Notas sobre a crise venezuelana…

(Por é-pá, in Blog PonteEuropa, 04/02/2019)

Bolivar

(Aprendi mais em cinco minutos a ler este texto sobre a crise na Venezuela do que em horas de comentário encartado nas televisões feito por cérebros vendidos à propaganda e às fake-news dos interesses do império neoliberal.

Pela análise histórica, pelo enquadramento cuidado da argumentação, em suma pela honestidade intelectual que cada vez mais está ausente do debate público.

A não perder e parabéns ao autor.

Comentário da Estátua, 04-02-2019)


A situação na Venezuela tem sido observada internacionalmente um pouco à sombra do esquema dos clubismos e das suas inomináveis claques. Hoje, para além da grave situação interna venezuelana, Caracas tornou-se num novo campo de batalha dos velhos equilíbrios internacionais o que vem dificultar as soluções para a crise venezuelana.

Ideologicamente, o ‘chavismo’ que vigorou neste país desde 1999 até 2013 (ano do desaparecimento físico de Hugo Chávez) é, em certa medida uma nova versão de peronismo, um peronismo pós-moderno, ou seja um movimento político-social complexo que, no passado, também, marcou a América Latina e onde de misturaram conceitos como o populismo, o anti-imperialismo, o bonapartismo e, até certo ponto, o capitalismo de Estado.

Acresce a este rol um conceito particular inerente ao ‘chavismo’ e que lhe define as características pós-modernas e que se torna difícil de estabelecer doutrinariamente os seus contornos: – ‘o socialismo do século XXI’ (numa conceção latino-americana). O desaparecimento físico de Hugo Chávez precedeu a perda de maioria na Assembleia Nacional verificada em 2015 e que feriu de morte o Governo do presidente Nicolas Maduro e a ‘revolução bolivariana’.

Contemporaneamente, verificaram-se outras expressões políticas e doutrinárias de âmbito nacional (nacionalistas) neste Continente afetando sucessivamente vários países. Estão bem presentes na memória de todos nós as emergências do Kirchnismo (variante do peronismo) e, paralelamente, movimentos unificadores de um denominado ‘surto bolivariano’ de que são exemplos Evo Morales (Bolívia), Rafael Correa (Equador), para não falar de Daniel Ortega (Nicarágua).

À parte destes movimentos que se revelaram efémeros existem – ou existiram – com maior transitoriedade, surgiu, também, o ‘lulismo’ no Brasil e com outra consistência política,  ideológica e temporal – o ‘castrismo’ em  Cuba.

Este mosaico de situações que, no presente, ainda convulsiona a América Latina existiu no passado e foi, sempre, abortado por intervenções externas enquadráveis no quadro do vago conceito de ‘imperialismo’, que foram revertendo as situações nos diversos países, para paradigmas liberalizantes ou até populistas.

Chávez surge no panorama político venezuelano como resposta ao desastre do chamado ‘puntofijismo’, isto é, de um acordo partidário que foi pactuado, em 1958, entre os partidos do tradicional ‘arco do poder’ venezuelano, congregando a Ação Democrática (AD) de Betancourt , o Comité de Organização Politica Eleitoral Independente (COPEI) de Rafael Caldera e a União Republicana Democrática (URD) do Almirante Lazarrabal, para instituir um regime liberal, ‘pactocrático’, mais ou menos enfeudado aos EUA (conforme a rotatividade no exercício do poder) e uma economia baseada na exploração petrolífera que sempre dominou o espectro político venezuelano.

Na verdade, a escolha da localidade Punto Fijo – moderna catedral da indústria petrolífera – para celebrar este ‘acordo de regime’ diz tudo.

Após este pacto verificou-se uma prematura retirada da URD da ‘coligação pactuante’, bem como a ilegalização do Partido Comunista, que levou o sistema político venezuelano a evoluir para os caminhos de uma ‘bipolaridade’ (AD e COPEI). Estas duas formações revezaram-se no poder durante largos anos. Nasceu aí o ‘centrão venezuelano’ que foi um alfobre da corrupção e de controlo do principal bem patrimonial – o petróleo.

