(Por Valupi, in Blog Aspirina B, 05/02/2019)
«Vara pode ainda queixar-se de outra coisa, a dureza das penas. Foi-lhe aplicada a pena máxima para o crime em causa, o que parece excessivo dada a natureza do processo, dos objetivos pretendidos e alegadas contrapartidas. Mas houve claramente, por parte dos juízes, uma vontade de tornar este caso exemplar. De mostrar que o Face Oculta não é uma exceção, mas um virar de página.
Não nos podemos esquecer do que foi o Face Oculta numa primeira fase, com as escutas entre Armando Vara e José Sócrates. O caso abalou fortemente o sistema judicial, com Pinto Monteiro e Noronha do Nascimento a decidirem destruir essas escutas e, assim, acabarem um inédito caso em que um primeiro-ministro em funções podia ser investigado por um atentado contra o Estado de direito, por conspirar para a compra da TVI.
O caso começou assim e acabou por ser outra coisa. Mas a Operação Marquês surgiu poucos anos depois para fechar o ciclo. Vara pode queixar-se, mas é sobretudo disto. De ter estado no centro de muita atividade judicial, com as piores companhias, péssimas intenções e uma ideia de que tudo se pode fazer.»
(Ricardo Costa, in Expresso Diário, 17/01/2019)
Talvez Ricardo Costa seja quem melhor nos consegue mostrar o que esteve e está em causa na condenação abstrusa e grotesca de Vara num caso sem provas nem proveito ilícito. Ele é uma das raríssimas super-vedetas da imprensa portuguesa, chefiando o poder editorial de um dos maiores grupos mediáticos nacionais cuja agenda consiste em desequilibrar o espaço público a favor do PSD. Para além disso, é irmão do actual secretário-geral do PS e primeiro-ministro. As coisas que este passarão não deve saber, com tantos almoços e jantares animadíssimos à mesa da oligarquia, né? Pois é.
Como se pode ler acima, está consolado e satisfeito com a prisão de Vara em pena máxima. Acontece que o seu agrado nasce de saber que os juízes resolveram violar a razão de ser da sua independência como poder soberano. Essa independência garante-se constitucionalmente para que cada juiz se saiba na posse de uma liberdade absoluta. Porém, acarreta uma inerente e indelével responsabilidade: que a sua liberdade inviolável seja posta ao serviço do mais absoluto respeito pela Lei no acto mesmo de se fazer justiça aos cidadãos. Dito de outro modo, a Justiça só se justifica como poder soberano se estiver ao serviço do Soberano donde recebe esse poder. Ora, o que o Ricardo Costa nos está a dizer através do Expresso, para que não haja qualquer dúvida sobre o seu pensamento, é o oposto destes princípios. Quando se faz de um julgamento uma exibição de força para usar a liberdade dos cidadãos, e o seu bom nome, como carne para um canhão que dispara sentenças “exemplares”, então a liberdade dos juízes que assim decidem está a servir para destruir a liberdade inscrita na Constituição – a liberdade que antecede e supera a sua legitimidade como magistrados. Não foi para deixar aos tribunais um arbítrio com intentos políticos que se delegou nos mesmos a representação dos direitos e garantias, isso é antinómico com a noção de Estado de direito democrático e apenas serve intentos violentos.
Igualmente nos diz que o abuso judicial e penal sobre Vara corresponde a um “virar de página“, é o saboroso fruto de uma «“evolução” no Direito». Vara como vítima sacrificial de um bem maior, eis o sofisma que agita. Acontece que nada mais acrescenta, nada demonstra, nada sequer existe no que escreve que permita ir além da mais pura hipocrisia, do mais cristalizado cinismo. Será que os juízes vão passar a repetir os critérios usados neste julgamento, é disso que se trata? Pena máxima para situações onde um funcionário de um banco apareça invocado nas declarações de uma testemunha que alegue ter ouvido o seu nome referido por um terceiro, sendo que esse terceiro nega o que a testemunha disse e nem sequer acaba como arguido? Qual é exactamente a lógica que vai marcar a nova jurisprudência onde entrámos graças aos justiceiros de Aveiro? E, já agora, tendo em conta que Vara foi apanhado há 10 anos, onde é que estão os novos casos já ao dispor dos ferozes juízes que perseguem o flagelo criminoso do tráfico de influências? Presume-se que Vara, para citar o angélico Marques Mendes, seja apenas a ponta da ponta da pontinha do icebergue, daí se justificar o seu linchamento penal em nome da salvação da Pátria. Cadê o resto da bandidagem? Ou será que não temos conhecimento de mais nenhum caso de tráfico de influências onde dê para atacar partidos e prender ex-políticos porque este aconteceu durante o mandato de Pinto Monteiro à frente da PGR? Vai na volta, com a Joana Marques Vidal é que terá voltado a impunidade, fica a suspeita.
