(Daniel Oliveira, in Expresso Diário, 29/03/2017)

Daniel Oliveira
A União Europeia usou Portugal como cobaia para uma nova forma de lidar com crises bancárias. Correu mal e, como é habitual, o jogo é do toca e foge. Bruxelas decide o que é melhor para nós e nós pagamos a fatura se afinal não for grande coisa. Olhando para o BES, assim como olhando para uma intervenção externa que tinha a estabilização do sistema bancário como segundo pilar e deixou tudo na mesma ou olhando para a fraude que foi a “saída limpa”, uma decisão política com fins meramente eleitorais para manter um governo submisso no poder, é difícil ser arrogante com a decisão tomada hoje pelos britânicos. Bem sei que os seus motivos foram outros, mas não é fácil criticar quem decide abandonar um barco desgovernado. Mas o Brexit deixo para o meu texto de sábado. Agora é o Novo Banco.
Antes de sair do governo, Passos Coelho decidiu reconduzir Carlos Costa como governador. Um homem que, sabemos hoje, decidiu ignorar todos os avisos e manter o seu colega (era assim que na realidade o via) Ricardo Salgado à frente do BES até ao limite do tolerável. Na troca de favores que marcou a relação entre Passos Coelho e o governador do Banco de Portugal, este escolheu o secretário de Estado Sérgio Monteiro para tratar da venda do banco. Foi-se embora com o cheque na mão e sem vender coisa nenhuma. Uma venda que não tinha prazo, depois passou a ser urgente, depois voltou a não ter prazo. No fim, a batata quente acabou, como tantas outras, na mão de António Costa.
Perante a impossibilidade de vender bem o Novo Banco, têm surgindo duas propostas: fazer mesmo o negócio ruinoso, vendendo a um preço simbólico, com garantias do Estado, ou manter o banco nas mãos do Estado. Neste segundo caso, uns querem uma nacionalização, outros um adiamento para vender quando houver melhores condições.
Esta semana, apareceu uma terceira via que, ao que tudo indica, será aproveitada pelo governo: a venda do Novo Banco, mantendo o Estado ou o Fundo de Resolução (à hora que escrevo este artigo ainda não se sabe) 25%. Mas sem poder nomear administradores e votar em decisões. Caso seja o Estado o acionista eunuco, ele manterá as responsabilidades financeiras do que entrega aos privados mas não gere coisa nenhuma.
Como disse Catarina Martins, “é o pior dos dois mundos”. Ou o Estado paga e manda, ou o Estado não manda e vende. Se é para ficar com o Novo Banco, que tenha sobre ele o controlo e não um quarto dos problemas e poder nenhum.
António Costa é um mero herdeiro de um Frankenstein inventado por Bruxelas e fabricado, a meias, por Carlos Costa e Passos Coelho. Mas a decisão de como sairá disto é dele. E começa a ser exasperante ver a Comissão a decidir como pode ou não pode Portugal resolver, com o seu próprio dinheiro, os problemas que ela ajudou a criar mas que não ajuda a solucionar.
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