Mudança de paradigma na Palestina

(Por Thierry Meyssan, in Rede Voltaire, 11/10/2023)

O Primeiro-Ministro israelita, Benjamin Netanyahu anuncia que Israel está em guerra. Pela primeira vez na sua história, o Estado hebreu é atacado no seu próprio território. Primeiro, ele vai “limpá-lo” , depois lançará uma guerra contra-insurreição em Gaza, no do modelo da « batalha de Argel » e da « operação Fénix » no Vietname : Tratar-se-á de uma guerra muito suja, mortífera e ilimitada. Israel poderá restabelecer a ordem em seu proveito, mas jamais poderá vencer.

O conflito sangrento que começou na Palestina geográfica acontece após 75 anos de mortíferas injustiças. Do ponto de vista do Direito Internacional, os Palestinianos tem o direito e o dever de resistir à ocupação israelita, tal como os Israelitas tem o direito e o dever de responder ao ataque que sofrem. É da responsabilidade de todos ajudar a resolver as injustiças de que os dois grupos são vítimas, o que não significa apoiar a vingança cruel de alguns deles.
Além disso, o apoio que se possa dar aos povos palestiniano e israelita não deve levar a amnistiar os seus respectivos dirigentes pelos crimes que cometeram, nem as grandes potências que os manipularam.


O Próximo-Oriente é um universo instável no qual muitos grupos se enfrentam para sobreviver. Para simplificar, consideramos no Ocidente que a sua população se compõe de judeus, cristãos e muçulmanos, mas a realidade é muito mais complexa. Cada religião compõe-se ela própria de uma infinidade de crenças. Por exemplo, na Europa e no Magrebe, estamos cientes que os cristãos se dividem em Igreja Católica, Igrejas Ortodoxas e Igrejas Protestantes, mas no Médio-Oriente existem dezenas e dezenas de Igrejas diferentes. A mesma constatação é verdadeira no seio das religiões judaica e muçulmana.

Cada vez que uma peça é modificada no tabuleiro, todos os outros grupos têm de se reposicionar. É por isso que os aliados de hoje, serão talvez os inimigos de amanhã, enquanto os inimigos de hoje eram os nossos aliados de ontem. Ao longo dos séculos, todos se tornaram simultaneamente vítimas e carrascos. Os estrangeiros que vão ao Médio-Oriente identificam-se a priori com pessoas que têm a mesma cultura que eles, a mesma fé, mas ignoram a sua história e não estão preparados para a aceitar.

Se quisermos promover a paz, não devemos escutar unicamente aqueles de quem nos sentimos próximos. Temos que admitir que a paz supõe resolver não só as injustiças de que sofrem os nossos amigos, mas também as de que sofrem os nossos inimigos. Ora, não é isso que fazemos espontaneamente. Assim, nos meses precedentes, em França, ouvimos exclusivamente o ponto de vista de certos Ucranianos face aos Russos, de certos Arménios face aos Azeris e agora de certos Israelitas(Israelenses-br) face aos Palestinianos.

Finalmente, entre as múltiplas fontes às quais podemos recorrer, devemos distinguir aquelas que defendem os seus interesses materiais imediatos, aquelas que defendem a sua pátria e aquelas que defendem princípios. Contudo, as coisas são complicadas por grupos, não religiosos, mas teocráticos. Estes últimos não defendem nenhum princípio superior, antes utilizam uma linguagem religiosa para vencer.

Fixando estes pontos prévios, vamos aos factos.

O Hamas atacou Israel em 7 de Outubro de 2023, às 6 horas da manhã, quer dizer, por ocasião do 50º aniversário da «Guerra de Outubro de 73», conhecida no Ocidente pelo nome israelita de «Guerra do Kippur». À época, o Egipto e a Síria atacaram Israel de surpresa para ir em auxílio dos Palestinianos. Mas Telavive, informada por Amã e apoiada por Washington, esmagou os exércitos árabes. Anwar el-Sadat traíra os seus, enquanto a Síria acabou perdendo o Golã.

A operação actual combina em simultâneo uma chuva de foguetes, destinados a saturar a Cúpula de Ferro, e 22 ataques terrestres em território israelita. Pela primeira vez na Palestina, os disparos de foguetes foram dirigidos sobre centros de comando israelitas de maneira a favorecer as acções dos comandos. Estas últimas são oficialmente destinadas a fazer reféns de modo a poder negociar a sua troca com os 1. 256 detidos palestinianos em prisões de alta segurança. As infiltrações tiveram lugar simultaneamente por via terrestre, marítima e aérea (com ultraleves).

A preparação desta operação, a obtenção de Inteligência, a formação de um milhar comandos e a transferência de armas exigiram meses, senão anos de trabalho. Ora, cegos pela nossa convicção de superioridade, não o vimos. Ela foi, portanto, concebida por Mohammad Daif, o chefe operacional do Hamas, que havia desaparecido dos radares durante dois anos e reapareceu ao lado do porta-voz do Hamas, « Abu-Obaida ».

