O que virou a direita?

(Francisco Louçã, in Expresso, 25/08/2018)

LOUCA3

No dia 5 de julho de 1990, algumas centenas de personalidades protestaram por escrito contra a vinda de Le Pen a Portugal. Apelidaram os que com ele se reuniam em Sesimbra como “pessoas não gratas” e o Presidente da República denunciou a iniciativa. Entre quem então recusou a vinda de Le Pen estava gente grada do CDS (Freitas do Amaral, Francisco Lucas Pires, Basílio Horta, António Lobo Xavier, Abel Pinheiro, Narana Coisssoró) e do PSD, então no Governo (Emídio Guerreiro, Manuela Aguiar, Pedro Roseta, Montalvão Machado, Rui Carp, Guilherme Silva).

Em 2018, em contrapartida, a direita levantou-se indignada por Marine Le Pen não vir à Web Summit. Nuno Melo, no seu estilo leve, gritou contra a má educação do desconvite. Os jovens turcos do PSD multiplicaram-se em explicações atabalhoadas sobre como estariam na primeira fila a ouvir Le Pen e a detestá-la mesmo muito. O “Observador” explodiu em amargura, anunciando que vivemos em “fascismo obrigatório” (Helena Matos, secundada pelo inimitável Alberto Gonçalves) ou que Le Pen foi alvo de um “ataque fascista” (Sebastião Bagulho), mais uns salamaleques de Rui Ramos e por aí adiante, há sempre um concurso de Constanças naquele panfleto quando há festa ou festança.

O que é que então mudou na direita portuguesa para que em 1990 protestasse contra Le Pen e em 2018 acarinhasse a vinda da sua herdeira? E para que em 1990 achasse que a democracia é uma barreira e em 2018 defenda que Le Pen deve ser normalizada? Vale a pena reparar nesta transformação porque é um sinal.

Há a razão pretextual: se a esquerda critica o convite a Le Pen, a direita quer Le Pen. Mas isso é só pavloviano. Há ainda a razão ideológica, relançar o refrão da Guerra Fria: a esquerda combate os fascistas por ser igual. Mas isso também é grotesco. Há outro motivo, esse mais importante, e é que a direita está encantada com Steve Bannon e Trump, achando que, como só têm a propor o sofrimento ao povo, a forma de ganhar eleições é espalhar ódio.

O episódio do convite a Le Pen, em si, não vale nada, é só uma tontice de Cosgrave. Mas a fúria convidativa da direita revela algo muito importante: a partir de agora, toda a sua política será suja. Vale tudo. Vamos ter salada ideológica, campanhas de calúnias, blogues falsos, imprensa escandalosa. Bannon é o mestre.

A POLÍTICA É PARECIDA COM UM FILME DE COW-BOYS?

(João Machado, in A Viagem dos Argonautas, 04/05/2017)

pistoleiros

As eleições presidenciais francesas invadem os noticiários e entram-nos pela casa a dentro. Não tanto como as norte-americanas de Novembro passado, mas sem dúvida que tem sido impressionante a atenção que a grande comunicação social lhes tem prestado. E mais impressionante ainda: por quase todo o lado uma opinião subjuga (não é exagero) todas as outras: Marine Le Pen é perigosíssima, há que votar Emmanuel Macron, goste-se ou não dele. Tal como nas eleições norte-americanas, em que o duelo Hillary-Trump esmagou todas as alternativas (e elas existiam) aqui também tudo vai acabar num duelo a dois. Estilo High Noon? Talvez não. A verdade é que tem sido promovido um “bom”, contra um “mau”. Mas contrariamente ao que se passa no filme realizado por Fred Zinneman, o apoio ao bom tem bastante sido promovido. Até Barack Obama já apareceu a apoiar Macron (clicar no primeiro link abaixo).

Nas eleições norte-americanas Obama apoiou Hillary Clinton, que perdeu. O papão Trump ganhou. Houve quem o acusasse de ter beneficiado do apoio da Rússia. No próximo domingo, o papão é Marine Le Pen, que parece em desvantagem. Mas curiosamente também parece estar a ser apoiada pela Rússia. Há dias teve um encontro com Putin e beneficiou de um empréstimo de um banco russo (cliquem no segundo link abaixo). Será que…

Não oferece dúvidas, nem mesmo aos apoiantes da Frente Nacional, que Marine Le Pen é uma fascista empedernida. Ela andar a dizer por todo o lado que é contra a União Europeia, não consegue convencer quem tenha dois dedos de testa. A UE é um estenderete horroroso para qualquer pessoa que acompanhe minimamente a vida política, mas não vai ser com certeza a senhora Le Pen que vai concertar os estragos que aquela causou. Pelo contrário. Dêem-lhe terreno, que ela ainda fará pior que o Barroso ou o Juncker. O problema é que o Macron não fará melhor. Ele promete ser benigno para os estrangeiros, defender as liberdades, etc. Mas quem se lembrar da sua passagem pelo governo Hollande, da lei Macron, e dos episódios que a rodearam, ficará inevitavelmente cheio de dúvidas

O maniqueísmo inerente ao sistema bipartidário que implantaram nas cabeças de quem tem mais que fazer (não vou aqui discutir o quê) do que acompanhar o dia a dia da política, não tem dinheiro para comprar jornais nem tempo para os ler, conduziu-nos a esta situação.

Metem-nos na frente um papão, põem-no a defrontar alguém de confiança, da confiança dos responsáveis pelo sistema que montaram, está bem de ver, a seguir massacram-nos com propaganda, e vamos a votos.

Temos de votar no menos mau, na realidade no menos péssimo (isto se acreditarmos no que nos dizem). Gritam olha o papão, tem cuidado. Mas o caso está tão mal, que às vezes o pessoal vota no papão. Como terá acontecido com o Trump.

Propomos que cliquem nos links abaixo:

https://www.rtp.pt/noticias/mundo/barack-obama-declara-apoio-a-emmanuel-macron_n999374

http://edition.cnn.com/2017/03/24/europe/putin-le-pen-kremlin/index.html

https://www.publico.pt/2017/05/03/mundo/noticia/envergonhemse-1770721

https://aviagemdosargonautas.net/2017/05/03/que-fazer-escolher-macron-escolher-martine-le-pen-ou-escolher-nao-escolher-texto-3-a-mudanca-e-agora-por-jean-luc-greau/

https://www.publico.pt/2017/05/03/mundo/noticia/a-politica-francesa-vista-com-sotaque-portugues-e-um-tique-le-pen-1770705


Fonte aqui

Que fazer: escolher Macron, escolher Martine Le Pen ou escolher não escolher?

(Por Júlio Marques Mota, in A Viagem dos Argonautas, 02/05/2017)

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Houve eleições em França. Os resultados são de todos conhecidos. Nesse domingo de Abril que não é de modo nenhum um Abril de portas mil, fui como tomar uma bica no meu café habitual, a Pastelaria Vénus. Estava bom tempo, tomei café na esplanada. Passa por mim, uma antiga aluna minha, de nome M. Abreu. Muito delicadamente, pergunta-me se estou muito preocupado com o que se irá passar em França. Sorri e convidei‑a a sentar-se, o que fez e agradeceu. Uma daquelas mulheres com quem dá mesmo muito gosto falar.

Perguntei-lhe: Preocupada, porquê?

Bem…porque, ao que se diz, a Marine Le Pen irá ganhar. Ora, não o vejo a ficar desagradado com essa hipótese, respondeu.

Sorri, olhei-a de frente e, calmamente, disse-lhe: dê-me, minha querida amiga, uma razão que seja, pela positiva, para que eu deseje que ganhe o candidato Macron.


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