Perder o medo!

(Hugo Dionísio, in Canal Factual, 15/03/2023)

Em Portugal fala-se grosso…

Diz o Presidente da AR, de um país que nem os impostos pode alterar, o Dr. Santos Silva, qualquer coisa como: “ou a China se comporta, ou leva com sanções”! Faz lembrar aqueles bullys da escola, tão agressivos quanto pequenos, mas que falam com voz grossa, no pressuposto de que têm as costas protegidas por quem julgam poder fazê-lo.

Todos sabemos quem SS julga possuir dimensão para tal! Todos sabemos em quem depositam, os micro poderosos europeus, as suas expectativas de segurança. Todos sabemos também, por conta de quem operam e como chegam onde chegam. Vejamos um caso paradigmático e na ordem do dia. A Excelentíssima Presidente da Geórgia, de seu nome Salomé Zourabishvili – ver  aqui -, nasceu em França, e tem ampla experiência governativa… Em França! Passou por todos os sítios que davam jeito à… França! Um deles, como embaixadora, na Geórgia, a cargo da… França! Agora comparem esta situação com a dos suspeitos do costume, em cujo país só pode concorrer ao cargo quem lá nasceu! Estão a ver a coincidência?

Mas, se o currículo vitae nos remete para os interesses que representa, por decorrência, entendemos qual foi a utilidade da “revolução das Rosas”, levada a cabo em 2003, mais uma das “coloridas”, encetadas pela CIA e pela U E. Este, infelizmente não é caso inédito. Que tal o caso de Natalie Jaresko? Nascida nos EUA, Ministra das Finanças da Ucrânia  pós Maidan, tendo estado apontada ao cargo de Primeira Ministra do país? Não acreditam? É tão escandaloso que a BBC o noticiou… Em 2014! Agora, nunca o fariam – ver aqui.

Mas também não era caso único. A eminente economista Aivaras Abromavicius, nacional da… Lituânia, foi ministra da economia e Aleksandre Kvitashvili, nacional da Geórgia, serviu, no mesmo executivo, como ministro da saúde. Todos com cidadania atribuída por Poroshenko. Que tal a “soberania” da Ucrânia?

Não se pense é que, por serem da nacionalidade respectiva, alguma coisa muda. Há gente que não tem pátria e a nação que representam não é a sua. Temos cá disso a dar com um pau, já desde a revolução de 1383-85. E a falarem “grosso”.

Estes breves exemplos, repercutidos por todas as dependências imperiais, desde tempos imemoriais, demonstram bem, de que fintas “democráticas” tanto se fala, e que “soberania” cabe a tais países, para decidirem o seu futuro. Esta factualidade demonstra, também, a razão pela qual tantos são atacados por não aceitarem tais regras “democráticas” e de defesa da “liberdade” e dos “direitos humanos”.

Por outro lado, percebendo para quem e por conta de quem operam, também entendemos a razão pela qual tão subdimensionados pigmeus políticos, se dão ao luxo de falar grosso com gente de porte. Afinal, não é na soberania do seu país que se suportam – porque sabem não o poder fazer -, mas na de outro.

Enquanto, por cá, queremos perseguir navios, com barcos que metem água e sem manutenção, os outros querem ganhar uma guerra sem possuírem uma base industrial capaz, sem munições armazenadas e usando um exército mandatado, formado por uma espinha dorsal, que mais não é, que uma bafienta iteração das SS. A este respeito, o que dizer da condecoração, pelo comediante que “serve” como presidente, de uma brigada militar, com o título honorífico “Edelweiss”, em memória de uma outra do III.º Reich? (Ver  aqui).

Se os factos – apenas factos – relatados anteriormente, constituem parte importante desta guerra, apelidada de “híbrida” (como tenho dúvidas quanto a este conceito, ndr.), em que uns vencem na propaganda e na mentira; outros, vão transformando, irremediavelmente, a substância, todos os dias, percorrendo novos passos, no sentido de uma mudança, cuja invisibilidade não poderá ser mantida, por muito mais tempo.