Este ‘pacto’ foi forjado após o derrube da ditadura do general Pérez Jiménez, que baseava na ‘doutrina do Bem Nacional’, concitou uma intervenção liberalizante – com início na década de 60 – e afastou, por largos anos, a instituição militar do poder, tornando-a uma visceral adepta de um ‘nacionalismo sul-americano’, acrescentamos, de ‘caserna’.

Uma nova interferência militar nasce durante a presidência de Andrés Pérez, congregada no grupo MB200, isto é, Movimento Bolivariano, de que Hugo Chávez faz parte. Nessa época (finais de década de 80) a situação venezuelana estava numa configuração muito próxima da atual: alta dos preços (inflação galopante), deterioração dos padrões de vida (afetando os trabalhadores e a classe média), corrupção endémica e uma total dependência da conjectura internacional (dominada pelos cartéis do petróleo).

A eleição de Hugo Chávez (1998) pôs fim ao ‘pacto de Punto Fijo’, com que a burguesia venezuelana foi adaptando a fim de gerir o sistema político e as riquezas naturais, mas carregava no seu seio um outro problema – o perigo do presidencialismo do tipo caudilhista.

Considerar o Movimento Bolivariano 200 (MB200) – que nasce de uma renovada vontade dos militares intervirem na política – como um projeto dito de esquerda, ou mais arrojado ainda, de índole ‘socialista’, é uma extrapolação muito arrojada, embora, esse movimento esteja na génese do ‘Partido Socialista Unido da Venezuela’ (PSUV).

Na realidade, trata-se do retomar do projeto liberal de Bolivar eivado de tonalidades anticolonialistas – ou se quisermos anti-imperialistas – mas politicamente próximo da burguesia nacional. Por outro lado, os militares venezuelanos têm uma raiz histórica no ‘Exército Libertador de Bolivar’, e julgam-se empossados do transcendental desígnio de assegurar a renovação da República, sempre que as forças político-partidárias fraquejam.

É este, na essência, o programa de Hugo Chávez quando conquista, por via eleitoral, a presidência, sob os auspícios históricos (e ideológicos) do ‘Libertador’. Resta averiguar se, nos dias que correm, o ‘movimento bolivariano’ é – ou foi – algo de revolucionário, uma transição do sistema ou uma operação meramente ‘putchista’.

Passados 20 anos o ‘projeto chavista’ esgotou-se quer pela falta de inovação, quer pela perda de apoios internacionais, nomeadamente dos parceiros da América Latina, quer ainda pela pressão económica correlacionável com os ciclos rentistas do petróleo, fora do controlo do governo de Caracas.

Nicolas Maduro, continuador de Chávez, foi bloqueado pelo contexto global, não teve capacidade (oportunidade) para adaptar-se às naturais dificuldades que foram surgindo e evidenciou uma notória incapacidade política para o liderar país num ‘período pós-chavista’.

As ‘soluções bolivarianas’ mostraram-se desadaptadas regionalmente por fraturas nacionalistas e politicamente incapazes de contrariar os problemas ‘emergentes’ levantados e criados na sua implantação popular e que têm como denominador comum a globalização e a existência de centros de poder supranacionais não controláveis, capazes de instituir demolidores bloqueios.

Não foi exatamente este o quadro em que Simon Bolivar se movimentou (no século XIX) e cujo testemunho ideológico foi transcrito e adotado por Hugo Chávez. Nos tempos de Simon Bolivar a primeira luta foi anti-colonial, depois anti-imperialista. Resumindo: foi um processo ‘libertador’, historicamente datado e irrepetível.

Todavia, a transferência do poder dos militares – ironicamente no momento encarnado por o civil Maduro – para a sociedade civil, representada pelas oposições acoitadas numa ‘Mesa de Unidade Democrática’ que congrega dispares formações partidárias, não é um assunto pacífico nem será uma mudança mecânica, mesmo considerando que as intervenções militares são, por norma, de curta ou média duração.

Nicolas Maduro sendo um resquício (no presente) da intervenção militar na política venezuelana vai tentar combater no terreno que se apresenta como mais favorável. Isto é, no campo do tradicional nacionalismo que informa a postura ‘natural’ das Forças Armadas na América Latina (e não só na Venezuela).

