2022 à la minute — On my own

(Carlos Matos Gomes, in Medium.com, 31/12/2022)

(Mais um texto excelente do Coronel Matos Gomes. 2022 em minuciosa e acertada revista. Alguns dos “prémios” e factos do ano revisitados são um verdadeiro achado, de uma ironia de fino recorte. Um grande bem-haja a uma das poucas vozes lúcidas que ainda consegue pensar no meio da alucinação coletiva destes tempos negros, uma espécie de Matrix de largo espectro.

Estátua de Sal, 31/12/2022)


Gosto mais da frase em inglês — on my own — do que em português: só comigo.

A minha intenção ao escrever este texto sobre o ano de 2022 é a mesma dos solitários que fazem desenhos na areia: entreterem-se enquanto falam consigo próprios. Depois, quem passa olha, se lhe apetecer acrescenta, apaga, ou distorce. E segue o seu caminho. A nova maré levará a obra. O desenhador irá olhar o vazio para lá do horizonte.

Bom ano de 2023.

Personalidades portuguesas:

– Marta Temido, a sua equipa e o SNS. A frágil ministra, juntamente com o seu sereno secretário de Estado, enfrentaram o mais poderoso e desapiedado gangue do planeta: o dos industriais e comerciantes da saúde. Os Serviços Nacionais de Saúde são uma ofensa inadmissível para os mercadores dos medicamentos, dos hospitais e clinicas, dos laboratórios e fábricas de equipamentos. Marta Temido e o seu secretário, mais da Diretora Geral da Saúde enfrentaram-nos. Se tivessem a mais pequena sombra no seu currículo, nas suas vidas privadas estariam entregues aos bichos, aos liberais! E nós, os cidadãos, com eles.

– Os “uberistas”, sejam os condutores de automóveis sejam os distribuidores de comida às costas que respondem às app e aos Tm. São os novos escravos, sem esquecer os importados para os trabalhos agrícolas. Eles antecipam o futuro das sociedades ditas desenvolvidas, e neoliberais, a par dos “colaboradores” em teletrabalho e dos robôs.

Personalidades Internacionais:

– Mohamedou Ould Slahi, prisioneiro dos Estados Unidos no campo de concentração de Guantanamo, que faz 20 anos. Passou 14 anos atrás das grades. Foi torturado durante 70 dias e interrogado 18 horas por dia durante três anos. Morava na Alemanha antes de ser preso, era suspeito de ser membro da rede Al Qaeda e de ter um papel central nos ataques terroristas de 11 de setembro de 2001, apesar de não haver nenhuma prova contra ele. Jamais foi indiciado ou condenado durante os 14 anos que passou em Guantánamo. O mauritano, agora com 50 anos, acabou sendo libertado, mas jamais foi compensado após sua parte de sua vida ter sido roubada.

– Mulheres do Irão, do Afeganistão, da Arábia. A indignação com a morte de Mahsa Amini, uma jovem de 22 anos que morreu após ser detida pela política de moralidade do Irão, supostamente por usar seu hijab de forma inadequada, desencadeou protestos em todo o país que já duram semanas. Mas também as mulheres que têm de vender os seus filhos no Afeganistão, para sobreviver, as crianças forçadas ao casamento, as mulheres que têm de ser inexistentes porque os homens inventaram um Deus que odeia mulheres e vivem num mundo em que os homens odeiam as mães e as irmãs.

Acontecimentos Internacionais do Ano:

– A invasão russa da Ucrânia que materializou a rutura entre a Europa ocidental e a Rússia e, por arrastamento, de boa parte do mundo que não aceita um mundo sujeito aos Estados Unidos. Entrámos numa nova era e a Europa passou para a categoria dos serventes.

– A saga da família Windsor — A aristocrática família Windsor, com estabelecimento principal em Londres, proporcionou uma fotonovela permanente e expressão mundial com mortes, funerais, boatos, traições, assédios, amuos, racismo que competiu com os vários Big Brother plebeus. Reis e rainhas, príncipes e princesas, duquesas e marquesas deram o corpo ao manifesto para que nunca ao povo faltasse um motivo de espanto. As televisões agradeceram este maná, assim como os vendedores de quinquilharia e souvenirs. Artistas de primeira. Uns reinadios. Mas vendem e vendem-se bem, vivos ou mortos!

– A pedofilia religiosa: O assunto da pedofilia é sério sob todos os em pontos de vista. As igrejas e as religiões (e a pedofilia não será certamente exclusiva da Igreja Católica) não têm tabus na exploração dos crentes e dos que lhes possam servir de matéria a dominar, a violentar. As religiões são um crime continuado há milénios. Os deuses são feitos à imagem dos piores dos homens. A Igreja Católica do século XXI tem a seu favor relativamente às outras o facto de se expor. No Islão a pedofilia é oficial e abençoada pelas leis do profeta, com o casamento de crianças.