Enquanto uns falam de guerra fria, contenção deste e daquele país, derrota daquele e do outro, embargo do próximo, bloqueio de mais um e “pacotes” de sanções, atiradas contra as “autocracias”, normalizando a violência … Outros, os “autocratas”, tentam contruir um mundo onde todos caibam, aproximando as partes mais imprevisíveis, ultrapassando o centenário e bem ocidental esquema do dividir para reinar, normalizando o diálogo.

Claro que, para o comum dos cidadãos europeus, não cabe na cabeça que, outros países que não os “seus” (mas nos quais não mandam), possam estar a construir um mundo diferente, mais livre, porque mais soberano, mais inclusivo, porque baseado na igualdade e potencialmente mais democrático, porque constituído por países livres para fazerem as suas escolhas.

Afinal, o complexo de superioridade, lavrado ao longo de centenas de anos, é de tal forma profundo – enraizado nas velhinhas cruzadas -, que é impensável que qualquer problema, por mais remoto que seja o local, não seja causado por outros e não tenha de ser resolvido por estes. Só que, o mundo funciona ao contrário!

Daí que, nos dias que correm, pela importância do facto e se jornalismo houvesse, no nosso éter comunicacional, estar-se-ia, não apenas a noticiar, como a celebrar, a aproximação entre o Irão e a Arábia Saudita – ver aqui -,  promovida… pela China! E veremos como ficará a guerra do Iémen, patrocinada e fomentada pelos EUA contra o Irão.

Há uns meses escrevi que o fio condutor da China aproximava os países, entre os quais estes dois – ver aqui -, uma vez que, o Irão entrou na Organização de Cooperação de Xangai, quer entrar nos BRIC+, tal como a Arábia Saudita, e, ambos, estão envolvidos na BRI. Os negócios potenciais com a China são de tal forma vantajosos que, não deixariam de constituir um importante vector de aproximação. E com esta aproximação, conseguida após 4 dias de conversações, resolvem-se grande parte dos problemas no Médio Oriente, para desagrado dos promotores do dividir para reinar.

Dizer que, já a federação russa havia aproximado Turquia, Irão e Síria, também é importante, pois ajuda a demonstrar que os que são apresentados como agressores, afinal têm funcionado como agentes de conciliação de interesses, fugindo aos jogos da chantagem e opressão utilizados pelo Ocidente, segundo os quais, para alguém ganhar, um tem de perder. Foi sempre assim em tudo.

É a guerra na Ucrânia que só acaba com a “derrota total da Rússia”; só há acordo com o Irão se este prescindir do seu programa de mísseis; só há acordo na Síria se Assad sair; só acaba o bloqueio a Cuba se a revolução socialista acabar; só se retiram as sanções à Venezuela se a revolução bolivariana acabar; só retiramos a pressão sobre a China se o Partido Comunista for desmantelado… E por aí fora, num desfile interminável de exigências que só acaba com a submissão mais absoluta, bem acompanhada dos ministros, corporações, 0NG’s, comunicação social e organizações ocidentais, as quais visam garantir que aquele país nunca mais se levanta pelos seus pés. Tudo isto devidamente disfarçado de “democracia” e “liberdade”.

Entretanto, John Kirby não podia dar um sorriso mais amarelo, quando se referiu a esta aproximação das partes, dizendo que “tudo o que possa servir a paz na região…” Só que… Isto vem de quem, há uns anos, tinha como projecto de paz, para o médio oriente, a tomada de sete países muçulmanos em cinco anos – ver aqui. Tudo para a anular o antagonismo à única ameaça de paz na região, que se chama: entidade sionista do apartheid Israelita.

Mas o sorriso amarelo de Kirby tinha, ainda, outro motivo: a afirmação da China como agente liderante das relações internacionais, pela via da paz e da diplomacia, ao invés da auto-apregoada “guerra fria” ocidental. Eu pergunto-me sobre quantas doses de soporífero mediático são necessárias para um espectador ocidental considerar aceitáveis termos como “conter a China”, “bloquear o acesso da China ao Pacífico”, “guerra comercial à China”, “derrotar no campo de batalha” … Tudo linguagem belicista em relação a países que não atacaram nenhum país ocidental.

