Quando a informação das duas mortes causadas pela queda de um míssil na Polónia chegou à reunião da semana passada do G20, em Bali, o que o mundo sabia estava condicionado por um despacho da Agência Associated Press, que, violando regras básicas do jornalismo, citava uma única fonte (deviam ser pelo menos duas, de origens distintas), anónima (num caso desta gravidade, e em clima de propaganda de guerra, aceitar o anonimato é um erro grave), identificada como “sénior” da inteligência norte-americana (seja lá o que isso for) e sem contraditório. Segundo a AP, essa fonte dava como certo que se tratava de um ataque russo.
No entretanto, outras agências, “falcões” da guerra, militares, analistas, comentadores em todos os meios de comunicação social, mesmo ressalvando a incerteza das informações disponíveis, começavam a falar detalhadamente da possibilidade do ataque à Polónia, país da NATO, motivar o envolvimento direto de forças da aliança militar ocidental numa guerra contra a Rússia.
Nas televisões, em todos os canais de notícias, vi passar durante umas duas ou três horas, em carrossel incessante, variantes desta informação, taxativa: “Mísseis russos atingem a Polónia”
O espírito dessas comunicações preparava já a opinião pública para a possibilidade da deflagração de uma III Guerra Mundial e até para a guerra nuclear.
Recordo que, oficialmente, a Rússia tem 1600 ogivas nucleares ativas, os Estados Unidos o mesmo número e Inglaterra e França acrescentam 410 ogivas ao lado da NATO. Deve dar para destruir a Humanidade várias vezes em qualquer coisa como 10 minutos, caso esses países disparassem mísseis com essa carga uns contra os outros.
Em Bali, onde inicialmente a maior parte dos chefes de Estado e de governo presentes só tinham a informação que estava a ser dada pelos jornalistas, Ursula von der Leyen sugeriu que os dirigentes dos países do G7 (os mais industrializados do mundo) e os que fossem membros da NATO reunissem para decidir o que fazer: Estados Unidos da América, Reino Unido, Canadá, França, Alemanha, Itália, Japão e os dois representantes da União Europeia convidaram a Espanha e a Holanda, da NATO, a participar na discussão.
Ficou, portanto, o destino de toda a Humanidade a ser debatido por este grupo ocidental (mais o Japão, que alinha sempre com os Estados Unidos), com base num critério formalmente arbitrário: porquê G7+NATO, porquê essa mistura informal de estruturas com naturezas e missões tão diferentes? Porque é que, segundo as notícias, a Turquia, que é da NATO e do G20, não foi convocada para esta reunião?…
Ostensivamente, este grupo decidiu ignorar os chefes de Estado e de governo do restante G20 (as maiores economias do planeta), incluindo líderes de grandes democracias: África do Sul, Arábia Saudita, Argentina, Austrália, Brasil, México, China, Índia, Indonésia e Turquia (para não falar da Rússia) ficaram de fora de uma discussão que, basicamente, tinha este tema: “Vamos, ou não, para a guerra com a Rússia?…”
Como é que se deixam os representantes de quase metade da população mundial, com quem se estava antes a debater o futuro do planeta, “pendurados” na sala ao lado de um debate que podia decidir o destino de toda a gente?!
Quando o presidente norte-americano Joe Biden, já com conhecimento trabalhado pelos seus serviços de informação, anunciou que, afinal, o míssil que caiu na Polónia provinha, quase de certeza, das forças ucranianas, a correção nos media lá se fez.
A agência norte-americana Associated Press, autora, portanto, de “fake news” de difusão mundial, acabaria por publicar, bastante tempo depois, uma correção à notícia inicial. Claro que, se um dia uma notícia falsa deste tipo provocar a guerra nuclear, não vai haver tempo para um desmentido…
A ostensiva indiferença com que este norte ocidental, mais Japão, tratou os países do sul e oriente, numa questão de relevância mundial, teve uma réplica insólita em Bali: inusitadamente, contra a tradição chinesa e oriental, Xi Jiping fez um número para as câmaras televisivas. Ele ralhou com o presidente canadiano por este ter passado para a imprensa o conteúdo de umas negociações secretas entre Canadá e China. “Não é assim que se conduzem conversações”, disse o líder chinês ao embaraçado primeiro-ministro canadiano.