– O fanatismo islâmico: Mata à vista dos cabelos das mulheres, do seu pescoço, do tornozelo, da inteligência. Mata para impedir a humanidade e dignidade da mulher, mata pela cobardia dos homens perante as mulheres. Seitas de assassinos no Irão e nas Arábias são os nossos melhores aliados porque vendem petróleo em troca de mulheres.

Acontecimento Nacional do Ano:

– A placidez nacional perante o mundo. Resistimos com disciplina à pandemia, votámos uma maioria para não termos surpresas, fazemos julgamentos na praça pública para não incomodarmos juízes e procuradores, acreditamos que vai ficar tudo bem, apesar das breaknews das televisões e das suas campanhas de bombardeamento a propósito de desgraças cíclicas previsíveis, incêndios e cheias, gripes e entupimentos nas urgências. O Zé Povinho, totem nacional criado por Bordalo Pinheiro, tudo aguenta e quando bufa fá-lo sem grande alarido nem convicção. O Presidente da Republica representa o pensamento nacional melhor do que os condutores de táxi e os barbeiros.

Acontecimentos inculturais do ano:

Nacional:

A saga do Big Brother, um verdadeiro teletrabalho de Filosofia de Alcova representado por uns rufias e umas gajas despachadas.

Os concertos sem dó dos programas das TV nas tardes de Domingo, com domingos e dominguinhas e acompanhamento de modelos atualizados das netas das pin-up do Vilhena, ao vivo e a cores. Espetáculos multimédia, alguns de autocarro (uma reativação das excursões da FNAT!). E têm audiências!

As Claques, a grande alteração do ano foi a passagem das claques do futebol para as claques das televisões. A mesma violência do “Só os nossos são bons!” Quem não acredita em nós é do inimigo. Onde havia superdragões, no name boys, lagartos e torcida leonina, há agora CNN de Queluz, SIC de Paço de Arcos, RTP de Olivais. Onde havia coiratos e cervejas há água de marca branca, mas mantem-se a gritaria e a injúria ao pensar.

Internacional: O campeonato do mundo de futebol no Qatar

Perguntas internacionais do ano:

– Cristina Lagarde percebe alguma coisa de finanças?

– Os aiatolas do Irão, os xerifes do islamismo, os chefes da Alqaeda, os talibans têm mãe e irmãs? Nasceram paridos por quem? São casados com quem? São tarados?

– Onde espera o Zelenski gozar a reforma? Miami? Mónaco?

– De quem foi a ideia de criar um tribunal para julgar o governo russo, o que implica mandar um oficial de justiça a Moscovo trazer o Putin, os seus ministros e generais para serem julgado por crimes de guerra no tribunal internacional dos estados que bombardearam a Sérvia e invadiram o Iraque?

– Existe algum espaço que o Elon Musk não explore?

– O sucessor do Trump será menos grotesco que o original?

– Quem é o chanceler da Alemanha, dado que a antiga germania está no estado sede vacante, sem papa, bispo, cura, sacristão?

– Os Verdes e Pacifistas alemães já estão maduros para aderirem ao nuclear e para negociar armamento?

– A descoberta da produção rentável de energia através da fusão nuclear é verdadeira, ou apenas uma mentira piedosa do governo americano para mascarar a falta de alternativas ao petróleo e ao gás da Rússia?

– O Batalhão do Mónaco, dos milionários patriotas ucranianos aliados de Zelenski e na frente de batalha do principado, deixou de comer caviar russo?

– Os satélites espiões e as armadas da NATO ainda não descobriram onde os petroleiros indianos passam o petróleo russo para os petroleiros com bandeira do Panamá? E também não descobriram nenhuma atividade estranha junto aos gasodutos Nordstream que explodiram nas águas territoriais suecas?

– O Iémen ainda existe? E a Líbia?

– Há algum correspondente de guerra das televisões na Palestina?

– Em que número vai o pacote de sanções à Rússia? Quando sairá um novo?

– Dado que o empresário é o mesmo, a guerra no Kosovo está a aguardar que a da Ucrânia arrefeça para acender as fornalhas, ou pode começar desde já?

Perguntas nacionais do ano:

– Onde será o novo aeroporto?

– Haverá novo aeroporto?

– Que acordo ortográfico vigora nas legendas das televisões?

Pergunta eterna:

Até quando aguentará o Muro das Lamentações as cabeçadas que lhe dão?

Vencedores do ano:

– O Qatar (dos emires de camisa de dormir e dos camelos que lá foram ver a bola), que conseguiu organizar um campeonato do mundo de futebol num deserto, num país onde não se joga futebol e onde não cresce relva. Prova de que não existem impossíveis: desde que se pague.

– Os Estados Unidos, que conseguiram separar a Europa Ocidental da Rússia e integrá-la como estado vassalo.

