COMO SER PRESIDENTE DA REPÚBLICA: DICAS DE AUTO-AJUDA

(José Gabriel, 08/05/2018)

Discurso seletivo

Imagem obtida no Blog 77 Colinas

Vossemecê tem 35 anos? Então pode ser presidente da República. Esteja à vontade para se candidatar, mas não tome as coisas de ânimo leve. Também não precisa de procurar um personal coaching. Algumas dicas simples bastam. Ora vamos lá, da mais básica à mais retorcida:
1 – Repita teses, proclamações e propostas consensuais – aliás, deve usar e abusar do termo “consensual” e derivados – do tipo “urge garantir o crescimento do país”; “promover uma justiça mais rápida e para todos”; “melhorar a eficiência do Serviço Nacional de Saúde”; “promover o emprego – e a habitação, direitos e tudo o mais – e combater as desigualdades”. Está a ver o género. Claro que não faltará quem queira esmiuçar o que se esconde por trás destas frases, mas o presidente não se ocupa de minudências.
2 – Não poupe nos afectos, sobretudo se isso lhe trouxer vantagem – o que nem sempre é o caso, por isso, há conjunturas em que é melhor ficar na toquinha de Belém. Pratique imoderadamente a consigna “vamos ver o povo, ai que lindo que ele é”. Neste capítulo pode incluir-se o aproveitamento do sucesso e mérito alheios, cujos protagonistas – artistas, atletas, cientistas, filantropos e, de um modo geral, todos os que sejam geralmente reconhecidos como populares ou popularizáveis – devem ser condecorados, abraçados, beijados, apaparicados. É preciso não esquecer uma possível recandidatura, em que algumas destas figuras poderão ser muito úteis, designadamente numa decorativa e ilustre comissão de honra. É importante, neste domínio, não ser demasiado esquisito. Pode ter de ranger os dentes e arriscar um ataque de icterícia perante um compatriota que ganhou o Nobel, mas tem de fazer cara alegre e figurar na foto de conjunto, sob pena de ficar irremediavelmente estigmatizado como um idiota iletrado – atenção: isto já aconteceu.

3 – Desempenhe o papel de homem sem sono e frenético multitarefas, mesmo que isso seja, como geralmente é, uma patranha. Esta cena deve ser apoiada por numerosos assessores, aos quais não deve faltar o ar cansado de quem mergulha com zelo nos problemas do país. Custa caro? Custa. A casa da presidência portuguesa é uma das mais dispendiosas do mundo, só ultrapassada, na Europa, pela casa real inglesa. Mas é – todos o sublinharão – para o bem da Nação.

4 – A sua relação fundamental é com o governo, seja qual for a distância política a que dele está. Lembre-se (mas nunca o diga em voz alta): é o seu interesse que está em causa, não o país, o povo, o partido. Isto é cinismo? Claro que é. Mas está interessado em fazer dois mandatos ou não? Claro que está. Por isso:
4.1 – Recorra, sempre que possível, à técnica que designaríamos como “se correr bem o mérito é meu, se correr mal a culpa é do governo; eu avisei”. Este efeito obtém-se fazendo sucessivas advertências ao governo sobre as excelências a que deve chegar. Se as coisas correrem bem, aproprie-se sem vergonha da ideia, mesmo que ela seja velha como a noite, e do mérito, mesmo que nada tenha a ver com ele. Se correrem mal, demarque-se – “eu expliquei, dirá, mas o governo não foi capaz”. Note que, fazendo variar em grau este recurso, ele serve para os casos de o governo ser do(s) seu(s) partido ou do(s) opostos. Neste processo não deixará de exceder as suas competências; não se preocupe, a maioria dos eleitores nunca leu a Constituição.
4.2 – A técnica descrita anteriormente pode revestir o modo “vitimização com ameaça de martírio”, podendo assumir as variantes “o menino quer, buuáááá´” (“o governo tem de fazer como eu quero, senão fico contrariado”) ou “se não me derem o brinquedo, não como a papa” (“se não for como eu quero, não me recandidato”). Esta última forma é um pouco mais arriscada, porque o pagode pode encolher os ombros e marimbar-se na coisa, o que é perigoso. É chantagem, sim, mas pode não valer muito como ameaça, mesmo que a sua popularidade esteja no céu. Outras modalidades de comportamento passivo-agressivo podem ser usadas com muito proveito.
4.3 – Finalmente, a bomba! Já outros a usaram – com assinalado cinismo, diga-se, e com pouca consideração pelas populações. Note que não tem de usá-la – pode ficar chamuscado. Mas tem de saber manejá-la como ameaça. Exemplo: “se não aprovarem o Orçamento, convocarei eleições antecipadas” – note que não se diz “dissolvo a Assembleia da República”, o que, por ser a verdade, seria mais dramático e agressivo. Sendo um presidente “fofo”, só fala em eleições de modo um tanto impressionista, até porque sabe que o(s) seu(s) partidos não estão prontos.

