Das delongas da Operação Militar Especial

(Major-General Raúl Cunha, in Facebook, 18/09/2023)

Certamente que já muitos se questionaram porque a operação militar da Rússia se está a arrastar tanto no tempo. De certo modo, assemelha-se a um marcar passo com apenas pequenos sucessos táticos e alguns recuos. Não há avanços significativos do exército russo no espaço estratégico e nem marchas forçadas decisivas de enormes colunas para as grandes cidades, contrariamente ao que se aprendeu sobre a sua doutrina. Parece que tudo está de alguma forma agarrado ao mesmo lugar e alguns até comparam o que está a acontecer com a Primeira Guerra Mundial, que a certa altura se transformou numa guerra de trincheiras.

Os próprios russos se interrogam porque não está a ocorrer uma mobilização em grande escala, ao nível de um a um milhão e meio de homens, a lei marcial não está a ser introduzida no país e – é até curioso assinalar – ainda se verifica uma razoável dissidência.

Penso que a resposta a tudo isso é para que, os guerreiros de bancada russos e também os russófilos de outras paragens, não fiquem numa situação de grande stress e tensão, bem como toda a Rússia. Porque a operação militar não existe só na frente de batalha. A operação militar continua no interior do próprio país, na economia e na cultura, a operação militar prossegue na política internacional da Rússia. A operação militar é uma Terceira Guerra Mundial de um novo tipo. E o seu objetivo é extremamente amplo e ambicioso – vencer não só na frente, mas também construir uma nova economia industrial moderna e um novo sistema de relações internacionais, com um mínimo de perdas para o país. O ideal é que o país continue a viver a sua vida normal, as pessoas cuidem da sua vida, a economia não só funcione, mas também se desenvolva, e muitos processos passem a ser invisíveis, mas com a certeza que todos sentirão os seus resultados. Para que os cafés e restaurantes, os cinemas e as salas de espetáculos continuem a funcionar, os supermercados fiquem cheios de géneros, para que sejam construídas novas casas e estradas. Os homens da frente são duplamente heróis, porque não só lutam contra o nazismo, como garantem a vida normal e tranquila do país, fazendo esforços incríveis.

Uma das principais tarefas da operação militar é vencer sem esforço percetível. Pretende-se que seja como no judo em que muitas vezes se usa não a própria força, mas a força do oponente, em que a força deste se transforma em fraqueza. E não estou a referir-me à Ucrânia. O inimigo da Rússia e dos seus aliados é o Ocidente alargado, cuja situação se está a deteriorar em todas as frentes, de uma forma bastante rápida e incontrolável. Resultam óbvios os enormes problemas da economia, especialmente na Europa, problemas que a certa altura se podem tornar críticos, o descontentamento das pessoas, as falsidades dos “meios de comunicação mais honestos e independentes”, dos quais a população começa a ficar farta, porque simplesmente é impossível mentir assim tanto, sem que as pessoas se apercebam.

O Ocidente está a fazer enormes esforços para apoiar um cadáver que mantem vivo artificialmente e que é a Ucrânia, onde não há economia, onde a crise demográfica é tal que os doentes, e possivelmente as mulheres, já podem vir a ser chamados para as fileiras da guerra.

Na Ucrânia, a população está extremamente assustada, cansada, amordaçada pelos seus próprios vigaristas no poder, e só sobrevive graças a esmolas do Ocidente. Toda esta associação – Ucrânia / Oeste – é extremamente instável. Não se podem dar ouvidos às declarações de Borrells e Stoltenbergs sobre um apoio infinito à Ucrânia. Isto são apenas chavões que não significam nada.

A realidade é completamente diferente. Não tem as mesmas cores do arco-íris como as bandeiras que enchem as praças e ruas das cidades europeias. O que, aliás, também é extremamente irritante para o cidadão europeu comum.

E, ao mesmo tempo, a Rússia está a acumular forças e a preparar as suas reservas, em grande escala e equipadas com as armas mais recentes. As fábricas militares funcionam em três turnos e o afluxo de voluntários ao exército continua imparável. A Rússia prepara-se com calma para a batalha decisiva, que quase certamente vencerá. Não só contra o neonazismo ucraniano, mas também contra o Ocidente alargado, porque essa vitória poderá mudar tanta coisa na política internacional, que nem sequer podemos imaginar. Porque então, mesmo os países que atualmente aderem a uma neutralidade cautelosa, sem ainda terem escolhido definitivamente um lado, voltar-se-ão decisivamente para a Rússia.

E como resultado dessa eventual vitória, a Rússia também mudará. Vai seguramente melhorar as suas capacidades e finalmente libertar-se do pesadelo dos anos 90, que ainda está muito vivo. E isso deve acontecer com calma e de forma despercebida, para não interferir na vida normal de um cidadão russo comum. Se alguém não entende isso, também não entende nada…

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9 pensamentos sobre “Das delongas da Operação Militar Especial

  1. Ao nosso Major-General Raúl Cunha, só lhe falta escrever a versão 2044 do 1984 do Orwell, base em Moscovo e não em Londres.
    De Vladivostok a Lisboa, será o subtítulo!

  2. Como já nos acostumou a Estátua de Sal e também o Major-General Raúl Cunha, mais um brilhante, muito objectivo e lúcido texto que mostra a realidade que a comunicação social labrega ocidental neoliberal tenta esconder, mas cada vez mais sem sucesso. A realidade desmente-a a toda a hora. Bem hajam estas pessoas tão corajosas e dignas que nos mostram a verdade! Que venha o mais rápido possível a libertação, pois estamos já há demasiado tempo refém dos sociopatas neoliberais!!

    • A visão estratégica e militar do major está absolutamente correta, só não entendo porque insiste em pontapear a comunidade LGBT em todos os seus artigos. Tanto quanto sei, esta comunidade não envia armas para a Ucrânia, e não se consegue defender da instrumentalização que os políticos ocidentais fazem da sua luta por direitos civis, tanto como as crianças ucranianas russófonas transportadas para locais onde não serão bombardeadas não se conseguem defender de serem igualmente instrumentalizadas pela propaganda ocidental, que afirma que são raptadas, e até mesmo doutrinadas a odiar o regime ucraniano que as bombardeou durante 9 anos.

  3. Oh! JgMenos! Tu terás entrado já em «menopausa» intelectual? É que de ti não nasce nada de criativo, pareces um disco riscado. Olha que para aquilo que te pagarão, estarás a ser um mau «missionário», já que ainda não se viu ninguém aqui convertido à tua «religião»!

  4. Oh! JgMenos! Tu já viste a ousadia do Papa Francisco?
    O Papa Francisco disse hoje que o colonialismo “não é coisa do passado” e apelou ao fim do “sufocamento de África”, porque o continente “não é uma mina para explorar nem uma terra para pilhar”.
    Mas, também, não é preciso «espumares» tanto, Menos, que ainda te engasgas!🥸

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