Conseguindo detectar os foguetes, mas incapaz de os destruir a todos, Israel encaixou pelo menos 3. 000 dos 7. 000 disparados. As redes sociais e os canais de televisão árabes mostraram que o Hamas capturou vários tanques e pelo menos o posto fronteiriço a Oeste da Faixa. Além disso, ele atacou uma “rave party” no Kibutz Re’im, onde violou e massacrou pelo menos 280 participantes. Por todo o lado, sequestrou um grande número de reféns, incluindo generais. Os seus comandos penetraram em várias cidades israelitas, disparando de metralhadora sobre os moradores. Listam-se pelo menos 700 mortos e 2. 200 feridos graves do lado israelita, o dobro do lado palestiniano.

Trata-se da mais importante acção palestiniana desde há meio século.

O que se passa é o fruto de 75 anos de opressão e de violação do Direito Internacional. Dezenas de Resoluções do Conselho de Segurança das Nações Unidas foram violadas por Israel, sem nenhuma sanção a respeito. Israel é um Estado fora da Lei que não hesitou em corromper ou assassinar a quasi-totalidade dos dirigentes políticos palestinianos. Deliberadamente, ele impediu o desenvolvimento económico dos Territórios, ao mesmo tempo favorecendo a criação de um Estado palestiniano separado que controla parcialmente.

A frustração e o sofrimento acumulados ao longo de 75 anos traduzem-se em comportamentos violentos e cruéis de alguns Palestinianos, cientes de terem sido há muito tempo abandonados pela Comunidade internacional. No entanto, os tempos mudam. A maioria dos membros das Nações Unidas, que puderam constatar na Síria e na Ucrânia o falhanço militar dos Ocidentais e a vitória da Rússia, já não se limitam a baixar a cabeça perante os Estados Unidos. A Assembleia Geral reafirmou, por ocasião do aniversário da autoproclamação da independência de Israel e do massacre e expulsão dos Palestinianos (a Nakhba), que o Direito Internacional está do lado dos Palestinianos e não dos Israelitas. O que não impede o Hamas de cometer crimes de guerra.

A actual situação é uma situação sem saída para os dois campos. Após três quartos de século de crimes, Israel já não pode fingir grande coisa. A sua população está agora dividida. Durante os últimos meses, os «sionistas negacionistas», isto é, os discípulos do Ucraniano Vladimir Jabotinsky, favoráveis ao supremacismo judaico, tomaram o poder em Telavive apesar da oposição de uma pequena maioria da população e de gigantescas manifestações. Os seus jovens, que aspiram a viver em paz, recusam servir nas Forças Armadas para brutalizar os árabes, mas ainda assim juntaram-se a elas para defender as suas famílias que amam e o seu país, no qual não acreditam.

Pelo Direito, os Palestinianos formaram um Estado, que obteve o estatuto de observador nas Nações Unidas. À morte de Yasser Arafat, o chefe da Fatah, Mahmud Abbas, foi eleito Presidente. Contudo, no seguimento da vitória do Hamas nas eleições legislativas de 2007 e na impossibilidade de fazer aceitar aos Ocidentais um governo do Hamas, os Palestinianos envolveram-se numa guerra civil. Em resumo, a Cisjordânia é governada pela Fatah, o Partido laico criado por Yasser Arafat. Mahmud Abbas e os seus próximos são financiados pelos Estados Unidos, pela União Europeia e por Israel. Enquanto a Faixa de Gaza está nas mãos do Hamas, quer dizer, do ramo palestiniano da Confraria dos Irmãos Muçulmanos. Ela é governada por indivíduos que não concebem o Islão do ponto de vista espiritual, mas como uma arma de conquista. Eles são financiados sobretudo pelo Reino Unido, Catar, Israel, Turquia, Irão e União Europeia. Desde há 16 anos, os dois campos opuseram-se a quaisquer novas eleições. Os seus dirigentes vivem num luxo mafioso que contrasta com as
condições de vida miseráveis do seu povo.

Aquando da sua criação, o Hamas era financiado pelo Reino Unido. Ele foi apoiado pelos Serviços Secretos israelitas para enfraquecer a Fatah de Yasser Arafat. Depois Israel combateu-o e assassinou o seu líder religioso, o Xeque Ahmed Yassine. A seguir, de novo Israel usou o Hamas para eliminar os dirigentes da Resistência palestiniana marxista, desta vez. Assim, combatentes do Hamas enquadrados por agentes da Mossad e jiadistas da Alcaida atacaram o campo palestiniano de Yarmuk no início da guerra contra a Síria [1]. Mas hoje, uma vez mais, o Hamas combate o seu aliado de ontem, Israel.

Mohammad Daif é conhecido por ser o fundador das brigadas Izz al-Din al-Qassam. Como todos os Irmãos Muçulmanos, ele é um supremacista islâmico. Ele refere-se a Izz al-Din al-Qassam (1882-1935), um opositor do mandato francês no Líbano e do mandato britânico na Palestina. Portanto, ele não tem qualquer inspiração no antigo Mufti de Jerusalém e aliado dos nazis, Amin al-Husseini, embora partilhe o seu “anti-semitismo”. Em 2010 ele escrevia : «As Brigadas Izz ad-Din al-Qassam… estão mais bem preparadas para continuar na nossa via exclusiva onde não há alternativa, e é o caminho da jihad e da luta contra os inimigos da nação e da humanidade muçulmana…. Dizemos aos nossos inimigos : vós seguis pelo caminho da extinção (zawal), e a Palestina ficará sendo nossa, incluindo Al Qods (Jerusalém), Al -Aqsa (mesquita), as suas cidades e aldeias desde o mar ( Mediterrâneo) até ao rio (Jordânia), do Norte até ao Sul. Vós não tendes direito a nem tanto como um centímetro disso ». Mohammad Daif não é um militar, mas sim um especialista em captura de reféns. A sua operação foi concebida para este fim e não para libertar a Palestina.