Ricardo Costa atinge o zénite da utilidade na compreensão do que se fez a Vara quando nos explica que o “Face Oculta” e a “Operação Marquês” são partes de um mesmo processo. Que processo? O processo de tentar derrubar um primeiro-ministro em funções usando a Justiça, numa primeira fase, e depois conseguir prender um ex-primeiro-ministro sem esperar por qualquer acusação, condenação e trânsito em julgado, a “fechar o ciclo“. Então, como expõe e aprova, Vara não passa de um protagonista menor num drama muitíssimo maior. Em 2009, recorda feliz, espiou-se um primeiro-ministro de forma ilícita e estava tudo pronto para enfiar Sócrates num processo judicial nas vésperas de ir a votos para as legislativas e autárquicas. Depois se ele era acusado ou não, condenado ou não, seria até indiferente. O simples facto de ficar como arguido levaria a decapitar e afundar o PS, estava o ganho político obtido. Só que Pinto Monteiro e Noronha do Nascimento não alinharam na golpada, como corruptos socialistas que são, tendo a operação borregado. À pressa, lançou-se a Inventona de Belém como substituto do plano original. Em 2013, aí sim, foi possível usufruir de todas as vantagens políticas e mediáticas que a captura de Sócrates iria trazer. O director-geral de informação pago pelo Balsemão não podia estar mais contente com o desfecho da operação bicéfala.
Sabemos que Ricardo Costa pensa assim, e exactamente assim, porque o deixou escrito:
«Vara pode queixar-se, mas é sobretudo disto. De ter estado no centro de muita atividade judicial, com as piores companhias, péssimas intenções e uma ideia de que tudo se pode fazer.»
Aqui chegados, a perguntinha fatal: quem são as restantes figuras que compunham “as piores companhias“, essas que tinham “péssimas intenções e uma ideia de que tudo se pode fazer“? Ou seja, de quem fala sem nomear seja quem for para além de Sócrates? Quem são os outros “socráticos” que adoraria ver em tribunal a receber condenações exemplares e na ramona a caminho de Évora? Jamais o dirá. Porque não lhe convém, bem pelo contrário, olá. Por um lado, porque recorrendo à sonsaria a calúnia expande-se ao máximo e engole o Partido Socialista por inteiro. Por outro lado, porque as suas reuniões familiares passariam a decorrer num ambiente pesado ou exaltado, quiçá atentatório da sua integridade física, tendo em conta que António Costa era um dos mais notáveis e influentes membros do núcleo duro de Sócrates; sendo que no actual Governo estão outros que compunham esse grupo de intimidade política e vivencial nos Governos socráticos, os quais nunca renegaram a sua lealdade partidária e pessoal.
Ricardo Costa não se pode dar ao luxo de emporcalhar o nome de tanta gente tão importante pelas melhores razões no PS e no País, especialmente o nome do seu mano. Daí optar pelo recurso favorito dos cobardes, a pulhice embrulhada num hilariante e decadente “jornalismo de referência” que não passa de uma exibição de impotência política e miséria cívica.