(Nota final: estas regras servem uma candidatura à presidência de um país como Portugal. Países há que podem, por razões – há razões? – mui desvairadas, eleger qualquer imbecil tresloucado.)

AS RECEITAS EXTRAORDINÁRIAS- Do Passos…

(Joaquim Vassalo Abreu, in 07/04/2017)

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Eu estive distraidamente a ouvir a entrevista de Passos Coelho à SIC, e quando digo distraidamente é porque já pressupunha não esperar dali nada de novo nem de extraordinário, o que não aconteceu como previa pois, por incrível que pareça, coisa que nenhum pós opinador notou ou referiu, nem agora na Quadratura do Círculo sequer que, por curiosidade, acabei por ver, ele disse realmente algo de extraordinário!

Confusos? Mas não fiquem pois, estando já estão habituados à minha redonda maneira de pensar e analisar, eu não atribuo facilmente a qualidade de “extraordinário” a uma coisa qualquer. Tem que ser mesmo extraordinária!

É que Passos Coelho, reconhecendo que o Governo atingiu realmente a meta do Défice só a alcançou porque “Mudou de estratégia e recorreu a medidas extraordinárias”. Que, para ele, seriam o tal Plano “B”. E que, assim, até ele…

Ora, facilmente concluo, e quer-me parecer, que Passos Coelho nunca entendeu nada do que são essas tais “medidas extraordinárias”! Ou melhor, “Receitas Extraordinárias”. No seu Governo isso nunca aconteceu(!) e se aconteceu foi sem seu conhecimento, claro. Isso foi lá com o Gaspar, com a Marilu ou fosse lá com quem fosse! Com ele? Com ele nunca!

Portanto, segundo ele, e concluindo, para que sigam atentamente, este Governo só conseguiu o Défice que conseguiu com recurso às tais “Receitas Extraordinárias”. Está dito e redito.

Mas, meu caro Passos Coelho, eu que não tenho o canudo em Economia, como você, mas que dela conheço assim uns princípios, vou tomar a liberdade de lhe explicar o que é, realmente, uma “Receita Extraordinária”. E, desde logo, é fácil: é o contrário da “ordinária”!

Por exemplo, aqui na minha casa e na minha Família: para além da receita “ordinária” (sem qualquer sentido pejorativo na sua dimensão), que são as Pensões minha e da minha esposa, que podiam ser ordenados também, “Receita Extraordinária” seria sair-nos o Euromilhões! Ou a “Raspadinha, pronto! Ou como uma Empresa receber assim um donativo, como recebem muitas Misericórdias, de alguém que não tem a quem deixar o dinheiro, ou então, o que ainda mais extraordinário é, o Estado receber 20% dos Euromilhões que vêm cá para este quadradinho à beira mar plantado e que disso não se pode queixar. E tem sido extraordinário, não tem?