Não sei se antes da reunião G7+NATO (sem Turquia) separada do resto do G20, Xi Jiping seria capaz de fazer esta cena, mas deteto nela a irritação dos dirigentes do sul oriental face à cada vez mais evidente infantil irresponsabilidade dos dirigentes do norte ocidental.
O mundo está a dividir-se, sim, mas não é entre países democráticos e países autoritários.
Enquanto mostravam triunfantes entradas em Kherson – de mercenários americanos, polacos, ingleses e poucos ucranianos -, assistidas pela meia dúzia de transeuntes e familiares de militares, oportunamente reunidos para a fotografia, 6 jornalistas da CNN e da Sky News “enganaram-se” e, na ânsia de mostrar os acontecimentos antes de outros, mostraram também o que não deviam: a repressão bárbara aos habitantes russófonos que ficaram para trás. Os 6 apressados “jornalistas” viram retiradas as suas credenciais e foram obrigados a abandonar o país. A situação não estava “estabilizada” disse Zelensky. É assim o país de Zelensky, que se tornou uma versão “estabilizada” para Hollywood filmar.
As imagens de punições sumaríssimas, perpetradas por militares, multiplicaram-se nas redes sociais e, pasme-se, na imprensa empresarial ocidental. Contudo, enquanto nas redes sociais encontrámos as ditas imagens acompanhadas de veementes denúncias contra a barbaridade dos atos em causa, já na imprensa empresarial de Wall Street, o tom era triunfante: os “colaboradores” russos estão a “pagá-las”, isto enquanto mostravam imagens de seres humanos atados a postes, como os esclavagistas faziam aos escravos fugitivos para os castigar (alguém os ensinou, não é?) ou com a cabeça totalmente tapada com fita-cola.
A par do que tem sucedido desde 2014, a imagem de seres humanos ucranianos russófonos suscita tanta rejeição junto dos modelos falantes, funcionários da imprensa de Wall Street, como as imagens de palestinianos mortos a tiro e a sangue frio pelas forças do apartheid sionista. Nem um “ai”. Toda a sua consternação se fica pelos – também desgraçados – escolhidos pelas cartilhas mais ou menos ocultas que recebem. Uns merecem, outros serão sub-humanos, segundo as suas classificações. Quem, como eu e muitos outros, se atravessa e diz: todos merecem a nossa fraternidade por igual, é logo catalogado com um inoportuno: “deves estar na folha de pagamentos de Putin”.
Se dizemos: “esta guerra tem uma história”, “não começou em fevereiro – que é até onde a vossa moleirinha consegue ir, do ponto de vista histórico” -, somos logo reduzidos a “fantoches de Putin” e a propagadores de “desinformação de Putin”. Contar a história toda, desde o início, ato por ato, acontecimento por acontecimento, como deve ser feito, para que quem interpreta possa ter uma visão geral e histórica dos fenómenos, passou a ser “propaganda” e “desinformação”. A “verdade” passou a ser contada como um conjunto de factos isolados, desligados e desagregados da sua sucessão histórica. Assim contados, os factos isolados permitem uma manipulação fácil, mantendo escondidos os reais atores em confronto, ou mostrando apenas os atores que se pretendem estigmatizar, concentrando o foco nos factos que apenas estes iluminam.
E é esta lógica que justifica que se transmitam notícias como as que mostram a Itália de “Benita” Meloni desavinda com a França de Macron “Mackinsey”, por causa dos barcos de refugiados vindos do Mediterrâneo, sem nunca, mas mesmo nunca, colocarem o dedo na ferida. É que, a par do gangue democrata de Obama nos EUA e da França de Sarkozy e da Itália de Berlusconi, não encontramos no mundo maiores responsáveis pela destruição da Líbia, que constituía um verdadeiro muro “à prova de migrantes” para a Europa. A par da Síria, da Jordânia, Tunísia ou Argélia, a Líbia era um dos maiores recetores de migrantes subsarianos. Hoje, nem ficam com eles, como é da própria Líbia e, agora já não tanto, da Síria, que tanta gente vem. Estes três enormes “democratas” e líderes do mundo “livre” destruíram a vida de dezenas de milhões de pessoas, sendo que, se a Síria com a ajuda dos “ditadores” do costume lá vai recuperando a sua dignidade, na Líbia vendem-se escravos e armas (vindas, quiçá, da Ucrânia) a céu aberto.
