O parasita da autodestruição

(Hugo Dionísio, in Facebook, 03/07/2023)

A história do “país 404” – este “404” roubei-o a Andrey Martyanov – é uma história de sucesso. A situação absolutamente trágica em que se encontra este país e o seu povo, arrastado para a morte todos os dias, aos milhares, em nome dos interesses alheios, obscuros, xenófobos e corruptos que o dominam, constituirá, no futuro, um estudo de caso sobre “métodos de contágio dos povos por doenças que os fazem operar contra os seus próprios interesses”.

Não que este país seja o único a “beneficiar” de tal intervenção. É apenas um de uma longa lista de países destruídos e autodestruídos por ação imperial. Contudo, neste caso, estamos perante uma operação de falsificação histórica de proporções monumentais. A história deste país é a história da expansão de um parasita social, que se expande de oeste para o centro, auxiliado por uma mão invisível, que cria as condições para que essa infecção se espalhe com a maior intensidade e velocidade possíveis.

Para se afastar qualquer dúvida sobre a minha visão do país “404”. A imagem que guardo deste país é constituída pelos seguintes vectores: No tempo da URSS este país era uma – senão a mais dinâmica das repúblicas, uma pujante economia (a 10ª à escala europeia); do ponto de vista social era um país diverso, avançado nos costumes e nas artes, cheio de talento no desporto (os melhores futebolistas da URSS vinham de lá) e dava guarida a algumas das mentes mais brilhantes e criativas da ida superpotência. Mesmo depois de 1991, com todas as dificuldades, este país conseguiu manter uma parte importante da estrutura industrial, militar, científica, académica e pública herdada. Um povo inteligente, criativo, combativo e lutador.

Dizem as rezas neoliberais, sociais-democratas e reaccionárias, que o povo do país “404” odeia o “comunismo”, pois foi por ele atacado na sua alma, identidade e corpo. O “Holodomor” teria deixado marcas indeléveis na alma deste povo que o fazia querer revoltar-se contra o “comunismo” e, já agora e muito convenientemente, contra o seu irmão maior, seja ele “comunista” ou já capitalista. Um ódio “visceral” a tal ponto que os levou a embarcar nos ideais nazis de Bandera, o que nem fazia mal, porque do outro lado está o “comunismo”, que tão mal lhes fez. Este é o filme criado nas mentes ocidentais. Não é o filme verdadeiro, não é o filme histórico. É o filme da propaganda inspirada em Goebbels, construído por quem deu emprego a muitos dos seus seguidores, acabada que estava a Segunda Guerra Mundial.

Para o desmascarar, mais não é necessário do que aceder aos estudos do ucraniano de seu nome Dr. Vasylchenko, (ver aqui), cujos trabalhos foram publicados pela Comissão Eleitoral Ucraniana, (ver aqui), no período em que o seu site estava em construção (até à semana passada). Embora o historial eleitoral feito, quer por Vasylshenko (em russo, veja-se bem), especialista em “geografia eleitoral”, quer pela Comissão Eleitoral, apenas remontem até às legislativas de 1998, é possível extrair de um dos textos esta ideia: “Desde o final da República Socialista Soviética da Ucrânia até 1998 (onde começa o histórico), as eleições foram sempre dominadas pelo Partido Comunista da Ucrânia”. O mais conhecido presidente, até à “revolução Laranja” foi Leonid Kuchma, que presidiu o país entre 1994 e 2005.

Sem branquear os erros que possam ter sido cometidos por Kuchma e pelo PCU neste período, embora todos saibamos quem tem por costume acusar líderes inconvenientes de corrupção e como acabam essas acusações, a verdade é que ainda em 2002 (já depois da reforma eleitoral imposta pelos EUA e aliados), o PCU continuava – em queda – a ser o mais votado da Verkhovna Rhada, com 100 deputados e liderando o Governo e controlando a presidência. A diferença de 1998 para 2002 é que o “Movimento Popular da Ucrânia” ou o bloco “a nossa Ucrânia” (partidos populistas de direita nacionalista), conseguiu aumentar a votação em Kiev e arredores, destronando o PCU para Odessa, Donbass e Kahrkov, e tudo no meio dominando quer pelo PCU (Kherson, Odessa, Dnipropetrovsk) ou pelo Partido Socialista da Ucrânia. Em 1998, o Movimento Popular da Ucrânia apenas ganhava na Galícia.

