OS NEO-CLAUSTROFÓBICOS!

(Joaquim Vassalo Abteu, 06/03/2017)

claustrofobia

Eu sei que há por aí muitas pessoas sensíveis, algumas mesmo supersensíveis e, portanto, aconselho-as a não lerem este texto. É que o assunto, versando a “claustrofobia”, pode chocar muitos daqueles que não gostam de lugares elevados, por causa das vertigens, não andam de avião porque, no ar, estão lá fechados e podem cair, ou porque num comboio estão sujeitos a um descarrilamento. E nem podem falar com o vizinho do lado, não vá ele ser claustrofóbico também…Complicado, não é?

Eu, durante a minha já provecta vida de quase sessenta e quatro anos, muitíssimas vezes ouvi esta palavra e, não sei bem porque razão, sempre a associei a “medo”. Talvez por causa da “fobia” com que termina. Mas essa todos sabemos bem o que significa: medo, repulsa, pânico ou ansiedade provocados por algo, ou por qualquer coisa ou situação. Tudo certo, não é?

Mas, assim sendo, de onde virá a tal “claustrofobia”? Eu, muito natural e simplesmente, mesmo inocentemente até, retratando a verdade do que sou e sempre fui, um inocente crédulo, sempre pensei, e até já aqui o escrevi, que “claustrofobia” era ter medo a claustros! Que outra coisa poderia ser?

Mas ontem, falando com um Amigo bestialmente letrado, ele disse-me que não é bem assim. Que eu estou a ser muito redutor, diz ele. Ao que eu, muito candidamente, respondi: até pode ser mas, se assim for, não sei como há monges, freis ou freiras que permaneçam em conventos. É que aquilo são só claustros! Bem, eu sei que eles só por lá andam meditando, rezando e fazendo daquilo um sacrifício e imolação, em nome do Pai, do Filho e de todos os Espíritos Santos, que são muitos, mas são só um…Talvez…

Mas então ele disse-me que “claustrofóbicos” são aqueles que têm medo de estar fechados: num avião, num comboio, num autocarro ou no meio de um qualquer ajuntamento…Que novidade, disse-lhe eu, acrescentando aqueles que não saem de casa, nem que ela lhes caia em cima! Ele riu-se e eu ainda acrescentei: nem a manifestações vão e até se refugiam nas últimas filas do Parlamento…

Donde concluí que as pessoas livres e livres de qualquer medo, não poderão andar seguras e juntas com essas outras, andar de comboio com elas e de avião nem pensar! E simplesmente porque não conseguirão ser livres, ser independentes e controladas nos sítios onde estão.

Tudo isto se tornou uma novidade para mim, que nunca julguei chegarem estes conceitos ao refinamento a que chegaram mas, ao mesmo tempo, foi um enorme clarão que se abriu na minha visão passando, finalmente, a entender aquilo que de há uns tempos para cá alguns vêm entendendo como “Claustrofobia Democrática”! Em letra maiúscula, dada a sua importância.

Ora eu “Claustrofobia”, como antes dissertei, ainda consegui perceber o que poderia ser, mas, “Democrática”?  Terá a ver com “Liberdade”, perguntei-me eu?

Já aqui há uns anos perplexo fiquei quando aquele “coiso”, o Rangel, rangia contra a “claustrofobia democrática” que sentia. Ele que, sendo chefe da sua bancada parlamentar, toda a liberdade tinha de dizer todas as inanidades que lhe apetecesse dizer. O que é que lhe faltava então? O ar e o tempo, quer dizer, o Poder! E sentia-se asfixiado porque sentia alguns escolhos: na concentração de todos os seus remunerados “hobis”! Como político (deputado), como professor, como membro das “quatrocasas”, como comentador e nem sei que mais. Não seria de asfixiar?

E eis que agora voltam a falar do mesmo! E eu? A continuar sem compreender…

Até que ontem, justamente ontem porque já estou a escrever este texto no dia de hoje, 06 de Março do ano da graça de 2017, eu acabei por cair na real quando, num certo e determinado momento, enquanto jantava e olhava fugazmente para a TV, ouvi Passos Coelho falar.

Creio que num jantar com mulheres sociais democratas, todas elas portanto saídas da claustrofobia dos seus lares ( será que os seus maridos ficaram em casa ou aproveitaram e foram ouvir o…ou jantar com…ou foram ao futebol?), dar a explicação que teimava em fugir-me  e na qual eu, confesso, nunca tinha pensado: Para ele há “Claustrofobia Democrática” porque o Governo e a comandita que o segue estão contra o Governador do Banco de Portugal e contra a D. Teodora, a quem ele classifica de independentes e, sendo inamovíveis, como António Costa reconheceu, isentos de qualquer critica.

