(Carlos Esperança, in Facebook, 10/04/2022)

Nunca sabemos se o bruxo de Fafe é ele próprio, o militante de uma das fações do PSD, o conselheiro de Estado, o candidato a PR ou o alcoviteiro de Belém, e qualquer um dos avatares é suficiente para que os jornais, emissoras de rádio, canais de televisão e redes sociais façam eco das homilias do comentador avençado do “Jornal da Noite”, da SIC.
Quando tinha acesso à agenda do Conselho de Ministros, na época insalubre de Passos Coelho, Paulo Portas e Maria Luís, era certeiro a predizer o futuro e a acertar no que se discutia em S. Bento, incluindo as reuniões que se faziam por telemóvel, onde os SMS podiam ser a ata para a resolução do grupo GES/BES e outras decisões graves.
A fama de pitonisa privilegiada do regime vem desses tempos. No início da legislatura do primeiro governo de António Costa, que o PS, BE, PCP e PEV sustentaram, já se enganava mais do que quem nunca teve dúvidas, seu antecessor na liderança do PSD.
Há mais de sete anos, no dia seguinte à tomada de posse do Governo PS, na primeira homilia, num domingo, como convém aos pregadores, dedicou-se a divagações sobre o “estado de espírito” do PM e saiu-se com este sombrio diagnóstico: “António Costa está com medo da sombra e psicologicamente frágil”.
Logo ecoaram as palavras em todos os megafones ao serviço da direita, então da direita que aguardava de Belém um sinal de que não lhe faltaria quando a casa do PSD e o táxi do CDS saíssem a brilhar da lavandaria dos congressos. Não previu o CDS que teria de prescindir do táxi por falta de passageiros.
Marques Mendes devia lembrar-se da coincidência das suas homilias com as capas dos jornais no início do primeiro Governo de António Costa, quando o Professor Cavaco ululava imprecações e, já laureado com o Grande Colar da Ordem da Liberdade, devorava frascos de sais de fruto a debelar a azia de um Governo, apoiado por toda a esquerda, que o velho salazarista foi obrigado a empossar.
Num país onde minguam notícias e sobram opiniões é um regalo recordar as capas dos jornais desse tempo, já que as profecias do bruxo se perderam no ruído da intoxicação da opinião pública.
Admira que a credibilidade do bruxo se reforce depois dos desatinos. Alguém se lembra ter dito que Mário Centeno na presidência do Eurogrupo só podia ser a piada do 1.º de abril?
Tudo se esquece, desde problemas eventuais com alegados negócios problemáticos, de cuja investigação o Conselho de Estado o livrou, até às profecias que só acerta depois.
António Costa há de deixar de ser PM, só não se sabe quando! O PR há de dissolver a AR, mas está com medo do partido fascista e não quer que o País julgue que é ele que pretende o regresso a um governo onde o pai coubesse.
Assim, à espera de incêndios que hão de surgir, não será difícil deixar a direita abraçada à extrema-direita, mas não sabe o PR nem o seu alter ego Marques Mendes quando será.
A concretização do desejo por voluntarismo do PR pode transformar o narcisista que é em tão odiado PR quanto o salazarista que o precedeu em Belém.