E assim se dividem os bons e os maus, o ditador e o democrata, o livre e o oprimido, partindo daí para o cancelamento de tudo o que é contrário ao que se diz, ou identifica o que se cala. Quem está do outro lado do ecrã e vê apenas a imprensa de Wall Street (que é a que aparece nas TV’s, jornais e nas primeiras 50 ou 60 páginas do Google sobre o assunto, nas notícias sugeridas e nos clippings recebidos ), passa a construir a sua opinião por reação e não por dedução, indução, integração… A mente da maioria dos passivos transeuntes digitais funciona como o sistema binário do computador – ou é “1” ou é “0”. Qualquer posição intermédia tem de ser, necessária e forçosamente, arrastada para o 0 ou para o 1.
Enquanto mostram os pouquíssimos residentes restantes – nunca contando que de uma cidade de 280.000 habitantes, só já restavam 115.000 -, a esmagadora maioria dos quais pobres, que não puderam sair para este ou para oeste, e que, só com a ajuda russa, a quase totalidade pôde sair dos alvo da artilharia de Zelensky, normalmente apontada aos civis e não aos militares, como método de punição coletiva, bem conhecida da história, a imprensa de Wall Street nunca diz que, mesmo assim, restaram alguns pobres ucranianos ucranianófonos, vivos e alimentados, o que já não acontecerá aos russófonos que também por lá ficaram. Mais uns dias e também aparecerão as célebres “câmaras de tortura”, “camiões crematórios” e “valas comuns” ou “corpos nas ruas”, todas “culpa” dos mesmos de sempre. Há que fazer alguma coisa com os corpos destes desgraçados, que como os outros, nada têm a ver com esta guerra, mas que a pagam bem caro. No final da estória da carochinha e do João ratão, Zelensky é “democrata”, Putin um “ditador”. O “0” e o “1”, para que as cabeças – pouco – pensadoras do ouvinte, compreendam bem e depressa a mensagem a passar.
E a mensagem é bem trabalhada. Ora veja-se só a “Integrity Initiative” (Iniciativa pela Integridade – esta da Iniciativa, diz muito, muito). Esta iniciativa visa, segundo o documento explicativo “defender a democracia contra a desinformação (tradução do inglês) ”.
Nascida do “Disinformation Governance Board”, o órgão governamental criado pelo gangue Biden para combater a desinformação na Internet e que se tem comportado como um verdadeiro “Ministério da verdade”, mandando censurar o que não cabe na sua definição de “verdade” e propagar o que classifica como tal, esta “Integrity Initiative” é gerida por Nina Jankowicz (vão sempre aos russófobos do leste europeu), e trata-se de uma ONG americana, financiada de forma obscura pelo governo Inglês e Americano, recorrendo a outra ONG sediada na escócia – o “Institute for Statecraft” (Instituto para o “Estadismo”).
E o que faz esta Integrity Initiative? Dedica-se a operações encobertas nos países ocidentais sob a capa do combate à “desinformação”. Esta organização é a responsável pela estereotipada e nada dissonante informação internacional que recebemos de todos – TODOS – os órgãos de imprensa empresarial nos países ocidentais e demais colónias no Pacifico. E como o faz?
Esta ONG organiza clusters (núcleos) de influenciadores por cada país, identificando académicos, jornalistas, burocratas da segurança nacional, lobistas, membros de grupos de reflexão e outros profissionais que influenciam toda uma rede informativa a partir daí construída. Estes “líderes” nacionais, passam a estar ligados a pessoas de contacto da ONG (que podem ser do Departamento de Estado, da CIA, da NSA; do MI6…) que fornecem a informação a passar.