No momento em que a saúde do Presidente Mahmud Abbas se deteriora, a Fatah está dividida em três facções militares :
• a de Fathi Abu al-Ardate, o Chefe da Segurança Nacional
• a de Mohammad Abdel Hamid Issa (aliás « Lino »), comandante da Kifah al-Mussallah (a luta armada). Ela insere-se na corrente de Mohamed Dallan, 0 antigo chefe das Informações palestinianas que assassinou Yasser Arafat. Ela é actualmente apoiada pelos Emirados Árabes Unidos.
• a de Munir Maqdah, antigo chefe militar da Fatah, que se aproximou do Hamas, do Catar, da Turquia e do Irão.

No mês passado, confrontos opuseram estas três facções às dos islamistas do Hamas, bem como do Jund el-Sham e do al-Shabab al-Moslem, dois grupos jiadistas que combateram ao lado da OTAN e de Israel contra a República Árabe Síria. Violentos combates tiveram lugar no campo de Aïn el-Héloué (Sídon, Sul do Líbano). Na altura, eu interpretara-os à luz dos de Nahr el-Bared (Norte do Líbano), em 2007 [2], antes de perceber que estavam ligados à agonia de Mahmud Abbas [3].

Durante 75 anos, Telavive fez tudo o que estava ao seu alcance para negar a igualdade entre todos, sejam judeus ou árabes. Pelo contrário, desde o Apelo de Genebra, tem promovido « a solução de dois Estados », quer dizer, o plano colonial da última chance de Lord William Peel, que os britânicos não conseguiram impor, nem no terreno, em 1937, nem nas Nações Unidas, em 1948, mas que hoje em dia reúne consenso. Agora, apenas os marxistas da Frente Popular de Libertação da Palestina (FPLP) pregam no deserto propondo criar um Estado único no qual cada homem disporia de uma voz igual [4].

Face ao que ele considera como uma invasão palestiniana, mas que do ponto de vista palestiniano não é mais que um regresso a casa, o Primeiro-Ministro Benjamin Netanyahu prometeu a vitória. Mas o que será ? Matar todos os combatentes do Hamas não resolverá 75 anos de injustiça. Os seus filhos retomarão a sua chama tal como estes retomaram a de seus pais.

Para atingir o seu objectivo, Benjamin Netanyahu deve primeiro unir os Israelitas que ele dividiu. Seguindo o exemplo de Golda Meir durante a « Guerra dos Seis Dias », ele deve fazer entrar a Oposição para o governo. Assim encontrou-se com Yaïr Lapid e com o General Benny Gantz. No entanto, o primeiro pôs como condição que os supremacistas judeus, Bezalel Smotrich e Itamar Ben-Gvir, abandonem o governo, ou seja, que o Primeiro-Ministro abandone o seu projecto político e o dos seus actuais patrocinadores [5], os straussianos da Administração Biden [6].

Os dirigentes do Hamas apelaram aos refugiados palestinianos no estrangeiro, a todos os árabes e a todos os muçulmanos para se unirem ao seu combate. Os refugiados palestinianos, significa dizer primeiro a maioria da população jordana e os do Líbano. Os árabes, quer dizer o Hezbolla libanês e a Síria, dois poderes que renovaram com o Hamas no decurso dos últimos meses. Os muçulmanos significa o Irão e a Turquia.

De momento, apenas a Jihad Islâmica, quer dizer, o Irão, e os diversos grupos da Resistência da Cisjordânia se juntaram ao Hamas.

Saindo da sombra, o Presidente Erdogan apelou, em 8 de Outubro, à aplicação das Resoluções do Conselho de Segurança sobre a Palestina.

Contrariamente ao que pretende o Wall Street Journal, não é o Irão que dirige o Hamas. Isto é esquecer o acordo feito entre Hassan El-Banna, o fundador dos Irmãos Muçulmanos, e Ruhollah Khomeini, o fundador da República islâmica do Irão. Os dois grupos dividiram o mundo muçulmano entre si e abstêm-se de intervir significativamente na esfera de influência do outro. Teerão não para de afirmar ruidosamente o seu apoio aos Palestinianos, mas a sua acção concreta na Palestina limita-se à Jihad Islâmica.