O facto de Trump ter reconhecido, apressadamente, Juan Guaidó, como presidente interino, só veio perturbar a solução da crise venezuelana. Dificilmente se poderá escamotear esta ingerência estrangeira. Por pouco Trump não anunciou o apoio a Guaidó antes do próprio declarar a intenção de assumir a presidência interina da Venezuela.

O que veio a seguir demonstra isso mesmo. Venezuela – por ser uma das maiores reservas petrolíferas do planeta – foi transformada num palco de disputas à escala global: Os EUA não disfarçam a vontade de intervir naquilo que consideram o seu ‘quintal das traseiras’, a UE reconhece a solução orquestrada pela oposição na Assembleia Nacional e exige eleições presidenciais em nome de formais princípios democráticos e, do outro lado, a Rússia, a China, a Turquia, o México, entre outros, defendem o ‘nacionalismo bolivariano’ porque tal postura coincide com os seus interesses estratégicos – nomeadamente os energéticos – na região.

A caminhada da Venezuela para um novo ‘pacto de Punto Fijo’ (embora noutros moldes e circunstâncias), isto é, o regresso a um regime liberal oriundo da sociedade civil alinhado com a hegemonia americana no Continente sul-americano, não vai ser uma tarefa fácil porque mexe (choca) com o trajeto histórico da política venezuelana.

Aliás, a caminhada do presente não se confina ao liberalismo e no horizonte pairam ‘outras soluções’ como os ‘populismos’ que infestam atualmente a América Latina e estarão, neste momento, escondidos, a aguardar a sua ‘soberana’ oportunidade.

Maduro está encurralado nas suas limitações internas derivadas de um programa político errático e nas que lhe foram impostas pelo exterior, confrontado com uma gravíssima crise social, esvaziado das fontes de financiamento, mas a ‘solução parlamentarista’ de Juan Guaidó, começa com um pecado original: o apoio frenético (antecipado?) do presidente Donald Trump, revelador de um indisfarçável conluio.

Num momento em que Caracas vive uma elevada tensão interna e sofre uma intensa pressão internacional este facto – a intervenção externa – ainda não foi devidamente ponderado, nem está na ‘crista de onda’ dos acontecimentos, mas a médio prazo – e a solução poderá não estar para amanhã – condicionará necessariamente o tabuleiro político da crise e poderá ditar ‘soluções outras’, na atualidade, encapotadas.

Nenhum venezuelano (e muito menos as Forças Armadas) gostará de ser influenciado por alguém cujo programa é: America, First!. Será difícil às Forças Armadas venezuelanas aceitarem a substituição de Maduro, enquanto não existir uma alternativa que seja simultaneamente nacionalista e anti-imperialista. E estas condições ainda não estão criadas.



Fonte aqui

Fascismo em marcha na América Latina e na UE

(Por Peter Koenig, in Global Research, 12/11/2018)

bresil-bolsonaro

A América Latina está a reconverter-se no “quintal” de Washington e, como atividade paralela, está a voltar à esfera fascista, semelhante, mas pior, do que nos anos 60, 70 e 80 quando ficou sob a influência da Operação ou Plano Condor, liderada pela CIA. Muitos chamam à atual tendência de direita de Operação Condor II, que está provavelmente tão próxima da verdade quanto possível. É tudo fabricado por Washington/CIA, apenas com maior rigor e sofisticação do que o Plano Condor de há 40 e 50 anos atrás. Por muito que custe dizer, depois de todos os louros e glória remetidos à América Latina – com Hugo Chávez, Fidel Castro, Rafael Correa, Evo Morales, Lula, os Kirchner, José Mujica, Michelle Bachelet – mais de 80% da população da América Latina havia vivido durante cerca de 15 a 20 anos sob governos democraticamente eleitos, verdadeiramente progressistas, na sua maioria com inclinação de esquerda. Em pouco tempo, em menos de 3 anos, a “mesa virou”.


