O insulto à Catalunha

(Joseph Praetorius, 15/10/2019)

Não há e não pode haver crime de sedição.

“Seditio” é a palavra que aparece no diálogo de Marcus e Quintus, legado por Cicero. Quando o jovem patrício protesta contra os exagerados poderes dos tribunos da plebe, chama ao respectivo exercício – Sedição. Os melhores e mais exactos tradutores de hoje preferem a palavra “Revolução” para traduzir a posição do patrício, mas não estou de acordo.

Gosta da Estátua de Sal? Click aqui.

Revolução é palavra que nos virá com Galileu e não podia ter existido sem ele. (Sim, há um pouco mais no caso de Galileu do que aquilo que usualmente se conta). E também a Revolução não pode ser crime. O regresso ao início da órbita é olhado como a restauração dos direitos violados pela opressão.

Face ao Sagrado Direito da autodeterminação dos povos (sagrado no mais estricto dos sentidos) o crime vem no ultraje repressivo, na conduta fraudulenta do ocupante, como nos arremedos caricaturais de pretensa Lei que invoca.

A sentença contra os dirigentes catalães é um crime.

Deve ser vaiada assim, em uníssono, por todos os catalães. Punida com severidade exemplar, quando o momento chegar. Deve ser repudiada pela União Europeia cuja Carta dos Direitos Fundamentais viola, condenada pelo Conselho da Europa e pelo seu Tribunal Europeu dos Dieitos do Homem e merece bem a censura pela mais vasta assembleia representativa dos povos da terra, sim, merece bem uma resolução da Assembleia Geral das Nações Unidas.

O manequim da Calle de los preciados na Zarzuela já está julgado pela sentença popular, afirmada nas urnas e nas ruas – “A Catalunha não tem rei”.

Isso, como um papa de Roma disse de outra coisa e noutra época, isso “está manifestamente provado”. Ali estava manifestamente provado que havia um Rei, aqui está manifestamente provado que o não há.

The day after

(Por Joseph Praetorius, in Facebook, 02/10/2017)

 

violencia

Uma ronda pela imprensa conservadora e espanholista sedeada em Madrid, dá bem conta da crise de convicções gerada pela impossibilidade de apoiar a acção criminosa de Rajoy.

Até os conservadores se perguntam: – se o referendum não existia, para quê intervir assim?

Porque o que estava em causa não era e não podia ser o direito ou o legalismo. Isso oporia, como sempre e apenas, os juristas das liberdades aos juristas das proibições, ante o papaguear teatral dos idiotas das minutas na Procuradoria (ou fiscalia) de idiotas.

O que estava em causa, o que está em causa, é a mentalidade.

Essa coisa realmente imunda que fez um polícia castelhano atirar uma mulher uma mulher catalã pela escada abaixo e, caída esta no chão, saltar-lhe em cima, com equipamento anti-motim, a pés juntos e com balanço – sem que consigamos ver se a pobre mulher foi atingida no abdómen, ou no tórax – conduta que não pode deixar de valer como homicídio na forma tentada. O que estava em causa era esta provocação soez, que feriu mais de novecentas pessoas absolutamente pacíficas e que nenhum gesto fizeram de reacção violenta, nem em auto-defesa, como certamente se pretendia, talvez para haver pretexto para as matar.

O que está em causa é – como lhe chamou e bem o homem do Podemos – o critério de um doente mental, corrupto e incendiário. E mais um reizinho de opereta, incapaz de reagir como Comandante em Chefe diante dos abusos de uma força com competências, estatuto, equipamento e treino militar como a Guardia Civil.

O que está em causa também é – como ignorá-lo ? – a contenção e coragem generalizadas numa população politizada em altíssimo (e nobilíssimo) grau, que deixou às bestas as suas jaulas de bestas, aos criminosos o seu papel de criminosos, à vileza o destino ex terminus que lhe cabe.

Nem os conservadores espanhóis e espanholistas – independentemente da oposição à independência catalã – sabem o que dizer diante disto. Uma cronista no ABC fala mesmo em cegueira, recorrendo a citações desse escritor que os portugueses conservadores renegam – insultantemente – e os espanhóis tomam, honram e citam como seu: Saramago.