(Por Carlos Marques, in Estátua de Sal, 25/11/2022)

A Ucrânia mergulhou na escuridão – Na manhã de 24 de novembro, mais de 70% de Kyiv permanecia sem eletricidade. Não há água em metade da capital. Os cortes de energia continuam em todas as partes do país.
(Este texto resulta de um comentário a um artigo que publicámos do General Carlos Branco ver aqui. Perante tanta verdade junta, resolvi dar-lhe o destaque que, penso, merece.
Estátua de Sal, 26/11/2022)
Quando a boca lhes foge para a verdade, para lá de toda a propaganda:
“O Chefe do Estado-Maior General das Forças Armadas dos EUA, general Mark Milley, veio afirmar publicamente que, por ser altamente improvável que a Ucrânia tenha capacidade para recuperar o território sob controlo russo, seria conveniente iniciar-se um processo de negociações de paz neste inverno, assinalando que a Rússia dispõe ainda de um poder de combate significativo.”
Ele sabe que a Rússia não foi expulsa de Kherson. Evacuou civis para evitar que os lunáticos explodissem a barragem de Nova Kakhovka. E tiraram a tropas para uma zona também protegida disso.
Não tenho dúvida que se tivesse já capacidade para tal, a Rússia teria ido até Nikolaev, mas não a tem.
Vai agora colocar novos mobilizados a ganhar estaleca na margem esquerda do Rio Dnieper, e só em 2023, finalmente com igualdade numérica, irá mais para Oeste.
Até lá, vai continuar como até aqui, com avanços lentos mas significativos nas zonas de alta densidade de bunkers em redor de Donetsk, e com as suas defesas a “limpar” todas as tentativas Ucranianas de avançar para Ligando a partir da frente de Kharkov, entre os rios Oskil e Zherebets.
Vou mais longe e pego nas palavras de Scott Ritter: a razão pela qual vemos cada vez mais ataques desesperados dos ucranianos, inclusive o de falsa bandeira em território polaco, e este paleio todo de “paz” vindo de quem andou meio ano a prometer mais guerra e derrota total da Rússia, é porque sabem o que aí vem a seguir, sabem que a seguir serão esmagados.
O que vem a seguir é o que acusaram a Rússia de fazer, mas esta não fez, pois não estava preparada para tal: uma invasão de facto. Estamos agora a ver os dias finais da intervenção em nome do povo do Donbass e em defesa preemptiva da Crimeia. Estamos s começar a ver novos mobilizados a ganhar experiência (ou a relembrar).
De uma situação de 250 mil ucranianos (cerca de 1 em cada 3 ultra-naZionalistas) frescos e preparados pela NATO ao longo de 8 anos mas que perderam quase 4 oblasts mesmo tendo a Rússia apenas 150 mil tropas, vamos passar para uma situação em que o exército da Ucrânia está de rastos, o povo está insatisfeito, e do outro lado está uma Rússia finalmente preparada e mentalizada para derrotar totalmente os lunáticos.
No resto da Europa, a inflação, o cansaço, talvez até recessão, o agravar da crise de refugiados, as mentiras cada vez mais descaradas e desmascaradas de Kiev, a hipocrisia de quem sanciona isto mas compra aquilo, e os zigue-zagues de quem (vassalos de Washington na Europa) não fala de factos nem faz o que tem sentido, apenas obedece a cada momento à vontade da oligarquia USAtlantista.
No início de 2023 a Rússia estará novamente em Kherson e Kharkov, irá a caminho das fronteiras da República de Donetsk e a caminho de Zaporojie e de Nikolaev, de modo respetivamente a que os lunáticos deixem de estar à distância de bombardear a central nuclear de Energizar e a barragem que protege Kherson da destruição.
É por isso que se fala agora em “paz”. Porque agora dá a sensação que a vitória geoestratégica dos EUA está no papo, que a UE deixou de ter qualquer autonomia, que a Rússia sofre muito com sanções, e que a Ucrânia tem alguma hipótese de recuperar mais territórios.
Só mesmo lunáticos acham que faz sentido querer roubar o Donbass, a Taurida e a Crimeia a quem lá vive, gente que é esmagadoramente pró-Russa ou Russa de facto.
A Rússia teve de facto uma derrota humilhante no oblast de Kharkov, onde perdeu território de Balakleya até Izium, e depois também até Lyman e mesmo até às fronteira da República de Lugansk, de forma muito rápida, sem conseguir proteger os seus civis pró-Russos, e deixando até muito material para trás, tal foi a pressa.
A Ucrânia aproveitou muito bem, e o tal exército, já com menos nazis, mas mais mercenários da NATO, deu uma lição de humildade à Rússia.
Mas desde então muito mudou, e o erro foi tal que duvido que se atrevem a repetir. Na próxima fase terão mais 300 mil mobilizados, já com alguns meses de experiência em situação defensiva ou de combates de artilharia posicionais. Já para não falar dos milhares de voluntários para além desse número. Os referendos estão feitos, dos territórios oficialmente no mapa da Rússia. E acham os palermas que era agora, antes da hora H, e após mais umas quantas provocações em Belgorod e Sevastopol, que a Rússia ia atirar a toalha ao chão?
