Realmente é incomparável

(Carlos Marques, in comentários na Estátua de Sal, 23/11/2023)

(Este texto resulta de uma resposta a um comentário de JgMenos, aqui publicado, e que transcrevo: “Muito se esforça a cambada do ódio em dar lugar a terroristas na multipolaridade que ambicionam. O tema actual é equiparar os assassinatos de civis a 7 de Outubro em Israel às mortes de civis em Gaza.”

Por conter tanta verdade junta, decidi dar-lhe maior divulgação.

Estátua de Sal, 23/11/2023)


Realmente é incomparável. O Hamas entrou na Palestina ocupada (ou seja, “invadiu” o seu próprio território), e matou invasores. No total, à volta de 1200, morreram nessa contraofensiva. Quase 400 eram militares ou polícias do regime invasor. E dos 800 “civis” (colonos reservistas do IDF, invasores ilegais) mortos, vários foram mortos pelas próprias IDF, como já foi noticiado.

Do outro lado, em Gaza, um campo de concentração, o invasor Israelita invadiu ainda mais, destruiu bairros inteiros, infraestruturas, cortou água e luz, bloqueia comida e combustível, cerca hospitais, rebenta escolas. Assassinou já mais de 13300 civis, dos quais mais de 5500 crianças (41% das vítimas).

É, de facto, incomparável. De um lado um povo, sem direito a forças armadas, que usa os meios que tem para se revoltar contra os que os invadem há quase 80 anos, e fazem alguns prisioneiros com o objetivo de os trocar pelas crianças palestinianas raptadas e trancadas em prisões naZionistas.

Do outro lado, mais uma invasão ilegal, um genocídio, e uma limpeza étnica durante as pausas. E os navios do império genocida ocidental no Mediterrâneo, para garantir que o genocídio é feito sem ninguém se atrever a pará-lo.

Mas, para racistas e imperialistas genocidas, a vida de um invasor agressor naZionista, vale tanto como a de 10 ou 100 civis palestinianos, vítimas há décadas neste conflito que NÃO começou em 7 de Outubro, mas começou em 1947, quando um grupo de imperialistas genocidas ocidentais desenhou uma linha num mapa e afirmou: “Isto agora é meu e dos meus amigos sionistas”. Ou, como Biden uma vez disse, parafraseando: “Se Israel não existisse, nós íamos lá inventá-la. É a melhor garantia da defesa dos nossos interesses na região”.

Já o Putin, esse “criminoso”, em vez de inventar linhas no mapa, olha para os mapas históricos. Em vez de fazer golpes sangrentos, faz referendos. Em vez de bombardear o campo de concentração, bombardeia nazis. Em vez de assassinar mais de 5500 crianças num mês, faz uma guerra cirúrgica em que em 2 anos morreram 500 (e muitas em ataques dos nazis contra o Donbass). Em vez de limpeza étnica, reconstrói Mariupol e convida a voltar todos os ucranianos que lá quiserem continuar a viver. Em vez de cometer um genocídio, evita um que os UkraNazis queriam cometer. Em vez de ódio e extremismo religioso, lidera uma federação onde cabem todas as etnias e crenças. Em vez de cortar água e cercar hospitais, reabre o canal da Crimeia, e envia ajuda humanitária para Gaza. Em vez de financiar a Al-Qaeda para destruir a Síria, ajuda a Síria a derrotar a Al-Qaeda. E em vez de apoiar incondicionalmente os naZionistas, vota na ONU a favor do cessar-fogo imediato. Obviamente, com um currículo como este, só podia ser chamado de “criminoso” pelos “democratas” e “juízes” ocidentais. O Netanyahu, esse sim, é um exemplo a seguir…

Nota 1: Continua o agravar acelerado da DITADURA ocidental. A atriz Susan Sarandon, dos poucos seres humanos que se aproveitam naquela zona do globo e naquela indústria, acabou de ser cancelada, censurada, limitada na sua liberdade, e atacada na sua independência financeira. Se fosse uma atriz nova, correria o risco de passar fome daqui para a frente. Felizmente já amealhou o que tinha de amealhar. Já não é preciso PIDE nem Gestapo. O Capitalismo faz o trabalhinho… «Susan Sarandon fora de agência de Hollywood após apoiar Palestina», (Ver aqui).

