25 de Novembro — O nanico tem razão na celebração

(Carlos Matos Gomes, in Medium.com, 06/10/2023)


Mirrado e miúdo quando entrou para a Marinha e, depois, para a Infantaria, Francisco Franco iniciou a carreira militar com o apelido de “Fósforo nanico”. Era tímido, tinha a língua ligeiramente presa e passou anos a levar “caldos” dos colegas de academia militar. Não tinha propriamente o físico de futuro chefe, nem que fosse de turma. Mas “Paco”, seu outro apelido, tornou-se o mais jovem general europeu em 1926, passou a ser chamado de “El Caudillo” pelos seus camaradas de armas, designação até então reservada a guerreiros medievais, e comandou o período mais sombrio da história da Espanha moderna. A biografia é de Francisco Franco, mas podia adaptar-se com facilidade à de Carlos Moedas. Imaginem-no fardado e de bigodinho!

Franco, como Salazar, como Carmona, fazem parte de um tipo de políticos cinzentos, sombrios, que conseguem ofuscar e sobrepor-se a outros correligionários intelectualmente e profissionalmente muito mais competentes, brilhantes e carismáticos. Carlos Moedas é um exemplo contemporâneo desse tipo de “cinzentões” que surgem no topo das pirâmides de poder e levam as pessoas comuns a perguntar como é que um tipo como ele chegou ali.

Não foi por acaso. Eles, todos eles, trataram de colocar as pedras para percorrerem o seu caminho até porto seguro, no topo. Fizeram-no com vénias e sorrisos, como rafeiros, aceitando festas e palmadinhas, biscoitos. Mas sabendo sempre o que fazer. Por vezes estas personagens são associadas a estereótipos literários, caso de O homem sem qualidades, de Robert Musil, ou de Escuta Zé Ninguém, de Wilhelm Reich. É um perigoso erro de análise. A flexibilidade moral e indiferença pelos valores éticos transformam ‘um homem sem qualidades’ ou um zé ninguém em num ser reptiliano, serpenteante e invisível até lançarem o ataque. Estes nanicos conhecem a História. Numa época de aflição, de crise, será a eles que recorrerão os presidentes das grandes empresas, dos bancos, os dirigentes partidários, os filhos da burguesia arrependidos, os homens de Estado e os propagandistas. Eles, os nanicos, sabem que estes lhe darão o futuro e não lhes perguntarão pelo passado, nem pela consciência.

Moedas sabe porque deve anunciar a comemoração do 25 de Novembro de 1975, de que na atual geração ninguém (ou muitos poucos) sabe o que foi. Moedas sabe duas coisas: o seu mercado eleitoral é o dos neoliberais, dos adeptos do individualismo, do sucesso dos mais agressivos e sem escrúpulos, dos que acreditam na bondade e virtude da ditadura do mercado e que estão em transumância do PSD para a Iniciativa Liberal. Moedas quer ser o federador, o pequeno grande homem, o nanico dessa massa eleitora de direita. Depois, Moedas sabe o que foi a essência do 25 de Novembro de 1975. Basta ler um pouco do seu currículo.

Moedas é, antes de um tudo, um boy da grande banca de investimentos, um Goldman Sachs boy. Trabalhou em Londres na área de fusões e aquisições do Goldman Sachs, e no Deutsche Bank para montar o Eurohypo Investment Bank. No regresso a Portugal dirigiu a consultora imobiliária Aguirre Newman Cosmopolita, e criou a empresa de gestão de investimentos Crimson Investment Management. Sempre debaixo do guarda-chuva do Goldman Sachs, uma das principais empresas globais de banco de investimento e gestão de valores mobiliários. O único dos grandes bancos que sobreviveu à crise de 2008 e também aos enormes escândalos financeiros de desvio fraudulento de fundos e de corrupção política no sudoeste asiático.

Num artigo de Mafalda Anjos, na revista Visão de 4.8.2016, o Goldman Sachs materializa o que há de pior e mais imoral no capitalismo e na maior praça financeira do mundo. «A história do banco de investimento inclui ganância e jogos de poder, dinheiro a rodos, escândalos e escrúpulos q.b., arrependidos, denunciadores, cassetes secretas e até prostitutas contratadas para sacar negócios. A história do Goldman é feita com os mesmíssimos ingredientes da maior praça financeira do mundo e centro do capitalismo global: inteligência, trabalho e ambição, mas também imprudência e ganância, juntas num caldo de princípios éticos convenientemente deixados em “banho-maria”. Desde a sua fundação, em 1869, que a Goldman se tem visto envolto em escândalos financeiros de espécie vária, quase sempre no centro do furacão de bolhas especulativas e crashs estrondosos, e quase sempre com o mesmo desfecho: somar e seguir, maior e mais forte, depois de ajudar a evaporar milhões de euros dos bolsos dos investidores.»

É esta a escola de Carlos Moedas. A que pertencem outros portugueses ilustres: Durão Barroso, José Luís Arnaut e o falecido António Borges. “Goldmanites” é o epíteto pelo qual são conhecidos os altos quadros do Goldman Sachs, por vezes usado em tom de impropério, que ajudaram a fazer dele a mais desejada e vilipendiada instituição financeira do mundo.

Desde sempre que o Goldman Sachs se deita na cama com o poder político. Carlos Moedas não é o menino de coro que afirmou estar disposto a fazer tudo o que a Igreja Católica e o presidente da República (o patrono da sua carreira) lhe dissessem para fazer na preparação da Jornada Mundial da Juventude! Ele é um sabujo consciente e informado que está a fazer carreira política. Ele é um ativo da banca na política!