Conclusão: o povo Ucraniano odiava tanto o “comunismo” que elegeu sempre os seus quadros políticos até 2002, e não só. Ainda em 2014, a Região de Odessa era governada pelo PCU. Era este o ódio que o povo Ucraniano tinha ao “comunismo”. E porque não elegia o PCU na região da Galícia? É aqui que a treta do Holodomor cumpriu o seu papel. A 5ª e última grande fome que o Império russo e a URSS sofreram em 30 anos, foi revista pelos EUA como uma “fome provocada para punir a Ucrânia”. Nunca explicaram onde estão as provas dessa intenção, nem porque razão só no século XX tenham ocorrido outras 4 fomes do mesmo tipo, ou porque razão morreram tantos russos e bielorussos como morreram ucranianos. Mas foi na região menos ucraniana, mais vulnerável, portanto, à propaganda russófoba e xenófoba fabricada por impérios que sempre quiseram pilhar os recursos naturais russos, que a aldrabice mais pegou. O resto, foi uma questão de tempo.

A Galícia, região mais a oeste da Ucrânia e considerada hoje o berço do nacionalismo ucraniano é a única que nunca foi ucraniana. Afinal, Ucrânia era o nome a que os russos, o Império Russo, davam à região fronteiriça entre o Império Otomano, o Austro-húngaro, a Comunidade Polaco Lituana, e o Húngaro. De todas as partes que hoje compõem a Ucrânia, a Galícia é a única que nunca foi ucraniana, portanto, ou seja, do Império russo que batizou a região. A Galícia foi sempre Polaco-lituana, Húngara ou Austro-Húngara, apenas se tornando Ucraniana entre 1939 e 1945. Ou seja, foram os “comunistas” que tornaram a Galícia ucraniana. Querem “descomunizar” a Ucrânia? Então devolvam a Galícia à Polónia, a Crimeia à Turquia e do Donbass até à Transnístria à Rússia, incluindo Kharkov. Entre 1654 e 1917 apenas a região de Kiev e toda a região de fronteira com a Bielorrússia era considerada Ucrânia. Mas a Ucrânia não era sequer uma província, era uma região russa. Daí que, querem “descomunizar” a Ucrânia? Acabem, com ela, porque quem criou o país, como país autónomo foi Lenine e os bolcheviques.

Mas voltando ao parasita. Começando como um pequeno movimento na Galícia, logo o Partido nacionalista, que foi assumindo vários nomes acabou por dominar toda a Ucrânia com excepção do Donbass, que em 2018 já não votava. O PCU foi perdendo influência, dando espaço à reacção, que descamba na Revolução Laranja e na vitória de Yushenko. Nesta altura o país já estava dividido em dois, o movimento nacionalista ocidental e o partido das regiões que tinha absorvido o eleitorado do PCU e o PSU.

O Partido das Regiões de Yanukovich que se propunha a “defender os interesses dos russos na Ucrânia”, volta a ganhar as eleições legislativas a partir de 2008 (4 anos após a Revolução Laranja), o que prova o imenso ódio aos russos que os ucranianos tinham e as presidenciais em 2010. Em 2014 dá-se o EuroMaidan, cuja instabilização já vinha de 2012. Em 2014, já com o partido das regiões destruído e desmobilizado e sem a força do PCU e PSU, foi fácil a Poroshenko voltar a ganhar. Zelinsky, que agora diz não ir fazer eleições tão cedo (para quê?), ganhou com o país já refém apenas de partidos de direita e extrema-direita.

Assim, a história recente do tornado país “404” (designação de página vazia ou buraco na Internet), é a história de um parasita pró-ocidental, reaccionário que implanta uma farsa nacionalista, baseada em Bandera, que combatia pelos nazis. E a farsa é tão grande que, nem a Galícia algum dia foi ucraniana até Estaline derrotar o nazismo, nem Bandera se sentia ucraniano, pois, afinal, matou muitos e muitos. E matou-os porque era russófobo, tal como os seus seguidores de hoje.

A história da Ucrânia é a vitória do parasita fascista sobre as forças democráticas. Mais uma vez, os EUA implantaram o fascismo para dominar um território.

E como foi possível a infecção? Bem, existem várias fases. Kuchma, cedendo às pressões pró-ocidentais vindas do Oeste, acabou a aproximar-se das instituições internacionais ocidentais, que logo fizeram exigências eleitorais e outras. Com a sua saída de cena e com a “Revolução Laranja” da CIA, é o próprio sistema de educação que começa a sofrer mudanças que foram integrando nos programas um manancial de informação anti russa. A xenofobia começa a ganhar força e é desse processo que surge a resposta russófona, o partido das regiões. Ou seja, a história deste parasita é também a história da divisão étnica e consequente purificação.

