O Xarabaneco

(In Blog O Jumento, 11/11/2019)

Quem estivesse distraído e ligasse a televisão neste fim de semana pensaria que estava a festejar-se uma espécie de Halloween político dedicado ao governo de Passos Coelho. Primeiro foi o morto vivo dos Assuntos Fiscais, Paulo Núncio, a aparecer a dar uma entrevista, uma forma de tornar público que acabava de ressuscitar. No domingo abriram as portas do cemitério do governo de Passos Coelho e foi o que se viu na apresentação do Monte de negro, só lá faltava o Cavaco Silva.

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Nunca a apresentação de um candidato à liderança do PSD foi tão clara quanto às ideias, propostas e gente para governar, aliás, tudo aquilo foi perda de tempo e de dinheiro, o candidato não passa de um xarabaneco. Tudo aquilo não passou de uma peça de um teatro de xarabanecos e até lá estava o próprio Passos Coelho, mas como era ele a manipular os xarabanecos não era visível, por estar atrás da cortina.

Estava lá o xarabaneco do grupo parlamentar, a xarabaneca das finanças e vários outros xarabanecos do governo de Coelhos, defuntos da nossa vida política ressente, que ganharam vida neste Halloween fora de época, graças a esta encenação de xarabanecos.

Mas se tudo aquilo foi ridículo não deixa de ter alguma utilidade: os portugueses sabem agora que há um PSD que quer acabar a obra inacabada de Passos Coelho, quer voltar a cortar nas pensões, voltar a cortar nos vencimentos do Estado e aplicar o mesmo corte aos trabalhadores do privado. Voltou a ladainha das duas legislaturas e só não disseram o que defendem porque todos os sabemos.

Este regresso de Passos Coelho escondido atrás do xarabaneco que era líder parlamentar tem muito de positivo e se Rui Rio for derrotado o governo de António Costa tem muito a ganhar. Desde logo porque o PCP e o BE percebem que ainda não é tempo de derrubar um governo do PS e que o cenário do passado se repete: se o derrubarem terão de enfrentar a política de Passos Coelho. E o Presidente da República dificilmente sonhará com a hipótese de usar o segundo mandato para ajudar o PSD a regressar ao poder.


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Raios partam o mafarrico

(In Blog O Jumento, 26/06/2019)

Parece que o mafarrico abandonou o PSD e depois de já ter mandado o Passos Coelho para uma brilhante carreira académica no ISCSP ainda se vai lembrar de mandar o Rui Rio para seu assistente. O pobre do Passos anunciou o mafarrico para setembro de 2016, contando com um pedido de ajuda à troika depois da publicação da execução orçamental, andou a brincar à oposição e foi o que se viu.

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O mafarrico faltou ao combinado mas parecia ter vindo no meio de labaredas em Pedrogão Grande. O Passos voltou a reanimar-se e quando um boy local o informou que já havia mortos e feridos, porque o povo se sentia abandonado pelo governo e optava pelo suicídio, o diabrete teve mais olhos do que barriga e não se conteve, deu a notícia e acabou no ridículo.

Entretanto o mafarrico ainda deu uns ameaços, tornou a vida num inferno aos utentes da linha verde do Metro de Lisboa e, já com o Passos a preparar as aulas, coube a outros diabretes o anúncio das boas novas: Cristas esmerou-se e o Tavares trabalhou tanto que acabou com o estatuto de senador da nação, discursando em Portalegre.

Reposta alguma normalidade no Metro os diabretes mudaram-se para o estado dos comboios e daí para as urgências, de onde se mudaram agora para a ginecologia. Pelo caminho ainda marcaram encontro com o mafarrico junto aos paióis de Tancos.

Mas o diabo já não é o que era e foi o que se viu nas eleições europeias, as tais eleições tradicionalmente ganhas pela oposição foram desta vez ganhas pelo partido do governo e pelo PAN.

Agora faz-se oposição por antecipação e dizem que o mafarrico vai aparecer sob a forma de uma grávida que chega a uma urgência onde nem há um especialista; ao que parece vai aparecer em Beja ou talvez em Faro.

Com uma oposição destas a direita ainda vai acabar marcando encontro com o diabo nas próximas eleições legislativas. Ainda vamos ver o rui Rio a ser assistente do catedrático Passos Coelho e a Cristas a escrever mais um livro sobre a sua interessante vida pessoal que, como todos sabem, deve ser muito divertida.

E o Coelho saiu da toca

(Por Estátua de Sal, 20/05/2019)

O catedrático desceu à terra

Há tipos com sorte e António Costa é um deles.

