Tenha a decência de assumir com transparência a acusação que faz

(Daniel Oliveira, in Expresso Diário, 24/09/2018)

Daniel

Daniel Oliveira

(Ó Daniel, que poeta, bem podes esperar sentado. Pedes decência ao Passos?! Isso é coisa que ele nunca teve. Nem decência nem vergonha. Lança a lama e esconde a mão, como sempre fez. É, definitivamente um caso perdido, e só ele e mais uns quantos alucinados é que querem trazê-lo de novo para a ribalta da política portuguesa.

Comentário da Estátua, 24/09/2018)


Sobre a continuação da tradição constitucional de não reconduzir Joana Marques Vidal como procuradora-geral da República já escrevi AQUI. Penso que esta ponderada decisão, só possível pelo apoio do Presidente, encerrará definitivamente o tema do número de mandatos de cada PGR. Resta, numa primeira oportunidade, pôr isso na lei. Não aconteceu por oposição do Partido Socialista. É evidente que não tem qualquer espaço de manobra para se continuar a opor. Se o fizesse, confessaria que o seu problema era com Joana Marques Vidal. A manobra inteligente, por parte do PSD, é continuar a desafiar o PS para a maioria qualificada que determine na Constituição, de uma vez por todas, que os PGR têm um mandato único. Não vejo problema em que seja um pouco mais longo, desde que abaixo do limite de dez anos imposto ao Presidente da República.

A razão para não permitir que haja uma recondução do PGR, necessariamente decidida pelo poder político e por isso tendente a politizar a escolha, foi dada de forma contundente por um ex-primeiro-ministro. Quando, em CARTA ABERTA publicada no “Observador”, Passos Coelho subscreve-se como “ex-primeiro-ministro que propôs a sua nomeação”, como se estivesse a falar de um trunfo seu, expõe a perversidade de ter políticos a avaliar mandatos de procuradores e ex-governantes a patrocinarem recandidaturas. É tudo o que a Justiça não precisa.

Depois de escrever que Joana Marques Vidal “desempenhou o seu mandato com total independência, sem que ninguém de boa fé possa lançar a suspeição de que tenha feito por agradar a quem pode para poder ser reconduzida”, Passos sublinha o paradoxo deste ser “o argumento invocado para defender o mandato único e longo”. Tem dificuldade em perceber que o ato que melhor garante a independência ou se aplica a quem já é independente ou terá de ser o poder político, a cada momento, a decidir quem considera independente.

Há até quem ache que Passos Coelho só gosta de Marques Vidal porque a Tecnoforma nunca foi devidamente investigada. É tão disparatado como atribuir à PGR, e não à crise financeira e ao desmoronamento do BES, os processos mediáticos a que assistimos.

Mas um e outro caso põem, justa ou injustamente, o poder político sob suspeita na hora em que é chamado a avaliar o trabalho do Ministério Público. Por mim, não confio menos na avaliação que seja feita pelo PS do que daquela que seja feita pelo PSD. Quero que este tipo de suspeitas seja impossível e a melhor forma de o garantir é não dar qualquer poder a políticos para avaliar mandatos de agentes judiciais.

Mas o pior da carta está para vir. Perante a decisão de António Costa e Marcelo Rebelo de Sousa de não reconduzirem a PGR, tal como acontecera com os anteriores e que corresponde à posição conhecida de Joana Marques Vidal, Passos Coelho escreveu que “não houve, infelizmente, a decência de assumir com transparência os motivos que conduziram à sua substituição”. Que esses motivos “ficaram escondidos”.

Tendo em conta que a proposta de nome foi do primeiro-ministro mas a nomeação foi do Presidente da República, seria importante Passos ter a decência de assumir com transparência a acusação que está a fazer ao chefe de Estado. Está a acusar Marcelo de ser cúmplice de um golpe para interferir na Justiça e assim proteger criminosos? Se sim, é a acusação mais grave alguma vez feita a um Presidente.

Bem sei que Passos Coelho não se refez da ausência de gratidão de que se julga merecedor. Mas há alguns limites no confronto político. Passos deve dizer-nos se acha que temos um Presidente que conspira contra a justiça. E os dirigentes do PSD devem esclarecer se acompanham esta acusação.

Do POIO do POIARES a outras BUNDAS!