E se o soporífero funciona por cá, lá por fora já está tudo bem acordado. Este mundo alternativo que começa a surgir, e que deixa o Ocidente cada vez mais enfraquecido e isolado – entretanto entrado em autofagia -, olha para os EUA, não como líderes do que quer que seja, mas como o que realmente são, uma entidade opressora.

Mas, se na aparência da comunicação social dominante e entre os funcionários políticos arregimentados, a liderança mundial dos EUA e da sua “ordem baseada em regras”, constitui um facto incontestável; lá, onde as decisões tomadas, já não é bem assim! Afinal, o relatório anual de inteligência dos EUA já assume muitas destas realidades (ver aqui), o que não deixará de fazer com que muitos entrem em estado de pânico.

Este estado de pânico é semelhante ao que sucede quando um puto mimado ouve a palavra “não”! Primeiro entra em histeria, depois em pânico, por fim, em hiperventilação. Nessa altura desata a disparar para todo o lado, com “revoluções coloridas”, dez pacotes de sanções, abertura de dependências de ONG’s da CIA e frentes de guerra por encomenda.

Passada a fase do pânico, mas mantendo a histeria, estes adolescentes mimados iniciam um processo de açambarcamento, traduzido em ciclos de acumulação que visam pilhar internamente o que ainda há a pilhar. Eis o que nos está a acontecer agora, primeiro com o “subprime”, depois a dívida soberana, o Covid, a guerra, a “guerra fria” e agora um “subprime” tecnológico, em que o dinheiro é tão virtual como no primeiro. Uma dolorosa autofagia.

Alguma coisa os outros hão-de estar a fazer bem, comportando-se como adultos. Conversando em vez do bullying, comerciando em vez da pilhagem. É uma espécie de aplicação harmónica do Yin e do Yang à sociedade das nações não beligerantes, tornando-se, talvez, a base do que serão as nações unidas do futuro. Sem conselhos de segurança com uns que são mais iguais que outros.

É interessante observar que a opressão, imposta pelos EUA e suas dependências às restantes nações, produz uma realidade tão difícil e contraditória, capaz de forjar os melhores quadros políticos de que o mundo hoje usufrui. Ao invés, a realidade normalizada, estereotipada, em que vive a população ocidental, com os seus filtros e máscaras, em relação aos antagonismos – cada vez mais profundos -, tem produzido os mais tristes, irresponsáveis e incompetentes quadros de que há memória. Julgo que desta armadilha qualitativa, deste sistema de pilhagem já não sairá. Quem tem qualidade não governa, nem pode governar; quem pode governar, não governa, porque não tem qualidade. Resta o seguidismo, a cópia e a mimetização dos seus fúteis ídolos corporativos.

E para os que acusam os outros, de serem – ou quererem ser – Impérios… Eu deixo a questão: quantos países foram embargados, invadidos, sancionados, chantageados, ingeridos ou “revolucionados” por não aceitarem as propostas negociais em causa? Quantos foram obrigados, à revelia da sua vontade, a entrarem neste processo transformador?

Por que razão, a maioria das nações mundiais tende a querer negociar, com uns, e, a fugir dos outros? Burrice? Medo? Cobardia? Seguidismo? Sabujice? Ganância? Futilidade?

O que nos escondem, nas sociedades da “democracia” e dos “direitos humanos”, já para os outros se tornou evidente, há muito. Os EUA, e suas dependências ocidentais, já não podem “falar grosso” com ninguém! Os povos mundiais estão a perder o medo, e ai de quem oprime quando os povos perdem o medo!

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Os mapas não mentem!

(Hugo Dionísio, in Facebook, 10/03/2023)

A Geórgia encontra-se a braços com a tentativa de mais uma revolução “colorida”. Pelas ruas de Tiflis (Tbilissi) vagueiam as bandeiras da UE e da Ucrânia, às mãos de manifestantes, os quais pertencem aquela elite paga com os dinheiros do Ocidente, seja através de projectos da UE, ONGs da CIA e do MI6 ou das omnipresentes multinacionais.

