Uns fazem eleições, outros ilegalizam partidos

(Bruno Amaral de Carvalho, in Facebook, 10/09/2023)

Hoje é o último dia das eleições regionais nos territórios controlados pela Rússia em Donetsk, Lugansk, Zaporozhye e Kherson. Pela primeira vez, os eleitores destas duas últimas regiões vão escolher os chefes dos governos de cada um dos oblasts desligados do poder de Kiev. Desde 2014, depois do golpe em Kiev que derrubou o presidente Viktor Yanukovich, que em Donetsk e em Lugansk já se elegiam governos próprios em paralelo com a ruptura separatista que acompanhou a guerra civil. O ex-secretário-geral do Partido Comunista da República Popular de Donetsk (actual secção regional do Partido Comunista da Federação Russa) Boris Litvinov é um dos candidatos.

Quando soube que o queria entrevistar, no ano passado, apareceu, subitamente, uma noite no átrio do Hotel Central, em Donetsk, fardado e de pistola à cintura. Conheci Boris Litvinov em 2018, três meses antes do assassinato do primeiro presidente da auto-proclamada República Popular de Donetsk, Alexandr Zakharchenko, firmante dos diálogos de paz em Minsk, num atentado perpetrado pelos serviços secretos ucranianos com uma bomba no café Separ. Boris Litvinov, antigo membro do Partido Comunista da União Soviética, aderiu à revolta contra o golpe que derrubou o presidente ucraniano Viktor Yanukovich em Kiev. Uma parte importante das mobilizações separatistas que alastraram pelo Donbass era composta por mineiros. Com veteranos da guerra do Afeganistão, era a tropa de choque dos partidários da independência de Donetsk e Lugansk. Um dos líderes dos protestos era precisamente Boris Litvinov. É ele o autor da declaração da independência da República Popular de Donetsk, nomeado durante vários meses líder do conselho supremo da República Popular de Donetsk. No contexto das contradições internas num território em guerra com várias lutas internas, o Partido Comunista acabaria por vir a ser impedido de participar nas eleições, oficialmente por motivos burocráticos. Hoje, volta a aparecer nos boletins de voto.

O mais que provável vencedor das eleições que terminam hoje é o actual presidente Denis Pushilin, que volta a candidatar-se, desta vez pelo partido de Vladimir Putin, Rússia Unida. Com ele fiz duas grandes entrevistas. Logo em Abril do ano passado, pouco mais de um mês depois da intervenção russa, esperei-o no edifício que alberga vários serviços da administração de Donetsk.

Não sabia que dali a meio ano estaria no mesmo lugar no meio de destroços depois de um ataque da artilharia ucraniana contra o gabinete de Denis Pushilin. O actual chefe do governo da República Popular de Donetsk era ministro de Alexandr Zakharchenko e, depois do assassinato do mais popular dos líderes separatistas, com Givi e Motorola, a seguir a uma breve liderança interina de Dmitry Trapeznikov, assumiu a presidência da região.

Voltei a entrevistá-lo este ano em Fevereiro. Com enormes medidas de segurança, esperei-o mais de uma hora no lugar combinado até me dizerem que a entrevista tinha de ser adiada para outro dia e lugar a anunciar. No dia seguinte, recebi uma mensagem para estar no Museu dos Libertadores do Donbass. Como da primeira vez que o tinha entrevistado, no ano anterior, nevava lá fora. Havia dezenas de membros dos serviços de inteligência e militares. Enquanto esperava, pude visitar o museu dedicado à vitória do Exército Vermelho e do povo do Donbass sobre as tropas nazis na Segunda Guerra Mundial. “Cuide-se”, disse-me, no fim da entrevista, enquanto me apertava a mão num gesto de educação.

A política no Donbass, seja em Donetsk ou em Lugansk, é instável. Devido à guerra que vai cumprir uma década no próximo ano, qualquer análise que se faça sem entender o contexto profundamente complexo peca por ser insuficiente. Houve vários líderes que foram afastados em lutas internas e assassinatos selectivos dirigidos pela Ucrânia. Mas não é excepção. Que se diga que isto é fruto da rebelião separatista ou da intervenção russa é obviar que, pese as diferenças, também acontece em Kiev. Partidos proibidos, líderes políticos presos, desaparecimentos, assassinatos e exílios marca a política da Ucrânia desde 2014.


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10 pensamentos sobre “Uns fazem eleições, outros ilegalizam partidos

    • Oh! JgMenos! A que propósito foi o Biden, tão amigavelmente, visitar agora os «comunas» dos vietnamitas, que aos americanos, com a ajuda dos soviéticos e chineses não menos «comunas», lhes deu um dos pontapés no cu mais humilhantes de sempre? Faz-me cá uma confusão! Explica lá, enquanto imperialisticamente, saboreio uma imperial fresquinha!