Ela não apoiou o Hamas. Apoiou um povo vítima de genocídio. A ditadura ocidental diz que é crime. O capitalista despede. Está cancelada. Só por acaso, Hollywood deve ser das indústrias com mais penetração/iniciativa Judaica/Sionista. É só uma coincidência, pois claro…

«Fui aconselhado a não falar no genocídio. Posso vir a ser prejudicado» (Ver aqui). Esta foi em Portugal, província do império genocida ocidental. Ai do ator Jorge Corrula que abra a boca para falar de factos… Fica logo sem ganha-pão. É assim a nova PIDE/Gestapo da ditadura ocidental. Não é o agente X que tortura ou mata num edifício do Estado. É a “iniciativa privada” que faz o servicinho, de forma silenciosa, sem deixar negras. Se um ator disser o que o regime não gosta, e deixar de aparecer na TV/Cinema, ninguém dá por ela. Estão sempre a aparecer novos atores, prontos a dizer as coisas “certas”, e alguns até dão estatuetas dos Óscares a ditadores colaboradores de nazis queridos pelo regime ocidental, em nome da vi$ibilidad€ que isso lhes garante.

Por falar nisto, lembrei-me do partido político da CIA em Portugal… quer dizer, da Iniciativa Liberal. Eles querem mais meritocracia. Deve ser do tipo: se vais a uma manifestação pedir mais salário, com cartazes em português, és extremista e tens de ser combatido. Mas vais a uma manifestação com bandeiras vermelhas e pretas da UPA/OUN ao lado do militante do Svoboda, pedir mais aviões F16 com cartazes em inglês, e és logo um grande democrata liberal e mereces ser promovido até ao topo…
E é esta gente que vai governar Portugal nos próximos 4 anos. Aliás, ganhem laranjas ou rosas, são na mesma estes que vão governar. $eja feita a vontade de Biden, Leyen, Stoltenberg, e Lagarde, am€n.

Nota 2: Alguém diga ao Putin que se ele afirmar que todos os ucranianos são terroristas do Hamas, pode terraplanar aquilo tudo à bomba, e ainda recebe ajuda do Ocidente. Combater cirurgicamente nazis (que começaram guerra) é “crime” e é “injustificado”, mas assassinar mais de 13000 civis e mais de 5500 crianças num só mês (e ainda agora estamos no início…) é ser “a única democracia do Médio Oriente”, é “totalmente justificado”, é “defender direitos humanos”, é espalhar a “liberdade”.

Nota 3: Perante a crescente agressão dos albaneses do Kosovo contra os Sérvios da parte Norte do Kosovo, a NATO reforça as forças da invasão, o apoio aos separatistas, e facilita a futura anexação de mais um território (em violação do direito internacional) ao império genocida, com promessas de adesão à UE/NATO. Não é independência, é anexação. Só não percebe isso quem não tem olhos nem vergonha na cara. Mas é tudo business, as usual.

Entretanto o Presidente da República Sérvia começa a falar cada vez mais alto em exercer pacificamente o Direito Humano à autodeterminação, separar-se da Bósnia e Herzegovina, e quiçá ajudar depois a fazer uma Sérvia maior. Obviamente chovem ameaças e previsões de nova guerra, por parte dos cartilheiros do regime ocidental. Double standards, what else?