No início da “operação militar especial”, as pressões dos EUA sobre o governo georgiano, com vista à abertura de um segunda frente na guerra, foram de tal modo sentidas que um dos seus governantes sentiu a necessidade de o tornar público, dizendo que “se atacarmos a Rússia deixará de haver Geórgia, portanto, não vemos o sentido desse ataque”. Pois, eles não viram, mas houve quem visse. Principalmente quem queria continuar a materializar no terreno a estratégia delineada pela RAND designada de “Stretching Rússia”, e que assenta no desenvolvimento de uma profusão de conflitos ao longo da fronteira do maior país do mundo, de forma a exaurí-lo de recursos e fazê-lo cair, partindo-se em 23 pequenas e – manipuláveis – nações.

Sentindo cada vez mais a ameaça vinda da CIA, o governo georgiano decidiu agir sobre a raiz do problema, ou seja, tentando controlar a porta de entrada dos agentes da CIA no país, constituída pela enorme rede de ONGs da USAID (agora reabilitada na Hungria), NED ou Freedom House. Tratam-se de ONGs para todos os gostos, da “democracia” à liberdade, passando pelo “combate à corrupção” ou pela “Igualdade pan-sexual”. Tudo muito humanista, mas apenas com um só sentido: alimentar nacionalmente uma rede de milhares de agentes, pagos pelo ocidente, que se infiltrem nas instituições do país, submetendo-o à vontade ocidental. Uma suportadas directamente pelos EUA; outras por colónias como Alemanha, França, Inglaterra ou Holanda.

O dinheiro nunca falta para dobrar nações à sua vontade, normalmente fazendo-as entrar em constrição, voltando as respectivas sociedades contra si próprias. Foi assim que na Ucrânia, povos irmãos, desataram a perseguir os falantes de russo, os ortodoxos, comunistas, sindicalistas e outros. É assim que, na Moldávia se prendem, perseguem e ostracizam os moldavos simpatizantes com a cultura russa, ou nos pigmeus bálticos se exaltam nazis, segregando centenas de milhares de cidadãos russos que lá ficaram do tempo da URSS, proibindo-os de votar, falar a sua língua… Tudo muito democrático e livre.

O que fez então o governo georgiano que tanto feriu os interesses do “povo” pró-NATO e que tanto fere os “valores” da democracia e liberdade, nas palavras dos suspeitos do costume? Bem… Fez-se o que se faz nos EUA e na UE para impedir que os “inimigos” abram aqui as suas agências de desestabilização. O Parlamento georgiano fez aprovar, democraticamente, uma lei que classifica como “agentes estrangeiros” as ONGs que recebam – do estrangeiro – um montante superior a 20% dos seus proventos.

O que é que isto tem de mal? Nada! É o mesmo que se faz por cá. Já pensaram no controlo que, na UE, se faz do financiamento das IPSS, das Associações ou cooperativas? Nos EUA e UE pratica-se a transparência, como forma de prevenir semelhantes actuações – veja-se como se perseguiu as associações dirigidas por russos -, nos países alvo apregoa-se o obscurantismo, a corrupção e a promiscuidade. É a imagem de marca do ocidente colectivo: apregoa-se o que dá jeito.

Mas o que isto tem de revoltante tem também de esperançoso. Afinal, são já vários os países, à volta da China, da Rússia e do Irão, que governados por defensores da sua soberania, se negam a deixar o seu povo servir de joguete e carne para canhão, regulando as fontes de financiamento das ONGs nacionais. A Malásia viu-se a braços, igualmente, com uma coisa do mesmo tipo, a qual, felizmente, fracassou.

Agora, vejam o poder de manipulação que estas organizações possuem: conseguem mobilizar dezenas de milhares de manifestantes, autênticos soldados de malfeitores, que queimam, partem e matam, se necessário for, promovendo uma revolta, não por causa da corrupção, dos salários ou da habitação: mas, por causa da transparência no financiamento das associações não governamentais!