Estes influenciadores, regra geral pouco conhecidos do público, como convém, têm de ser gente inteligente e capaz de dar solidez teórica à informação recebida, bem como ter capacidade de liderança para agregar os destinatários (jornalistas, comentadores, diretores de imprensa…) à sua volta. Mas estes influenciadores não se limitam a receber, mastigar e transmitir. Não. Também identificam linhas de “desinformação”, para que sejam “trabalhadas” por quem tem capacidade de decisão, normalmente gente que está para lá das pessoas de contacto da ONG. Trata-se de uma organização com comunicação bidirecional.
O resultado é uma cartilha. Esta cartilha estabelece as regras informativas – literalmente o que dizer em cada situação – relativamente a “fact-checking”, “interpretação de imagens”, “versões relativas a acontecimentos diversos” e “metodologia de análise”.
Mas a cartilha também tem regras sobre recrutamento, que perguntas fazer para se identificarem “pessoas de confiança” e tudo o mais. É o que podemos chamar de Psyop, ou seja, um bom exemplo de operação de guerra psicológica.
Já antes havia falado do esquema de funcionamento da operação informativa sobre o conflito. Esta Integrity Initiative trata de alimentar essa operação com informação e atores. Eis porque ouvimos as mesmas coisas, vindas de pessoas e órgãos que se dizem diferentes. Tudo estaria bem se fosse transparente, se as pessoas fossem avisadas de que o que estão a ouvir vem de onde vem. Mas não, o objetivo é precisamente o contrário, pois é essa opacidade que baixa as guardas mentais de quem está do outro lado da informação. Podem ver mais detalhes aqui (países, listas de pessoas, financiamento.
Esta operação demonstra que não existe “informação livre” e que, ou vemos para além desta barreira de imprensa empresarial, um mero negócio lucrativo e um poder, não democrático, de manipulação de massas, ou seremos reduzidos a um mero processador que calcula entre “0” e “1”. Mas esta operação mostra, também, que a guerra era preparada e pensada há muito – como sabe quem segue a história – como parte de uma estratégia de domínio muito importante.
Este trabalho “encoberto” em matéria de informação não constitui, propriamente, uma novidade, pois é o próprio Frank Snepp, ex-agente da CIA (reformado) que vem confessar que, ele próprio, usando esquemas como as da Integrity Initiative, fez passar na comunicação social ocidental todo um rol de notícias falsas. Ele disse “falsas”. Do tipo daquela que deu a Associated Press sobre Lavrov, dizendo que ele tinha sido hospitalizado. Afinal era mentira e a AP não tem qualquer fonte para mostrar.
Não sei o que teve a ver, mas a verdade é que o grupo de selvagens composto pelos “líderes do mundo livre”, como não conseguiu que o G20 aprovasse uma resolução a condenar a Rússia (falha o tal isolamento internacional), decidiram boicotar a célebre foto de grupo. Uma vez mais, é a lógica binária, a do “0” e do “1”.
Seja como for, estes conflitos têm uma importância reverencial para o Partido Democrata americano. Uma investigação jornalística descobriu que parte dos fundos multimilionários que são, por ordem de “Toy” Biden, transferidos para a Ucrânia, retorna aos EUA sob a forma de cripto moeda, envolvendo uma empresa chamada FTX. É o próprio Banco Central da Ucrânia que, através de um “protocolo” com a FTX, transforma a moeda local (que nada vale nos EUA) em algo que possa financiar o partido. Nada que admire, tal o nível de corrupção daquele regime.
E enquanto passam o mundo a preto e branco, eis que, o resultado da volta turística de Scholz à China já se faz sentir: a BASF vai deslocalizar-se. Mais uma empresa europeia que vai embora. Se bem que, convém assinalar, não é para os EUA que vai, como esperaria “Toy” Biden, que com a estratégia de inflacionamento dos custos energéticos na EU, esperaria ver uma digressão em massa de grandes corporações para a Califórnia. Não… Vão para onde mais cresce a economia. Como seria de esperar. Mas cumpre um dos objetivos: afastar a Europa do seu papel de competidor dos EUA: e com ajuda da própria.
Uma vez rebentado o Nord Stream, desvalorizado o euro e adquiridos biliões de dólares em imobiliário nas nossas cidades, já dá para encetar negociações (já não tão) secretas em Ankara com a Rússia e tentar aliciar a China de Xi. Não me parece que Xi vá na conversa do “democrata” Biden… É assim com os “ditadores” modernos: raramente se vendem. E depois, lá vem de novo o “0” e o “1”.