A América Latina foi durante cerca de 20 anos a única parte do mundo ocidental, que esteve totalmente afastada das garras do império. Sucumbiu novamente às forças do mal, às forças do dinheiro, às forças da corrupção total e da ganância. Os povos da América Latina traíram os seus próprios princípios. Fizeram-no novamente. Os seres humanos permanecem reduzidos, como em tempos ancestrais, aos poderes infalíveis da reprodução e do ego cum ganância. Parece que no final, o ego e a ganância vencem sempre as forças da luz, do bem, da paz e da harmonia. É por isso que até o Banco Mundial chama a corrupção como o maior obstáculo ao desenvolvimento. Referem-se ao desenvolvimento económico; Quero dizer desenvolvimento consciencioso. Desta vez, o truque usado são campanhas eleitorais falsas e fraudulentas; eleições compradas; Washington instigou golpes parlamentares – que no Brasil, levou o presidente não eleito Temer ao poder, um prelúdio para o pior, que ainda estava para vir, o fascista, misógino, racista e autoproclamado militar, Jair Bolsonaro.

A eleição presidencial de 2015 na Argentina trouxe uma vitória inteligentemente fabricada em Washington para Mauricio Macri, um amigo e ex-sócio de Donald Trump, por assim dizer. A eleição foi manipulada pelo agora bem conhecido método maquiavélico da Cambridge Analytica, de enganar os eleitores através de mensagens individualizadas espalhadas pelas redes sociais, para os fazer acreditar em todo tipo de mentiras sobre os candidatos. Os eleitores foram assim, apanhados de surpresa, quando o adversário de Macri, o esquerdista Daniel Scioli da Frente para a Vitória, que era líder nas sondagens, foi derrotado.

Atualmente, Macri, tem adotado uma agenda económica fascista, endividou o país com os pacotes de austeridade do FMI, aumentou o desemprego e a pobreza que se situavam nos 12% antes da sua eleição em 2015, para próximo dos 40% em 2018. Macri está a levar a Argentina em direção a um cenário déjà-vu dos anos 80 e especialmente 1990, quando sob pressão dos EUA, FMI e Banco Mundial, o país teve de adotar o dólar dos EUA como moeda local, ou, para ser exato, a Argentina podia manter o peso mas tinha de se comprometer com a paridade de um-para-um com o dólar americano. A explicação oficial para esta situação em termos económicos (impor o uso da moeda de um país para a economia de outro país não é apenas insano, é absolutamente criminoso) era poder parar a altíssima taxa de inflação – o que temporariamente aconteceu, mas em detrimento da classe trabalhadora, para quem produtos básicos e bens comuns se tornaram inacessíveis.

O desastre foi pré-programado. E o colapso da economia argentina aconteceu em 2000 e 2001. Finalmente, em Janeiro de 2002, o presidente Eduardo Duhalde acabou com a notória paridade peso-dólar. O peso foi primeiro desvalorizado em 40% – depois flutuou para uma desvalorização de 70% e gradualmente fixou-se em outras moedas internacionais, como o euro, o iene japonês e o yuan chinês. Por fim, a nova moeda flutuante permitiu que a economia argentina ganhasse um novo impulso e se recuperasse rapidamente. Talvez muito rapidamente, para o bem da Argentina.

A economia cresceu substancialmente sob os governos de esquerda dos Kirchner. Governos plenamente eleitos democraticamente. A economia não apenas cresceu rapidamente, como também cresceu de forma “distributiva”, o que significou a redução da pobreza avaliada em quase dois terços da população em 2001, para cerca de 12%, apenas um mês antes de Macri ser catapultado para o cargo por Washington e pela Cambridge Analytica, em Dezembro de 2015. A Argentina voltava a ser rica; agora poderia ser novamente ordenhada e extorquida pelo setor bancário e pelo corporativismo internacional, protegidos por três bases militares dos Estados Unidos recém-criadas nas províncias de Neuquen, Misiones e Tierra del Fuego. As bases  estarão inicialmente sob o Comando Sul dos EUA, mas provavelmente em pouco tempo serão convertidas em bases da OTAN. A OTAN já está na Colômbia e poderá em breve expandir-se para o Brasil de Bolsonaro.

Embora ninguém compreenda realmente o que a Organização do Tratado do Atlântico Norte tem a fazer na América do Sul – a resposta não é importante. O império adequa-se ao que se ajusta ao propósito. Não há regras, ética, nem leis – tudo vale perante o neoliberalismo. A OTAN deverá tornar-se numa força de ataque militar sob o controle de Washington e dirigida por aqueles poucos “iluminados”, que mexem os cordelinhos por trás das cortinas, desde o obscuro “Estado Profundo”.