Isto que eu enumerei, e podia até elencar mais algumas situações, é que são “Receitas Extraordinárias”, meu caro Passos Coelho! Querem dizer simplesmente que são receitas para além do ordinário, do comum, do espectável, do normal, do corrente, do não previsto e por aí adiante…

Mas, na sua confusa perplexidade, perguntar-me-á: Então, não sendo extraordinárias, quer dizer que são ordinárias? A sua pergunta, meu caro, por ser da ordem do pertinente, merece a minha resposta: SÃO!

Pois repare: Uma Empresa, por exemplo. Tem uma série de clientes com dívidas já em Mora e, a não se fazer algo, vão para contencioso. Qual é a função, a obrigação, coisas que resultam do bom senso e da boa gestão, dessa Empresa? É colocar um objectivo para a recuperação dessa Crédito Malparado e desenvolver todas as “démarches” possíveis, com acordos de pagamento, com perdões de juros, com renegociação de prazos, de modo a manter o crédito vivo e recebível! É do senso comum e da gestão comum, meu caro. É ORDINÁRIO! Como nos Bancos, como deve saber e não me vou repetir…

E vamos agora ao Governo ou ao Estado. Em cada exercício anual e orçamental estipular como objectivo a recuperação de Créditos Duvidosos, de Impostos em Mora, de Prestações em incumprimento etc. não será um acto de gestão “ordinário”? Extraordinário seria nada fazer e com todos os devedores a continuarem alegremente sem pagar, nem a isso serem chamados.

Mas se não sabe eu digo-lhe: os seus Governos fizeram-no todos os anos, este também o fez e os vindouros também o farão. E fá-lo-ão em nome de muitas coisas: da justiça, da equidade, do dever, da obrigação e, finalmente, da boa gestão. Não percebe? Nem agora?

Portanto, meu caro e inefável Passos Coelho, arranje lá outra explicação, homem. Diga, por exemplo que, sem essas tais “Receitas Extraordinárias” teria conseguido melhor! Porque não diz e, mais que dizer, explica?

Eu sei que você também meteu aí na embrulhada a redução do Investimento Público, cortes nos Serviços etc. mas, francamente, quem é você para isso criticar? Eu sou obrigado a concluir que, na realidade, você não tem mesmo noção de como governou. Mas será que governou mesmo?

E sabe mais, Passos Coelho: é que enquanto você afirmava que ia cortar 600 milhões nas Pensões, que era imperativo, este Governo fez reversões, actualizou salários, repôs rendimentos e diminui drasticamente o desemprego. Donde resulta menos pobreza, sabe? Aquela que você promoveu, para não aplicar outro verbo menos simpático.

Mas, a contragosto, lá conseguiu reconhecer que foi bom este Governo ter atingido o défice que atingiu. E, acrescentou, que foi melhor tê-lo conseguido do que o não ter alcançado, inspirando-se aqui, sem margem para dúvidas no Monsieur de La Palisse!

Mas, sabe, notei-o mais cândido, mais sóbrio, diria mole até, o oposto daquele animal ferido e feroz naquela primeira bancada da Assembleia, de dedo em riste e quase perdendo a respiração (por força da claustrofobia, claro)…Quem o terá aconselhado? O Montenegro? Não acredito! O Rangel? Muito menos! Terá sido o Presidente? Quem sabe…apesar daquela da Teodora! “Vichyssoise”, está bom de ver…

Por último: Ó Passos Coelho, você nem imagina o quanto eu estou carente de uma “Receita Extraordinária”. É que, sabe, eu de um “ordinário” não passo: É que ninguém me deve nada!

Yours Sincerely, que em Português quer dizer: Continue assim…


Fonte aqui

O BERNARDITO e o RICARDITO!

(Joaquim Vassalo Abreu, 23/01/2017)

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Parece dupla de palhaços, mas não é, descansem. São jornalistas e foram engravatados, entrevistar o Sr. Presidente.

Era a sua coroa de glória: Iam entrevistar o mestre dos baralhos, um sábio prestidigitador, o cenografista maior do reino, três estrelas Michelin em vichyssoises, nadador emérito, beijoqueiro empedernido, mais tudo o que à cabeça agora não me vem, mas Sr. Professor Doutor e Sr. Presidente da República, até agora isento e sem mácula.