Mas isto levou-me a ler novamente artigos sobre a forma como o Montenegro se tornou “independente” (anexado à UE/NATO). E só posso dizer que recomendo. Desde os apenas 2 mil votos que tudo decidiram (menos que o total de votos nulos ou brancos), às polémicas e irregularidades, às histórias de corrupção e compra de votos e pressões inadmissíveis a trabalhadores do Estado, às bandeirinhas da UE numa das campanhas… e à divisão territorial das intenções de voto, com uma metade claramente contra a independência, valeu tudo. Uma leitura que é uma risota revoltante. Visto com os meus olhos de hoje, ficou claro para mim: foi um Maidan. Feito com cruzes num papel em vez de balas. Mas ainda assim um Maidan. Um golpe para despedaçar um país, em nome dos interesses do império genocida ocidental. Nada mais. Hoje a Sérvia não tem acesso ao mar. E o Montenegro é uma amostra de país. Mais um voto na ONU para fazer de conta que o Ocidente (15% do Mundo) tem muitos votos e “não está isolado”. Orwelliano demais!

Falei de tanta coisa que parece diferente, mas isto está tudo ligado. E a cola que liga as peças, é produzida em Langley, Virgínia – sede da CIA. Se o que produz ficasse dentro do muro, não havia mal. Mas infelizmente anda pelos lados de cá muito snifador viciado nessa cola…


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O 1984 de Orwell, ou o 1933 de Adolf?

(Carlos Marques, in comentários na Estátua de Sal, 21/11/2023)

Em que ano estamos? Vamos lá ver o que se passa, para ver se chegamos a uma conclusão.

Mais de 13 mil civis assassinados, dos quais 5500 crianças, num só mês. Um exército a cercar e a invadir hospitais, a bombardear escolas das Nações Unidas, a fazer uma limpeza étnica de dois milhões de pessoas, numa invasão a um campo de concentração. Um regime de apartheid em que se diz ser o povo escolhido, superior aos restantes.

Isto é o que se passa. É factual. Mas, se eu não chamar os bois pelos nomes, um leitor desatento poderia ficar na dúvida se estou a falar da Alemanha Nazi de Hitler… Não. Estou a falar da Israel naZionista de Netanyahu.

Hoje vi 30 segundos de MainStreamMedia portuguesa, 15 segundos em cada canal. Primeiro vi dois PRESStitutos, um pivot e um comentador, a trocar palavras, dizendo algo como “Orbán, a voz de Putin na Europa, é um problema”. E não, não foi o comentador a dizer está alarvidade.

No outro canal, estavam a dar numa reportagem sobre os coitadinhos familiares dos “civis raptados” a 7 de Outubro pelo Hamas. Nem uma palavra sobre os mapas da ONU que mostram que, sob todos os pontos de vista, aquelas cidades “Israelitas” são a Palestina ocupada; portanto quem lá está é invasor/colono ilegal, e por isso eles não são civis, nem inocentes, nem foram raptados. São invasores, são os culpados pelo início da agressão, e são prisioneiros de guerra.

E, imagino eu, nem uma palavra nesta MainStreamMerdia sobre as mais de 800 crianças palestinianas, essas sim raptadas, e todos os anos colocadas em condições de tortura psicológica nas prisões/gulags do invasor naZionista.
Nem sobre os milhares de cidadãos palestinianos presos só por serem quem são. E nem uma palavra sobre o Nakba e de como a lei internacional dá a milhões de palestinianos o direito de regressar. Ora, se pela frente têm muros, colonos/invasores ilegais armados, acompanhados de militares genocidas, como é que regressam às casas que lhes foram roubadas? Tem de ser o Hamas a abrir caminho.

É esta a situação. Um lado quer viver em paz. O outro quer invadir ainda mais, e fazer guerra até destruir tudo e matar todos os que estão no caminho dos seus planos: como prova o mapa que Netanyahu, o naZionista-mor, apresentou na ONU, só com Israel e sem Palestina nenhuma, nem Gaza nem Cisjordânia, nem Hamas nem Fatah. Uma limpeza étnica completa.