  1. O jgmenos cá está, hoje mais comedido mas parco de compreensão !!! Já marcou presença e vai ter direito ao respectivo pagamento dos seus mentores ( a recibo verde, já se vê ). Está ao nível de milley quando proclama que a ofensiva nazi já só tem 30 dias para conseguir qualquer coisa para a propaganda e para justificar os 43 mil M mandados ao charco por eles mesmos. Isto é gente com urânio empobrecido em vez de cérebro !

  2. Em relação a este assunto vou publicar um video..

    https://youtu.be/yr5kWyUC1FU?si=kIB24U2gjt0p6u3i

    A Rússia mudou o jogo!

    Como visionário geopolítico gostava de expressar as minhas ideias para o futuro,embora não faça futurologia,apenas não hà verdades absolutas…

    Mais uma vez aqui não hà verdades absolutas apenas factos e ideias para antecipar.

    Vamos pagar caro o facto de termos aderido à UE. Os Estados Unidos, através do seu intermediário, podem escravizar-nos em seu proveito sem qualquer problema! Há mais de quarenta anos que eles têm os seus próprios homens, incluindo presidentes e os chamados líderes políticos da oposição, todos a trabalhar em conjunto, e só agora estamos a começar a pagar o preço!

    A guerra no mundo está a tornar-se uma atividade humana diária. Por isso, uma potência militar deve também poder aceder à energia e às matérias-primas. O mapa geopolítico do mundo está a mudar gradualmente, e estamos à beira do colapso de um sistema considerado demasiado egoísta.

    A hegemonia dos Estados Unidos e da Europa no mundo acabou. A Nova Ordem Económica Mundial para um mundo multipolar.

    O ocidente está a navegar num barco que já não tem capitão, o perigo é grave.

    Os dois senhores e mestres do petróleo, MDS e Putin, embora os seus objectivos políticos não coincidam, têm um poder extraordinário sobre o preço do petróleo à escala planetária. O mundo atual está a sofrer e continuará a sofrer convulsões a todos os níveis. Os interesses são o fator comum nas alianças de cooperação económica entre países emergentes.

    E para onde vai o nosso país nesta nova história mundial, onde se prevê a queda do império americano e da sua sombra, a UE, dada a nossa soberania esmagada pela UE, acabou-se a liberdade de escolha, nem de pensamento, esta é mágica e única, e bem direccionada diretamente para a parede e para o postigo pegajoso, é tudo o que merecemos…

    E apesar desta inflação, as pessoas vão cada vez mais de férias e as reservas estão a bater todos os recordes… Toda a gente se queixa, mas há sempre dinheiro para férias! Estranho mesmo assim!

    Na realidade, a guerra na Ucrânia foi um engodo. Quem se importa que este pseudo-país se divida em 2 ou 3 Dombass Crimeia, russia, a outra parte, à volta de Kiev, ucraniana e o norte volte a ser polaco?

    O futuro do mundo está a ser puxado para cima pelo tandem russo-chinês ! Estes 2 parceiros defendem uma ideia chamada “multipolaridade”, que é uma visão multidimensional do mundo . Em suma, é outra visão da humanidade ! Será este o caso do Ocidente (EUA e velha Europa), que nos conduziu a 2 guerras mundiais e quase a uma 3ª após 300 anos de poder?

    Os BRICS+ são a ruptura com o dólar e os Estados Unidos devido à sua extorsão dos outros países e, sobretudo, à sua chantagem para impedir o desenvolvimento dos países em desenvolvimento. Portanto, não há nada para ver! O Reminbi será utilizado da mesma forma que o dólar, mas isso não impedirá os países de utilizarem as suas próprias moedas para as trocas comerciais e, sobretudo, sem impedir esses países de se desenvolverem, chantageando-os sobre a sua dívida, como fazem os americanos para manterem a sua hegemonia no mundo… !!!!!

    O problema é que o dólar está ligado a um país, pelo que é tudo menos neutro e favorece injustamente os Estados Unidos. Por outro lado, não vejo como é que ter uma moeda única seria um problema, porque não percebo como é que a moeda deve ser uma variável para ajustar a competitividade de uma economia. Muito simplesmente porque implica que é normal poder manipular a oferta, imprimir dinheiro e alimentar as dívidas colossais dos governos, nomeadamente. Em vez de diluir a moeda, poderíamos baixar os salários, aumentar o tempo de trabalho, adaptar os impostos, a despesa pública, etc. Sim, isto terá consequências negativas a curto prazo, mas a longo prazo é muito mais saudável. Depois disso, só quando se é honesto e se planeia realmente pagar o empréstimo. É aqui que entra a guerra entre os BRICS e o Ocidente. Os Estados Unidos procuram provocar a Rússia e a China para obter a legitimidade necessária para atacar os pilares de um novo bloco que ameaça a sua hegemonia, os BRICS. É por isso que o protecionismo está de volta, que estamos a tentar acelerar a reindustrialização, que estamos a reinvestir maciçamente no exército, etc.