Os dirigentes políticos do Hamas vivem na Turquia, sob a protecção dos Serviços Secretos. É Ancara que dirige o Hamas e a operação « Dilúvio de Al-Aqsa ». Inaugurando, no domingo, 8 de outubro, uma igreja ortodoxa siríaca, o Presidente Recep Tayyip Erdoğan declarou, em tom meloso : «O estabelecimento da tranquilidade, de uma paz duradoura e da estabilidade na região através da solução da questão palestina de acordo com o direito internacional é a prioridade absoluta sobre a qual nos concentramos durante as nossas conversas com os nossos homólogos (…) Infelizmente, os Palestinianos e os Israelitas, assim como toda a região, pagam o preço do atraso na administração da justiça (…) Atirar gasolina para a fogueira não beneficiará ninguém, incluindo os civis dos dois lados. A Turquia está pronta a fazer a sua parte, da melhor forma possível, para pôr fim aos combates o mais rapidamente possível e aliviar a tensão crescente devido aos recentes incidentes ».

A escolha por Ancara em desencadear esta nova guerra depois de mal esmagada a República de Artsakh, no Azerbaijão, e quando envia material militar para a Rússia, em violação das medidas coercivas unilaterais dos EUA, leva a pensar que os diplomatas turcos já não têm medo de Washington, a qual, portanto, havia tentado assassinar o Presidente Erdoğan, em 2016. Assim que esta operação estiver terminada, seguir-se-á uma outra contra os Curdos, na Síria e no Iraque.

Se o Hezbolla entrar em cena, Israel não conseguirá repelir o ataque sozinho. A sua existência só pode ser garantida com o apoio militar dos Estados Unidos. Ora, a opinião pública dos EUA já não apoia Israel, enquanto o Pentágono já não tem o poder para o defender. O que se passa actualmente é uma das consequências da guerra na Ucrânia. Washington não consegue fabricar munições suficientes para os seus aliados ucranianos. Foi mesmo forçada a levantar munições dos seus stocks (estoques-br) em Israel. E, já esvaziou lá os seus arsenais.

Nas primeiras horas do conflito, o Hezbolla disparou alguns foguetes contra as quintas de Chebaaa, ou seja, sobre o território disputado entre o Líbano e Israel. Mostrou assim que apoia a Resistência palestiniana dento da retórica da «unidade de frentes». Mas não entrou na guerra, porque desconfia do Hamas que teve de combater na Síria. E de quem não partilha a ideologia, a da Irmandade.

Todos os dirigentes ocidentais garantiram que condenam as acções terroristas do Hamas e que apoiam Israel. No passado, nada fizeram para resolver as injustiças na Palestina e estas posições de princípio atestam que não o farão agora. Por seu lado, a Rússia e a China, recusando tomar partido pelos Palestinianos ou pelos Israelitas, apelaram, não à aplicação das regras ocidentais, mas ao respeito pelo Direito Internacional. Encontra-mo-nos agora face a uma situação onde todos os intervenientes deliberadamente sabotaram antecipadamente cada solução, de modo que é agora quase impossível evitar que tudo isto não termine num banho de sangue.


Notas:

[1] «Agentes del Mossad en la fuerza de al-Qaeda que atacó el campamento palestino de Yarmuk», Red Voltaire , 1ro de enero de 2013.

[2] «Enfrentamientos entre palestinos en Líbano» Voltaire, Actualidad Internacional, Nº 52, 15 de septiembre de 2023.

[3] «En busca de un sucesor para Mahmud Abbas», Voltaire, Actualidad Internacional, Nº 54, 29 de septiembre de 2023.

[4] « Georges Habache et la Résistance palestinienne », par Thierry Meyssan, Réseau Voltaire, 27 janvier 2008.

[5] “O Golpe de Estado dos straussianos em Israel”, Thierry Meyssan, Tradução Alva, Rede Voltaire, 7 de Março de 2023.

[6] Leo Strauss era em simultâneo um judeu fascista alemão e um sionista revisionista. Ele reencontrara o seu ídolo, Vladimir Jabotinsky, em Nova Iorque, acompanhado de Benzion Netanyahu, o pai de Benjamin. NdR.


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O ‘momento ruim’ de Zelensky

(Por Seymour Hersh, in SakerLatam.org, 21/09/2023)

BANDO DE IRMÃOS: O presidente ucraniano Volodymyr Zelensky, o procurador-geral da Ucrânia Andriy Kostin, o ministro das Relações Exteriores da Ucrânia Dmytro Kuleba, o enviado climático dos EUA, John Kerry, e o secretário de Estado dos EUA, Antony Blinken, ouvem o discurso do presidente Joe Biden na 78ª Assembleia Geral das Nações Unidas em Nova York. Cidade de York na terça-feira.

Nota do Saker Latinamérica: A razão para postarmos essa peça de Hersh é fornecer aos nossos leitores uma ideia da extensão da fratura na comunidade de inteligência do Ocidente Coletivo devido às maquinações dos neocons, do ponto de vista da CIA… quase uma declaração oficial. Se me entendem…


Na próxima terça-feira será o aniversárioda destruição de três dos quatro gasodutos do Nord Stream 1 e 2 pela administração Biden. Há mais a dizer sobre isso, mas terá de esperar. Por que? Porque a guerra entre a Rússia e a Ucrânia, com a Casa Branca continuando a rejeitar qualquer conversa sobre um cessar-fogo, está num ponto de inflexão.