Perante esta história ninguém se pode admirar da criação das repúblicas populares no Donbass. Uma parte da população deixou de acreditar no estado sob o qual existiam. E esta desconfiança é o resultado de um processo de luta entre duas forças opostas, uma implantada a partir de oeste, que se vai estendendo e com o dinheiro da CIA e das ONG’s ocidentais, vai ganhando força e condições de disputar o poder com as forças políticas tradicionais. Os jovens, como se vê pela matança em nome do Tio Sam, são os mais infectados, pois são os que menos conhecem a história. E entre 2004 e 2014, a história eleitoral é um “tu cá – tu lá” até à erradicação, pela força e pela repressão, de uma das partes do país, concretamente, a russófona, órfã de uma intervenção russa que competisse com a aposta ocidental. Vladimir Putin a tudo isto assistiu até ser tarde de mais para remediar o que quer que fosse. Não foi por falta de aviso do povo russo e do PCFR.

E porque razão, apenas em 2004, se faz a Revolução Laranja? Primeiro, porque as condições não estavam reunidas, uma vez que a força do PCU era, ainda, muito grande. Com excepção da nunca ucraniana Galícia. É de facto uma farsa enorme um país ter como berço ideológico uma região que nunca foi desse território. Uma peça de engenharia social excepcional.

Afinal, entre 1991 e 1999 os EUA e a UE consideravam que tinham a Rússia nas mãos. O aparelho de estado estava em processo pilhagem compulsivo e a CIA tinha assessores nos gabinetes ministeriais. Com a entrada de Putin, os EUA não demoraram a perder a esperança no controlo directo e é aí que tiram a carta “404” do bolso. Já que não conseguimos destruir a Rússia por dentro, vamos seguir a teoria de Brezinsky, ou seja, a de que o controlo da Ucrânia é a chave para o controlo do continente Euroasiático. Instabilizando a Ucrânia, instabiliza-se a Rússia, esta entra em colapso e cai às nossas mãos.

O facto é que o osso é tão duro de roer como quantas as vezes o Ocidente tentou tomar o país. Desde o século XII, todos os séculos e alguns duas vezes. Ou seja, quem paga é o povo ucraniano, porque, hoje, os EUA são tão cobardes e torpes que usam outros povos para fazerem as suas lutas. Daí que a contra-ofensiva esteja a ser mais um genocídio brutal, mas os EUA, a Zaluzny, apenas responderam: “já sabíamos que ia ser assim”, “mas é para continuar”. Pois, não são os filhos deles, e até ao último ucraniano ainda faltam uns quantos.

É este tipo de gente que o rebanho apoia! Este tipo de parasitas! Parasitas capazes de colocarem sociedades inteiras num processo de autodestruição. E ainda lhe chamam “democracia”!

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933% Mais Estúpidos

(Hugo Dionísio, in Facebook, 19/06/2023)

Os EUA entraram naquela vertigem muito característica dos maus vendedores. Quanto maior a queda nas vendas… Maior o preço que cobram.

Se a estagnação económica, o retrocesso social e a erosão do sistema político ocidental, que observamos ao longo do século XXI, aconselhariam a uma inversão nas políticas internas e externas, direccionando-as para os interesses dos povos e não de ultraminoritárias elites; o que temos constatado é precisamente o inverso: não funciona? Carrega com força. Dá-lhe com mais 933%!

Diz o relatório do Tesouro do EUA (The Treasury 2021 sanctions review) que entre o ano de 2000 – 912 sanções – e o ano de 2021 – 9.421 sanções -, o número de sanções aplicadas aos “incumpridores” da “ordem baseada em regras (as deles) ” aumentou 933!? Eis o indicador da agressão… e da decadência.

Este número conta a história da erosão do poder hegemónico nos últimos 20 anos, e, por si só, daria para fazer um estudo profundo e extenso sobre o quadro psicótico, histérico e esquizofrénico que caracteriza o fanático gangue supremacista e seus capatazes, que domina a política ocidental. Assistimos a uma cavalgada urgente, ofegante e irreversível rumo ao precipício.