    Entre as forças em questão, destacando as fraquezas dos seres humanos através do seu orgulho, arrogância e os seus conceitos escleróticos e fundamentais de guerra ou a estupidez dos egos. Tudo o que podemos esperar é que se ponha fim a este conflito, que na realidade não é um conflito, e que esconde problemas económicos ou receios do seu perigo, que os EUA não admitiram. Os Estados Unidos são o país mais beligerante do planeta, que inicia guerras noutros países e não no seu próprio território. Os EUA são um modelo ocidental que se está a desmoronar nos seus valores superficiais de dominação, ditadura oculta e hegemonia monetária como único valor.

    Infelizmente, porém, penso que a ideologia nazi foi impregnada nas regiões polaco-lituanas a norte e a oeste, uma vez que esta ideologia surgiu aí mesmo antes de nascer na Alemanha, na década de 1920 (ou seja, após a Primeira Guerra Mundial, e não a Segunda). Como explicar as avenidas de Kiev com o nome de Bandera, os grandes desfiles de tochas no centro da capital em sua honra, seguidos por uma enorme população?

    A Ucrânia parece, de facto, estar dividida em duas ideologias, e será muito difícil juntar os cacos. Em todo o caso, a população do Leste terá de ser protegida para evitar represálias por parte do Governo ucraniano, e é difícil ver como poderá ser protegida sem ser integrada (definitivamente) na Rússia.

    É bem verdade que a Ucrânia adoptou os grandes valores do Ocidente: a corrupção, o desprezo cínico pela democracia, o terrorismo, o fascismo, o nazismo, etc.
    É natural que ajudemos este belo país e defendamos os seus nobres valores…
    Ao preço da nossa subjugação pelos Estados Unidos e do nosso declínio acelerado.

    Os nossos actuais líderes preferem a propaganda mendaz criminosa em vez de reagir à ruína da nossa nação tomando medidas que ainda são possíveis para nos livrarmos da crise, enviando os “pérfidos amigos americanos” e os seus rapaces globalistas para longe de nós; começando por devolver à França a nossa soberania económica, estratégica, diplomática e social.
    Algumas perguntas simples:
    1 – Em que parte do mundo está a ocorrer o visível e previsível boom dos mercados? Os BRICS de 11 países admitirão sem dúvida outros candidatos após a consolidação das relações entre a China e a Índia, a solidificação do banco internacional dos países membros e, finalmente, em relação à hipótese que coloquei na pergunta 6, que sugere mudanças políticas em França e alianças oportunas, porque não uma co-organização França-Rússia?

    2 – Em que se baseia o valor real das moedas actuais, em particular as utilizadas nas transacções internacionais – presentes e futuras?

    3 – Porque é que Portugal, num espírito de recuperação da sua soberania, não sai do desastre imbecil da corrupção da UE?

    4 – Porque é que Portugal não recupera a sua dinâmica industrial, nomeadamente através da redução dos custos energéticos?

    5 – Porque é que Portugalcontinua prisioneira dos ditames americanos em matéria de sanções económicas e diplomáticas?

    6 – Porque é que Portugal não procura criar uma união mediterrânica afro-lusófona, para resistir à ingerência atlantista e tornar-se um pólo atrativo difícil de “absorver” devido à sua dívida, nomeadamente se optar por aderir às Novas Rotas da Seda e aos BRICS?
    .

  3. Oh! JgMenos! Já o Camões, também, dizia:

    «Mudam-se os tempos, mudam-se as vontades,
    Muda-se o ser, muda-se a confiança;
    Todo o mundo é composto de mudança,
    Tomando sempre novas qualidades.»

    Mas tu terás parado no tempo em 24 de abril de 74!🥸

  4. Mas para alguns bons espíritos a Ucrânia só começou a matar e esfolar depois de 24 de Fevereiro de 2022. E aí foi só por causa da guerra que para certa gente que devia ir ver se o mar dá choco justifica tudo,mas mesmo tudo. Como até o ataque a cultos relógiosos. E não são ortodoxos os unicos a levar no focinho. Aqueles que ao domingo nos tocam a campainha também, porque os seus membros se recusam pegar em armas seja contra quem for. Havia por lá uns quantos, quem não deu a sola foi dentro.
    Mas para os salazarentos toda a gente presa, torturada, assassinada pelos nazis merece isso e muito mais. Porque são traidores, nem mais, nem menos. Como certamente eram traidores os que aqui recusavam a guerra colonial e o miserabilisno.E alguns dos mortos por essa naziada até podem ser postos na conta do Putin sem mais espinhas e aí de quem perguntar se não havia muito mais gente a querer a pele do bicho. E nem preciso dizer o nome do santo.
    Ora os nazis ucranianos andam a matar desde 2014 e até antes. Até um avião Israelita foi abatido por engano. Vão ver se o mar dá choco.

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