Existem elementos significativos na comunidade de inteligência norte-americana, que baseados em relatórios de campo e em informações técnicas, acreditando que o desmoralizado exército ucraniano desistiu da possibilidade de ultrapassar as linhas de defesa russas de três níveis, fortemente minadas, e de levar a guerra à Crimeia e ao quatro oblasts tomados e anexados pela Rússia. A realidade é que o desgastado exército de Volodymyr Zelensky já não tem qualquer hipótese de vitória.

A guerra continua, segundo me foi dito por um funcionário com acesso à informação atual, porque Zelensky insiste que assim deve ser. Não há discussão em sua sede ou na Casa Branca de Biden sobre um cessar-fogo e nenhum interesse em negociações que possam levar ao fim da matança. “É tudo mentira”, disse o funcionário, falando das alegações ucranianas de progresso incremental na ofensiva que sofreu perdas surpreendentes, ao mesmo tempo que ganhava terreno em algumas áreas dispersas que os militares ucranianos medem em metros por semana.

“Vamos ser claros”, disse o funcionário. “Putin cometeu um ato estúpido e autodestrutivo ao iniciar a guerra. Ele achava que tinha um poder mágico e que tudo o que ele queria iria dar certo.” O ataque inicial da Rússia, acrescentou ele, foi mal planejado, com falta de pessoal e levou a perdas desnecessárias. “Ele foi enganado por seus generais e começou a guerra sem logística – sem maneira de reabastecer suas tropas.” Muitos dos generais infratores foram sumariamente demitidos.

“Sim”, disse o funcionário, “Putin fez algo estúpido, não importa o quão provocado, ao violar a Carta da ONU, assim como nós também” – referindo-se à decisão do Presidente Biden de travar uma guerra por procuração com a Rússia, financiando Zelensky e os seus militares. “E agora temos que pintá-lo de preto, com a ajuda da mídia, para justificar nosso erro.” Referia-se a uma operação secreta de desinformação que visava diminuir Putin, empreendida pela CIA em coordenação com elementos da inteligência britânica. A operação bem-sucedida levou os principais meios de comunicação locais e de Londres a informar que o presidente russo sofria de diversas doenças, que incluíam doenças do sangue e um cancer grave. Uma história muito citada dizia que Putin estava sendo tratado com pesadas doses de esteroides. Nem todos foram enganados. O Guardian relatou com ceticismo em maio de 2022 que os rumores “abrangem toda a gama: Vladimir Putin está sofrendo de câncer ou doença de Parkinson, dizem relatórios não confirmados e não verificados”. Mas muitas das principais organizações de notícias morderam a isca. Em junho de 2022, a Newsweek divulgou o que classificou como um grande furo, citando fontes anônimas que afirmavam que Putin havia sido submetido a tratamento dois meses antes para um câncer avançado: “O controle de Putin é forte, mas não é mais absoluto. A disputa dentro do Kremlin nunca foi tão intensa. . . todos sentindo que o fim está próximo.”

“Houve algumas penetrações ucranianas nos primeiros dias da ofensiva de junho”, disse o oficial, “nada perto” da primeira das três formidáveis ​​barreiras de defesa de concreto da Rússia, fortemente encurralada, “e os russos recuaram para atraí-los. Todos os ucranianos foram mortos. Depois de semanas de muitas baixas e pouco progresso, juntamente com perdas horríveis de tanques e veículos blindados, disse ele, grandes elementos do exército ucraniano, sem declarar, praticamente cancelaram a ofensiva. As duas aldeias que o exército ucraniano recentemente reivindicou como capturadas “são tão pequenas que não cabiam entre dois cartazes de Burma-Shave” – referindo-se a outdoors que pareciam estar em todas as estradas americanas após a Segunda Guerra Mundial.

Um subproduto da hostilidade neoconservadora da administração Biden à Rússia e à China – exemplificada pelas observações do Secretário de Estado Tony Blinken, que afirmou repetidamente que não aceitará um cessar-fogo na Ucrânia – tem sido uma divisão significativa na comunidade de inteligência. Uma vítima são as estimativas secretas da Inteligência Nacional que delinearam os parâmetros da política externa americana durante décadas. Alguns gabinetes-chave da CIA recusaram-se, em muitos casos, a participar no processo da NIE devido ao profundo desacordo político com a política externa agressiva da administração. Um fracasso recente envolveu uma NIE planejada que tratava do resultado de um ataque chinês a Taiwan.

Tenho relatado durante muitas semanas o desacordo de longa data entre a CIA e outros elementos da comunidade de inteligência sobre o prognóstico da atual guerra na Ucrânia. Os analistas da CIA têm sido consistentemente muito mais cépticos do que os seus homólogos da Agência de Inteligência da Defesa (DIA) quanto à perspectiva de um sucesso na Ucrânia.

A comunicação social americana ignorou a disputa, mas o Economist, com sede em Londres, cujos repórteres bem informados não recebem assinaturas, não o fez. Um sinal da tensão interna dentro da comunidade americana emergiu na edição de 9 de setembro da revista, quando Trent Maul, diretor de análise da DIA, concedeu uma entrevista extraordinária e oficial ao Economist, na qual defendeu os relatórios otimistas da sua agência sobre a Ucrânia. guerra e sua conturbada contra-ofensiva. Era, como observou o Economist numa manchete, “Uma entrevista rara”. Também passou despercebido pelos principais jornais da América.