A campanha para as Europeias estava morna – o Marques é bom rapaz, pronto, mas tem pouco jeito. Contudo, a direita encarregou-se de lhe dar o pretexto de dramatizar no episódio das carreiras dos professores, colocando a maioria do país do seu lado, segundo sondagens, entretanto já realizadas. E, claro, Costa aproveitou e bem, a oportunidade.

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Rangel e Melo não dão uma para a caixa. Competem um com o outro para ver qual deles invoca mais vezes o nome de Sócrates em vão, como se Sócrates fosse também ele, candidato europeu. E não vislumbram, os tansos, que com essa invocação só solidificam mais e mais, e por contraste, no espírito do eleitorado, a ladaínha das “contas certas” que vai ser a chave da campanha do PS para as legislativas: Sócrates era despesista, este PS de Costa e Centeno é parcimonioso.

Ora, a sorte tornou a sorrir a António Costa. Passos saiu da toca para fazer campanha ao lado de Rangel.

Passos, esse catedrático de aviário, desceu do seu Olimpo de sabedoria para dar a sua lição de sapiência aos eleitores e trazer-nos a boa nova: Rangel é um grande candidato europeu, disse. E Rangel retorquiu o mimo dizendo que o PSD não se envergonha dos seus líderes, nem os esconde, como faz o PS (mais uma vez Sócrates chamado à colação).

Esteve mal, Rangel, em permitir esta colagem de Passos, mostrando ao vivo aos eleitores o líder de uma governação de má memória, e colocando ao peito a sua efígie, como se de uma comenda se tratasse.

O problema do PSD é que ainda não percebeu que Passos Coelho é, por enquanto, do ponto de vista eleitoral, um activo tóxico que deve ser bem fechado numa qualquer gaveta entre odores intensos de naftalina, para que não se estrague, à espera de melhores dias.

Trazê-lo para a ribalta é ressuscitar na memória dos portugueses os anos de chumbo da troika, dos cortes nos salários e nas pensões, da emigração em massa de novos e velhos, do desemprego galopante, das falências em catadupa, e do “brutal aumento de impostos” anunciado sem ponta de mágoa, e com voz de autómato, pelo entretanto arrependido Vítor Gaspar.

Trazê-lo para a ribalta é ressuscitar na memória dos eleitores, todas essas desgraças mas mais ainda: é fazer-nos recordar que o seu promotor, Passos Coelho, acreditava que o país devia empobrecer, e que tais desgraças eram merecidas por termos vivido anos a fio numa orgia consumista, bem “acima das nossas possibilidades”. Se isto não é uma prenda de anos para António Costa e para o PS, eu vou ali à esquerda e venho já.

Até parece que Rangel está a tentar fazer a pior campanha possível, sabendo que, como cabeça de lista do PSD, o seu lugar como eurodeputado nunca estará em perigo. Ora, esta linha de análise deve ser desenvolvida.

É que Rangel ganhará sempre porque será eleito, mas o mesmo não se passará com Rui Rio se o resultado do PSD for desastroso, elegendo menos eurodeputados do que aqueles que tem actualmente. Nessa altura, os lacraus irão pôr de novo a cabeça fora do saco, Rui Rio que se cuide. E talvez já não seja Montenegro o desafiante do líder, quiçá seja mesmo o próprio Rangel a ganhar fôlego, prescindindo – dirá ele -, das mordomias de Bruxelas para se apresentar como o salvador do povo laranja.

Razão tem Carlos César quando diz que o sucesso do Governo é referendado no domingo. Não teria que ser assim se a campanha privilegiasse a discussão da Europa, dos temas europeus, e das suas consequências no futuro do país. Mas, na verdade, à direita e ao centro do espectro político, nada há discutir porque todos aceitam participar num Parlamento Europeu que nada de essencial decide, já que se encontra, de acordo com as regras europeias previstas nos Tratados, desapossado de iniciativa legislativa. É uma espécie de parlamento de eunucos, onde o orgão existe mas amputado de uma das funções basilares para que foi criado.

Com este regresso de Passos, a juntar-se às viagens de helicóptero sobre as áreas ardidas, fogos e Sócrates quanto baste, Rangel tem feito uma campanha para as legislativas, talvez porque sonhe vir a ser ele a disputá-las.

Com inimigos destes António Costa pode dormir o sono dos justos pois antecipo para domingo uma subida percentual do PS, em relação às últimas europeias – as tais da vitória “por poucochinho” -, à custa do PSD e forças políticas à sua direita, mantendo o BE e o PCP um resultado sem alterações significativas. (Ver resultados da última sondagem de hoje aqui)

O que só irá reforçar o prestígio de António Costa, interna e externamente., e assim, já agora, acalentar também o seu próprio sonho de um cargo europeu de nomeada. Mas isso, são contas de outro rosário e ainda agora a procissão vai no adro.