Não se pode pedir um qualquer comentador, cientista “político” (uma espécie de papagaio neoliberal com habitat muito favorável no ocidente) ou “politólogo” (normalmente desprovido da parte do “logo”, ou seja, da lógica e racionalidade) que questione as sanções, a sua legitimidade, ética e até moralidade. “Mas que raio de superioridade tem um qualquer país para punir outro”? Poderiam questionar. Mas, para isso não poderiam passar pelos colégios, institutos de pilhagem (business) e pelos professores por que passam. A susceptibilidade de questionarem a legitimidade das sanções unilaterais (exclusividade do “excepcionalista” do Ocidente) é inversamente proporcional ao número de avenças na “comunicação social” e ao número de aparições televisivas. A ordens do chefe cumprem-se, não se questionam.

Mas o que poderiam fazer, ao menos – porque até o Tesouro americano o faz –, seria questionar a eficácia da acção em si. Quando se abusa de determinado veneno… a vítima ganha tolerância. E esta é a história que observamos ao longo do século XXI: as vítimas (classificadas como “agressoras” na depravada lógica dos valores neoliberais) foram ganhando tolerância, aprenderam a viver com as limitações brutal e autoritariamente impostas. Daí que, importantes centos do poder mundial, tenham ganho imunidade. Com esta imunidade, outros podem agora beneficiar da vacina.

É o próprio Tesouro a reconhecer – sem nunca sair do seu quadro supremacista – que “se as sanções podem, quando usadas adequadamente, deter e prevenir ameaças à segurança nacional dos EUA, contudo, os EUA enfrentam hoje novos desafios à eficácia das sanções como uma ferramenta de segurança nacional”, acabando com “os EUA têm de adaptar-se e modernizar a arquitectura operacional da forma como as sanções são aplicadas”.

Que orgulho devem ter os “boys” do “arco da governação” por submeterem Portugal e a UE a gente tão “racional e sabedora”. Afinal, foi preciso chegar a um aumento de 933% para se constatar que algo não funciona. E, mesmo assim, nem por um momento, no relatório se questiona: “e que tal nos comportarmos como um país civilizado?”

Estes 933% denunciam grande parte dos problemas que nos afectam, como povo, como trabalhadores, como seres humanos. Este número denúncia a violência da vertigem hegemónica. Em cada ponto percentual deste número esmagador encontram-se os corpos famintos, inanimados, subnutridos e violentados de centenas de milhões de seres humanos.

Este número desastrado, excessivo, representa a escala da apropriação de capital que o Ocidente fez nos últimos 500 anos. Não lhe bastou enriquecer, desenvolver-se primeiro, com a riqueza pilhada aos outros povos. Os 933% demonstram o quão preparadas estão as elites supremacistas ocidentais para lutar pela manutenção do seu modelo de agressão, submissão e exploração dos povos.

E não pensem os incautos locais que estes 933% de agressão sancionatória não se reflectem nos seus ossos, na sua carne. Se olharmos ao que se passa hoje no leste europeu, verificamos que alguns milhares destas sanções resultaram na nossa inflação, na destruição da indústria alemã (hoje em queda aos níveis do Covid – 19) e europeia, na recessão das economias ocidentais. A vítima, uma vez mais classificada como agressora, está imune. Mas o que vale é que somos “liderados” por gente sabedora, que já vai no 11.º pacote de sanções sem outro resultado que não seja a nossa desgraça.

Mas neste quadro apocalíptico, não foram apenas a sanções que aumentaram 933%.  Assistimos a um aumento paralelo nas doses intermináveis de propaganda do regime (que ainda não viu os novos “Eu amo a União Europeia”?); na doutrinação em massa, da publicidade ao cinema; na censura, amordaçamento e unanimismo dos órgãos de comunicação; na perseguição da dissidência, nos delitos de opinião; na vigilância, monitorização e condicionamento de todos os nossos passos. A nossa liberdade também se reduziu 933%, e mais do que a individual, perdemos a colectiva, como povo, como país, como nação.

Estes 933% também nos contam sobre uma realidade contraditória. Ao passo que os países vassalos do ocidente colectivo estão 933% mais condicionados (nem a internet 5G já têm liberdade para escolher), existem outros, que finalmente, vêem nesta imunidade ao veneno das sanções, uma possibilidade de libertação colectiva e de posterior desenvolvimento. Acima de tudo, estes 933% de aumento da carga sancionatória representam, por outro lado, um acréscimo da coragem libertadora por tantas e tantas nações e povos. Algo impensável ainda há 30 anos.