Para se perceber o papel deste exército “soft”, é bom olhar para o mapa que junto. Quem é que, no seu juízo perfeito, olhando para este mapa, consegue dizer que é a federação russa que está ao ataque e a NATO é que se está a defender? Veja-se bem: cercada a ocidente pela Finlândia, Estónia, Letónia e Lituânia, o que falta para a NATO cercar todo o país e, assim, conseguir torna-lo numa espécie de buraco negro?

Na Bielorússia (a vermelho) tentou-se uma revolução colorida, reprimida pelas forças do tratado de segurança colectiva, e aprovando-se leis que restringem a actividade das ONGs ocidentais, classificando-as de “agentes estrangeiros”. Claro, de “ditador” para cima, Lukashenko foi culpado por defender o seu país da ameaça de se tornar uma frente de batalha, tal como Hitler o havia feito. Lukashenko é ditador por não querer que o seu país fosse uma Ucrânia.

A Ucrânia (a vermelho), já sabemos. É um país cujo regime traiu o seu povo e aceitou fazer de exército contratado, cumprindo os intentos de Washington, na compleição do cerco à Rússia. A Rússia tem demasiadas armas, gente, importância e recursos naturais, para ser deixada actuar livremente, especialmente se aliada à China.

A Crimeia (ver círculo), que em 2014 esteve às portas de se tornar uma base da NATO, caso o tivessem conseguido, impediriam o acesso militar da federação russa ao Mar Negro e a qualquer porto de águas quentes. Daí a importância desta península.

A Georgia, a azul, tendo um governo pró UE, mas não russofóbico, está a braços com uma revolução colorida. Dado o seu tamanho e a dimensão do exército, a cair na esparrela montada pela CIA, deixará de existir. Uma vez mais, um governo é atacado pelo Ocidente por defender o seu povo, o seu território e a sua soberania.

O Azerbaijão, a verde, é outro que está em banho maria. Salva-o ter muitos hidrocarbonetos e poder, de alguma forma, “comprar” uma certa neutralidade. Mas, com o agudizar dos problemas da NATO no preenchimento do cerco… A ver vamos.

Já o Cazaquistão, esteve também a braços com uma revolução colorida, tal como na Bielorrússia, salvo pelas forças do Tratado de Segurança Colectiva – uma espécie de NATO da Federação Russa, mas efectivamente defensiva. No Cazaquistão, para além da regulamentação das ONGs, também se procedeu ao encarceramento de milícias para-militares apoiadas pela CIA e Turquia, tendo-se desmantelado também um conjunto de laboratórios biomilitares secretos, daqueles que são proibidos, mas que os EUA têm instalados à volta da RPC e FR.

Agora, faça-se um pequeno esforço de nos colocarmos na pele de um cidadão russo informado, que tem orgulho da sua pátria e da história, que conhece as ameaças e que, ao contrário de muitos europeus, não está preparado para prescindir da soberania do seu país, entregando-a nas mãos da Wall Street. Este cidadão, normalmente, de escolaridade elevada – uma coisa comum por lá –, na escola ou universidade, olha para um mapa destes e pensará que o seu país é agressor e encontra-se em fase de expansão “imperial”? É isto que ele vê no mapa?

Ou será que vê antes um cerco a ser construído à volta do seu país e, olhando para os anos 90 e o que aconteceu à URSS, tende a pensar que os EUA querem isolar, submeter e destruir o seu país. E pensando isto, como será que fica este cidadão? Contente? Será que fica optimista com a perspectiva de ver a sua pátria cercada, isolada e destruída?

Ah! Mas se se submetesse… Não, se se submetesse, acontecia-lhe o mesmo que aconteceu à URSS quando Gorby e o presidente com mais álcool no sangue da história mundial – Ieltsin – o fizeram: o país colapsou, partiu-se e entrou em profunda crise, tal como os que se apartaram.