Macri marcou o início do novo fascismo da América Latina. A América do Sul lutou por 15 a 20 anos para se tornar independente dos senhores neoliberais do norte. Foi agora reabsorvida na elite do norte, no “quintal” do império – sim, infelizmente foi nisso que a América Latina se tornou em grande parte, num mero “quintal” de Washington.

A ditadura de direita da Argentina imposta por Washington, foi precedida pelo golpe parlamentar do Paraguai em 2012, que em abril de 2013, levou ao poder Horacio Cartes, do partido de extrema-direita Colorado. O Partido Colorado foi também o partido de Alfredo Stroessner, o brutal ditador militar fascista que governou o Paraguai de 1954 a 1989.

No Chile, em 11 de Setembro de 1973, um socialista democraticamente eleito, Salvador Allende, foi derrubado sob o comando da CIA e um brutal ditador militar, Augusto Pinochet, foi instalado no poder por quase 30 anos. Depois de uma breve aparição de governos de centro e com inclinação de esquerda, o Chile, em Dezembro de 2017, voltou à política neoliberal de direita com Sebastian Piñera, ex-sócio de Pinochet. Rodeado com os seus amigos neoliberais e cúmplices próximos da Argentina, Colômbia, Brasil, Peru e até no Equador, com certeza Sebastian Piñera irá adoptar as regras económicas neofascistas de extrema direita, e assim, cairá nas boas graças dos bancos de Washington e seus instrumentos, o FMI e o Banco Mundial.

O fascismo está em marcha. Isto apesar do facto de que 99,99% da população, não apenas na América Latina, como em todo o mundo, não querem nada com o fascismo – então, onde está a fraude? Por que ninguém está a investigar os golpes e fraudes no Brasil, Argentina, Chile, Peru, Colômbia? – para depois se apresentar os resultados para toda a gente ver?

Entretanto, aprendemos sobre a Cambridge/Oxford Analytica (CA & OA). Como operam e enganam o eleitorado. Eles mesmos finalmente admitiram o uso de métodos dentro dos quais operam e influenciam os eleitores com recurso a mentiras – com dados roubados ou comprados das redes sociais, principalmente do Facebook; milhões e milhões de dados pessoais para chegar electronicamente a grupos específicos de pessoas – bombardeando-as com mentiras para promover ou denegrir um ou outro candidato.

E foi precisamente isso que aconteceu no Brasil. Uma semana antes do segundo turno das eleições, ocorrido no último domingo, 28 de Outubro, Fernando Haddad (PT) lançou uma investigação criminal precisamente por esse motivo contra a campanha de Bolsonaro. Claro, nada aconteceu. Todos os juízes, tribunais e advogados estão sob o controle do não-eleito governo corrupto de direita Temer – que chegou ao poder através de um golpe parlamentar implacável orquestrado no estrangeiro, impugnando sob pretensões totalmente falsas a presidente eleita democraticamente Dilma Rousseff.

E agora – não há ninguém a investigar o que aconteceu no Brasil? Como se trouxe um “menino” militar como Jair Bolsonaro até ao poder? A esquerda está morta? Estarrecida até ao esquecimento? – Por quê? Com todas as lições para serem aprendidas ao redor do mundo, e para não ir mais longe, na vizinha Argentina – como pode a esquerda brasileira ser tão cega e ingénua, ao ponto de não perceber que seguindo o sistema  legal criminoso do seu país, é seguir o caminho para a sua própria morte, cavando a sua própria cova?

Desde o primeiro dia, os EUA contam firmemente com Bolsonaro para cercar a Venezuela, juntamente com a Colômbia. O presidente Trump já expressou as suas expectativas de trabalhar “estreitamente” com o novo governo de Bolsonaro em “questões de comércio, militar – e outras coisas”. Bolsonaro já se reuniu com Mike Pompeo, o secretário de Relações Exteriores dos EUA, e este último disse-lhe que a situação na Venezuela é uma “prioridade” para o Brasil. Ai está; Washington dita aos líderes estrangeiros as suas prioridades. Bolsonaro vai obedecer, com certeza.

Acorde – ESQUERDA! – não apenas na América Latina, mas em todo o mundo.