E, afinal, foi apenas preciso alguém gritar chega! Alguém com peso e importância. Dado o grito libertador, alguns situando-o em Fevereiro de 2022, passámos a observar uma urgência, muitas vezes pueril – como no caso de Lula -, outras vezes envergonhada – como no caso da Índia – pela fuga ao ditame hegemónico do dólar e da arquitectura de poder que o sustenta.

E é este êxodo que reflectem os 933%. Ao longo dos últimos 20 anos, por cada ponto percentual que subia a carga sancionatória, eram mais os países que aderiam às organizações que, no futuro, constituíram a nova ONU. Desta feita uma verdadeira ONU, a situar-se no sul global e não no centro do imperialismo e do capitalismo mundial, como a que preside Guterres, símbolo do fanático supremacismo cultural, económico e político ocidental.

E por mais que a propaganda ocidental fale de “armadilhas da dívida”, “ameaças à segurança”, a verdade é que são mais e mais as nações, numa corrente imparável, a juntar-se ao movimento emancipatório. É razão para questionar: “ou estes povos são estúpidos e não sabem o que é bom para eles”; “ou estúpidos somos nós por acreditarmos que deveriam dar graças pela miséria a que os submetemos ao longo de 500 anos”.

Como soube bem, na Arábia Saudita, Blinken reunir-se com MBS sem que fosse colocada a bandeira americana ao lado da saudita. Como soube bem Blinken ter saído da China sem ter visto respondidas quaisquer exigências que levava na cartilha. Como soube bem, depois de terem brindado ao Imran Khan do Paquistão com uma “lulada” judicial, os EUA terem agora de assistir à compra de petróleo russo, pelo Primeiro-Ministro que colocaram no lugar do outro.

Os 933% de sanções em relação ao ano 2000 mostram também o desespero que leva à instalação de um regime neonazi, liderado por um escroque que é capaz de mandar o seu povo para a morte, em nome de interesses alheios.

E tal como os 933% de sanções não foram suficientes para conter o inexorável, também as armas maravilha do Ocidente e o tal treino militar segundo o “padrão NATO”, foram insuficientes para mover as defesas de um país “atrasado”. Tanta arma maravilha e uma contra-ofensiva programada para ter sucesso nos primeiros três dias, foi subitamente transformada numa “maratona”. São assim os incapazes e os incompetentes: quando a realidade não se ajeita, a culpa é dela própria.

No fundo, tal como os 933% de sanções, as acções desesperadas são uma característica das organizações decadentes e sem estratégia, afundando-se num mar tacticista que as arrasta, invariavelmente, para o fundo. Presos nas suas próprias contradições e insuficiências, os EUA e vassalos encontram-se reféns das suas próprias limitações, incapazes de gerar em si a contradição necessária para o renascimento. Anos de destruição e ofensiva contra as forças democráticas que se opõem ao regime neoliberal – de sindicatos de classe a partidos revolucionários -, resultaram numa lógica sobranceira de exercício do poder, cuja arrogância se repercute na escolha de “líderes” cada vez mais fracos e seguidistas. Não se pode esperar que se forjem lideranças fortes e convictas em regimes unanimistas.

E é aqui, por incrível que pareça, que teremos de agradecer aos 933% de sanções. É na luta, e face às contradições, que se forjam os grandes líderes. Ao passo que no Ocidente se idolatram mimados CEO’s cuja coragem se mede pela capacidade de despedir e baixar os salários de quem está abaixo, sendo tiranos para os debaixo e vassalos para os de cima, é no Sul Global que encontramos as grandes lideranças mundiais. Tanta agressão obrigou os países a encontrar dentro de si as forças necessárias, uma ou outra vez.

Daí que este seja o momento de reconhecer a importância de duas acções com enorme profundidade histórica:

•            Reconhecer a importância do apoio da URSS (e da China) aos movimentos de libertação africanos, latino americanos e asiáticos, sem o qual não seria, hoje, possível este movimento de rejeição da ordem imperialista;

•            Reconhecer a estupidez da irracionalidade que caracteriza a ganância capitalista, na sua forma supremacista e fanática neoliberal; sem ela não se teriam produzido as contradições necessárias à libertação dos povos!

Face ao mundo que vemos hoje nascer…. É razão para dizer: estão 933% mais estúpidos!

E pensar que as propostas eleitorais mais propaladas, como não poderia deixar de ser, apostam em 933% mais do mesmo! Ainda temos tanto para sofrer!