Ricardo Costa há muito tempo se definiu como um jornalista de ideais fascistas. Aliás o “império” de Balsemão professa os mesmos ideais, sendo RC um dos seus “capos” mais bem pagos para executar o trabalho sujo. E não me venham falar do progressista Balsemão de inicio de carreira, nem tão pouco do Marcelo Rebelo de Sousa, “compagnon de route” dos mesmos ideais e proveitos. É necessário afundar a geringonça para bem da hipócrita consciência beata dos portugueses, com o seu “capo dello Stato”,MRS, na liderança. Hitler odiava os judeus mas , provavelmente. com muito mais ódio os sociais-democratas, os socialistas ou os comunistas.
«Ricardo Costa há muito tempo se definiu como um jornalista de ideais fascistas.», hum?!
Interesses
pesca desportiva; marcha; natureza e ambiente; música; literatura, etc….
Nota. Ah, são exageros de pescador…
https://i.pinimg.com/474x/4c/9e/ac/4c9eace4dca536f33401c0a81995d6ec–scotts-emulsion-cod-liver-oil.jpg
Outro anúncio muito comum na imprensa oitocentista era
o do “homem do bacalhau”. Foi talvez o mais popular e
emblemático medicamento da transição do século XIX para
XX. Dizia respeito a um produto americano, fabricado nos
laboratórios de Filadélfia, comercializado sob a designação
de «Emulsão de Scott», feito à base de óleo de fígado
de bacalhau, especialmente recomendado para a saúde
das crianças anémicas ou que sofressem de raquitismo.
O anúncio apresentava a inseparável imagem de um
pescador dos mares do Norte, penso que da Noruega ou
da Gronelândia, carregando às costas um bacalhau do seu
próprio tamanho. É admissível que fosse benéfico para a
saúde dos mais jovens, mas o largo espectro de eficácia
que dizia cobrir, era falso e dissimulado.
Fonte: «A Banha da Cobra – uma patranha com História» (2017), artigo de José Carlos Vilhena Mesquita.
Absolutamente verdade. Conspiração pura e dura.
Excelente artigo. Parabéns
Ui?
O mano Costa não é fratricida
5 Fevereiro 2019 às 17:17 por Valupi 13 comentários, na verdade são quatro-4-quatro os amiguistas (entre os quais o imperdível José Neves, honra lhe seja feita)..
Nota. Ó Manuel G., o desespero face aos capitalistas do Facebook passou-te, ou deixou indesejáveis marcas permanentes? Então tu não lês as coisas lindas sobre a turma do Armando Vara que são deixadas simpaticamente n’A Estátua de Sal?
Não há provas contra Sócrates, garante o Observador
28 JANEIRO 2019 ÀS 18:31 POR VALUPI 13 Comentários, idem (olha o treze, novamente).
[…]
Nota. É a hora, os tipos e as damas da firma Valupi, Tangas & C.ª, Limitada a partir de hoje andarão loucas. Serão meses a queimar borracha.
#JoséSócrates
#realitychoque
#doidonas
Operação Marquês
Bárbara Vara diz não ter estranhado dois milhões do pai na Suíça
Ana Henriques | 28 de Janeiro de 2019, 19:14
Nota. Uns bandidos, estes jornalistas (com saias, também).
DIÁRIO
O extraordinário extrato bancário que levou a CGD a tomar a iniciativa de investigar Sócrates
18h22 MICAEL PEREIRA
Nota. Uns bandidos, estes jornalistas (agora de calças, ‘stá?).
Operação Marquês
Ex-mulher de Vara sabia que filha tinha conta com pai na Suíça e não estranhou
Mariana Oliveira | 30 de Janeiro de 2019, 20:28
Nota. Uns bandidos, estes jornalistas (novamente de saias, hoje).
Da série “Música no coração…”
O antigo ministro socialista Armando Vara admitiu ter recebido elevadas quantias em dinheiro vivo enquanto era director [?] na CGD. As declarações foram feitas perante o juiz Ivo Rosa, que dirige a instrução na Operação Marquês. Armando Vara, que não pagou assim quaisquer impostos por esse dinheiro que disse ter sido resultado de serviços de consultadoria a empresas não especificadas, reconheceu o “ilícito fiscal”. (Pág. 17) H.P
No P. em papel, ontem.
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Valupi, meu amigo, dá-lhes mais vinho que eles acordaram ressacados.