A farsa da Ucrânia, revisitada

(Por Pepe Escobar, in Strategic Culture, 19/01/2024, Trad. Estátua de Sal)

Mesmo que o país 404 seja totalmente derrotado em 2024, mais uma vez é imperativo sublinhar: isto está longe de ter terminado.


Agentes seleccionados espalhados pelos silos do poder de Beltway, trabalhando diligentemente como mensageiros para as pessoas que realmente dirigem o espetáculo no Hegemon, concluíram que uma confrontação sem limites com a Rússia levaria ao colapso de toda a NATO; anularia décadas de controlo férreo dos EUA sobre a Europa; e, em última análise, causaria a queda do Império.

Jogar jogos temerários mais cedo ou mais tarde, iria de encontro às indestrutíveis linhas vermelhas embutidas no inamovível objeto russo.

As elites americanas são mais inteligentes do que isso. Podem ser excelentes no risco calculado. Mas quando o que está em jogo é tão elevado, sabem quando se proteger e quando desistir.

Para não “perder” a Ucrânia – agora um imperativo visível – não vale a pena arriscar a perda de toda a cavalgada hegemónica. Isso sim, seria uma perda demasiado grande para o Império.

Por isso, mesmo quando estão cada vez mais desesperados com o mergulho imperial acelerado num abismo geopolítico e geoeconómico, estão a mudar freneticamente a narrativa – um domínio em que são exímios.

E isso explica porque é que os vassalos europeus desconcertados da UE, controlada pela NATO, estão agora em pânico total.

Davos ofereceu-nos, esta semana, uma grande quantidade de salada orwelliana. As mensagens principais e frenéticas: Guerra é paz. A Ucrânia não está a perder (itálico meu), e a Rússia não está a ganhar. Por isso, a Ucrânia precisa de muito mais armamento.

No entanto, até ao norueguês Wood Stoltenberg foi dito para seguir a nova linha que interessa: “A NATO não está a avançar para a Ásia. É a China que se está a aproximar de nós”. Isto acrescenta certamente um novo e estranho significado à noção de placas tectónicas em movimento.

Manter o motor das Guerras Eternas a funcionar

Há um vazio total de “liderança” em Washington. Não há “Biden”. Apenas a Equipa Biden: uma combinação corporativa que inclui mensageiros de baixo nível, como o neocon, de facto, Little Blinkie. Fazem o que lhes mandam os “doadores” endinheirados e os interesses financeiro-militares que realmente dirigem o espetáculo, recitando dia após dia as mesmas velhas falas saturadas de clichés, actores secundários num Teatro do Absurdo.

Vejamos apenas uma pequena exposição que é suficiente.

Repórter: “Os ataques aéreos no Iémen estão a resultar?”

O Presidente dos Estados Unidos: “Bem, quando diz que estão a funcionar, estão a parar os Houthis? Não. Vão continuar? Sim.”

O mesmo que se passa com o “pensamento estratégico” aplica-se à Ucrânia.

O Hegemon não está a ser atraído para combater na Ásia Ocidental – por muito que o arranjo genocida de Telavive, em conjunto com os Zio-cons norte-americanos, queira arrastá-lo para uma guerra contra o Irão.

Ainda assim, a máquina imperial está a ser dirigida para manter o motor das Guerras Eternas a funcionar, sem parar, a velocidades variáveis.

As elites no comando são muito mais clínicas do que toda a Equipa Biden. Sabem que não vão ganhar no que em breve será o país 404. Mas a vitória tática, até agora, é maciça: lucros enormes com o armamento frenético; esvaziamento total da indústria e da soberania europeias; redução da UE ao subestatuto de um reles vassalo; e, a partir de agora, muito tempo para encontrar novos guerreiros por procuração contra a Rússia – desde os fanáticos polacos e bálticos até toda a galáxia Takfiri-neo ISIS.

De Platão à NATO, talvez seja demasiado cedo para afirmar que tudo acabou para o Ocidente. O que está quase no fim é a batalha atual, centrada no país 404. Como sublinha o próprio Andrei Martyanov, coube à Rússia, mais uma vez, “começar a desmantelar o que hoje se tornou a casa dos demónios e do horror no Ocidente e pelo Ocidente, e está a fazê-lo de novo à maneira russa – derrotando-o no campo de batalha”.