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O 5G e o domínio do “multiverso”

(Hugo Dionísio, in Facebook, 12/06/2023)

No meio de uma discussão, na imprensa ressonante e no “multiverso”, que pulula entre a prometida contraofensiva, exigida por Biden e Sullivan, e as inundações provocadas pela destruição da barragem de Novaya-Kharkovka, em que nos fazem crer que, os inimigos de sempre, provocaram mais um acto do seu já proverbial haraquíri (começa a ser fastidioso tanto tiro nos próprios pés!!!!), há um tema que tem sido abordado com alguma atenção, mas, como sempre, com pouca profundidade e muitíssima propaganda. Trata-se da 5G e da Huawei.

Ao contrário dos tanques Lepard2, que eram apresentados como mais uma “wonderwaffe” ocidental, e que, quando usados pela “wolksstrum”, durante o adiado “blitzkrieg”, falharam em assustar o inimigo, que os tem destruído como outra lata velha qualquer; o desenvolvimento, crescimento e expansão da Huaway e da sua 5G ao redor do mundo, bem como da oferta telemóvel, que antes do ataque ameaçava tornar-se líder mundial de vendas, assusta, e de que maneira, os poderes, de facto, do ocidente colectivo.

Mas não é só da Huawei que a Casa Branca tem medo; tem medo do Tik-Tok, como tem medo do Weechat. No fundo, tem medo de toda a alta tecnologia de qualquer país que não controle, sendo que, no caso concreto das tecnologias digitais, Washington, nem aos seus mais submissos vassalos, permite qualquer intervenção nesse domínio.

Enquanto ouvimos, lemos e vemos, vezes sem conta, o chavão ideológico, segundo o qual, os americanos “gostam da competição” porque “a competição fá-los avançar e extrair o que de melhor têm”, quando assistimos ao que tem sido feito para travar o desenvolvimento de tecnologias de fronteira por países que não controlam, rapidamente nos damos conta de que a propaganda é só isso mesmo… propaganda. A susceptibilidade de outros países deterem tecnologias que concorram e superem as suas, ao contrário de ser visto como um estímulo, é visto como algo a abater.

Daí as sanções à Huawei, à venda de chips e máquinas litográficas, ou à aquisição de lítio, pela China. Adoram competir, portanto. Mas com coxos, estropiados, esfaimados e servos. Como qualquer mafioso e batoteiro, os EUA sentem-se os maiores apenas junto dos desgraçados e graxistas. Daí as ameaças, as sanções e os embargos unilaterais e a disputa férrea pelo controlo das tecnologias e recursos vitais, sempre usados como arma de arremesso.

Não obstante a guerra do 5G, o facto de a Huawei se estar a tornar, à data do primeiro ataque e ainda sob Trump, no líder mundial de vendas de telefones constituía, na minha opinião, uma ameaça ainda maior do que o domínio do mercado 5G – daí o ataque à empresa e não apenas ao negócio 5G. Ainda por cima a Huawei que até é uma espécie de cooperativa, provando que o mundo não precisa de “patrões” ou “empresários”, apenas de quem trabalhe.

Edward Snowden já nos tinha dado a conhecer o porquê deste receio, por parte da Huawei, considerado um ataque frontal à segurança dos EUA. No meio das acusações costumeiras das “ligações ao Partido Comunista Chinês” e do acesso à informação “pelo Partido Comunista Chinês”, Snowden, a seu tempo funcionário da NSA (Agência de Segurança Nacional), denunciou que os Iphone eram instrumentos de espionagem e vigilância, abertos às agências de segurança e de investigação do tio Sam.

Mais recentemente, a também banida Kaspersy – um dos mais conhecidos antivírus do mercado – confirmou as denúncias de que o Iphone pode ser infetado com um malaware que permite às agências de segurança do tio Sam aceder aos dados, mas também ao controlo do próprio aparelho, para que este filme e registe áudios do seu portador. A Apple negou, claro!

Ao fazermos uma análise superficial de que tipo de pessoas utilizam Iphone, principalmente os mais vulneráveis à utilização destas portas traseiras “back door” – os mais caros e modernos -, rapidamente nos damos conta de que se tratam de empresários, políticos, dirigentes partidários e associativos, gente da elite ocidental, em geral. E tal é o conhecimento desta situação – abafada pelo poder mediático da Apple e pelo poder coercivo da Casa Branca -, que em alguns países já existem restrições ao uso de Iphones por altos funcionários e dirigentes do Estado. Não, nenhum desses países é do Ocidente colectivo! Ai deles! O Iphone é a sua trela!