Não sei se acompanham os mapas diariamente. Eu faço-o em várias fontes, algumas com o pormenor até de dizer onde está cada batalhão. Aquilo que vemos em Kharkov, após a derrota humilhante, foi um exército Russo em inferioridade numérica a corrigir o erro e a travar os UcraNazis+NATO na linha que definiu. No Donbass é a Rússia que avança e ainda não parou de destruir naZionalistas, material e bunkers. Em Zaporojie a linha da frente está onde a Rússia a quer nesta fase.
E nas várias grandes movimentações de Kherson, a linha da frente foi definida pela Rússia onde a Rússia muito bem entendeu. Até os lunáticos de Kiev tiveram dificuldade em chamar vitória ao seu avanço, pois este aconteceu sobre os corpos dos milhares que morreram na tal “contra-ofensiva”, e a Rússia é que foi escolhendo a seu bel-prazer onde era a linha da frente em cada momento.
Agora, devido à questão da barragem, decidiu que passará o Inverno na margem leste do Dnieper, mas já antes tinha decidido que a linha da frente era de Oleksandrivka até Snigurivka, e de Andreevka até perto de Dudchany. A Ucrânia foi “lutando” (morrendo) onde a Rússia decidiu.
Os EUA, em particular o senhor que citei, sabe o que eu sei. Sabem muito mais. Sabem que estes meses de Inverno são a última hipótese do regime de Kiev assinar um acordo de paz em que salve minimamente a face e em que a NATO não seja totalmente tornada inútil (na questão Ucraniana).
E o pior é que os lunáticos também sabem, mas insistem na propaganda do “forte resistente” que ainda vai re-conquistar a Crimeia toda não tarda nada… É que é já a seguir. Prova disto é que perante a esperada invasão de facto, já colocam bunkers pré-fabricados na fronteira a Norte de Kiev, em toda a extensão desde a Polónia até à Rússia.
Sabem o que aí vem, mas em vez de fazerem a paz, agora com o menor número de concessões territoriais possível (perante a derrota Russa de Kharkov até Lyman), e perante o recuo estratégico na cabeça-de-ponte de Kherson, em vez disso vão continuar de peito feito, a prometer derrotar a Rússia, eles nos palácios de Kiev (ou mansōes compradas aqui e ali), enquanto os desgraçados estão a morrer na linha da frente, ou já com data marcada para o enterro na fase 3…
E aqui, confesso, tenho o coração dividido. A paz, mesmo paz, era o ideal, sempre, e evitava-se mais mortos civis e de soldados comuns. Mas só com a continuação da guerra, até à derrota total da ditadura de Kiev, é que será feita justiça, é que será possível a liberdade de todos os pró-Russos, é que será possível a desnaZificação completa (como a imposta pela URSS à Finlândia, ou pelos Aliados à Alemanha), é que será possível a humilhação da NATO, é que será possível dar início a todo o vapor à Nova Ordem Mundial Multipolar, e quiçá será possível dar mais alguma dor à Europa de maneira a que está abra os olhos e comece a deixar a droga dos EUA, e dê início ao longo e penoso caminho de normalização das relações com a restante Eurásia, Rússia e China obviamente incluídas.
A alternativa é a derrota de tudo, até da verdade dos factos e da decência, a normalização do Nazismo, e a vitória de quem só merece desaparecer do mapa: o regime autoritário imperialista genocida dos EUA. Isso, a derrota da Rússia perante a NATO, é o pior que pode acontecer ao Mundo em 2023.
Seria usado como motivação para repetir a pouca-vergonha em Taiwan e quiçá com uma NATO Mundial, como os belicistas e corruptos USAtlantistas já se atreveram a dizer. Esta gentinha já matou milhões suficientes, isto tem de acabar em Kiev. Nem mais um metro para a NATO, os assassinos do regime genocida de Washington e seus idiotas que prestam vassalagem na Europa.
A diferença é esta, nas nossas vidas em Portugal, daqui por exemplo a 10 anos:
– ou adormecer com medo que o nosso governo vá censurar mais alguém, e cobrar-nos impostos para ajudar os EUA a invadir mais algum país, com Nazis como aliados e ameaça de guerra nuclear permanente, e só com FakeNews na TV;
– ou acordar com orgulho, soberania, progresso, cooperação, paz, e o dinheiro bem usado para o bem de todos e o desenvolvimento humano, preocupados só em votar em quem nos representa, com confiança renovada em jornalistas que falam dos factos sem medo de lhes acontecer uma perseguição como ao Bruno Amaral de Carvalho ou ao Julien Assange.
É esta a escolha. Eu já fiz a minha. Quero lá saber se é com Putin ou se foi com Stalin. Interessa é não estar do lado dos nazis originais ou dos Azov actuais. Mas sei que estou em minoria, e sei que a maioria está completamente manipulada, treinada como o cão de Pavlov, mas agora para abanar o rabo de alegria perante as insígnias militares dos EUA, e para espumar de raiva perante o que não seja ocidental, em particular se russo ou chinês.
Sei ainda mais uma coisa: para que o futuro da Europa seja risonho e decente, a UE (agora revelada às claras como o braço financeiro da NATO, que por sua vez é o braço armado do império) não pode continuar a existir… Mas isso é outra conversa, e fica para outra oportunidade.