Depois, este mesmo cidadão, olha para a UE, a qual, dominada pelos EUA, se suicida de forma agradável e quase sem resistência popular; olha para o Reino Unido, o qual já é o país ocidental com mais crianças com fome, e os seus serviços secretos chegam ao descalabro de anunciar um relatório a que diz: “soldados russos recém mobilizados, por falta de munições, combatem com pás”, numa espécie de eterno retorno da união operário camponesa, mas desta feita, sem foice e martelo, mas com pás… Depois, os EUA rebentam com o Nord Stream mas colocam a culpa nos ucranianos. E olhando para isto, para esta degradação desenfreada, o que pensa?

O mapa não mente!

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Traidores vivos e heróis mortos!

(Hugo Dionísio, in Facebook, 08/03/2023)

Depois das revelações de Seymour Hesh – ver aqui -, a propósito da autoria da operação de destruição do Nord Stream, muita informação tem corrido debaixo das pontes. Não que a comunicação social corporativa, subserviente a Washington, tenha tido a veleidade de dar a atenção que o assunto poderia suscitar, nada disso. A prova, contudo, de que Hersh está no caminho certo e sabe do que fala, é-nos oferecida, hoje, de bandeja, pelo New York Times – ver aqui -, jornal que podemos classificar como sendo o verdadeiro órgão de comunicação central ao serviço do Comité Nacional do Partido Democrata (NDC).

As revelações de Hersh, apontando com minucia toda a operação, referindo as discussões havidas na cúpula do poder dos EUA, não deixaram de gerar mau ambiente entre os “parceiros” e “aliados”, nomeadamente, entre a Alemanha – vítima do acto de guerra e terrorismo industrial -, e os EUA. Não me refiro, claro, a Scholz ou Baerbock. O primeiro é marionete e a segunda é missionária evangelizadora da lavagem verde americana. Refiro-me a gente das forças armadas ou da indústria, muitos com espinha dorsal suficiente para fazer sentir o seu desconforto junto dos enviados da Casa Branca.

Numa operação que faz transparecer – para quem o quiser ver – a forma como funciona, hoje, o jornalismo, que passou de “investigativo” a “justificativo”, o NYT publica uma peça que visa sacudir a água do capote americano, apontando a autoria a um grupo “pró-ucraniano” de identidade convenientemente não divulgada. O próprio artigo é o exemplo concreto da inocuidade jornalística face ao poder instituído: milhares de caracteres justificativos de uma versão que não aponta um nome, um método, uma fonte de financiamento ou de logística. Nada vezes nada. São duas páginas de discurso redundante, inócuo, especulativo e genérico. Um exemplo concreto do “jornalismo de qualidade” quando se trata de criticar, denunciar, apontar ou responsabilizar o poder vigente. Pegar nisto ou num qualquer jornal do fascismo, tem o mesmo resultado: desinformação absoluta.

Os “jornalistas” do NYT referem que uns tais U.S. Officials, que nunca diz quem são, baseando-se num novo relatório da Inteligência, que também não dizem qual é, sugerem que um grupo “pro-ucraniano”, que também não identificam – e que ficamos sem saber se são ucranianos, indonésios ou guatemaltecos -, terá sabotado, sem nunca dizer como, o gasoduto. A explicação mais óbvia – o NYT não a dá -, reside no facto de este grupo ser da CIA e, por aí, se faz a ligação a todo o processo desvendado por Hersh.

Vejam bem: não basta fazerem-nos acreditar que os russos seriam capazes de bombardear uma central nuclear que têm na sua posse; que os russos sabotaram um gasoduto que era seu e lhes rendia muito dinheiro; ainda nos querem fazer acreditar que um qualquer grupo “pró-ucraniano” teve o poder, a mestria, os fundos, a ciência e a capacidade de instalar toneladas de dinamite no fundo do mar, usando sofisticadíssimos meios e tudo isto ocorrendo numa região extremamente vigiada pela NATO e pela própria Rússia! É obra! Isto representa todo um novo nível de efabulação.

E porquê, um novo nível? Porque, até aqui, arranjavam versões inverosímeis, mas fornecendo culpados, bodes expiatórios e detalhes enviesados, como sucedeu na aldrabice hollywoodesca de Bucha, nas valas comuns de Kupyansk ou no voo MH17. Neste momento, sentem-se tão à vontade, que até fornecem versões sem culpados, sem detalhes e sem qualquer substância que possa apontar numa qualquer direcção. Ler esta comunicação social, é como levarmos porrada sem conseguirmos, sequer, identificar de onde veio. A isto chamam transparência, credibilidade e fact-checking. Claro, se não derem factos, acertam sempre!