Esta semana pôde assistir-se a relatos na comunicação social dos EUA admitindo abertamente que os serviços de inteligência americanos estão a semear conscientemente desinformação na comunicação social.
Uma vez, o ex-diretor da CIA William J. Casey disse abertamente ao presidente americano Ronald Reagan e a outros assessores durante uma reunião na Casa Branca: “Saberemos que o nosso programa de desinformação está completo quando tudo aquilo em que o público americano acreditar for falso”.
Alguns viram essa observação como um aparte irreverente que não era suposto ter uma consequência real. Outros, no entanto, afirmaram que tinha conotações sinistras muito mais deliberadas, cuja escala de controle público do pensamento é um objetivo consciente.
Quando se observa como o conflito na Ucrânia e as relações ocidentais com a Rússia estão a desenrolar-se e a forma como a comunicação social ocidental noticia isso, as palavras de Casey parecem ser um aviso sombrio.
Esta semana apareceram alegações chocantes amplificadas na comunicação social americana e ocidental de um massacre na cidade ucraniana de Bucha supostamente realizado por tropas russas. A fonte dessas alegações foi a milícia ucraniana associada ao Batalhão Azov, infestado de nazis. O Batalhão Azov, cujos membros exibem abertamente a insígnia das Waffen-SS, foi treinado e armado pelos Estados Unidos e outros militares da NATO na última década.
Não houve nenhuma tentativa da comunicação social ocidental de verificar as alegações sensacionais feitas contra a Rússia. Foram impressas e transmitidas com entusiasmo, levando a mais sanções ocidentais e fornecimento de armas à Ucrânia em apoio ao regime de Kiev. O que é ainda mais perturbador é que a informação que pretende incriminar as tropas russas é questionável. As supostas atrocidades parecem ter ocorrido vários dias depois de as forças russas se retirarem da área.
Moscovo alegou que os assassinatos foram realizados pelo batalhão Azov, apoiado pelo Ocidente, numa provocação de bandeira falsa para culpar a Rússia. No entanto, a comunicação social ocidental rotulou em reflexo as alegações russas como “propaganda do Kremlin”. Até mesmo analistas ocidentais e fontes de comunicação social alternativa foram difamados ou censurados por ousar desafiar a narrativa de supostas atrocidades russas. Uma dessas vozes independentes é a de Scott Ritter, ex-oficial do Corpo de Fuzileiros Navais dos EUA, que foi temporariamente banido das redes sociais esta semana por fazê-lo.
Uma ironia amarga é que esta semana também se assistiu a reportagens na comunicação social americana admitindo abertamente que os serviços de inteligência americanos estão a semear conscientemente desinformação na comunicação social. Longe de sentir vergonha ou arrependimento, as agências de inteligência e a comunicação social dos EUA estão exultantes com a prática de atribuir à Rússia a “guerra de informação”.
Algumas das histórias de desinformação admitidas incluem alegações de que a Rússia estava planear usar armas químicas na Ucrânia; que o presidente russo Vladimir Putin estava a ser enganado pelos seus generais sobre a falta de progressos na guerra; e que Moscovo estava a procurar obter suprimentos de armas da China para a guerra na Ucrânia. Todas estas histórias são agora reconhecidas como falsas. A comunicação social dos EUA está a mentir ao público e a admitir isso abertamente. Mas, supostamente, tudo bem porque é em nome da guerra de informação contra a Rússia.
Outra história de desinformação foi a alegação feita em fevereiro pelo Departamento de Estado de que a Rússia estava a preparar-se para encenar ataques de bandeira falsa para servir de pretexto para invadir a Ucrânia. Quando o porta-voz do Departamento de Estado Ned Price foi desafiado pelos repórteres na época a fornecer provas concretas, ele insinuou sarcasticamente que esses repórteres estavam a promover propaganda russa. Acontece agora que o Departamento de Estado estava a vender mentiras plantadas por seus serviços de inteligência.
Nada desse conluio chocante entre serviços de notícias supostamente independentes e o aparelho secreto de inteligência deveria ser surpreendente. Afinal, o ex-diretor da CIA Mike Pompeo estava a gabar-se em público sobre o modo como a agência “mentiu e trapaceou o tempo todo” como um distintivo de honra.