Maul reconheceu que a DIA “entendeu errado” na sua reportagem sobre a “vontade de lutar” dos aliados da América quando os exércitos treinados e financiados pelos EUA no Iraque e no Afeganistão “desmoronaram quase da noite para o dia”. Maul discordou das queixas da CIA – embora a agência não tenha sido citada nominalmente – sobre a falta de habilidade da liderança militar ucraniana e as suas tácticas na contra-ofensiva. Ele disse ao Economist que os recentes sucessos militares da Ucrânia foram “significativos” e deram às suas forças uma probabilidade de 40 a 50 por cento de romper as linhas de defesa de três níveis da Rússia até ao final deste ano. Ele alertou, no entanto, informou o Economist, que “munições limitadas e piora do tempo tornarão isso ‘muito difícil’”.

Zelensky, numa entrevista ao The Economist publicada uma semana depois, reconheceu ter detectado – como não poderia? – o que a revista citou como sendo “uma mudança de humor entre alguns dos seus parceiros”. Zelensky também reconheceu que o que chamou de “dificuldades recentes” da sua nação no campo de batalha foram vistas por alguns como uma razão para iniciar negociações sérias sobre o fim da guerra com a Rússia. Ele chamou isto de “um mau momento” porque a Rússia “vê o mesmo”. Mas voltou a deixar claro que as conversações de paz não estão em cima da mesa e lançou uma nova ameaça aos líderes da região, cujos países acolhem refugiados ucranianos e que querem, como a CIA informou a Washington, o fim da guerra. Zelensky alertou na entrevista, como escreveu o Economist: “Não há forma de prever como os milhões de refugiados ucranianos nos países europeus reagiriam ao abandono do seu país.” Zelensky disse que os refugiados ucranianos “se comportaram bem. . . e estamos gratos” àqueles que os acolheram, mas não seria uma “boa história” para a Europa se uma derrota ucraniana “encurralasse seu povo”. Foi nada menos que uma ameaça de insurreição interna.

A mensagem de Zelensky esta semana à Assembleia Geral anual das Nações Unidas em Nova Iorque trouxe poucas novidades e, segundo o Washington Post, ele recebeu a obrigatória “boa recepção” por parte dos presentes. Mas, observou o Post, “ele proferiu o seu discurso perante uma casa meio cheia, com muitas delegações recusando-se a comparecer e ouvir o que ele tinha a dizer”. Os líderes de algumas nações em desenvolvimento, acrescenta o relatório, estavam “frustrados” porque os vários milhares de milhões gastos sem uma responsabilização séria por parte da administração Biden para financiar a guerra na Ucrânia estavam a diminuir o apoio às suas próprias lutas para lidar com “um mundo em aquecimento, confrontando a pobreza e a miséria, garantindo uma vida mais segura aos seus cidadãos.”

O Presidente Biden, no seu discurso anterior à Assembleia Geral, não abordou a posição perigosa da Ucrânia na guerra com a Rússia, mas renovou o seu apoio retumbante à Ucrânia e insistiu que “só a Rússia tem a responsabilidade por esta guerra” – ignorando, como os líderes da muitas nações em desenvolvimento não o fazem, três décadas de expansão da OTAN para leste e o envolvimento secreto da administração Obama na derrubada de um governo pró-Rússia na Ucrânia em 2014.

O presidente pode estar certo quanto aos méritos, mas o resto do mundo lembra-se, e esta Casa Branca parece que esqueceu, que foram os Estados Unidos que escolheram fazer a guerra no Iraque e no Afeganistão, com pouca consideração pelos méritos da sua justificação para o faze-lo.

Não houve qualquer conversa do presidente sobre a necessidade de um cessar-fogo imediato numa guerra que não pode ser vencida pela Ucrânia e que está a aumentando a poluição que causou a atual crise climática que assola o planeta. Biden, com o apoio do Secretário Blinken e do Conselheiro de Segurança Nacional Jake Sullivan – mas o apoio diminuindo noutras partes da América – transformou o seu implacável apoio financeiro e moral à guerra na Ucrânia numa questão de vida ou morte para a sua reeleição.

Entretanto, um implacável Zalensky, numa entrevista na semana passada com um correspondente bajulador do 60 Minutes, outrora o auge do jornalismo agressivo americano, retratou Putin como outro Hitler e insistiu falsamente que a Ucrânia tinha a iniciativa na sua atual guerra vacilante com a Rússia.

Questionado pelo correspondente da CBS, Scott Pelley, se ele pensava que “a ameaça de guerra nuclear ficou para trás”, Zelensky respondeu: “Acho que ele vai continuar a ameaçar. Ele está esperando que os Estados Unidos se tornem menos estáveis. Ele acha que isso vai acontecer durante as eleições nos EUA. Ele procurará instabilidade na Europa e nos Estados Unidos da América. Ele usará o risco de usar armas nucleares para alimentar isso. Ele continuará ameaçando.”

