(João Machado, in A Viagem dos Argonautas, 04/05/2017)
As eleições presidenciais francesas invadem os noticiários e entram-nos pela casa a dentro. Não tanto como as norte-americanas de Novembro passado, mas sem dúvida que tem sido impressionante a atenção que a grande comunicação social lhes tem prestado. E mais impressionante ainda: por quase todo o lado uma opinião subjuga (não é exagero) todas as outras: Marine Le Pen é perigosíssima, há que votar Emmanuel Macron, goste-se ou não dele. Tal como nas eleições norte-americanas, em que o duelo Hillary-Trump esmagou todas as alternativas (e elas existiam) aqui também tudo vai acabar num duelo a dois. Estilo High Noon? Talvez não. A verdade é que tem sido promovido um “bom”, contra um “mau”. Mas contrariamente ao que se passa no filme realizado por Fred Zinneman, o apoio ao bom tem bastante sido promovido. Até Barack Obama já apareceu a apoiar Macron (clicar no primeiro link abaixo).
Nas eleições norte-americanas Obama apoiou Hillary Clinton, que perdeu. O papão Trump ganhou. Houve quem o acusasse de ter beneficiado do apoio da Rússia. No próximo domingo, o papão é Marine Le Pen, que parece em desvantagem. Mas curiosamente também parece estar a ser apoiada pela Rússia. Há dias teve um encontro com Putin e beneficiou de um empréstimo de um banco russo (cliquem no segundo link abaixo). Será que…
Não oferece dúvidas, nem mesmo aos apoiantes da Frente Nacional, que Marine Le Pen é uma fascista empedernida. Ela andar a dizer por todo o lado que é contra a União Europeia, não consegue convencer quem tenha dois dedos de testa. A UE é um estenderete horroroso para qualquer pessoa que acompanhe minimamente a vida política, mas não vai ser com certeza a senhora Le Pen que vai concertar os estragos que aquela causou. Pelo contrário. Dêem-lhe terreno, que ela ainda fará pior que o Barroso ou o Juncker. O problema é que o Macron não fará melhor. Ele promete ser benigno para os estrangeiros, defender as liberdades, etc. Mas quem se lembrar da sua passagem pelo governo Hollande, da lei Macron, e dos episódios que a rodearam, ficará inevitavelmente cheio de dúvidas
O maniqueísmo inerente ao sistema bipartidário que implantaram nas cabeças de quem tem mais que fazer (não vou aqui discutir o quê) do que acompanhar o dia a dia da política, não tem dinheiro para comprar jornais nem tempo para os ler, conduziu-nos a esta situação.
Metem-nos na frente um papão, põem-no a defrontar alguém de confiança, da confiança dos responsáveis pelo sistema que montaram, está bem de ver, a seguir massacram-nos com propaganda, e vamos a votos.
Temos de votar no menos mau, na realidade no menos péssimo (isto se acreditarmos no que nos dizem). Gritam olha o papão, tem cuidado. Mas o caso está tão mal, que às vezes o pessoal vota no papão. Como terá acontecido com o Trump.
Propomos que cliquem nos links abaixo:
https://www.rtp.pt/noticias/mundo/barack-obama-declara-apoio-a-emmanuel-macron_n999374
http://edition.cnn.com/2017/03/24/europe/putin-le-pen-kremlin/index.html
https://www.publico.pt/2017/05/03/mundo/noticia/envergonhemse-1770721