Ora, era também neste mercado “flagship” que a Huawei estava a entrar e não apenas no mercado comum. O facto de apresentar telemóveis cada vez mais sofisticados, com as melhores máquinas e que competem com os melhores Iphone e Samsung, estava a colocar em causa a utilização destas estratégias de vigilância pelos mesmos de sempre. No caso dos Huawei, a existirem vulnerabilidades desse tipo – também amplamente negadas, como seria de esperar -, elas funcionam para o outro lado. O facto é que, com a expansão da Huawei, estava a reduzir-se, lenta mas paulatinamente, o campo de recolha de “inteligência” em relação a pessoas de interesse.

Não é preciso ir muito longe para se perceber a importância destas coisas. Quando o Google se generalizou e todos ficámos a saber que a China se tinha recusado a ter um “Google livre”, desse facto saíram dois tipos de conclusões: 1. A da propaganda, segundo a qual “a China é uma ditadura e tem de condicionar o Google”; 2. O Google é um instrumento de controlo de mentes, monitorização de comportamentos e recolha de dados pessoais, logo, um país como a China não poderia dar essa vantagem aos EUA.

Hoje todos sabemos como funciona o Google, a forma como faz a gestão da informação, como a suprime, promove e bloqueia ao sabor dos poderes dos seus criadores e financiadores de facto. A mim, só me admirou, como foi possível que países como a Rússia, a India, o Brasil, a Indonésia ou Irão tivessem ido no conto do vigário, optando por não criar ferramentas nacionais homólogas. Tratou-se de um erro crasso que muito tem custado a suprimir. No início, estas nações, ao contrário da China, prescindiram da luta pelo “multiverso”.

A questão do 5G já não é tão importante, do meu ponto de vista, para o domínio do multiverso. Embora a Casa Branca tenha a intenção e controlar toda a gama de tecnologias digitais de ponta, o facto é que, mesmo assim, nesta área, permite à Suécia – Erickson – e a Finlândia- Nokia – desenvolverem redes 5G. O que a Casa Branca já não permite a ninguém é o desenvolvimento das próprias tecnologias digitais.

Digam-me uma plataforma digital do Top 20 que tenha origem Europeia, Japonesa, Coreana ou Australiana? Pois é aí que se situa o cerne do controlo e monitorização das mentes. E como recentemente divulgado e confirmado pelo próprio Guterres, o tio Sam monitoriza até a sua mãezinha. Não confia em ninguém e ainda menos nos seus mais submissos servos. O líder real sabe sempre que o seu servo de hoje, pode ser o de outro, amanhã.

Desde muito cedo pudemos constatar que, também em Portugal, a 5G da Huawei iria ser banida. Tive mesmo essa discussão com um utópico da IL, que me dizia não ser assim. A própria lei habilitadora e reguladora do 5G denunciava, a alta voz, essa possibilidade, ao criar condições especiais para a entrada de “novos operadores”. Operadores esses que são a Nokia e a Erickson. Huawei e ZTE nem pensar. Santos “fantoche” Silva ainda falou grosso ao embaixador dos EUA: “em Portugal há um governo soberano para decidir essas coisas”, terá dito! Mas era apenas mais um acto da farsa. Portugal não tem, hoje, líderes capazes de lutar pela sua independência real.

Depois de ameaças, bullying e promessas de apoio à candidatura de Costa à presidência do Conselho Europeu (isto sou eu que digo), eis que o resultado final não poderia ser outro. Só os iludidos não o viram logo desde o ataque de Trump. Os países ocidentais não têm soberania para decidir destas coisas. Isto é decidido por gente como Victoria Nuland e Tony Blinken e transmitido à NATO. A 5G da Huawei é banida e veremos o que dirão os tribunais sobre o assunto, mas vendo como vai a justiça… Para já, as regras da concorrência foram todas atropeladas. E os utópicos neoliberais que gostam tanto do “mercado livre”. Uma utopia construída para permitir a acumulação de riqueza pelos que já eram os mais ricos.

Na Imprensa ressonante não se fizeram esperar as explicações do charlatão. Não, não são dadas para salvar o Governo! São dadas para lavar a face da UE e dos EUA. Então, por entre mesas redondas de comentadores plurais, o diapasão afinava todo pela mesma treta “a avaliação que a UE faz hoje da China, não é a mesma que fazia há uns anos”.