O oficial de inteligência americano com quem falei passou os primeiros anos da sua carreira a trabalhar contra a agressão e a espionagem soviética, tem respeito pelo intelecto de Putin, mas despreza a sua decisão de ir à guerra com a Ucrânia e de iniciar a morte e a destruição que a guerra traz. Mas, como ele me disse: “A guerra acabou. A Rússia venceu. Não há mais ofensiva ucraniana, mas a Casa Branca e a mídia americana têm de manter a mentira”.

“A verdade é que se o exército ucraniano receber ordens para continuar a ofensiva, o exército vai amotinar-se. Os soldados não estão mais dispostos a morrer, mas isso não se enquadra na besteira de autoria da Casa Branca de Biden.”


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A CIA faz renascer o nazismo ucraniano

(Por Thierry Meyssan, in Rede Voltaire, 05/09/2023)

Proclamação da Ucrânia independente com os dignitários nazis. Por trás dos oradores, os três retratos expostos são os de Stepan Bandera, de Adolf Hitler e de Yevhen Konovalets.

Não é de espantar que a CIA estruture organizações contra a Rússia. O que é surpreendente, pelo contrário, é que ela não hesite em escolher nazis e nacionalistas integralistas para pretensamente defender a liberdade e a democracia.


No século XIX, os Impérios alemão e austro-húngaro projectavam destruir o seu rival, o Império russo. Para isso, os Ministérios dos Negócios Estrangeiros (Relações Exteriores-br) alemão e austro-húngaro lançaram uma operação secreta comum : a criação da Liga dos povos alógenos da Rússia (Liga der Fremdvölker Rußlands – LFR) [1].

Em 1943, o III° Reich criou o Bloco anti-bolchevique de nações (ABN) para desarticular a União Soviética. No fim da Segunda Guerra Mundial, o Reino Unido e os Estados Unidos recuperaram os nazis e seus colaboradores e patrocinaram o ABN [2]. No entanto, levando em conta os milhões de mortes pelas quais este era culpado, Frank Wisner, o número 2 da CIA, reescreveu a história do ABN. Ele mandou imprimir inúmeros livretos alegando que o ABN havia sido criado com a Libertação. Ele fingiu que os povos da Europa Central e do Báltico haviam, todos, colectivamente, lutado ao mesmo tempo contra os nazis e os soviéticos. Uma enorme mentira. Na realidade, muitas formações políticos da Europa Central tomaram partido pelos nazis contra os soviéticos, formando divisões SS e fornecendo a quase totalidade dos guardas dos campos de extermínio nazis.

John Loftus, o Procurador especial do Office of Special Investigations, unidade do secretariado norte-americano da Justiça, testemunhou que, em 1980, havia encontrado um pequeno povoado em Nova Jersey, South River, abrigando uma colónia de antigos SS Bielorussos. À entrada do povoado, um monumento aos mortos, ornado com símbolos SS, homenageava seus camaradas caídos em combate, enquanto à distância, um cemitério acolhia a tumba do Primeiro-Ministro nazi bielorusso, Radoslav Ostrovski [3].

Acredita-se muitas vezes que os Estados Unidos combateram os nazis e os julgaram em Nuremberga e em Tóquio. Mais isso é falso. Muito embora o Presidente Roosevelt fosse um liberal assumido, ele julgou possível recrutar traidores e colocá-los ao seu serviço. No entanto como morreu antes do fim do conflito, os criminosos de que se havia rodeado conseguiram chegar aos mais altos postos. Eles alteraram certos serviços a fim de atingir os seus objectivos. Foi o que se passou com a CIA.

Os esforços do Congresso, com a Comissão Church, que revelaram os crimes da CIA nos anos 50 e 60 não serviram para grande coisa. Todo esse mundo opaco mergulhou na clandestinidade, mas não interrompeu as suas actividades.

Os « nacionalistas integralistas » ucranianos de Dmytro Dontsov e os seus homens de mão, Stepan Bandera e Yaroslav Stetsko, seguiram este caminho. O primeiro, que fora já um agente secreto do Kaiser Guilherme II, depois do Führer Adolf Hitler, foi recuperado pela CIA, viveu no Canadá e morreu em 1973 em Nova Jersey, em South River, contrariamente ao que afirma o seu verbete na Wikipédia. Foi um dos piores assassinos em massa do Reich. Ele desapareceu da Ucrânia durante a guerra e tornou-se administrador do Instituto Reinard Heydrich em Praga. Foi um dos ideólogos da solução final para as questões cigana e judaica [4].

Chang Kai-Chek e Iaroslav Stetsko durante a fundação da Liga anti-comunista mundial.

Os seus homens de mão, Stepan Bandera e Yaroslav Stetsko, foram empregues pela CIA em Munique. Eles garantiram emissões em língua ucraniana para a Rádio Free Europa e organizaram operações de sabotagem na União Soviética. Stepan Bandera havia cometido inúmeros massacres e proclamou a independência da Ucrânia junto com os nazis. No entanto, também ele havia desaparecido da Ucrânia durante a guerra. Alegou ter sido aprisionado em «cativeiro honroso» num campo de extermínio. Isso é pouco provável, uma vez que reapareceu em 1944 e foi incumbido pelo Reich de governar a Ucrânia e combater os Soviéticos. É possível que ele tenha vivido na sede da administração dos campos, em Oranienbourg-Sachsenhausen, e aí tenha trabalhado no projecto nazi de extermínio das « raças » supostas de corromper os Arianos. Durante a Guerra Fria, cirandou pelo «mundo livre» e veio ao Canadá propor a Dmytro Dontsov que se tornasse chefe da sua organização [5].

