Mundo cão

(João-MC Gomes, In VK, 05-12-2024, revisão da Estátua)


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Estamos a viver, hoje, o que um filme brasileiro de 2016 referia, como titulo, o “Mundo Cão” que, embora se relacionasse com um drama intenso que explorava temas como a vingança, a moralidade e as complexidades das relações humanas num cenário urbano marcado pela violência e pelas desigualdades sociais, se pode adequar a esta aparente “nova visão de um Mundo” onde populações inteiras são tratadas sem o mínimo de dignidade, de respeito pela sua identidade e pelos seus direitos.

Tal como no filme “Mundo Cão” os dilemas éticos enfrentados pela sociedade ocidental espelham-se no enorme desastre contemporâneo desde que o Estado de Israel foi tomado pelo controle sionista que decidiu orientar a sua politica racista, xenófoba e genocida, por medidas que são apoiadas pelos seus maiores apoiantes – os EUA – e olhadas como “boas” pelo mesmo conjunto de dirigentes ocidentais que promovem a falácia de considerar como “más” as de defesa do povo pró-russo do leste ucraniano pela Federação Russa.

Estamos, assim, no limiar da indecência e imoralidade de uma cultura ocidental incapaz de fazer um apelo sério à sua raiz cultural e social mais abrangente com a crença da sua própria religião cristã. Quem aplacará os crimes morais, os tais pecados existenciais desta “sociedade cruel” dita democrática?

Mais: que Tribunal será formado – quando possível – para julgar isentamente, estejam mortos ou vivos nesse futuro, todos os que, neste momento, exercem responsabilidades políticas na Europa e no resto do mundo ocidental, e que não mexem uma “palha” para – sem hesitação – condenar o que se passa na Palestina? Como consegue essa gente deitar a cabeça na almofada para dormir, beijar os filhos e netos, amar a sua família, comer, sem se engasgar e beber a sua água mineral famosa, sem pensar que – por causa das suas falhas politicas – algumas centenas de milhares passam fome, sede, sofrem maus tratos, veem os filhos e netos morrer e ficar com as suas vidas destruídas?

Eu, sinceramente, não sei se o Diabo não tomou conta dos cérebros de certos políticos ocidentais. Certamente esse Diabo já tomou conta das consciências dos sionistas. Mas seria altura de, com ou sem religião, haver um mínimo, um átomo de decência e moral nesses que sorriem para as câmaras nas reuniões da UE, nos abraços solidários da NATO, nas fotografias de grupo que marcam as grandes cimeiras de tudo e mais alguma coisa e onde se perfilam, não seres humanos, mas verdadeiros autómatos incapazes de ter um software de humanidade.

Exautoração

(Joseph Praetorius, in Facebook, 06/11/2024)

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A notícia do dia é a exautoração do jornalismo a soldo, e completamente isento de qualquer verdade.

A exautoração do jornalismo dos serviços de inteligência, espalhando por todo o mundo as mesmas minutas e as mesmas versões, as mesmas pretensas análises, com os – diversos embora – pretensos especialistas a bolçarem, em todas as latitudes, as mesmas pretensas conclusões.

Não há precedentes de tal desprezo pela verdade, nem de tal denegação do direito à informação.

Hoje, foi tudo raso.

E importa notar que a insolvência é uma boa sanção, mas não pode ser a única. (Outra vez se anuncia o encerramento da Visão, entre nós, mas é pouco). Isto são estruturações delituais. E deve caber-lhes o devido processo que as ponha em situação de não poderem repetir.

Hoje, por rebelião popular norte-americana, quem tentou matar Trump foi politicamente morto. A desproporção dos números fez impossível qualquer fraude, que em pequenas margens teria seguramente ocorrido.. Só falta encarcerar, corrido o devido processo – e sem possibilidade de condicional – os Clinton, os Obama, os Biden, entre outros. Que se finem onde devem estar.