– As indústrias da saúde, dos armamentos e do petróleo — que tiveram um ano de belos lucros e que, com a derrota da Europa na guerra na Ucrânia, e o consequente fim do estado social, terão ainda melhores perspetivas com a total liberalização dos serviços médicos e sanitários.

– Elon Musk: que ganhou milhões do governo dos Estados Unidos (ele é um liberal — abaixo o Estado) a colocar satélites (até aos 12.500) para transmissão de dados e condução de operações militares por conta dos Estados Unidos; comprou o Twiter para transmitir a sua visão do mundo da selva, do cada um por si e ele a receber de todos, despediu os colaboradores e ainda levou um português a dar uma voltinha de foguetão num parque de diversões para adultos que querem ser famosos.

– A igreja IURD e o seu bispo milionário, que batizaram Bolsonaro e transfiguraram um ser cavernícola numa espécie de humanoide, conseguindo a proeza de o fazer eleger sem ele falar e de o manter disfarçado de Presidente do Brasil durante toda uma legislatura! Não admira, pois, que nas ditas igrejas evangélicas os paralíticos andem, os cegos vejam e os mudos cantem!

– O Presidente da Coreia do Norte, que escapou mais um ano ao destino de Saddam Hussein e de Khadafi lançando uns foguetes para o Mar do Japão, avisando que podem transportar as armas de destruição maciça que os EUA não descobriram no Iraque e que, ao contrário da Líbia, não tem petróleo no território, mas que para umas doses de urânio ainda se arranjam alguns trocos.

– Recep Erdogan, presidente da Turquia, que se marimbou para as sanções americanas à Rússia, manteve o diálogo com todos os atores da região, recebeu os curdos atados de pés e mãos dos países nórdicos a troco de os deixar entrar na NATO, que ele utiliza para fazer negócios, arbitrou o trânsito de navios de cereais no Mar Negro e parece ser o único interlocutor sensato e com acesso a todas as partes neste conflito. Chapeau!

O Grande Vencedor do Ano:

– Xi Jiping! Quase sem se mexer, sorrindo, o presidente da China, Xi Jiping, tornou-se o homem mais poderoso do planeta. Ele é o chefe do novo polo mundial que se confronta com os Estados Unidos. O polo encabeçado pela China inclui a Rússia e a Índia, os restantes Brics, caso do Brasil e de alguns dos principais países africanos. Um polo com um mínimo de 3 potências nucleares, que será determinante no Pacífico e no Índico, que criará uma nova moeda de troca mundial, que integra a nação com maior superfície territorial no planeta, a Rússia, e as duas mais populosas nações, a Índia e a China. Uma China que determinará a ação política de potências como o Japão e a Coreia.

Fantasma do ano:

– Liz Truss — a speedy Gonzalez do governo inglês (40 dias no 10 de Downing Stree!). O Reino Unido na decadência até da imagem de respeitabilidade, dirigido por aventureiros como ela, como Farage e Boris Johnson.

Ideia luminosa

– Criptomoeda — Bitcoin e correlativos. Na área da banca, finança e outros mistérios, o vencedor será Luiz Capuci, americano de 44 anos, residente na Florida, acusado dos crimes de “conspiração para cometer fraude eletrónica, fraude de valores mobiliários e lavagem de dinheiro a nível internacional”. Capuci enganou os investidores sobre o programa de criação e investimento de criptomoeda da sua empresa, que oferecia investimentos através da compra de “pacotes de mineração”. Há quem acredite e invista em pacotes de mineração!

Música do Ano:

– Tempestade perfeita e Sinfonia imperfeita pelo trio Ursula Van Der Leyen, Borrel e Mitchel, acompanhados à metralhadora por Jens Stoltenberg com orquestra da NATO. Destroçaram a Europa a toques de finados.

Vergonha Internacional do ano:

– A continuação da prisão de Julian Assange!

Zômbis internacionais do ano:

Trump e Bolsonaro — ainda não sabem que deixaram de existir.

Zômbis nacionais do ano:

– Maria João Avilez e Marques Mendes — também não existem, mas gralham.

Palavras do ano:

– Drone! Pacote! Bazuca! AZOV! Dívida! Gás e eletricidade! (E porque não: à rasca!)

Perplexidades do ano (vindas do anterior):

– As inadiáveis consequências das alterações climáticas afinal podem esperar em pousio até ao final da guerra na Ucrânia?

– Os carros elétricos poluem mais do que os de motores convencionais? O que fazer com as baterias usadas? Para quando aviões elétricos, paquetes de cruzeiro elétricos? Para quando uma guerra ecológica com foguetões intercontinentais elétricos?

– Israel tem bombas atómicas no Médio Oriente, mas o perigo são as que o Irão não tem?

– Os palestinianos são seres humanos, ou alvos para os israelitas treinarem?