O tempo passou e estes assassinos em massa morreram sem jamais terem tido de prestar contas. As suas organizações, a OUN e a ABN, deveriam também ter desaparecido. Mas nada disso se passou. A OUN reconstituiu-se por causa da guerra na Ucrânia. A ABN também. Dispõe agora até de um sítio Internet. Lá pode-se ler os folhetos da propaganda do pós-guerra segundo os quais a organização nunca existiu antes da queda do Reich. A ABN prolonga-se hoje com o « Free Nations PostRussia Forum » (Fórum das Nações Livres PostRussia- ndT), que será realizado, de 26 a 28 de Setembro, em Londres, Paris e possivelmente em Estrasburgo. O seu objectivo continua o mesmo : dividir a Federação da Rússia em 41 estados distintos. Não há a mínima dúvida possível sobre a filiação deste fórum : enquanto finge exprimir-se em nome dos povos da Rússia, não se contenta só em acusar Moscovo, mas atira-se também à China Popular, à Coreia do Norte e ao Irão. Nos seus documentos aborda também a questão da Venezuela, da Bielorrússia e da Síria. É claro, o ABN participou na criação e animação da Liga Mundial Anti-comunista [6], onde se reuniam a maior parte dos ditadores do planeta, agora candidamente denominada : Liga mundial para a liberdade e a democracia.

Este Fórum das nações livres do Post-Rússia foi criado pela CIA em reacção à intervenção militar russa na Ucrânia. Num ano e meio, já se reuniu 7 vezes, na Polónia, na República Checa, nos Estados Unidos, na Suécia e nos Parlamentos Europeu e Japonês. Simultaneamente, a CIA criou governos no exílio para a Bielorrússia e o Tartaristão, tal como tinha feito para o Iraque e para a Síria. Ninguém os reconheceu ainda, mas a União Europeia já os recebeu com deferência. Estes governos no exílio somam-se ao da Ichquéria (ou seja, Chechénia), o qual já é antigo.

O Fórum das nações livres do Post-Rússia imagina desmantelar a Federação da Rússia em 41 Estados independentes.

O dispositivo actual não está concebido para atingir o objectivo proclamado. Os Estados Unidos não têm intenção de desmembrar a Federação da Rússia, uma potência nuclear. A maior parte dos seus dirigentes tem consciência que um tal evento desestabilizaria completamente as relações internacionais e poderia desencadear uma Guerra nuclear. Não, trata-se mais de mobilizar para serviço dos Estados Unidos aquela gente que espera alcançar este improvável objectivo de desmembrar a Rússia.

Algumas personalidades políticas prestam-se a este jogo. É o caso da antiga Ministra polaca (polonesa-br) dos Negócios Estrangeiros, Anna Fotyga. Foi ela quem, em 2016, apresentou ao Parlamento Europeu uma resolução sobre as comunicações estratégicas da União Europeia. Ela idealizara um sistema de influência sobre o conjunto dos grandes média (mídia-br) da União que se revelou eficaz. Ou ainda, um deputado centrista francês, Frederick Petit. Já em 2014, os cabeças de cartaz do seu partido haviam ido à Praça Maidan, em Kiev, para se fazerem fotografar ao lado dos « nacionalistas integralistas ». Não falarei aqui do antigo deputado russo Ilya Ponomarev.

“Think-tanks” também, como a Fundação Jamestown. Ela foi fundada com a ajuda de William J. Casey, director da CIA, por ocasião da fuga de um transfuga de marca da URSS. Foi interditada na Rússia em 2020 (quer dizer, antes da guerra da Ucrânia), porque publicava já documentos sobre a fragmentação da Rússia. Por fim, o Hudson Institut, esse financiado por Taiwan graças à sua agência, a Liga Mundial para a Liberdade e a Democracia (antiga Liga Anti-comunista Mundial). Assim, ele pôde alojar uma sessão do Fórum das Nações Livres do Post-Rússia.

Fonte aqui.


[1]Liga der Fremdvölker Russlands 1916–1918. Ein Beitrag zu Deutschlands antirussischem Propagandakrieg unter den Fremdvölkern Russlands im Ersten Weltkrieg, Seppo Zetterberg, Akateeminen Kirjakauppa (1978).

[2MI6, Inside the Covert World of Her Majesty’s Secret Intelligence Service, Stephen Dorril, The Free Press (2000).

[3The Belarus Secret: The Nazi Connection in America, John Loftus, Albert Knopf (1982).

[4Ukrainian Nationalism in the Age of Extremes. An Intellectual Biography of Dmytro Dontsov, Trevor Erlacher, Harvard University Press (2021).

[5Stepan Bandera: The Life and Afterlife of a Ukrainian Nationalist: Facism, Genocide, and Cult, Grzegorz Rossoliński-Liebe, Ibidem Press (2015).

[6] «La Liga Anticomunista Mundial, internacional del crimen», por Thierry Meyssan , Red Voltaire , 20 de enero de 2005.


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