Isto complementa a análise pormenorizada expressa no novo e explosivo livro do historiador francês Emmanuel Todd.

Mas a guerra está longe de ter terminado. Como Davos deixou mais uma vez bem claro, eles não vão desistir.

A sabedoria chinesa diz que, “quando queres atingir um homem com uma flecha, primeiro atinge o seu cavalo. Quando quiseres capturar todos os bandidos, captura primeiro o seu chefe”. O “chefe” – ou os chefes – estão certamente longe de serem capturados. Os BRICS+ e a desdolarização podem ter uma oportunidade, a partir deste ano.

O fim do jogo plutocrático

Neste quadro, mesmo a corrupção maciça entre os EUA e a Ucrânia, envolvendo anéis e anéis de roubo da generosa “ajuda” americana, como foi recentemente revelado pelo antigo deputado ucraniano Andrey Derkach, é um mero pormenor.

Nada foi feito ou será feito a esse respeito. Afinal de contas, o próprio Pentágono chumba em todas as auditorias. Estas auditorias, aliás, nem sequer incluíram as receitas da gigantesca operação multimilionária de heroína no Afeganistão – com o Campo Bondsteel, no Kosovo, criado como centro de distribuição para a Europa. Os lucros foram embolsados por agentes da inteligência dos EUA, sem registo.

Quando o fentanil substituiu a heroína como praga doméstica nos EUA, tornou-se inútil continuar a ocupar o Afeganistão – subsequentemente abandonado após duas décadas em puro modo Helter Skelter, deixando para trás mais de 7 mil milhões de dólares de armamento.

É impossível descrever todos estes anéis concêntricos de corrupção e crime organizado institucionalizado, centrados no Império, a um Ocidente coletivo que sofreu uma lavagem cerebral. Os chineses, mais uma vez, vêm em nosso socorro. O taoísta Zhuangzi (369 – 286 a.C.): “Não se pode falar do oceano a um sapo que vive num poço, não se pode descrever o gelo a um mosquito de verão, e não se pode argumentar com um ignorante.”

Não obstante a humilhação cósmica da NATO na Ucrânia, esta guerra por procuração contra a Rússia, contra a Europa e contra a China continua a ser o rastilho que pode acender uma Terceira Guerra Mundial antes do final desta década. Quem o vai decidir é uma plutocracia extremamente rarefeita. Não, não é Davos: estes são apenas os seus porta-vozes marionetes.

A Rússia reactivou um sistema de fábricas militares à velocidade da luz – agora com cerca de 15 vezes a capacidade de janeiro de 2022. Ao longo da linha da frente há cerca de 300.000 soldados, e na retaguarda há mais dois exércitos em pinça de centenas de milhares de tropas móveis em cada pinça que estão a ser preparadas para criar um duplo envolvimento do exército ucraniano e aniquilá-lo.

Mesmo que o país 404 seja totalmente derrotado em 2024, é imperativo sublinhar mais uma vez: isto está longe de ter terminado. A liderança em Pequim compreende perfeitamente que o Hegemon é um destroço tão desintegrado, a caminho da secessão, que a única forma de o manter unido seria uma guerra mundial. É altura de reler T.S. Eliot em mais do que um sentido:

“Tivemos a experiência, mas faltou-nos o significado, / e a aproximação ao significado restaura a experiência.”

Fonte aqui.


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Manifesto por um mundo melhor

(Carlos Marques, in Estátua de Sal, 02/01/2024)


(Este texto resulta de uma resposta a um comentário a um artigo que publicámos de Andrew Korybko ver aqui. O referido comentário, de JgMenos, era o seguinte:

«desmilitarizar a Ucrânia, desnazifica-la e restaurar a neutralidade constitucional naquele país em troca do congelamento do conflito na Linha de Contato.»
Desmilitarizar – a linha de contacto determiná-la-á o império russo a todo o tempo
Desnazificá-la – agentes de Moscovo no poder em Kiev
Neutralidade constitucional – o rumo da Ucrânia decide-se em Moscovo.
E a cambada de lambe-cús putinescos chama a isso o legítimo interesse da Rússia, enquanto a oposição dos ucranianos a reduzem a servilismo ao ocidente!