Tarefa árdua para qualquer um, que não para eles. Um, o Ricardinho, jornalista encadernado e experiente, mais timorato e prudente. O outro, o Bernardito, tendo Ferrão no nome, pensou ser uma serpente e, num assomo de sedução e enleio, como se na sua frente uma Cleópatra estivesse, tentou com veneno atingi-lo.

Mas o Bernardito, coitadito, pensando que sendo um Ferrão, podia ser também galifão, para tal só possuía um ferrãozito…coitadito.

É que o Bernardinho, coitadinho, que mesmo sendo Ferrão não tem mais que um ferrãozinho, não passa, afinal, de um pintinho…coitadinho.

E foi mandado, ele mais o Costa, mas o outro, para entrevistar o Marcelo. Que bom, era o seu dia de glória. Mas diante de um inteligente, superinteligente aliás, e com as características todas acima enunciadas, mais ainda outras tantas que todos sabemos e conhecemos, o normal seria, indo às mais profundezas do seu ser, buscar toda a inteligência que por lá pudesse encontrar. E, convencido essa inteligência toda ter encontrado ela, afinal, não passava de esperteza. Mas da saloia, como o povo diz. Coitado, coitadinho, do Bernardo, do Bernardinho.

E a sua espertezazinha, diante de um inteligente, superinteligente, mais uma vez corrijo, calejado e avisado, instruído e informado, perspicaz e arguto oponente, transformou-se e transformou-o em coisinha…coitadinha. Até dava peninha…

Ter-lhe-á passado, pela sua cabeça de periquito, enrascar o Marcelo? Deu-se mal, como seria óbvio para todos, menos para o Bernardinho, coitadinho…Que irá dizer, depois, ao seu “chefezinho”? Mas ele estava ali ao lado, caladinho, resguardadinho, e deixou-o queimar-se em fogo lento, lentinho, ouvindo o contrário do que queria ouvir, insistindo em perguntar o queria perguntar para o tentar enrascar, mas sendo repetidamente atropelado, mesmo que serenamente, por um inteligente, um superinteligente, reafirmo, que não apenas esperto.

E saiu de lá feito num coitadinho. Imagino que vociferando contra o colegazinha, mas também chefezinho, por não o ter escudado, o tadinho. Tadinho do Bernardinho. Que mesmo sendo Ferrão, deve-o ter bem pequeninho, que pensando veneno expelir, este não passava de vinho. Mas água pé, que só se bebe com castanhas…castanhinhas e quentinhas.

Que o tempo tinha passado depressa…pois tinha! Não tinha era mais perguntas, daquelas de fel tornado mel, pelo Marcelo !

O Ricardito, o Costa, mas o outro, deveria estar farto de se rir por dentro. Não com as respostas do Marcelo, mas com a figura do Bernardito, tão pequenito, coitadito.

Ó Marcelo, assim também não vale! Desculpe, Sr. Presidente, assim não vale! Estava V. Exª nos seus aposentos, rodeado de quadros e de artes várias, de livros e carpetes, de flores e jardins, de malmequeres e querubins e vão-lhe perguntar “se não se sentia só”? Eu até enfatizo, para destacar o topete. Se não tinha vida e coisas assim? Coisas assim tão transcendentes, assim como se pensassem que na sua frente estava um “Trump” qualquer…eu, que estava a ver a coisa com um cunhado, olhei de soslaio para ele, e desatamos numa gargalhada tal, que só visto. Coitadinhos…

Pois, mas…e a Dívida, Sr. Presidente? E os Juros, Sr. Presidente. Apanhámo-lo, devem ter pensado, assim como quem pergunta: este governo, que tanto apoia, resolveu? Deviam ter imaginado com quem se iriam meter. E o que lhes disse o Marcelo? Que queria um governo forte, mas também uma oposição forte. Eles não entenderam…

Eu se fosse ao Marcelo, tinha era pegado num chinelo…


Fonte aqui