– Moscovo e São Petersburgo são cidades asiáticas? Sidney é europeia?

– O COVID foi inventado por um chinês, mas porque vão os lucros das vacinas para as multinacionais americanas e europeias?!

– Qual a diferença entre um oligarca russo e um multimilionário americano?

– Como foram substituídos os trabalhadores pelos colaboradores na civilização do Ocidente neoliberal e porque ficaram os emigrantes de fora da conversão?

– Quantas voltas dará Marcelo Rebelo de Sousa ao mundo até ao final do mandato?

– Onde estava C Costa, o governador do Banco de Portugal, enquanto o BES foi o Dono Disto Tudo?

– Além do grito: Vergonha! Qual é o programa político dos seguidores do esbracejante Ventura, depois de, segundo o DN de 27 de Agosto (na distração das férias) de ter “eclipsado” a destruição da escola pública e do SNS das suas bases programáticas?

– O que é a clarificação inversa que o chefe do Chega invoca para propor a lei da selva?

– Além de receberem mensagens do exterior e fazerem de porta-vozes, de irem a reuniões no estrangeiro, qual é a atividade dos ministros da Defesa e dos Negócios Estrangeiros?

– A ASAE já sabe quantos gramas têm os novos quilos dos produtos que mantiveram os preços nas embalagens?

– Quando saberemos se somos visitados por extraterrestres?

Frustrado do ano (nacional):

– O bastonário da Ordem dos Médicos, que ainda não conseguiu extinguir o Serviço Nacional de Saúde!

Frustrados do ano (internacional):

– Os acionistas da Nord Stream, a empresa de transporte de gás cujos pipelines foram sabotados por sapadores amigos. A Nord Stream é uma rede de gasodutos subaquáticos através do Mar Báltico que deviam fornecer gás natural diretamente para o sistema europeu de transporte a partir das vastas reservas de gás da Rússia. Esta infraestrutura de energia de última geração financiada pelo setor privado teria uma vida útil de pelo menos 50 anos, forneceria gás aos seus parceiros europeus, contribuindo assim para a segurança energética da Europa nas próximas décadas. O consórcio de gasodutos Nord Stream AG tinha sede em Zug, na Suíça, era uma joint venture internacional para o projeto, construção e operação dos novos gasodutos offshore. A russa Gazprom detinha uma participação de 51% na joint venture; as empresas alemãs BASF e PEG Infrastruktur AG detinham 15,5 por cento cada; a empresa de gás holandesa Gasunie e a francesa Engie 9% cada. Os 5 acionistas principais detinham 30% do capital de 7,4 mil milhões de euros e 70% tinha sido colocados no mercado de capitais. Um investimento a longo prazo com dividendos assegurados. De repente tudo explodiu. A 27 de Setembro de 2022 várias explosões subaquáticas danificaram o gasoduto de forma dificilmente reparável. Nenhum autor desta sofisticada sabotagem no mar territorial da Suécia se assumiu. Os dois gasodutos de NordStream tinham capacidade para fornecer 27,5 mil milhões de metros cúbicos de gás por ano, isto é 12% das importações de gás da União Europeia. Foi tudo por água abaixo (ou acima), mas os desiludidos que esperavam ganhar uns milhões de lucros em dividendos mantêm-se em silêncio cobarde.

Moda 2022

– Elas: Jaquetas de libelinha azul sobre T-shirt amarela à Úrsula Van Der Leyen.

– Eles: Camuflado diplomático à Borrel, ou T-shirt verde azeitona à Zelenski.

– Cartões de crédito platina (em alternativa, conta no Dubai, no Qatar, nas Ilhas Caimão, ou no Estado de Delaware

Destino turístico do ano

– Kiev — que substituiu Kabul, que tinha substituído Belgrado, que sucedera a Bagdad, ou ao contrário.

Desaparecidos do ano

– Guaidó, o presidente virtual da Venezuela (Washington não paga a inúteis).

– Carles Puigdemont o libertador da Catalunha, em parte incerta pela Europa.

– Nigel Farage — o patrocinador do Brexit. Desaparecido depois do êxito da campanha.

Ressuscitado do ano:

– Sílvio Berlusconi! Apareceu, recauchutado, na segunda fila de um governo italiano liderado por uma espampanante fascista. Regressam as festas bunga-bunga. Que tipo de Viagra tomará?

Imortal do ano:

– Pinto da Costa

Funerais e velórios:

– Da rainha Isabel de Inglaterra e de Eduardo dos Santos de Angola — um grande espetáculo de sofreguidão com abutres e hienas sobre dois cadáveres!

Produtos do ano (segundo o sales manager Rogeiro):

– Gás liquefeito americano (para evitar a dependência energética da Europa!); HMRS (um género de lançadores de fogo à distância).

– Canhão Caeser — 40 quilómetros de viagem sem reclamações.