E é para atingir esse objetivo que o chefe do império genocida ocidental, os EUA, tem na região um total de mais de 70 navios de guerra e de mais de 200 aviões. Nem vou dizer o número de mísseis (armas de destruição em massa) nem de bases ilegais, invadindo vários países contra a vontade dos respetivos povos.

Da EUropa, nem uma única sanção, nem uma única arma dada a quem resiste. Pelo contrário, os países EUropeus/NATO com assento no Conselho de Segurança da ONU, votaram contra o cessar-fogo. Só aprovaram “pausas humanitárias”. Ou seja, traduzindo de língua de porco diplomata mas genocida, para língua de gente intelectualmente honesta: votaram a favor de um horário de guerra contra civis, em que, na maior parte do tempo, há genocídio, e nas pausas do genocídio há limpeza étnica: a deslocação forçada de toda a população com vista à sua substituição.

Para completar, a cereja no topo deste bolo de m*rda, avança a censura e o cancelamento de quem discordar do império genocida ocidental e do naZionismo. Na EUropa proibem-se manifestações pacíficas a favor da libertação da Palestina. Em Portugal promove-se uma Web Summit em que o Irlandês que se atreveu a dizer um facto (que Israel comete crimes de guerra) perdeu o lugar no evento que o próprio criou, e foi substituído por uma cadela com pedigree da CIA. E, nós próprios EUA, a cartilha obrigatória já foi entregue a reitores de universidades e a CEO de empresas, para que se ataque os indivíduos que se atrevem a criticar quem assassinou mais de 5500 crianças. Se o fizerem, esses jovens dos EUA, perdem as suas oportunidades de vida, ficam sem carreira, e os que já a tiverem iniciado ficam sem emprego.

Bem-vindos a 1984.

Aqui, o libertador Mandela é “terrorista”, mas o nazi Bandera e os seus seguidores neoNazis são “heróis”.

Guerra é “paz”.

Belicismo é “segurança”.

Dinheiro para salários é “extrema-esquerda”.

Assassinar russos é “investimento”.

Censura é “liberdade”.

Fake News e propaganda são “factos”.

Combater nazis é “injustificado”.

Resistir a naZionistas é “terrorismo”.

A China é uma “ameaça”.

O império genocida (EUA) é um “aliado bem-intencionado”.

A €Uro-ditadura é a “representação exemplar dos cidadãos”.

Partidos capitalistas neoliberais das privatizações, ataques ao direito laboral, e mercado desregulado, são “socialismo”.

Ter 41% de votos (que em 50% de abstenção são só 21% de eleitores) é ter “maioria absoluta”.

Uma procuradoria que, trocando um nome numa montanha de escutas que pariram um rato, deita abaixo um governo, é “estado de direito”.

Defender o próprio país (Hungria) e apelar à paz, é ser “a voz de Putin na EUropa”.

Ter uma lei, representativa da vontade da maioria, que manda tapar boa parte do cabelo da mulher com um lenço, é “fanatismo religioso de um regime perigoso”, mas bombardear campos de refugiados em nome da Torah é ser “a única democracia do Médio Oriente”.

Enviar médicos para países necessitados é ser “país terrorista”, mas construir muros e jaulas para emigrantes esfomeados é “defender os direitos humanos”.

As alterações climáticas são uma emergência, mas evitar jatos privados ou evitar uma guerra nuclear nem por isso…

Agora que cheguei ao fim, fiquei na dúvida. Será o 1984 de Orwell, ou o 1933 de Adolf? Ou será uma nova era que ficará na memória das próximas gerações como algo ainda pior que os dois exemplos referidos?


PS: Para a Argentina, o ano é 1973. O golpe Pinochetista/CIA neste momento já não precisa de botas cardadas. Bastam fake news na MainStreamMedia, bits e mentiras nas redes sociais, uma boa dose de guerra/terrorismo económico, e um bando de “mercados internacionais” a piar de acordo com os 1% donos deste Mundo, e está feita a receita.