Hoje, são os principais meios de comunicação social que aprenderam os truques e as trapaças e aperfeiçoaram a Cambridge e Oxford Analyticas; e fazem-no sem parar. Possuem todo o dinheiro falso e fiduciário do mundo para poder pagar essas campanhas falsas e enganosas – Eles são propriedade da elite militar e financeira corporativa, CIA, MI6/5, Mossad – são propriedade e administrados pelo neoliberalismo ocidental todo abrangente cum fascismo. Os grupos de elite ricos têm livre acesso à oferta monetária falsa e fiduciária – o seu governo é fornecido tanto nos EUA quanto na Europa; a dívida não é problema para eles, desde que “se comportem”.

Sim. A ênfase está no saber comportar-se. As tendências ditatoriais são também omnipresentes na UE e, em especial, na não eleita Comissão Europeia (CE) , que é quem dita as regras em todas as questões importantes. O governo eurocético  5 Estrelas da Itália apresentou o seu orçamento para 2019 em Bruxelas. Não só foi o governo italiano repreendido por estender as suas contas com um défice superior à margem de 3% da dívida imposta pela UE, como também teve que apresentar um novo orçamento num prazo de 3 semanas. É assim que um governo da UE que não se comporta bem é tratado. Que alcance tem o controlo autoritário da UE em relação a um governo soberano. E “soberania” é – a UE ostenta – a chave para uma União Europeia coerente.

Por outro lado, a França tem infringido durante anos a famosa regra dos 3%. Aconteceu novamente com o orçamento de 2019. No entanto, o governo francês apenas recebeu uma nota esboçada, dizendo: por favor, reconsiderem o défice orçamental para o próximo ano. Não houve nenhuma reprimenda. Não se repreende uma Criança dos Rothschild. Dois pesos duas medidas, corrupção, nepotismo, estão entre os atributos do fascismo. Está a crescer rapidamente em todo o Ocidente. Está a assumir vida própria. E os militares estão preparados. Em toda parte. Se ao menos eles, os militares, acordassem e ficassem do lado do povo em vez do da elite dominante que os trata como seus peões. Contudo, eles fazem parte do povo; pertencem à mais comum das pessoas. No final, eles receberão o mesmo tratamento que as pessoas – serão torturados e mortos quando não forem mais necessários, ou quando não se comportem da maneira que os neofascistas pretendem.

Então, Caros Homens e Mulheres do Exército – por que não prevenir tais riscos e ficar ao lado das pessoas desde o começo? – Todo o sistema, criminoso e falso, entraria em colapso se não tivesse a proteção da polícia e dos militares. Vocês, queridos Homens e Mulheres, formam a Polícia e os Militares, vocês têm o poder e a obrigação moral de apoiar o povo, e não defender governantes cruéis, elitistas e criminosos – à la Macri, Bolsonaro, Piñera, Duque, Macron, May. e Merkel. E há muitos mais da mesma estirpe.

Um dos primeiros sinais do que viria a acontecer em toda a América Latina para depois se espalhar pelo mundo ocidental, foi a “falsa eleição” de Macri, em 2015, na Argentina. Alguns de nós viram isso chegando e escrevemos sobre o assunto. Nós fomos ignorados, até ridicularizados. Foi-nos dito que não entendemos o processo democrático. Sim certo. Entretanto, a tendência para a direita, para um estado permanente de emergência, uma Lei Marcial de facto, tornou-se irreversível. A França incorporou o estado permanente de emergência na sua Constituição. Militares e Polícias armados são presença constante em toda Paris e nas principais cidades de França.

Existem poucas, muito poucas exceções restantes na América Latina, e na verdade, em todo o mundo ocidental.

E vamos fazer o que pudermos para salvá-los do bulldozer do fascismo.


(O autor, Peter Koenig é economista e foi funcionário do Banco Mundial. Trabalhou em todo o mundo, no campo do meio ambiente e recursos hídricos. Escreve regularmente para Global Research, ICH, Voice of Russia, Ria Novosti e outras páginas internet. É autor de Implosion – An Economic Thriller about War, Environmental Destruction and Corporate Greed – romance-reportagem baseado em 30 anos de experiências do Banco Mundial em todo o mundo.)


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