Mas o resultado e função imediata deste tipo de jornalismo “justificativo”, bem veiculado através de infindáveis “bots” nas redes sociais, também ao dispor dos mesmos poderes, está bem materializado na ilusão com que o comum dos mortais olha para a realidade – por mais contraditória – que o circunda.

Uma blogger ucraniana, no The Guardian – ver aqui  -, questionou a União Europeia: A União Europeia quer os ucranianos como parceiros vivos ou como heróis mortos?

Sendo difícil de acreditar, ao dia de hoje, que ainda haja quem pense que esta guerra não foi cuidadosamente planeada, preparada e provocada, poderíamos apontar, entre muitos outros documentos, um vídeo de 2016, onde os senadores Lindsey Graham e John MCcain discursaram perante Petro Poroshenko e militares ucranianos – o primeiro-ministro oligarca saído do golpe fascista de 2014 -, prometendo uma vitória “rápida” sobre a federação russa. Ora, se a Rússia, à data, não estava em guerra com a Ucrânia – ver aqui  -, … 2+2…

Assim, a resposta correcta, a dar à “articulista” do Guardian, é que, a UE, em especial, não quer saber se os “heróis” estarão mortos ou vivos. Primeiro não compete à UE sabê-lo. Como disse certa vez Joe Biden a Scott Ritter, no Senado, por causa das armas de destruição em massa que este último nunca encontrou e, por isso mesmo, considerando que a guerra seria um erro: “It’s above your pay grade.” (está acima do teu nível de decisão).

Se à UE não compete saber ou definir se os ucranianos terão de estar mortos, ou vivos, para que a parceria avance, já para os EUA, aqueles que decidem realmente estas coisas, arrisco-me a dizer que preferem os “heróis mortos”. Um “herói morto” não chateia, não se revolta, não critica e pode ser usado como instrumento de propaganda. Todos os objectivos determinados para a Ucrânia contam com uma proporcional parcela de vivos e mortos, em quantidades calculadas para a sua prossecução.

Já a pergunta, em si, demonstra toda a ilusão vendida. Quanto mais informação surge que prova a minuciosa preparação do conflito e a “mão invisível” dos EUA por detrás do mesmo, mais sectários são os posicionamentos de quem, à falta de argumentos e com receio de ver cair o edifício de mentiras sobre o qual construiu o seu posicionamento, opta por uma abordagem “futebolística”: eu estou deste lado, tu estás daquele, e não vale a pena conversar.

Mas a ilusão sobre as “boas intenções” do diabo ocidental, não são exclusivas do malogrado país construído a régua e esquadro.  De acordo com informação veiculada recentemente e desclassificada ao abrigo do “Freedoom of Information Act” – ver aqui  -, as inúmeras mensagens (cables) trocadas entre as embaixadas dos EUA e da Rússia, bem como entre Ieltsin e o staff de Bush Sr., demonstram que os governantes russos acreditavam piamente nas “boas” intenções, ao ponto de proporem acabar – como aconteceu de facto – com todos os mísseis balísticos que tivessem MIRV (um míssil poder atingir vários alvos), e propondo um tratado que apenas incidia sobre os silos terrestres, deixando de fora os dos submarinos, onde os EUA tinham ampla vantagem. Ieltsin acreditava mesmo – ou pelo menos dava-o a entender – que os EUA iam investir na economia russa e ajudar o país a recuperar.

Mas se a ilusão – não confundir com sonho – constitui uma das mais importantes armas das elites americanas, para a qual contam com poderosíssimos órgãos de comunicação e propagação de mensagens, capazes de criar realidades tão alternativas como a que os apresenta como defensores do mundo livre e da democracia, é também justo dizer que, se os russos caíram na esparrela, no final do século passado, se os ucranianos caem nela, especialmente, a partir do início deste século… Já os europeus ocidentais, devem pertencer a uma raça especial….