Depois, basta só um governo incompetente, levar ao forno durante 4 anos, a oposição moderada não comparecer ao jantar, e o fascista/NeoLiberal e globalista/traidor come tudo. Eles comem sempre tudo.

Se Milei fizer tudo o que prometeu, haverá mais argentinos a passar fome daqui a 4 anos, do que houve russos nessa situação após o “Milei bêbado de Moscovo” (ala Yeltsin) ter sido o eleito para aplicar essa receita: capitalismo neoliberal de choque antidemocrático só com o fim de agradar à oligarquia do império genocida ocidental.


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A Pele de Onagro da desinformação no ataque do Hamas a Israel em 7 de Outubro de 2023

(José Catarino Soares, 18/11/2023)

7 de Outubro de 2023. Um tanque israelita Merkava capturado por activistas palestinianos em Gaza.
 

No artigo “O que é o Hamas? (Parte 2)”, publicado na Estátua de Sal, em 7/11/2023, (ver aqui), argumentei que o ataque do Hamas a Israel no dia 7 de Outubro de 2023 teve duas componentes: uma componente militar (a maior) e uma componente terrorista (a menor).

Referi-me aos 317 militares e 58 polícias israelitas que teriam morrido em consequência da componente militar do ataque (segundo as informações colhidas pelo jornalista Seymour Hersh). E depois de subtrair este número aos 1.400 israelitas que o governo israelita anunciou terem morrido durante esse ataque, para obter o número de civis mortos, escrevi: «Não temos informação fidedigna e suficiente (a que temos é incompleta e quase exclusivamente de origem israelita) sobre o modo como estas [1.025] pessoas morreram que nos permita avaliar a veracidade e a extensão de todas as atrocidades que, alegadamente, terão sido cometidas pelos combatentes do Hamas no âmbito da componente terrorista do seu ataque a Israel: o ataque a zonas civis». Acrescentei noutro parágrafo: «Há ainda muita coisa por esclarecer relativamente às vítimas mortais civis do ataque».

Entretanto, ficámos a saber muito mais coisas sobre este assunto que lançam uma luz nova sobre o peso relativo das duas componentes (militar e terrorista) do ataque do Hamas. O porta-voz do Ministério dos Negócios Estrangeiros israelita, Lior Haiat, declarou, em 10 de Novembro, segundo as agências Reuters e AFP, que «cerca de 1.200 é o número oficial de vítimas do morticínio de 7 de Outubro». Isto, porque o serviço de antropologia forense de Israel chegou à conclusão de que 200 cadáveres ⎼ entre aqueles que se apresentavam muito desfigurados por queimaduras ⎼ eram, afinal, de combatentes do Hamas. «Este é o número actualizado», disse Haiat à AFP. «Deve-se ao facto de ter havido muitos cadáveres que não foram identificados e agora pensamos que pertencem a terroristas… e não a vítimas israelitas». Assim sendo, e a fazer fé na veracidade dos números fornecidos por Israel, o número de vítimas civis baixa para 825.

No dia 13 de Novembro, o analista militar americano Scott Ritter, trouxe a público novos dados que modificam radicalmente o relato que o sistema mediático dominante de comunicação social do “Ocidente alargado” nos deu do ataque de 7 de Outubro de 2023.

«Israel caracterizou o ataque levado a cabo pelo Hamas contra as várias bases militares israelitas e colonatos militarizados, ou Kibutzim, que, na sua totalidade, constituíam uma parte importante do sistema de barreira [carcerária] de Gaza, como sendo terrorismo, comparando-o aos atentados terroristas de 11 de Setembro de 2001 contra os Estados Unidos da América. Israel apoia esta caracterização citando o número de pessoas mortas (cerca de 1.200, uma revisão em baixa efectuada por Israel depois de se ter apercebido que 200 dos mortos eram combatentes palestinianos) e descrevendo em pormenor uma variedade de atrocidades que afirma terem sido perpetradas pelo Hamas, incluindo violações em massa, a decapitação de crianças e o assassínio em massa de civis israelitas desarmados.

