2016 termina com mais uma anedota da Marilú

 

(Imagem in Blog, 77 Colinas)

Um ponto de encontro

Diz a Marilú, aborrecida pelo facto de o déficit ir ficar abaixo dos 3%, o que ela jurou a pés juntos que seria impossível: ““O Governo opta pela falta de transparência e até de respeito democrático, fingindo que não tem planos B e planos C, que não recorre a nada de extraordinário para obter estes resultados.” Ou seja, o resultado afinal existe mas a Marilú diz que é por causa dos planos B, C, D, etc. Eu se fosse a ela esgotava o abecedário todo nomeando planos sem fim à vista.

Mas fala ela em falta de transparência quando ela própria se fartou de fazer orçamentos rectificativos e de recorrer a medidas extraordinárias?! Haja decoro. Quando é que aprendes, ó Marilú, que o melhor seria mesmo não teres dito nada, já que em boca calada não entra mosca?


Fonte da Imagem: 77 Colinas

O Diabo é canhoto

(Daniel Oliveira, in Expresso, 19/11/2016)

Autor

                       Daniel Oliveira

A estratégia de apostar no mercado interno era um engodo. Graças a esse engodo a economia estava condenada a estagnar. A única coisa que este Governo tinha feito era distribuir dinheiro pelos funcionários públicos. Os investidores estavam em fuga e caminhávamos para um novo resgate, como tão sabiamente avisava Wolfgang Schäuble. A tese mais benigna era a de que o Governo até podia estar a distribuir melhor a austeridade mas nada estava a fazer pela economia. Saíram os números do INE e a narrativa instalada sofreu um abalo que nem Teodora Cardoso, empenhada em mostrar que não se enganou, conseguiu contrariar. Limitou-se a abrir um debate metafísico sobre o défice estrutural. A economia acelerou no terceiro trimestre, houve um crescimento homólogo de 1,6% e em cadeia de 0,8%. Num momento externo pouco animador e sem a ajuda da queda do petróleo. O melhor resultado dos últimos três anos e o mais alto de toda a zona euro. Pela primeira vez em muito tempo estamos a crescer em contraciclo com a Europa. As metas irrealistas do Governo poderão ser ultrapassadas e as metas de Bruxelas deverão revelar-se, elas sim, irrealistas no seu pessimismo.

Surgiram, como é normal, várias teses para explicar aquilo que o preconceito ideológico impedia sequer de imaginar. Alguns dos que acusavam o Governo de ignorar as exportações vieram lamentar que este crescimento resulte sobretudo das exportações. O turismo desempenhou aqui um papel central mas não foi o único. E veio pelo menos desmontar uma tese europeia e passista: a de que os custos de trabalho eram o elemento fundamental para a competitividade da nossa economia. Os custos de trabalho aumentaram, o desemprego caiu e as exportações cresceram. Pedro Passos Coelho disse, e com razão, que não se podem lançar foguetes antes da festa. Um bom conselho vindo de quem nem esperou pela enfermidade para dar a extrema unção.

Os números da economia não resultam apenas de medidas tomadas pelo Governo. É possível que uma grande parte destas boas notícias nem sequer resulte de decisões tomadas pelo Estado. Digo isto com a mesma frontalidade com que disse que sem governo Sócrates teríamos vivido uma situação muito semelhante à que nos aconteceu em 2011 e que a estratégia austeritária da Europa era uma escolha que em muito ultrapassava Passos Coelho. Nem os resultados de grandes opções políticas se sentem trimestre a trimestre, nem a difícil situação em que estamos depende exclusivamente deste ou daquele governo. Nem sequer depende apenas de nós. O que está nas mãos da política nacional é empurrar mais para um lado ou para o outro.