Sabemos, de há décadas atrás, como a Operação Mockingbird foi um programa ambicioso da CIA para se infiltrar em todos os meios de comunicação dos EUA com editores e repórteres obedientes como agentes.
Frank Wisner, um importante oficial de inteligência da CIA, uma vez maravilhou-se com o que ele chamou influência da agência sobre a comunicação social como o “Poderoso Wurlitzer”, uma imagem adequada de um tocador de realejo a chamar a atenção para o discurso e a perceção do público.
Num trabalho de investigação de 1977 feito por Carl Bernstein, do Washington Post, famoso pelo seu papel no Watergate, foi relatado que centenas de jornais e emissoras nos Estados Unidos foram recrutados para o serviço da CIA. Os meios de comunicação incluíam o supostamente venerando New York Times até aos jornais provinciais em estados rurais poeirentos. Curiosamente, considerando a visão anterior de Bernstein sobre o controle do pensamento público pelo aparelho de inteligência, ele mais tarde tornou-se um defensor da farsa “Russiagate” inventada pela inteligência dos EUA, implicando o ex-presidente Donald Trump como um fantoche russo.
Outra formidável fonte de verdade é o ex-agente sénior da CIA John Stockwell, que deu testemunhos copiosos e escreveu livros sobre como a CIA executa campanhas de desinformação da comunicação social em escala massiva e mundial.
Na Europa, o ex-editor de jornal alemão Udo Ulfkotte escreveu uma reportagem sobre como a CIA e outras agências de inteligência ocidentais recrutam funcionários em todos os principais meios de comunicação europeus para atuar como os seus olhos, ouvidos e bocas. Sabe-se também que a emissora estatal britânica, a BBC, foi, e talvez ainda seja, censurada pelo seu serviço nacional de inteligência, o MI5.
Embora tais revelações fossem conhecidas e divulgadas, era sempre uma conversa mole para evitar amplificar o escândalo para uma profissão que se gaba de guardiã do interesse público independente, da liberdade de expressão e pensamento, crítica do poder político e todo tipo de outros nobres epítetos.
Sempre foi um conceito ocidental denegrir a propaganda estatal como algo que foi feito na União Soviética e na Rússia de hoje, na China e em outros supostos estados “autocráticos”.
Diz o roto ao nu! A comunicação social ocidental, há muito, é muito mais culpada de vender desinformação ultrajante ao serviço das suas insituições de segurança militar. A farsa das armas de destruição em massa que levou à guerra genocida no Iraque em 2003 foi talvez o ponto mais baixo entre inúmeros outros episódios desonrosos. Há mais tempo tinha havido o falso incidente do Golfo de Tonkin que levou à Guerra do Vietname. Mais recentemente, houve a suposta mas falsa campanha de violações por soldados sob o comando do líder líbio Muammar Gaddafi que levou ao bombardeio da NATO na Líbia e ao assassinato de Gaddafi em 2011. O bombardeamento da NATO à Síria foi precedido de falsas alegações generalizadas da comunicação social ocidental de atrocidades com armas químicas que foram realmente realizados por representantes da mudança de regime apoiados pela NATO.
Na Ucrânia, a guerra foi precipitada pela NATO armando um regime nazi que estava a atacar a etnia russa no Donbass. Desde que a guerra eclodiu em 24 de fevereiro, após oito anos de provocações, a comunicação social ocidental acusou os militares russos de bombardear hospitais e teatros e agora de executar civis a sangue frio.
Isto é da mesma comunicação social que agora admite abertamente ser agente da desinformação e que parece não ter vergonha disso. Na verdade, eles estão orgulhosamente a gabar-se do seu papel de mentirosos como algo nobre. Esses meios de comunicação são cúmplices em alimentar conflitos e guerras. A sua função é encher o público de ignorância e nacionalismo exacerbado contra a Rússia para fortalecer a causa das indústrias e economias belicistas. Neste clima orwelliano distorcido, falar a verdade é cometer crime de pensamento e ser vilipendiado por aqueles que se exaltam na mentira.