O problema com as afirmações israelitas é que são comprovadamente falsas ou enganosas. Quase um terço das baixas israelitas consistiu em militares, elementos dos serviços de segurança e agentes da polícia. Além disso, verifica-se que o maior assassino de israelitas em 7 de Outubro não foi o Hamas nem outras facções palestinianas, mas os próprios militares israelitas.

Um vídeo recentemente divulgado mostra helicópteros israelitas Apache a disparar indiscriminadamente contra civis israelitas que tentavam fugir do “Encontro Supernova de Sukkot” [um festival de música] que se realizava no deserto perto do Kibutz Re’im, com os pilotos incapazes de distinguir entre os civis e os combatentes do Hamas. Muitos dos automóveis que o governo israelita mostrou como exemplo da perfídia do Hamas foram destruídos pelos helicópteros Apache israelitas.

Da mesma forma, o governo israelita divulgou amplamente aquilo a que chama o “massacre de Re’im”, citando um número de mortos de cerca de 112 civis que diz terem sido civis assassinados pelo Hamas. No entanto, os relatos de testemunhas oculares, tanto de civis como de militares sobreviventes envolvidos nos combates, mostram que a grande maioria dos mortos morreu devido aos disparos dos soldados e tanques israelitas dirigidos contra edifícios onde os civis estavam escondidos ou eram reféns dos combatentes do Hamas. Foram necessários dois dias para os militares israelitas recapturarem Re’im. Só o conseguiram depois de os tanques terem disparado contra as residências dos civis, fazendo-as ruir sobre os seus ocupantes, e muitas vezes incendiando-as, fazendo com que os corpos dos que estavam lá dentro fossem consumidos pelo fogo. O governo israelita divulgou a forma como teve de recorrer aos serviços de antropologia forense para identificar restos humanos no Kibutz, dando a entender que o Hamas incendiou as casas dos ocupantes. Mas o facto é que foram os tanques israelitas que destruíram e mataram.

Esta cena repetiu-se noutros Kibutzim ao longo do sistema de barreira [carcerária] de Gaza. O governo israelita trata os Kibutzim como sendo um tipo de organização puramente civil. No entanto, divulgou a forma como as equipas armadas de segurança formadas pelos chamados residentes “civis” de vários Kibutzim foram capazes de se mobilizar a tempo para repelir com êxito os atacantes do Hamas. A realidade é que cada Kibutz teve de ser considerado pelo Hamas como um bivaque armado e, como tal, foi atacado como se fosse um objetivo militar, pelo simples facto de que o era ― todos eles o eram.

Além disso, até Israel ter deslocado vários batalhões das FDI [Forças de Defesa de Israel, conhecidas comumente no país pelo acrónimo hebraico Tzahal] para a Cisjordânia, cada kibutz tinha sido reforçado por um grupo de combate de cerca de 20 soldados das FDI que estavam alojados em cada kibutz. Dado que o Hamas planeou este ataque durante mais de um ano, o Hamas tinha de pressupor que estes grupos de 20 soldados das FDI ainda se encontravam em cada kibutz, e tinha de actuar em conformidade» (Scott Ritter. “The October 7 Hamas Assault on Israel: The Most Successful Military Raid of this Century”. <scottritter @substack.com> November 13, 2023) [minha tradução].

Em suma:  a componente terrorista do ataque do Hamas a Israel em 7 de Outubro parece ter encolhido como a pele de onagro do romance homónimo de Honoré de Balzac, e poderá encolher ainda mais à medida que soubermos mais pormenores sobre o que realmente se passou nesse dia.

Não é de excluir a possibilidade de ficarmos a saber que se reduz, afinal, ao rapto e sequestro de 248 reféns. Em contrapartida, e pela mesma razão, ficámos a saber que a componente militar do ataque foi bem maior do que foi noticiado (e que poderá ter sido ainda maior) por lhe ter sido restituída a sua real dimensão.

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