(Joaquim Vassalo Abreu, 17/07/2017)

bunda

Não é por Carlos Drummond de Andrade que eu vou, descansem! Para plagiador já basta um outro que, ouvi dizer, plagiou não a Bunda, mas o poio saído de uma outra que o Poiares exibe em sua peluda cabeça…

Como devem ter reparado, tenho andado arredado destes lugares. É que estive cerca de dez dias no Algarve, de férias. TV no apartamento eu até tinha, mas nos oito dias não foi ligada uma vez sequer e jornais nem vê-los! Até o meu neto Pedro meteu férias dos desenhos animados. O apartamento serviu apenas para atenuar o cansaço (daquela “cansera”, como diz o Amigo Manuel Azevedo). E que “cansera” Amigo…

De Política só soube a do dia anterior à ida e a do dia anterior à vinda! À ida fiquei a saber que do Poiares saiu um Maduro poio (uma entrevista ou coisa assim…) que continha, no meio de um amontoado de excrementos, uma pífia pérola: “O Costa até pode ser mais habilidoso, mas o Passos tem mais visão de futuro”! Não quis saber de mais nada e disso muito menos!

Fiquei-me pela Praia de Monte Gordo- não sei de onde tal nome provém, nem procurei saber, pois de monte não notei vestígio algum e de gordo menos ainda- e, logo no primeiro contacto com aquela larga, profunda, enorme, mas aconchegante Praia, dei por mim, discreta e circunstancialmente, a rodar os olhos pela dita, uma praia longa, de fina areia e pé até perder de vista, e a pensar naquilo que nela mais abundava, para além da fina areia e da cálida água. E concluí isso mesmo: Nesta Praia o que mais abunda é a Bunda! E que nela, a Bunda, o que mais abundava era a falta de vegetação (tecido), o que faz dela uma paisagem à parte dentro da própria Praia.

A Bunda é constituída, ela sim, por dois montes: uns ainda de aspecto viçoso de quase virgens, tal a hirteza que demonstram; outros já com pequenos sinais de uso e ainda outros, estes mais calejados por tantos anos de “tik-tok”, “tik-tok”, mas todos separados por um estreito e suave vale, onde corre um imperceptível fio, comprimido pelas duas erguidas e simétricas margens, mas desaguando todos num largo e ostensivo estuário, um delta mesmo, direi eu!

Deltas esses do mesmo tipo, mas de variadas configurações: uns de nula vegetação; outros com ela mais aparada e tratada e outros ainda de fauna tão espessa, qual densa mata, que quase nem dá para perceber onde o mesmo desagua!

É a Bunda, a Bunda que só vemos fragmentando o olhar! Assim tipo “frames”! Um olhar que não pode ser fixo, sob pena de nela nos perdermos de ilusão. Mas da qual o olhar não podemos arredar, sob pena de numa delas esbarrar…

E “tik-tok”, “tik-tok”, lá vão elas saltitando cadenciadas numa alternância sem par, mesmo que par nunca deixem de ser. “Tik-tok”, uma sobe outra desce, uma contrai outra descontrai, uma amolece outra enrijece, mas ganhando, e sempre alternadamente, uma nova e graciosa alma.

Se olho em frente vejo Bunda, se desfaço o olhar e para o lado o viro Bunda vejo e se o dirigir para o infinito, uma infinidade de Bundas revejo! Que fazer, então?

A “Bunda é redunda”, dizia o Carlos Drummomd de Andrade, mas também é ímpar quando quer, isso digo eu.

Imaginem atravessar aquela Praia imensa de Monte Gordo em direcção à água, na tentativa de se abstraírem da visão de tanta Bunda e, para além de nesse imenso trajecto se refastelarem de Bundas, avistarem, mesmo que ainda de longe, umas senhoritas enlevadas em descontraída conversa, acerca dos seus pequenotes ali em frente fruindo as cálidas águas das poças que o mar antecipam, só poderá ser, e que, para enganar o cansaço daquela posição rígida, se resolvem colocar em posição de descanso. Uma perna para a frente, outra perna mais contraída para trás. O que é que daí resulta? Uma exposição de beleza sem igual: uma queda mais hirta aguentando o peso, enquanto a outro desanuvia e descontrai. O Drummond de Andrade também diz que “São duas luas gémeas em rotundo meneio de cadência mimosa”, e que bem que ele diz, mas às vezes descansam de tanta cadência, acrescento eu.