Perante estes números, a passagem sem espinhas do Orçamento em Bruxelas e a certeza de que não haverá sanções, a ‘geringonça’ entra numa nova fase e a narrativa de Passos Coelho (e de grande parte da comunicação social) terá de mudar. Anunciar a catástrofe iminente todos os dias só fortalece o Governo de cada vez que a catástrofe não se confirma. E deixa a oposição sem nada para dizer que não dependa dos caprichos do sobe e desce dos números da economia.

O problema do PSD é que, por não mudar de líder, apenas quer provar que a interrupção do ciclo político de Passos foi um erro histórico. Não tem nada para dizer que não dependa da desgraça do país. Nada para propor caso o Diabo nunca chegue a comprar um bilhete da EasyJet para Lisboa.

A má-fé dos dirigentes da União Europeia

(Baptista Bastos, in Jornal de Negócios, 28/10/2016)

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Baptista Bastos

Costa pode ter muitos defeitos, mas um não possui: o da subserviência rastejante.


Wolfgang Schäuble, o ministro alemão dos dinheiros e figura todo-poderosa da União Europeia, está descontente com as decisões tomadas por António Costa, actual primeiro-ministro português. Schäuble está habituado a uma total obediência de propósito, e recordamos a manifesta simpatia demonstrada por Vítor Gaspar, ao ponto de chegar a confidências surpreendentes, filmadas a descaso, mas reveladoras das suas funestas simpatias. Logo que saiu do Governo, onde esteve durante mais de dois anos, Vítor Gaspar enveredou por uma carreira de cariz internacional. Costa pode ter muitos defeitos, mas um não possui: o da subserviência rastejante.

Esclareço que Gaspar está, agora, num lugar importante numa das estruturas económico-financeiras que possuem nexo com a União. Repare-se, como modesta anotação, que todos os portugueses que concordam com os métodos e os processos dos dirigentes da União, mais cedo do que tarde, são colocados em altos postos.

O actual Governo português não embala os corações dos dirigentes da União Europeia, e as pequenas lutas, que não são do apreço nem do conhecimento gerais, possuem um valor acrescentado aos trabalhos e às tarefas regimentais. Ainda ninguém sabe aonde tudo isto vai parar, mas lá que é uma canseira dupla, lá isso… 

Agora, foi a manigância de um pequeno obstáculo, observado pelos senhores da União Europeia, que está a atrasar a aprovação do Orçamento português. Nota-se logo que o empecilho constitui mais uma parda anotação do que uma verdade factual. Por outro lado, em Portugal, os obstáculos erguidos em torno do documento, e malfeitosamente personificados por Passos Coelho, chegam a ser obscenos. A natureza das evidências deixam o alemão Wolfgang Schäuble completamente fora de si, mas as evidências dos documentos apresentados por Lisboa só não são aprovados porque a morosidade das aprovações deixam atrás de si um roldão de suspeitas.

Como temos assinalado, os obstáculos que a União tem apresentado às propostas e aos documentos portugueses são significativos do verdete que os alemães demonstram pelo Governo nacional. Sobretudo pelo desconforto aguerrido constantemente exposto por Schäuble. Ele e o alargado grupo que o acompanha estão cada vez mais pressionados pelos movimentos de extrema-direita, que assumem, na Alemanha, um poder cada vez mais decisivo. E anote-se que o partido da senhora Merkel, a CDU, apoiada pelo PSD, está a sofrer abalos poderosos. É estranho ou, pelo menos, sintomático, que as alterações políticas registadas na Alemanha atinjam aspectos surpreendentes.

Estamos perante uma nova esquina da História, cujos resultados são, pelo menos, preocupantes. A Alemanha atingiu um nível de bem-estar até agora nunca visto, mas as convulsões sociais alemãs nunca deixaram de estar presentes. Por outro lado, pouco sabemos do que ocorre nos outros vinte e sete países da União. As coisas nunca acontecem por acaso, e não podemos, nem devemos ignorar, as declarações de Francisco Louçã, ainda há pouco advertindo que a União Europeia estava seriamente ameaçada. A ver vamos.