A pérola é: «que ele não é uma pessoa pusilânime»
Manda matar uns e manda morrer outros sem que a majestade da sua natureza de policiote arvorado denote qualquer perturbação; eis o que deslumbra os lambe-cús putinescos!

Porque a resposta foi esmagadora resolvi dar-lhe o merecido destaque.

Estátua de Sal, 3/01/2024)


É preciso uma mente, mesmo muito retorcida e manipulada pela propaganda, para se chegar ao ponto de achar que a desnazificação é uma coisa má.

Lembro só isto: foi graças à desnazificação imposta pelos três aliados, e à desnazificação imposta pela União Soviética que, respetivamente, a Alemanha e a Finlândia se tornaram países decentes e pacíficos.

A NATO/EUA – e o NeoLiberalismo/Escola dos Chicago Boys -, vieram fazer o trabalho oposto. A AfD já é o segundo maior partido da Alemanha e, quer a Alemanha quer a Finlândia, passaram a militarizar-se e a apoiar os nazis ucranianos a mando dos EUA. E, ambos apoiam o genocídio na Palestina ocupada.

Desnazificação, meu animal de quatro patas e orelhas longas, é acabar com a glorificação de Stepan Bandera, da UPA/OUN, dos Azov, etc.

Desnazificação é reverter o golpe Nazi+CIA feito em 2014 e permitir aos civis da Novorossiya voltarem a eleger um Presidente e a votar nos partidos que querem.

Desnazificação são os julgamentos a decorrer em Donetsk, contra os criminosos de guerra UkraNazis.

 Desnazificação é lembrar que os nazis eram o lado mau e que os soviéticos eram os libertadores.

Desnazificação é tolerar todas as etnias na Ucrânia, em vez de ter um etno-estado hitleriano.

 Desnazificação é celebrar o 9 de Maio, dia da vitória, com a faixa laranja e preta de São Jorge, e caminhar pela colina acima no monumento de Saur Mogila.

Desnazificação é ilegalizar os movimentos nazi-fascistas do Svovoda, Praviy Sektor (Sector Direito), divisão Misantrópica, C14, batalhões Kraken, Dniepr, e regimento Azov.

Desnazificação é a liberdade religiosa para celebrar o natal da igreja Ortodoxa.

Desnazificação é ter em Kiev quem respeite a vida e os direitos humanos de quem vive no Donbass.

Se não percebes isto, não percebes nada. Por isso é que és um acérrimo defensor dos UkraNazis, dos naZionistas, e dos nazis do império genocida ocidental e de todas as agressões que se façam contra os pobres dentro de fronteiras, e todas as agressões que se façam contra os de pele de cor diferente fora de fronteiras, aos quais se juntam os russos, a quem os teus amigos UkraNazis chamam “pretos da neve”.

As “pessoas” como tu são a razão pela qual passei a perceber porque é que os gulags de Estaline, se calhar, não eram inteiramente uma coisa terrível. Se calhar, muitos dos seus ocupantes eram, de facto, “pessoas” cuja liberdade representava um perigo para o resto da Humanidade. Não estou com nada disto a defender tal regime, estou simplesmente a aprender uma lição com a História. É o que eu gosto de fazer, ao contrário dos teus amigos nazi-fascistas, que a gostam de reescrever, que gostam de fakenews e propaganda, que gostam de pureza étnica, que gostam de guerra permanente, de NeoLiberal-Fascismo, e de bombardear monumentos – Saur Mogila -, que celebram a vitória contra o nazismo.

O que tu querias mesmo era um Maidan em Portugal. Portugueses nas trincheiras em Donetsk e em Taiwan, Teerão e Havana, etc. Tu gostavas mesmo era de Portugal acabar de vez, e de usarmos só a bandeira azul com estrelas amarelas, ou quiçá acrescentar-lhe umas riscas horizontais vermelhas e brancas.

Tu és pior que um cidadão desinformado, ignorante ou enganado pela propaganda. És pior que um mero fascista patriota ou saudosista do Império, tu és um traidor. Um traidor de Portugal e dos Direitos Humanos. E um traidor que se diverte a fazer propaganda em nome dessa traição. E a atacar todos os que não são como tu. Não tens nada de útil para fazer ou de positivo para propor ou de construtivo para conversar neste blog? Eu tenho:

1) Quero Portugal neutral, fora da NATO onde a ditadura fascista nos colocou em 1949 e em que os Facho-Liberais nos continuam a manter. Quero uma alteração constitucional semelhante às da Suíça e da Irlanda, para Portugal não poder intervir em conflitos armados, nem sequer enviar armas. Quero que o objetivo dos 2% do PIB para a “Defesa”, impostos pela NATO, se f*dam! E quero que Portugal expulse os USAmerikanos da base das Lages e de outras.