Mas, deambulando o olhar Bunda a Bunda, “redunda” ou rotunda, mas todas de natureza e graciosidade ímpares, não deixando contudo nunca de serem pares…cheguei ao fim das férias…

E, como disse, foi quando soube do segundo caso político da semana: o plágio do Passos ao poio que da bunda situada na cabeça do Maduro saiu! E da bunda da cabeça melada do Passos saiu a ideia de exibir o poio que a bunda da cabeça do Poiares expeliu…Uma escatológica depravação, foi o que foi!

É que o Poiares tem a sua bunda na cabeça. E é peluda! Que “HÓRROR”!!!

Até ao ano Monte Gordo! Mas não engordes mais, tá? E “tik-tok”, “tik-tok”, “tik-Tok”…lá vim eu a toque de caixa. Mas para o ano haverá mais, muitas mais bundas! Elas abundam e são eternas!

E assim foi a minha semana Política!

Pelo que : Abaixo o poio e Viva a Bunda!


Fonte aqui

Tremam de aborrecimento: vamos para a silly season em plena estagnação política

(José Pacheco Pereira, in Público, 15/07/2017)

 

Autor

                 Pacheco Pereira

(Caro Pacheco Pereira

Essa de dizeres que o “país está estagnado” é uma forma sibilina de dizeres que só uma solução, “bloco central” pode ser fautora de mudanças de fundo. Na verdade, devias dizer que, no actual quadro económico-financeiro e tendo em conta a arquitectura jurídico-institucional do Euro e dos tratados europeus, quaisquer mudanças de fundo tem que passar pela benção de Bruxelas e de Frankfurt. E por isso, qualquer governo, seja ele qual for, desde que não ponha em causa essa arquitectura, só pode “navegar à vista”. Os portugueses já perceberam isso e preferem um governo que lute no quadro da nossa soberania limitada, do que um governo que se renda e seja conivente com os ocupantes. É por isso, e sobretudo, que a Geringonça está e estará de pedra e cal, mais por isso do que pelo facto de os seus actores se encontrarem numa espécie de equilíbrio de Nash, que tu descreves, apesar de não nomeares o conceito.

É que, os portugueses preferem ir para a silly season aborrecidos , com a Geringonça ao leme – mas com o subsídio de férias intacto -, do que frenéticos com o governo da PAF e os bolsos mais vazios.

Estátua de Sal, 15/07/2017)


Às vezes acontece que as coisas param, o que não é muito normal. Mas a verdade é que, no plano estritamente político, o país está parado, para não dizer estagnado. Esta linha flat não se estende para tudo, bem pelo contrário. No plano económico, social, cultural, e outros mesmos de intersecção entre a política e a sociedade, algumas coisas estão a mudar, mas a estagnação política reduz o ritmo de tudo. O que é que eu quero dizer quando afirmo que em matéria política tudo está parado? Que não estão em curso factores de mudança no plano político, nem no lado do Governo, nem da oposição, que permitam sair da estagnação. Podem acontecer amanhã — sei bem que a história faz-se por surpresas imprevisíveis —, mas não existem hoje.

Explico-me. Do lado do Governo, três partidos convergem numa solução política sui generis, mas muito estável. Há uma razão para essa estabilidade: o facto de esta aliança político-parlamentar-governativa ser vantajosa para todos os seus parceiros e nenhum achar que fora dela teria mais vantagens. Não há no PS, nem no BE, nem no PCP nenhum movimento interior que conteste a aliança actual. No PS, a oposição que veio do sector de António José Seguro está limitada a meia dúzia de vozes que se manifestam sempre que alguma coisa corre mal ao Governo e a António Costa, mas fala muito sozinha. Do lado do interior do PS está tudo morto, como, aliás, é normal que aconteça em partidos deste tipo quando estão no poder.

Do lado do BE não há nenhuma corrente significativa que ponha em causa a aliança parlamentar, nem sequer vozes isoladas que reflictam sobre o que ela significa para a esquerda radical. As que havia saíram pelo seu próprio pé do BE, umas desejando, numa altura em que isso não era muito previsível, uma maior aliança com o PS, o partido Livre; e outras, mais radicais e que se oporiam a estes acordos, para o MAS. Uma parte da dinâmica das tendências do BE é internacional e tem que ver com as correntes do trotsquismo, mas com o MAS tornou-se exterior.

