita que o capitalista é de uma raça diferente da raça humana, como naquele divertido filminho de série B “They Live” (1988) de John Carpenter, e que os trabalhadores atualmente explorados não fariam exatamente a mesma coisa se, por artes mágicas trocassem de lugar?

Abra os olhos, André…

Claro que as coisas podem sempre mudar, basicamente porque, como eu já disse aqui várias vezes, o estômago pensa melhor do que o cérebro. Nada como uma boa dieta para mudar rapidamente a mentalidade das pessoas.

4. Finalmente, onde foi que você sonhou com “uma guerra nuclear” limitada à Europa, André?

Pensa que os russos são parvos assim? Sonhe outra vez…


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