2) Quero a desnazificação em Portugal, com a expulsão de todos os ucranianos que são militantes do Svovoda (como o Pavlo Sadokha) ou glorificadores dos Azov/Bandera/etc. E quero um julgamento, como o de Nuremberga, para todos os envolvidos no apoio ao UkraNazistão, e na divulgação da propaganda de branqueamento do UkraNazismo. Os “jornalistas” que disto fizeram parte, têm de perder a carteira da profissão, e as direções dos meios de comunicação que tal fizeram, devem ser erradicados do sector.

3) Quero a desfascização de Portugal, com o cumprimento integral da Constituição de 1976, ilegalizando movimentos fascistas ou racistas, como o Chega.
Quero que o dinheiro do investimento vá para tornar dignos, bairros como o da Jamaica, e não ser desperdiçado em jornadas mundiais dos pedófilos ou em competições da bola.Quero a defesa aguerrida do SNS, a maior herança do 25 de Abril, e não o seu contínuo desmantelamento e substituição pelos meios privados dos quais os fascistas são acionistas. Se a saúde não for para todos de forma gratuita e atempada, se for crescentemente só para quem pode pagar, então isso é fascismo, e tem de ser combatido.

4) Quero um país que defenda a sua soberania, sem a qual não tem qualquer democracia representativa, e se prepare para ir contra a UE sempre que necessário, quiçá até sair e voltar para a EFTA; Portugal precisa de uma liderança patriótica que coloque os interesses do país primeiro, em vez de um bando de traidores que pedem permissão a Bruxelas antes de descerem um mero IVA da eletricidade. Um país que defenda a sua Constituição, os seus Direitos Fundamentais, em vez de obedecer a quem exige censura contra canais de notícias da Rússia. Um país que perceba que a TAP é de Portugal, não pode ser da Lufthansa. (ou será que esses idiotas aceitariam que a TAP investisse para comprar a Lufthansa? Ou que Portugal gastasse dinheiro para comprar as REN e ANA e CTT de outros países?)

5) Quero um país com futuro, o que só pode existir com uma economia saudável PARA TODOS, o que só é possível com moeda própria, já que o €uro nos prejudica e é irreformável. Portugal deve ter uma moeda adequada à sua economia, em vez de austeridade permanente sobre os salários. Deve ter uma política de pleno emprego, em vez da subserviência ao objetivo dos 2% de inflação, sempre calculados de acordo com o que a Alemanha e a França precisam. Quero os monopólios naturais e sectores estratégicos nas mãos do Estado, tal como faz a Noruega. Quero o Sistema de Ghent (como a Bélgica e os Nórdicos) para promover o sindicalismo e assim garantir direitos e uma distribuição da riqueza mais equitativa. Quero uma autoridade da concorrência de quem as Meo/Nos/Vodafone e as Galp/BP/Repsol tenham medo, pânico! Quero o fecho do offshore da Madeira. E salários dignos e rendas acessíveis ao mais pobre dos trabalhadores. Quero, no fundo, a reversão das políticas NeoLiberal-Fascistas que fizeram a pobreza em Portugal subir estruturalmente nos últimos 25 anos, de 3.7 para 4.5 milhões de pobres antes de apoios sociais. Uma política económica que reverta o problema da emigração das novas gerações e permita começar a tratar do envelhecimento demográfico.