– Míssil Patriot

– Javelins

– Fakenews

Objeto nacional do ano:

– Pilaretes, radares, ecopistas

Livros do Ano:

– Nacional: «O Governador» — como sacudir a porcaria do capote e espalhá-la pelos inimigos, de C. Costa, gerente de banco.

– Internacional: «Não Te F* das», de Gary John Bishop, que também escreveu «Sai da Tua Cabeça e Faz-te à Vida» — O livro vale pelo título, Não Te F*das é o manual de instruções para os que se resignaram à sua vidinha, ou para aqueles que querem (muito) mais do que têm. É, segundo a editora, “um verdadeiro manifesto para uma mudança real e significativa”. Traduzido já em 24 países, incluindo, segundo a promoção, o Vietname, passando pela Mongólia. É, julgo, livro de cabeceira dos autores nacionais de bestsellers.

Grande questão do ano e do próximo futuro:

– Os WC! Os arquitetos e os fabricantes de louça sanitária estão em apuros para definirem o lay out (desenho de colocação e distribuição de equipamentos parecia pouco moderno) das novas casas de banho para o mais recente género da humanidade ocidental, o LGBT. No resto do planeta o assunto tem sido resolvido sem disputas com a natureza.

Há ativistas de causas que propõem uma consulta ao livro do Génesis para descobrir como se aliviam o Adão e a Eva! Para se descobrir se as calças devem ter braguilha e se as saias devem ter presilhas de sustentação.

Aflição do Ano:

– Onde se aliviam os LGBT? (Prevejo que será o grande tema mobilizador das hostes educadas do Ocidente em 2023, em substituição do atirar tinta às obras de arte clássicas!)

Atores Dramáticos do Ano:

– Cristiano Ronaldo e Vladomir Zelenski, Ursula Van Der Leyen e Madame Zelenska.

Pastores Bíblicos do Ano:

Nacionais:

– Rogeiro&Milhazes — Meninos de Deus

Internacionais:

– Jens Stoltenberg — Secretário-geral da Nato e profeta principal do Senhor Deus dos Exércitos.

Pastores ecuménicos nacionais:

– Marques Mendes e Paulo Portas

Pastor ecuménico internacional:

– Mark Sargent, o terraplanista americano que anda pelo mundo a garantir que a Terra é plana. “A ciência diz que estamos numa pequena rocha coberta com um pouco de água e fumo, voando pelo espaço em diversas direções e velocidades. Mas não, tudo o que vemos é parecido com o cenário de filme . “Tudo o que se vê em cima de nós, como as estrelas, os planetas, o Sol e a Lua, são apenas imagens no teto”.

Pessoas como estas guiam automóveis, compram armas e podem viajar de avião a nosso lado. Apanhei um que vinha do Utah, num voo de Nova Iorque, ver o ponto de aterragem da senhora de Fátima em Portugal. Dizia-me que se a Terra fosse uma esfera ela não teria pousado em cima de uma azinheira, seguia em tangente para os confins do universo. E porque não se esborrachou na Serra d’Aire? Atrevi-me a questionar. É o segredo de Fátima, respondeu-me.

Cómicos Internacionais do Ano:

– Os porta-vozes do Kremlin. Um fardado e o outro em efígie.

Episódio pícaro:

– Sofagate. Charles Michel e Ursula Van Der Leyen na dança das cadeiras diante do presidente turco. Michel senta-se ao lado do presidente turco Edorgan, e a senhora de pé, até se decidir pelo sofá. Um casal de frangos em apuros. A União Europeia em contradanças.

Mulher liberal do ano:

Nacional:

– Alexandra Reis — gestora. Que arrecadou 500 mil euros de indemnização por atravessar a rua e ir da TAP à sede da NAV!

Internacional

– Elizabeth Holmes, americana, de 37 anos, fundadora de uma empresa de biotecnologia que prometia revolucionar os exames de sangue com ferramentas mais rápidas e baratas do que as utilizadas por laboratórios tradicionais. Foi acusada, não de charlatanismo, mas de um crime verdadeiramente grave: enganar investidores que colocaram dinheiro na sua startup (ou unicórnio), com sede na Califórnia.

Êxtase do Ano:

– A reportagem do Casal Zelenski e Zelenska, em Kiev, para a Vogue, entre escombros e cetins. Amor em tempo de cólera, do mais refinado. Lágrimas até encher as barragens.

Ingénua do ano:

– Ana Lúcia Matos — apresentadora ou ex-apresentadora de televisão. Uma famosa cujo marido, namorado ou companheiro foi detido e acusado de uma fraude internacional de cerca de 2,2 mil milhões de euros, e que, apesar da vida luxuosa que ele lhe proporcionava, acreditou que tudo era fruto de honesto trabalho!