E eu, mais uma vez inocentemente, perguntei-me: Mas quem sofre de “claustrofobia”? Ele, Passos, ou eles? Um no seu “Castelo” e a outra no seu gabinete? Fiquei sem saber…

Quer dizer: ficamos! É que eu, excepcionalmente, fui ao Google e digitei “claustrofobia democrática”. Que apareceu? Nada! Nenhum significado e apenas citações. Do Montenegro, do Rangel, do Passos e outros teóricos que, apesar da teoria que tentam impingir, ainda não tem significado concreto e, portanto, nem estudos nem seguidores, quanto mais teses de mestrado ou doutoramento! E qual é o seu teorema base e que tal teoria justifica? É o desta minoria, ou outra qualquer minoria, não conseguir impor a sua vontade a uma maioria! Onde já se viu?

Porquê? Pelo de sempre: eles, mesmo sendo minoria, deveriam ser maioria. Mas como? Porque há lá uma parte (quase 20%) que não devia contar e, sem eles, a maioria seria sua…

Por isso se sentem asfixiados. É natural. Mas assim como nos claustros, resta-lhes ler e meditar, rogar e implorar, fazerem penitência e mortificarem-se até, para além de se refugiarem nas últimas filas no Parlamento…para se lavarem, sararem, exorcizarem e redimirem os seus pecados. Para depois aparecerem alvos como a neve…

Mais uma vez, AMEN, que em Português quer dizer: assim continuem…


Fonte aqui

A liberdade incomoda

(Isabel Moreira, in Expresso, 22/10/2016)

ISA_MOR

Vem este título a propósito da proposta de lei do governo sobre o tabaco (vou designá-la assim para simplificar). A proposta desceu à especialidade sem votação, o que é bom. Tal como está, é inaceitável.

Tenho ouvido alguns comentários no sentido de que esta questão do fumo, do vapor, da restrição de direitos de fumadores e de utilizadores de cigarros eletrónicos e de outros cigarros sem combustão não tem “grande importância”.

Penso que essa indiferença resulta de a nossa cultura democrática ser pobre no que toca à interiorização de direitos individuais. Parece que estamos satisfeitos com a democracia formal, com o sufrágio, mas não perdemos grande tempo a refletir sobre diplomas que tocam fundo no modelo de sociedade em que vivemos. Não perdemos grande tempo a discutir se é normal que o Estado condene comportamentos, não porque eles prejudiquem terceiros, mas pelo seu “simbolismo”. Por exemplo, quando no diploma do governo se proíbe que se fume um cigarro numa varanda de determinados edifícios (terá de ser na rua a x metros desses edifícios, como os órgãos de soberania, imagine-se) a mensagem que ali se está a passar não diz respeito apenas aos fumadores. Pelo contrário, diz respeito à cidade como um todo.

Queremos viver num Estado perseguidor de comportamentos lícitos (sim, fumar é lícito) ao ponto de estigmatizar uma categoria de cidadãos na esperança “moral” de que esses “maus exemplos” desistam de fazer “más escolhas para a sua própria saúde”?

Seria o mesmo que estigmatizar por via da fiscalidade todos os que não comem uma alimentação “ideal” até que esses se vergassem ao mito de um pano de vida traçado pelo estado e não pelos próprios.

De resto, já se deram conta de que todos os dias homens e mulheres estão parados em paragens de autocarros a levarem com doses maciças de poluição? O que fazer? Proibir que se fume a cinco metros de determinados edifícios. A sério?

O diploma do governo imprime um modelo de sociedade sob o pretexto de estar a proteger a saúde pública. Esse modelo de sociedade passa por delinear um “modelo de cidadão” com um “padrão comportamental”. Nada que a história desconheça.

A prova deste ímpeto moral do legislador e da fraude na alegada defesa da saúde pública está no tratamento que o diploma dá aos cigarros eletrónicos (CE), aos cigarros sem combustão, sem fumo, sem tabaco, apenas com vapor, com ou sem nicotina, dispositivos que têm salvado milhões de vidas pelo mundo fora. No diploma, os cigarros eletrónicos, que são 95% menos prejudiciais para a saúde do que os cigarros normais e que não prejudicam terceiros, são incentivados (como no RU ou na Suécia) ou perseguidos, como no puritanismo americano?

São diabolizados e perseguidos: é o critério da exemplaridade como critério de restrição da liberdade geral da ação.

Este diploma assume que não são conhecidos os efeitos que podem advir de novos produtos como os cigarros eletrónicos, sem combustão, sem fumo, sem tabaco, ou de outros com tabaco, mas sem combustão e usa “à partida” o princípio da precaução para equiparar fumar ao que não é fumar e aplicar uma lógica de restritiva contraproducente e desproporcionada aos nossos comportamentos livres e lícitos.