6) Na geopolítica, quero o fim de todos os imperialismos. Quero paz em todo o lado. E quero que os agressores sejam travados e julgados. Quero ver exercido o Direito Humano à auto-determinação das vítimas do Maidan na Novorossiya e das vítimas do sionismo na Palestina. Quero que a guerra em Taiwan seja evitada, quero que Venezuela e Guiana se entendam, quero o fim das sanções ilegais, o fim do bloqueio a Cuba, etc. Se esses povos puderem votar em paz para decidir o seu futuro, eu fico feliz. Quero o oposto do que vi num documentário histórico sobre os EUA e o Vietname, em que o candidato presidencial Kennedy júnior, descreve como os EUA impediram a democracia de acontecer no Vietname e em vez disso fizeram um golpe e trouxeram guerra, só porque os comunistas se preparavam para uma vitória eleitoral. Será isto um defeito, só dos EUA em particular, ou de todo o Facho-Capitalismo em geral? Na primeira hipótese, quero mudança de regime em Washington. Na segunda quero o fim desta versão do capitalismo em todo o Mundo, ou trocado por uma versão melhor, ou por um sistema diferente.

7) Quero ver Assange livre, quero o fim das fakenews, a reversão da operação Mocking Bird da CIA, e quero que todos tenham acesso à verdade, sem propaganda nem manipulação. Se, para tal, for preciso tirar a liberdade aos prevaricadores, pois que assim seja. Não é autoritarismo da minha parte. É saber a lição do paradoxo da tolerância de Karl Popper. Todos a deviam aprender. E, é saber, e sofrer por saber, que 90% ou mais da população ocidental vive numa realidade paralela, tal é o nível de lavagem cerebral e condicionamento. Um professor universitário russo em Coimbra foi perseguido pela MSM e só descansaram quando se fez a vontade do militante do Svoboda, e esse professor foi despedido sem cometer erro nenhum, a não ser nascer com uma determinada nacionalidade. Já, nos mesmos MSM, passam imagens vindas das redes sociais de grupos nazis, e isso é mostrado como sendo “ativistas da democracia e da liberdade”. Este estado das coisas é intolerável. E a prisão de Assange é o canário nesta mina. Enquanto estiver preso num gulag do Império genocida ocidental, isso quer dizer que não há verdade, só fakenews.

E tu, o que queres? Queres ver UkraNazis a celebrar, naZionistas a celebrar, imperialistas genocidas a celebrar, €Uroditadores a celebrar, e NeoLiberal-Fascistas a celebrar? Queres calar e censurar quem discorda disso, perseguir Snowden, prender Assange, e assassinar Shireen? E, no final, ainda tens o topete de dizer que é em nome da “democracia” e da “liberdade” e de vir aqui, diariamente, insultar quem é mais decente do que tu?!

TEM VERGONHA NA CARA!


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Renomeie o mundo

(Por Batiushka in Reseauinternational.net, Trad. Estátua de Sal, 30/09/2023)

Diz-se que Nero tocou violino enquanto a Roma pagã, que ele próprio incendiou, ardia. Hoje temos a imagem do Presidente Putin a tocar o seu violino enquanto o império sucessor da Roma pagã (o Ocidente pagão) arde. A diferença é que não foi o Presidente quem iniciou o incêndio, foi esta Roma que começou a arder e que, além disso, recusou até agora qualquer ajuda russa para extinguir o incêndio que ela própria criou. 

Portanto, a Rússia não tem pressa em acabar com o incêndio na Ucrânia, pelo qual o Ocidente é inteiramente responsável. Deixe-a lutar: o inverno está a chegar e depois haverá as eleições nos EUA em Novembro de 2024, razão pela qual a elite ocidental egoísta não quer acabar imediatamente com o conflito ucraniano.

O Ocidente já foi forçado a abandonar a sua melhor esperança na Ucrânia, a da vitória, e a sua segunda melhor esperança, a de um “ conflito congelado ” ao estilo coreano. A libertação de toda a Rússia, a leste e a sul da Ucrânia, continuará, enquanto o resto será neutralizado e desnazificado, transformado num satélite inofensivo sem litoral. Depois disso, a Europa terá de adotar uma atitude muito diferente em relação a uma Rússia vitoriosa, bem como aos BRICS. Quanto aos Estados Unidos, terão de organizar a sua própria festa colossal de gangsters e banqueiros cor de fentanil. E é provável que esta união artificial reforçada pela violência se divida, por sua vez, e tenha de ser renomeada.

Mudando nomes de lugares

Deixando de lado o Ocidente pequeno, egocêntrico e em colapso, o resto do mundo já está a planear reformular a sua marca na era pós-americana. A Índia poderá em breve mudar seu nome do inglês “ India ” para o hindi “ Bharat ”. Esta é apenas a última de uma longa e lenta série de mudanças de nomes após a colonização. É completamente normal que os países sejam referidos pelos seus próprios nomes e não por nomes estrangeiros. A China será o próximo país a mudar de nome? Zhong Guo? Independentemente disso, mesmo sem esta última mudança, que daria ao BRICS+6 o nome polaco BRBZS, o BRICS+6 necessitará de um novo nome.