Por amor… Mas a UE faz alguma avaliação de alguma coisa que não seja a de avaliar como aplica as ordens que lhe são transmitidas directamente de Washington? A UE tem tantos problemas com a China, faz uma avaliação tão terrível deste país, que continuou a aumentar o volume de negócios, parecerias e investimentos com o mesmo, havendo inclusive vários países que até fazem parte da BRI. Eis a avaliação que a UE fez!

Quem não gostou foi o tio Sam, logo vindo colocar os seus grãos de areia na engrenagem, porque esta não funciona a seu favor. E através de um sistema de “reinar para dividir” e do conhecido e experimentado método da “cenoura e do burro”, não demorou muito a que os servos europeus, que se fazem passar por dirigentes políticos, mas não passam de fantoches bem pagos e com trela (Iphone), sucumbissem à derrota dos seus povos, dos seus países. Hoje, é certo que a UE irá entrar em recessão e no final disto tudo sairá com uma economia arrasada. Mas “tudo em nome da democracia” certo?

Se a 5G representa o acesso de um país em vias de desenvolvimento – em tanto mais avançado do que os que se dizem “avançados” – a tecnologias da fronteira tecnológica, o Tik-Tok e o Weechat representam o acesso e a capacidade de disputa do “Multiverso”. O multiverso (universo virtual) é o local onde o tio Sam nos quer encarcerar as mentes para que, vivendo uma vida de miséria, possamos fugir para uma vida falsa de ilusões, onde tudo podemos ser nunca sendo nada. O multiverso é a metáfora perfeita da farsa democrática em que vivemos.

Se o Tik-Tok permite o controlo das mentes, neste caso, ao contrário de Twitter, Facebook, Apple e Google, não contém as portas traseiras e os interruptores censórios ao dispor da Casa Branca. A contê-las, funcionam para outros que não os EUA. Mas, a ver pelas publicações em causa, não entrou na onda da censura.

Se o Weechat permite o controlo do dinheiro, ao contrário do Googlepay, Visa, Mastercard e outros, não concorre para a preservação do dólar como moeda de reserva, antes para a sua desagregação. Também não comporta as portas traseiras de acesso, ao dispor das mais de uma dezena de agências de segurança dos EUA.

Eu não sei se, este tipo de tecnologias, funcionam para o governo chinês como funcionam para o dos EUA. Também não sou ingénuo ao ponto para dizer que não o possam fazer. O que sei é que o ladrão tende a ver todos os outros como ladrões e a espelhar nos outros o mesmo comportamento que assume. É um efeito psicológico conhecido: nós lemos os outros com os nossos próprios olhos.

Sei também que, nunca em toda a história humana um regime político teve nas suas mãos um sistema tão perfeito de vigilância, controlo e manipulação. A diferença é que, este sistema, em utilização no Ocidente e bem traduzido em comportamentos acríticos e de rebanho pela maioria das pessoas, incluindo da elite, é apelidado de “defensor da democracia”. Um sistema destes usado num país competidor, é apelidado de tiranizador.

Mas, no final, tal como se passa no mundo real, que vive numa disputa entre quem defende a unipolaridade – EUA e vassalos – e quem defende a multipolaridade – povos e nações livres -, o multiverso também assiste à mesma disputa. E neste caso, a China está para o real como para o virtual. Assume-se como o grande motor e pilar da transformação da arquitectura mundial. Não se trata de uma questão de gosto, é uma realidade e temos de viver com ela. E eu que pensava que os liberais gostavam muito de “mudança” e “reformas”. Está na hora de saíres da zona de conforto, ó Passos Coelho!

No fundo, no fundo, o multiverso não existe…. Pois não passa de uma extensão do mundo real, das relações reais. Existisse ele de per se, como nos querem fazer crer, e seria um mundo de paz, liberdade e felicidade para nos prender a todos. A prova disso mesmo é a sua disputa pelos imperialistas EUA.

Nenhum império se constrói de quimeras virtuais. O poder imperial é bem real. Sentimo-lo todos os dias nos nossos ossos, hoje, como o sentem os povos do Sul Global de há 500 anos a esta parte. Assim, o “multiverso” não é um mundo independente, é uma ferramenta do mundo que temos.

E o que está em questão com a 5G, os telemóveis, os chips, as plataformas digitais, mais não é do que a disputa do mundo real. Um mundo que agora foge, finalmente, ao Ocidente. É esta a realidade e só existe uma!

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