O nome mais insólito de um território nacional:

– Oeiras Valley — com um xerife chamado Isaltino

A mais estranha operação policial:

– A captura de uma caixa de garrafas de vinho ao ex-bancário e ministro Manuel Pinho!

O milagre do Ano:

O aparecimento de um saco com milhares de euros na casa de uma eurodeputada grega, que louvava o regime do Qatar! A miraculada chama-se Eva. (Eva Kaili) O milagre produziu-se num espaço de paz ecuménica entre o islamismo petrolífero e o cristianismo ortodoxo grego. A dita miraculada é também missionária das criptomoedas.

O Bezerro de ouro:

– O bezerro de ouro do ano chama-se Infantino e é presidente do consórcio mundial de futebol, a FIFA. Organizou um campeonato do mundo a meio dos campeonatos nacionais e no Natal cristão, sobre campos de gás natural e à custa de trabalho de seres humanos bestializados. Os números do espetáculo lá se foram sucedendo até à apoteose final em que os artistas de calções conviveram com dignitários bem ajaezados de fato ou camisa de noite com touca. Poucas mulheres à vista e nada de álcool, nem o champanhinho do costume a esguichar sobre a multidão se viu. Os camelos locais e os do estrangeiro podem agora descansar que o Infantino deve estar a preparar mais um espetáculo com bezerros de ouro e anões de calções.


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A administradora da TAP e a anedota do jacaré

(Carlos Matos Gomes, in Medium.com, 30/12/2022)

(Mais um texto excelente do Coronel Matos Gomes. Um grande bem-haja a uma das poucas vozes lúcidas que ainda consegue pensar no meio da alucinação coletiva destes tempos negros, uma espécie de Matrix de largo espectro.

Estátua de Sal, 30/12/2022


O chinfrim (é disso que se trata) a propósito da saída de uma administradora da TAP, que recebeu uma boa indemnização e foi para outra empresa de onde transitou para o governo é uma algazarra como a que há anos, a propósito da lei do aborto, as beatas rurais mobilizadas pelos curas fizeram gritando à porta dos governos civis: “Não ao aborto, sim aos desmanchos!”

Há, é evidente, uma questão ética (falta de) na transumância da administradora da TAP, a engenheira Alexandra Reis. Ou ela quer ser quadro de topo de empresas privadas, ou ela quer uma carreira na administração pública. A lógica das empresas privadas é a do lucro, a das empresas públicas é (devia ser) a do serviço à sociedade. Mas ela pertence à geração do saque neoliberal, que foi educada a considerar os valores éticos questões para idiotas e perdedores. Ela foi educada a ver médicos a garantir uma base financeira segura como funcionários públicos nos hospitais do SNS e a aproveitarem todas os interstícios da lei para fazerem o seu chorudo pé-de-meia na medicina privada. Ela entende as empresas públicas como o chefe da ordem dos médicos e o chefe do sindicato entendem o Serviço Nacional de Saúde: um local de poiso de curta duração antes do voo para outras atividades mais lucrativas, ou dos jornalistas e comentadores avençados que passam das estações públicas para as privadas e regressam ao público para a administração de uma entidade reguladora, ou um gabinete do governo.

É este o caldo de cultura onde germinam engenheiros e engenheiras, jornalistas e pregadores de moral. O chinfrim a propósito deste caso, que até ressuscitou o Santana Lopes, tem o nome de descaramento e não de seriedade!

O objetivo intermédio desta campanha era o ministro das obras públicas, Pedro Nuno Santos (o final é o derrube deste governo). Nuno Santos morreu atropelado por um comboio de 12,5 mil milhões que pretende recolher matéria-prima de três minas:

– O novo aeroporto de Lisboa — as mais poderosas empresas de construção necessitam de um ministro por conta. Segundo estimativas publicadas são 5 mil milhões para um aeroporto novo (Alcochete), ou 1,15 mil milhões para a solução Montijo+Lisboa;

– A TAP. Ao contrário do que as empresas de lobbying têm feito crer a TAP possui ativos de grande valor: as rotas para África e para a América do Sul (Brasil e Venezuela) e desperta o interesse de vários grupos de aviação. Quanto mais desvalorizada estiver a TAP mais barata será para a Iberia/Air France/ Lufthansa/ British Airways./KLM. O Estado já lá injetou 3,2 mil milhões e os potenciais compradores querem uma pechincha!

– O TGV — quem irá construir as infraestruturas do TGV, quem irá fornecer o material circulante? O custo do projeto TGV tem sido apresentado como sendo da ordem dos 4,5 mil milhões.

Estes três negócios valem cerca de 12,5 mil milhões. Convém ter ministros amigos e um governo permeável. O clamor de base moral e ética de gente que até rouba o colete dos outros, mesmo dos que têm o casaco vestido, apresenta este fundo escondido, silenciado. Está a decorrer com grande êxito uma campanha dos predadores para convencer os pagantes de que 500 mil é maior que do que 12,5 mil milhões!

