(Baptista Bastos, in Jornal de Negócios, 27/05/2016)

Baptista Bastos
É preciso acentuar que a União Europeia já o não é. O egoísmo sobrepôs-se aos grandes princípios do humanismo e da solidariedade (…) e hoje, o nosso continente mais não é do que um condomínio fechado e cercado de arame farpado.
A matança de inocentes não pára, enquanto senhores muito consideráveis discutem, nos areópagos internacionais, banalidades e ineficácias. Já o disse e repito: não preciso desta falaciosa União para ser europeu; mais: não quero ser europeu desta União, mandada pela Alemanha da finança e dos negócios. Não quero ser alemão. Estou preocupado, na minha velha pele portuguesa, pelo descalabro moral, político e económico em que o continente todos os dias se apresenta.
Os motins em que se transformam manifestações populares e cívicas já não podem ser apagados ou minimizados. Na Bélgica, em França, em Espanha, na Grécia, o descontentamento contra a soberba de uma hegemonia alemã que nada aprendeu com a História, e tem os cofres a abarrotar de dinheiro, avulta de modo perturbador. Esta organização económica e política em que se converteu uma ideia generosa e humanista, constitui o estopim de qualquer coisa de medonho que, inevitavelmente, vai acontecer. Há semanas, numa entrevista ornada de banalidades, a SIC (sempre ela!) colocou o Ricardo Costa a “falazar” com o Durão Barroso num deprimente diálogo em que este senhor, obeso e feliz, fez o elogio vergonhoso dos “benefícios” que Portugal tinha recebido da União. Como tenho boa memória, relembrei o moço repórter, autor do comentário “Estou no reino do Cavaquistão”, por ele atribuído a uma região do País simpática a um político felizmente já “obituado” na geografia política.
Agora, Bruxelas parece ameaçar com sanções disciplinares o Governo de António Costa, manifestamente hostilizado pelo Partido Popular Europeu, uma espécie de albergue espanhol onde se acoita o piorio da direita e da extrema-direita fascistóide.
Não quero ser alemão. Sou português de uma antiga estirpe, e honro-me por isso. Viajei muito, de olhos abertos e coração escancarado. Pertenço a uma cultura que reúne Goethe e Stendhal, Camões e Carlos de Oliveira, e José Gomes Ferreira, aquele que vale a pena; Maler, Beethoven e Penderecki; Valle-Inclán e Gabriel Miró, Cervantes e Camilo Castelo Branco, Eça e Padre Vieira, a quem Fernando Pessoa chamou o imperador da língua portuguesa. Tenho-os ali, a eles e a muitíssimo mais deles, frequento-os com paixão e aprazimento. E também Jorge Palma, Sérgio Godinho, Zeca, Tordo, Carlos Mendes, companheiros de tudo o que há de melhor.
Não gosto e não quero pertencer a esta Alemanha de Merkel e do desprezo. Não gosto e não quero. É uma luta desigual. Eu sei; mas estou onde sempre estive e devo estar. Eis.
Nem mais.
Sou orgulhosamente portuguesa!!
O Partido popular Europeu está contra nós, contra os Espanhóis que querem outra política, contra os Italianos e contra os gregos de Tsipras que colocaram entre a espada e a parede. Mas a França está em ebulição… vamos ver se algo de bom sai disto tudo. Capitão António Costa, segure a barra por favor! Estamos consigo.