O processo de renomeação de países e colónias no mundo pós-ocidental está em curso há vários anos. Os antigos nomes coloniais são abandonados. Entre muitos exemplos, os mais conhecidos são talvez as mudanças de Pequim para Pequim, de Bombaim para Mumbai, do Sião para a Tailândia, do Alto Volta para Burkina Faso, do Zaire para a RD Congo, da Rodésia para o Zimbabué, da Niassalândia para o Malawi, da Do Sudoeste de África à Namíbia, da Birmânia a Mianmar, do Ceilão ao Sri Lanka e recentemente da Turquia a Turkiye. Contudo, os processos de desocidentalização e de nativização ainda estão longe de estar concluídos.

Considere termos como “Extremo Oriente”, “Oriente Médio” e “Oriente Próximo”. Todos esses termos são absurdos. Leste de quê? Do ponto de vista japonês, o que é chamado de “Médio Oriente” deveria ser chamado de “Médio Oeste”. Felizmente, estes termos já estão a desaparecer em favor dos termos geograficamente precisos “Ásia Ocidental” e “Ásia Oriental”, e o termo sem sentido “Oriente Médio” quase desapareceu. Claro, ainda temos o termo “Europa”. Isto é um problema porque a Europa não é um continente geográfico. Curiosamente, é o único “continente” cujo nome em inglês não começa e termina com a letra “A”.

Todos os outros continentes estão separados uns dos outros por oceanos. Sim, é verdade que um istmo muito estreito, cortado por um canal, liga a África à Ásia e, da mesma forma, a América do Norte à América do Sul. No entanto, a península europeia tem uma “fronteira” com a Ásia que se estende por milhares de quilómetros e a sua posição entre a Europa e a Ásia nunca foi clara. Isto porque a Europa é uma construção, uma divisão, um continente artificial. Chegará o dia em que abandonaremos completamente a palavra “Europa” e chamaremos esta região de “Noroeste da Ásia” ou simplesmente de “Eurásia”? (Etimologicamente, a palavra Europa significa simplesmente “o oeste”, assim como Ásia significa simplesmente “o leste”).

Em seguida vêm a Austrália e as Américas. Estes não são certamente “novos mundos” para aqueles que viveram lá durante dezenas de milhares de anos antes de os europeus os descobrirem e só recentemente os terem renomeado. O nome latino Australásia é gradualmente substituído por Oceânia. Talvez isso seja bom, mesmo que “oceano” ainda não seja uma palavra nativa. Mas e o nome Austrália? Como isso poderia mudar? Quanto ao nome anglo-holandês “Nova Zelândia”, ainda poderia ser substituído pelo nome indígena Aotearoa. Quanto às Américas, não parece haver nenhuma alternativa séria sobre a mesa. Ainda é estranho que dois continentes tenham recebido o nome de um cartógrafo italiano que nunca viveu lá e os visitou apenas brevemente. Alguns sugeriram “Brasília” para a América do Sul, mas de qualquer forma é uma palavra gaélica escocesa que significa “Grande Ilha”. Quanto à América do Norte, “Ilha da Tartaruga” parece uma escolha improvável. A questão permanece, portanto, sem resposta.

Depois há toda a questão do próprio termo “Ocidente”. Esta é novamente uma construção. A Europa deve ser o “Oriente Médio” visto de Nova Iorque, mas Nova Iorque deve ser o “Oriente Médio” visto de Los Angeles e a Europa deve ser o “Extremo Oriente” visto de Los Angeles. No entanto, se abandonarmos o eurocentrismo, que está no cerne do problema, e colocarmos o Japão no centro, então Nova Iorque estará no “Extremo Oriente”, a Europa será o “Extremo Ocidente” e a Austrália, da cultura ocidental, deverá ser o “Extremo Sul”. Um dia teremos que encontrar termos exatos.