Os estudos proliferam. Não estamos em 2006. Estamos em 2016, por mais que determinados lóbis façam fazer por esquecer. Não tenho tempo para descrever a longa história nesta matéria da OMS ainda aquando da elaboração da diretiva europeia sobre o tabaco. Percebe-se uma coisa: aleija muita gente que as farmacêuticas não tenham o monopólio dos produtos que ajudam a deixar de fumar.

O princípio da precaução é um subprincípio do princípio da proporcionalidade e só deve ser utilizado quando há certeza absoluta (sob pena de não haver evolução na análise da utilização do bem y ou y) de que – no caso – há riscos para terceiros e, ainda assim, sob o chapéu do princípio da proporcionalidade. A seguir a lógica deste diploma, a comercialização de micro-ondas e de telemóveis teria sido proibida. Por precaução, certo?

A lógica deste diploma é esta: “a única forma segura de não fumar é não fumar”. Incluindo o que a lei inventou que passou a ser fumar. Na alínea s) do artigo 2º somos informados que cigarros eletrónicos que não têm combustão, não têm fumo, produzem apenas vapor, “afinal” integram o novo conceito de “fumar”. Porquê? Porque o governo do partido que despenalizou o consumo das drogas entre incentivar um produto que tem comprovadamente contribuído mundialmente para salvar milhares de vida diz isto ao povo: “ou abstencionismo ou tabaco!” Eis a proporcionalidade e toda uma política de “saúde pública”

O apelo ao abstencionismo mantém-se no artigo 15. Está demonstrado que é melhor vapear CE do que fumar. Está demonstrado que os CE salvam vidas. Conclusão: proíbe-se a publicidade a produtos que salvam vidas. Excessivo e absurdo, não?

Sabem como é no Reino-Unido? Acabaram com os proibicionismos e têm frases sobre alternativas aos cigarros nos maços de tabaco em vez de imagens tipo bullying de terror que mais não geram do que habituação às mesmas.

Podem sempre dizer que é desagradável o cheiro do vapor que sai de um cigarro eletrónico. Lá está: a liberdade incomoda. E isso é bom. Sermos livres implica algum incómodo recíproco, incómodo esse que só pode ser reprimido se for verdadeiramente relevante. Não gosto do perfume de muita gente. Incomoda-me. E vivo com isso. É da liberdade.

Pobres amarelinhos, foram abandonados

(In Blog O Jumento, 13/06/2016)

 

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Que coisa tão estranha, os amarelinhos desapareceram! O cardeal esqueceu-se da sua evangelização da liberdade de escolha, a Cristas parece ter metido férias e os seus deputados jé nem se vestem de amarelo, até o traste de Massamá, que foi o primeiro a abandoná-los, anda a pular de causa em causa, a esperança de o país escorregar nalgum buraco.

O que é feito da preocupação pelos novos projectos educativos, com os professores que iam ficar desempregados, com o futuro das criancinhas, com os direitos contratuais? De um dia para o outro desapareceram, ainda apareceram disfarçados de branco, armados em fascistas à porta de um congresso partidário, mas bastou uma sondagem da Aximage para que tivessem desaparecido.

Como a causa não rende votos os líderes da direita que andaram tão empertigados calaram-se, parece que o próprio cardeal deverá ter percebido que não ia ganhar almas para o seu rebanho e fez-se silêncio, o próprio Marcelo parece ter optado por não mostrar o seu optimismo irritante. A luta terá passado para os bastidores, já que a arruaça estava a dar maus resultados há que negociar e conseguir o que se pode.

Para a história ficou um bom exemplo de como se faz política em Portugal, de como as grandes causas podem não valer nada se não renderem votos, de como a coerência e os valores dão facilmente lugar ao puro oportunismo político. Se a sondagem da Aximage tivesse dado um apoio a causa por parte de 50% dos eleitores a Cristas não teria calado, o Passos tudo faria para chamar a si a liderança desta gloriosa luta e o cardeal já teria dedicado a homilia da cerimónia do casamento das noivas de Santo António ao tema, ainda que na sua diocese a questão nem se coloque.

Mas como a causa não rende nem almas nem votos os colégios ficaram a falar sozinhos, os papás que paguem os colégios, as ovelhas tresmalhadas que procurem o rebanho porque os nossos líderes políticos e religiosos têm mais do que fazer.

Até porque em  nome da austeridade o melhor é deixar cair os colégios pois não se pode exigir que se mantenham os cortes dos professores do ensino público para que o governo pague os ordenados dos professores dos colégios.

Enfim, são assim as causas desta direita da treta que se apoderou do CDS e do PSD.