No caso do PCP, ainda menos se vê qualquer oposição ao acordo, bem pelo contrário. Ocasionalmente a imprensa apresenta umas vozes como sendo mais críticas do acordo com o PS, particularmente nos meios sindicais, mas se há parte da constelação de organizações do PCP que beneficia com este acordo é o movimento sindical. Nenhum partido mais do que o PCP, nem sequer o próprio PS, beneficiou mais com este acordo, que travou a ofensiva anti-sindical que era uma das linhas de actuação mais consequente dos partidos da PAF, o PSD e o CDS. O PCP e a CGTP não conseguiram reverter nesta área muitos dos estragos causados pela governação pró-troika, a não ser nalguns aspectos da contratação colectiva, mas conseguiram um efeito de travagem e um tempo de respiração de que precisavam com urgência. Daí que a conflitualidade social seja hoje em grande parte simbólica, ou nas margens de negociação consentidas pelo acordo.

Não vale a pena, por isso, os comentadores ligados ao PSD e CDS e ao sector mediático da direita verem divisões e crises onde elas não existem, porque, por razões puramente racionais e de vantagem, ninguém quer romper o entendimento que permitiu a “geringonça”. Não há pois aqui factores de mudança, nem sequer de muita usura.

O mesmo acontece à direita, onde estava o CDS e que absorveu há muito a direcção do PSD. Nenhum dos partidos está em condições de criar dificuldades significativas ao Governo, como se viu nas recentes crises de Pedrógão e Tancos. A julgar pelos comentários, em particular do PSD, o Governo e a coligação no poder estariam nas vascas da agonia e o tombo do optimismo para o pessimismo seria adquirido, abrindo caminho para um “novo ciclo”. Na verdade, o Governo passou um mau bocado, mostrou fragilidades e uma atrapalhação inaceitável, mas mesmo assim não parece atingido na sua força política nem na sua popularidade.

Há razões para que isso seja assim, em particular o evidente aproveitamento político de uma tragédia, que funciona sempre ao contrário do pretendido. Percebe-se, e esta percepção é devastadora, que há um claro desejo de que as coisas corram mal para o Governo, até por impotência própria, e, se uma tragédia ajuda, ainda bem, venham mais tragédias. É tão evidente este desejo perverso, que qualquer debate racional é inútil para ter ganho de causa, e, por isso, mesmo onde o Governo falhou calamitosamente, a oposição não ganha um voto.

As pessoas atribuem responsabilidades ao Governo, mas não eximem dessas responsabilidades a oposição, em particular porque mal se saia da condução política imediata das crises e se queira passar para matérias mais estruturais, como tentou o CDS com a ideia do desprezo pelas áreas de soberania, imediatamente lhe cai em cima o desastre que foram estes últimos anos de degradação das Forças Armadas, de redução de meios, de medidas de política como a facilitação da plantação de eucaliptos, a politização da protecção civil e dos bombeiros. O CDS está reduzido a um partido tribunício, cujas causas “populares” soam a falso e as elitistas mobilizam muito pouca gente.

O PSD ficou congelado no tempo e, como qualquer coisa que está congelada, torna-se duro e hirto. Passos Coelho não consegue ocultar o seu desejo de que o Diabo nos visite, e seja o fogo, os ladrões de armas, seja lá o que for, pensa que pode beneficiar dessas circunstâncias. A gafe dos suicídios é psicologicamente reveladora dessa vontade e, em política, isso é autodestrutivo.

Porque é que o PSD, que sempre teve um potencial de conflitualidade interna considerável, não o afasta? Porque, como se viu nas recentes eleições internas, não há qualquer dinâmica de mudança no seu interior, mas apenas um entrincheirar de posições que é normal quando se perde o contacto com a realidade e se vive de uma ortodoxia póstuma. O núcleo de poder partidário à volta de Passos Coelho precisa desesperadamente dele, porque precisa desesperadamente do poder que o partido lhe dá, porque não tem recuo para a sociedade.

No PSD, há um fenómeno de oligarquização sem precedentes, logo uma dependência quase exclusiva do poder interno, por parte de gente que não tem qualquer obra pública, nem reconhecimento profissional, nem sequer é conhecida pelos militantes, quanto mais fora do partido. Por isso, o PSD não constitui qualquer risco para o Governo e não introduz qualquer factor de mudança no sistema político.