Renomeando guerras e história

A renomeação das guerras é outro problema causado pelo eurocentrismo. Os exemplos mais óbvios são a Primeira e a Segunda Guerras “Mundiais”, que na verdade deveriam ser renomeadas como Primeira e Segunda Guerras Imperialistas Ocidentais. Há, no entanto, uma infinidade de exemplos mais recentes. A Guerra do Iraque deveria na verdade ser chamada de Guerra Anti Iraque, tal como as Guerras da Coreia e do Vietname deveriam ser rebatizadas de Genocídio Ocidental na Coreia e de Ocupação do Vietname pelos EUA.

Se recuarmos ainda mais na história, encontraremos o ataque não anunciado dos japoneses à Rússia, chamado de “Guerra Russo-Japonesa”. Uma vez que o Japão foi usado como representante do Ocidente para este ataque (tal como a Ucrânia hoje), deveria ser chamada de Guerra Ocidental e Japonesa contra a Rússia. Depois, no século XIX, temos o chamado “Motim Indiano”, corretamente chamado na Índia/Bharat de “a Primeira Guerra de Libertação”. A Guerra da Crimeia deveria ser renomeada como invasão anglo-francesa da Rússia. Quanto às “guerras do ópio”, seria certamente mais apropriado chamá-las de “genocídios britânicos na China”.

Há também a renomeação de períodos históricos. O que é a “Idade Média”? Na Europa Ocidental, há pouco acordo sobre o significado deste termo, muito menos sobre o absurdo da sua utilização para culturas não-ocidentais. O que podemos dizer com certeza é que os ocidentais que viveram entre os séculos XI e XV, por exemplo, não pensavam que viviam na Idade Média. E então, quando aconteceu o “Renascimento”? E o que é arquitetura “gótica”? Tantos nomes que apenas denunciam os preconceitos e a ignorância de quem os inventou, geralmente séculos depois de terem existido.

Outro exemplo é a estranha expressão “anglo-saxão”. Hoje, curiosamente, tende a ser usado para “anglo-americano”. De qualquer forma, não tem nada a ver com os povos germânicos que eram chamados de anglos e saxões. Eles nunca usaram o termo “anglo-saxão” para se descreverem. Eles foram chamados de “Inglês”. Não pronunciamos “Inglês”, como hoje, mas sim “Inglês”. Eles eram os verdadeiros ingleses. Os normandos (que na verdade foram os últimos piratas e invasores vikings) vieram atrás deles, depois os anglo-normandos.

Estes últimos eram formados por normandos e mercenários traiçoeiros entre os ingleses, que não tinham identidade, princípios ou crenças (viviam principalmente em condições urbanas e não na terra). Eles escolheram conformar-se com aqueles que têm poder e dinheiro, isto é, a nova classe dominante composta por aristocratas e comerciantes famintos por poder e dinheiro. Isto é chamado de “Estabelecimento” porque são invasores estrangeiros que “se estabeleceram” explorando e implicando habitantes locais covardes e sem princípios. E os anglo-normandos ainda hoje constituem o establishment do Reino Unido. Quanto ao povo, ainda hoje é chamado pelo establishment de “plebe”, palavra latina que designa gente comum.

Na Europa continental a situação é semelhante. Assim, os francos na maior parte do noroeste da Europa e os lombardos na Itália substituíram as populações indígenas. No que hoje chamamos de França, eles substituíram os gauleses, no que hoje chamamos de Alemanha, eles substituíram os Wends e os Saxões. Também aqui deveríamos falar de franco-gauleses, franco-saxões, lombardo-italianos como o establishment dominante.

Conclusão

O que está claro é que o mundo pós-ucraniano inaugura uma nova era, o mundo pós-americano. Este mundo acabará sendo muito diferente da era americana de 1922-2022 (descanse em paz – se você puder descansar em paz). Como será chamado? A era pós-moderna? A era pós-imperial? A era pós-ocidental? A era pós-bárbara? A era global? A era multipolar? A verdadeira nova ordem mundial?

Nós, que estamos no alvorecer de tudo isto, descobriremos os nomes nos livros de história do futuro, que ainda não foram escritos. Tudo o que podemos ter certeza é que muitas, muitas mudanças não estão apenas no horizonte, mas estão acontecendo aqui e agora, diante dos nossos olhos atônitos, desde 24 de fevereiro de 2022. Preparem-se para mais convulsões históricas.

Fonte aqui


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