Afinal, colonizados de facto desde o Plano Marshal, o qual, a troco de dinheiro para a reconstrução, impôs uma série de condicionalidades que visaram – e conseguiram – fomentar uma lógica governativa liberal pró-americana; alvo de instalação de uma série de bases militares e de políticas diversas de condicionamento económico, industrial e militar, aplicadas sob a capa do “livre comércio” e “livre concorrência”… Ainda hoje, a esmagadora maioria dos povos europeus estão convencidos das “boas intenções” do diabo americano. Mesmo que, tais “boas intenções” se repercutam numa Europa cada vez mais insignificante no mundo, mergulhada numa profunda crise económica e cujos Estados-membros foram desprovidos de qualquer resquício de soberania.

Se uma parte importante do povo, na sua ingenuidade, impreparação e vítima da ferocíssima máquina manipuladora, insiste em não se libertar da caverna e olhar para o mundo com os seus próprios olhos, o mesmo não se pode dizer de quem está de fora. Já há bastante tempo que os países do Sul Global perceberam quem manda de facto na UE. Vejam-se as imagens de Baerbock – Ministra dos Negócios Estrangeiros da Alemanha – a chegar à India e a ser recebida apenas por três pessoas – ver aqui -, nenhuma do governo indiano. Teve direito ao oficial militar de serviço no aeroporto, ao assistente de bordo e ao embaixador alemão em Nova Deli. A India já não está para fazer fretes e participar em fantochadas…

Aliás, esta postura “missionária”, típica do funcionário corporate, sedento de agradar aos administradores de uma qualquer empresa, é bem visível na postura de Úrsula. Dorme no gabinete e trabalha de dia e de noite. Nada decide, só executa… Mas há que levar as ordens a sério! Afinal, a sua vida toda dependeu de fazer o que o chefe manda.

Assim, parece-me que, no final, não será só a Ucrânia que fornecerá os seus “heróis mortos”. A própria Europa, à beira da hecatombe económica de vítima de um cuidadosamente planeado suicídio, arrastada para uma guerra em nome de uma ilusão criada junto dos povos, que apresenta União Europeia e os EUA como parceiros ao mesmo nível, também acabará por ter a sua quota de “heróis mortos” para fazer parceria com a Ucrânia.

Com a inflação a subir – na Inglaterra os alimentos subiram 20% -, o número de insolvências a subir em flecha em todos os sectores – que “satisfação” ver o Eurostat apresentar o gráfico adornado com uma bandeira Ucraniana – (ver aqui), é razão para perguntarmos quanto tempo ainda durará a ilusão! Agora adicionem ao drama energético, um drama de carência dos mais básicos produtos do dia-a-dia, em preparação avançada pelos EUA, a pretexto da necessidade de sancionar a China, por esta fazer, supostamente, o que os EUA fazem quando lhes apetece: mandar armas para onde lhes interessa!

Dizendo o embaixador americano para a China que “nós é que somos os líderes do Indo-pacífico”, numa espécie de “a minha **** é maior do que a tua”, não deixa de ser curioso ver que a China “autocrática” vai crescer já 5,5% em 2023 e a actividade industrial atingiu máximos desde 2012. É razão para perguntar, que raio de tirania é aquela que apresenta níveis de dinamismo económico de fazer corar de vergonha um Ocidente que anda, há 100 anos, a propagar a teoria – e para azar nosso, a prática – de que só existe dinamismo económico com a sua versão de “democracia”.

Algo não bate certo aqui… E ter 5000 anos de história vale de muito nestas coisas das ilusões. Já por aqui, na era da infantilidade política, como no caso russo dos anos 90, no ucraniano de agora, também, na Europa, não serão os traidores como Ieltsin, Zelinsky ou Úrsula que figurarão entre os “heróis mortos” … Adivinhem quem serão? Os nossos filhos!

“Louve-se” a comunicação social do fact-checking que está cá para nos iludir do contrário e de que os culpados são os outros que se defendem, como nós o deveríamos fazer!

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