Lembram-me a velha anedota do crocodilo: Saiu uma nota na floresta a decretar que os animais com a maior boca iriam ser eliminados, a bem da sustentabilidade da natureza. Diz o jacaré: coitadinho do hipopótamo! Ambos têm a boca grande, mas uma das bocas come 500 mil e a outra de superior a 12, 5 mil milhões, no entanto, segundo vemos e ouvimos essa é que prejudica o meio ambiente!

Pensando no dinheiro que está em jogo percebe-se que a notícia (nada inocente, nem a bem do contribuinte) da indemnização à engenheira Alexandra Reis caiu como sopa no mel (era essa a intenção). Os jogadores voltaram a sentar-se à mesa do casino.

O falecido Arnaldo de Matos concluiu genialmente: Isto é tudo um putedo! O “educador do proletariado” conhecia o milieu, os bas fonds e, apesar dos muitos defeitos, ao contrário dos dois jovens políticos ensarilhados nesta rede possuía a sabedoria do Diabo, que é diabo por ser velho e viver entre manhosos e criminosos e não por ser intrinsecamente mau.


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A superação da dissidência, a desobediência e o regresso dos velhos totalitarismos

(Carlos Matos Gomes, in Medium.com, 29/12/2022)

(Mais um texto excelente do Coronel Matos Gomes. Um grande bem-haja a uma das poucas vozes lúcidas que ainda consegue pensar no meio da alucinação coletiva destes tempos negros, uma espécie de Matrix de largo espectro.

Estátua de Sal, 29/12/2022)


A Liberdade é para mim o valor supremo. É a Liberdade que me permite ser eu. Mas apenas posso sobreviver em sociedade, o que impõe limites à minha liberdade. Vivo e vivi a lutar por me libertar, sabendo que estarei sempre preso, mas bato-me para esticar ao máximo a corda que me limita. Cheguei à conclusão (já não era sem tempo) que passei a existência como um prisioneiro que pensou constantemente em planos de fuga, e se relacionou com os outros presos e os guardas de modo a garantir a maior liberdade possível. Descobri à minha custa o segredo de conseguir equilibrar forças numa sociedade violenta. Nada de novo. Desde a antiguidade que primeira tarefa dos chefes é assegurar a obediência dos seus subordinados. Tentei e tento superar os riscos da dissidência, da desobediência. Nunca recebi um louvor por comportamento exemplar. Não me orgulho, mas sinto-me bem por ter superado a minha dissidência e, antes do tudo o mais, aprendi a distinguir os profetas da submissão por debaixo do tropel dos gritos e dos arrepelos dos cabelos. Os movimentos de extrema-direita que estão a sair da terra como os cogumelos do estrume gritam muito, mas nada mais pretendem que um regime de submissos. A insubmissão é hoje a defesa contra a berraria dos serventuários dos poderosos.

Max Weber, o sociólogo alemão, afirmou que a finalidade do poder é “a imposição da vontade de uma pessoa ou instituição sobre os indivíduos, mesmo contra resistências”. O poder é independente da aceitação dos sujeitos, mas aprendi que a utilização da força é o mais oneroso e traiçoeiro dos meios de obter um domínio e o menos fiável. Recrutar vendedores de felicidade e ilusionistas é muito mais eficaz.

Na nossa modernidade, Maquiavel e Hobbes, um com o «Príncipe» e o outro com «Leviatã», propuseram regras para analisar o exercício do poder e estão de acordo. Para Maquiavel a função do príncipe é consolidar o seu poder e ele não deve hesitar no uso da força e na astúcia. Quanto a Hobbes, o soberano exerce o poder pela força natural e pela concordância. Pau e cenoura, mas existe uma questão prévia: Como obter a submissão, a obediência às ordens? Como conseguir a servidão voluntária?

O grande mestre desta arte foi (tem sido) Étienne de La Boétie, francês do século XVI, amigo de Montaigne e considerado o fundador da moderna filosofia política em França. La Boétie escreveu em «Discurso da Servidão Voluntária»: “A primeira condição para a submissão voluntária é o hábito — os cavalos acabam por se habituar ao freio e até brincam com ele, aceitam a albarda e até se exibem apertados por ela todos ufanos e vaidosos.” Concordo com ó diagnóstico, mas dei sempre má cavalaria.

A questão de habituar os animais e os homens à submissão agravou-se nas sociedades industrializadas com as novas tecnologias da informação e as correspondentes tiranias venenosas. George Orwell, um fino observador das perversões que transformam sociedades abertas em sociedades totalitárias, considerou que os indivíduos são sujeitos a um persistente trabalho de sedução para que abdiquem do seu direito de pensar. No Ocidente, esse trabalho de sapa está a ser efetuado por pastores evangélicos, movimentos restauracionistas, e grandes cadeias de informação.