Agora Trump fará as contas que sempre fez em política externa. Nada de altissonante. Nada de épico. Indagará simplesmente o que pode lucrar-se com cada posição. Abandonará com alguma segurança as que só traduzem prejuízo. E com alguma verosimilhança, as que não deem lucro.

Isto, por si só, é uma grande vitória do sossego possível.

Claro que na UE reina já o pânico. Os serventuários franceses e alemães da pretensa defesa vão reunir-se de urgência. Eles que reúnam.

Os europeus continuarão presumivelmente com as mesmas incumbências: comprar armas americanas, comprar gás americano, transferir para a América as indústrias de maior prestígio, com os seus técnicos mais relevantes. Quem tenha passado africano deve deixar África, para os americanos poderem disputar diretamente as matérias primas em presença. Nos governos europeus só serão admitidos serventuários aptos a garantir bom serviço a estes objectivos.

Não excluo, evidentemente e infelizmente, a possibilidade de nova tentativa de assassinato do presidente americano eleito, nem o eventual êxito dela. Lidamos realmente com gente crudelíssima. E perigosíssima.

(Queira Deus libertar-nos, ou consentir que nos libertemos de tal corja e das suas multidões de caudatários).

O futuro seria uma boa ideia

(Viriato Soromenho Marques, in Diário de Notícias, 02/11/2024)

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O desfecho das eleições nos EUA não irá alterar a colisão das nações do Atlântico Norte com a dureza do destino esculpido pelos seus próprios erros. Em 30 anos, Washington protagonizou todos os pesadelos que as suas maiores figuras históricas consideravam fundamental evitar. Contra os autores de O Federalista (1788) – um dos 10 livros obrigatórios de filosofia política do Ocidente -, a categoria republicana da representação parlamentar, que deveria ser preenchida por um escol, eleito na base da honra e do intelecto, está hoje entregue a gente que faz do Congresso um lugar onde as leis são compradas e vendidas (John Rawls dixit).

Contra F. D. Roosevelt (presidente entre 1933 e 1945), voz infatigável a favor da justiça económica e social como escudo contra o risco de fascismo (que ele temia em caso de regresso à concentração capitalista anterior ao crash de 1929), hoje, nos EUA campeia uma plutocracia obscena que tudo controla, desde a comunicação social ao sistema político, incluindo as eleições (veja-se como Kamala e Trump se encostam ao apoio dos bilionários).

Contra o duplo perigo, denunciado por Eisenhower na sua despedida presidencial em 1961, a saber, o do “pilhar” (plundering) da natureza capaz de ameaçar as gerações futuras, e o de deixar a defesa entregue a uma sinistra teia de interesses sem controlo democrático, o famoso “complexo-militar-industrial”, o presente mostra-nos os EUA como um persistente obstáculo à cooperação internacional no combate à crise global do ambiente e clima, do mesmo modo que o seu negócio das armas transformou a diplomacia e a política externa na continuação da guerra por outros meios.

Os EUA embarcaram, sem aparente retorno, na demencial desmesura de um poder, autocentrado, que se julga absoluto. Nem Kamala, nem Trump entendem o derradeiro apelo de Roosevelt aos norte-americanos, no dealbar de 1945, quando insistia na ideia de que todos deveriam aprender a ser “cidadãos do mundo” (e não seus donos…), ou a proposta de J.F. Kennedy em 1962, aos países europeus, para uma “Declaração de Interdependência”, que se alargaria à própria União Soviética, quando se tratou de impedir a aniquilação nuclear.

O que une quem manda nos EUA e na UE é um desespero crepuscular, da sua inteira responsabilidade. Para travar o inevitável, sacrificam-se vidas e valores.

É indecente falar no Ocidente em direitos humanos, quando a desigualdade doméstica resvala na pobreza, e se alimenta o genocídio e a agressão perpetrados por Israel. Quando a nossa identidade se define pela fabricação e punição de “inimigos”, e não pelo poder inclusivo de um projeto de futuro, já entrámos no reino das sombras.