Os discursos no espaço público têm por finalidade a supressão da dissidência, a imposição do pensamento único ao “não há alternativa” (TINA), ou mesmo “os outros ainda são piores.” A função dos comentadores, mesmo quando apresentados como “fontes especializadas”, é anular a argumentação apesar de acompanhada de evidências contrárias. O caso recente de maior sucesso na supressão da contra-argumentação como arma do poder foi o das “armas de destruição em massa” que e Bush Jr jurou existirem no Iraque.

Temos agora o caso da Ucrânia como exemplo da supressão da crítica e da diferença. Essas “ferramentas de consciência de massa”, como os especialistas em comunicação as definem, permitem controlar as opiniões públicas e levá-las a acreditar e também a ignorar, orientando a atenção para o imaginário e a cegarem perante a realidade.

Olhando à nossa volta com autonomia de pensamento vemos as grandes placas que representam os antigos blocos político-militares criados no pós-Segunda Guerra a deslocarem-se, mudando o centro de gravidade do poder no planeta do Atlântico Norte, o mare nostrum ocidental, para Oriente. Moscovo e Pequim, parece terem entendido as mudanças que estão a ocorrer e saber como amplificá-las, assim como as capitais da América Latina, as de África e as do continente indiano.

E o Ocidente? Os neocons que governam os Estados Unidos estão a preparar-se para deixarem a Ucrânia e seguirem em frente, como fizeram no Vietname, no Iraque e recentemente no Afeganistão, que saiu dos noticiários. Os neocons nunca olham para trás. Devem estar a preparar o próximo projeto de enfrentamento com a China. Quanto à província europeia, os seus dirigentes repetem um discurso de tout va bien madame la marquise. Desindustrialização na Europa, inflação, desemprego, migrantes são a realidade visível, mas para os líderes europeus tudo vai bem, embora tudo arda.

O conflito na Ucrânia trouxe para a atualidade a utilização num grau sem precedentes da técnica da “negação e engano”. Os Estados Unidos estavam decididos a sangrar a Rússia e pagaram a nada menos que 150 empresas de relações públicas para convencer os líderes europeus e os seus crentes da possibilidade de sucesso. A estratégia funcionou no mesmo registo do “Ministério da Verdade” do livro «1984», de George Orwell, tendo por base o objetivo de conseguir “a unidade mental das multidões” que o professor belga Mattias Desmet, da Universidade de Ghent, descreveu em «The Psychology of Totalitarianism».

Descobri Mattias Desmet através de citações suas em obras sobre Hannah Arendt e Gustave Le Bon. Mattias Desmet proporcionou-me uma explicação para o nazismo e o fascismo diferente das que assentam nas condições materiais e nas etapas da História. Situou na psicologia de massas a origem do pensamento totalitário e as razões de adesão ao totalitarismo que estão na moda. Aborda os novos movimentos que emergem em Portugal, Espanha, França, Itália, na Bélgica e na Holanda, na Áustria tendo como pano de fundo a psicologia da negação em massa de realidades evidentes. Identificou os “mecanismos psicológicos primitivos” para que uma narrativa evolua para uma insidiosa “formação em massa” que destrói a consciência ética dos indivíduos e anula a capacidade de pensar criticamente. A condição primária para conseguir esta anulação dos indivíduos é que haja um segmento da população sem vínculos comunitários ou sem objetivos para as suas vidas, um segmento que sofra de “ansiedade e descontentamento flutuantes”, pois são estes segmentos que estão disponíveis para a agressividade com o sentimento de que “o sistema está manipulado” contra eles (repare-se na repetição do discurso após as eleições de Trump e de Bolsonaro), ou o grito “Vergonha” berrado repetidamente por Ventura. Os militantes destas organizações correspondem ao lumpenproletariat e às classes médias em perda de status que serviram de base ao nazismo. Multidões de jovens sem futuro e sem esperança, independentemente das suas habilitações, são a matéria-prima para promover uma sociedade totalitária. Recusar essa submissão acrítica é defender a Liberdade.

Estas organizações, com a lógica das seitas e dos gangues, não dispõem de um programa político a não ser a intolerância e o ódio aos que se querem livres para pensar, mas são atrativos porque o vazio de ideias traduzido em frases fortes parecem oferecer esperança a seres desamparados e disfuncionais. Na Europa, o Chega, o Vox, o FN, os Fratelli d’Italia, no Brasil os bolsonaristas e nos EUA os trumpistas repetem as mesmas artimanhas dos seus avós nazis e fascistas. O líder é o pastor de um aglomerado de carneiros ao qual se misturam alguns lobos esfomeados de poder.

A negação da realidade que foi instituída como doutrina pelo Ocidente conduziu a este triste resultado. Há que ser dissidente para defender a Liberdade.

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