Ele sabe qual foi o objetivo principal do 25 de Novembro de 1975: desnacionalizar a banca! Abrir a banca, o coração do “sistema”, à iniciativa privada. A reprivatização da banca portuguesa teve como resultado a emergência de corsários bancários: BPN, BANIF, BPP, mas também o BPI, a espanholização da banca — isto é a colocação da banca portuguesa sob direção espanhola — e a eliminação dos bancos tradicionais, incluindo o Banco Português do Atlântico, o maior. Sobreviveu o BES até há pouco. O BES de Ricardo Salgado, que em desespero terá dito: Temos de pôr o Moedas a funcionar. Isto é, a fazer uns recados e a mover umas influências.

Ora, o Moedas está a funcionar, como sempre esteve, mas para ele. Vai celebrar o 25 de Novembro de 1975 e, sem qualquer pudor, referir os perigos da guerra civil, da substituição de uma ditadura por outra de sinal contrário. É um reportório mais do que estafado, mas o que interessa isso ao Moedas? Para ele a verdade é uma esponja! Ele é um faxina que está a funcionar com um balde e uma esfregona. Agora funciona por conta de Marcelo Rebelo de Sousa, que o tirou da manga como o seu jóker federador da direita, fiador dos grandes bancos, do clube Bildeberg, pau mandado do FMI e do Banco Central Europeu. Um homem acima de qualquer suspeita!

O 25 de Novembro de 2023 de Carlos Moedas é a celebração da vitória dos grandes banqueiros em 25 de Novembro de 1975. De fora ficará a memória dos tempos da troika, e também a memória de Ricardo Salgado, o que queria colocar o Moedas a funcionar antes de ser apunhalado. Talvez, no intervalo da sua doença, Ricardo Salgado repita a frase de Júlio César: Também tu, Brutus!

O Moedas, o nanico, está a funcionar, mas para ele próprio, servindo de tarameleiro de Marcelo Rebelo de Sousa, o verdadeiro pai da ideia de esvaziar as comemorações do 25 de Abril. Está montada mais uma farsa. Moedas é o truão da serviço. A comunicação social vai encarregar-se de soprar trombetas a anunciar o espetáculo!


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Banco Goldman Sachs – a ética e os negócios

(Carlos Esperança, 28/11/2’018)

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O banco Goldman Sachs, independentemente de ter estado ou não na origem da falência do seu concorrente Lehman Brothers, não usava certamente métodos diferentes. Talvez tivesse apenas mais apoio político ou melhores informações.

A crise financeira mundial e a consequente crise das dívidas soberanas de numerosos países teriam de acontecer, tal como as próximas, até à última, como vaticinou o grande teórico da economia cujo nome o capitalismo diabolizou, sem evitar as suas previsões.

Pasmo com o ar sério dos economistas encartados, que fingem acreditar no crescimento contínuo da economia e o prescrevem como remédio para todos os males, como se fosse possível crescer sempre. E aludem ao crescimento sustentado sem se rirem.

«As árvores não crescem até ao céu», nem a economia.

Sabe-se que o Goldman Sachs foi o único dos grandes bancos de investimento dos EUA que resistiu à crise de 2008. Está agora mergulhado num enorme escândalo financeiro de desvio fraudulento de fundos e corrupção política no sudoeste asiático (Ver notícia aqui).

É surpreendente que o banco que contratou José Manuel Durão Barroso para presidente do Goldman Sachs International, ainda durante a sua presidência da Comissão Europeia, não pela experiência na banca, mas pela mais valia ética que representava, possa agora ter caído em desvarios que lhe comprometem a honorabilidade e, onde mais lhe dói, os lucros.

Certamente que o antigo PM português não deixaria de alertar a Administração para os efeitos demolidores da conduta equivalente à do BPN, BPP, BES, Banif, Finibanco e outras empresas onde as mais brilhantes estrelas do firmamento cavaquista perderam a honra e o brilho.

Só não perderam os haveres porque, sendo desonestos, não são parvos, e a liberdade porque têm meios de fortuna para prorrogar os prazos até que os processos, após o ciclo biológico, subam ao Tribunal Divino cuja jurisprudência é desconhecida e irrelevante.

«Desvio fraudulento de fundos e corrupção política»! Onde é que nós, portugueses, já ouvimos falar disso!?

Barroso acusado de traição

(Por Soares Novais, in A Viagem dos Argonautas, 03/12/2017)

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Dusan Sidjanski, antigo professor de Durão Barroso, revelou em carta: “Cortei todos os laços com ele.” E Sidjanski, um dos mais prestigiados docentes da Universidade de Genebra, explica, assim, a razão de tão radical decisão: “Ele usou as instituições da UE para participar nos piores bancos globais.”

A acusação de Dusan Sidjanski, que além de professor foi amigo de Durão Barroso, foi conhecida na mesma semana em que a imprensa suíça tornou público o fim da ligação de Barroso à universidade onde estudou e agora dava aulas como professor convidado.

Para Sidjanski a ligação do Dr. Barroso ao Goldman Sachs é uma “mancha para a Europa”. Por isso, sublinha, “não posso acreditar que neste momento ele destrua a sua reputação a este ponto. Isso mostra que ele é fraco.”

(Dusan Sidjanski é um dos mais renomados e prestigiados académicos mundiais, Politólogo e professor universitário, Sidjanski nasceu em Belgrado, onde estudou na escola francesa. Sidjanski frequentou a Universidade de Lausanne e formou-se em Ciência Política na Universidade de Paris. Foi ele que fundou o Departamento de Ciência Politíca da Universidade de Genebra e é autor de várias e importantes obras).

A notícia de que a Universidade de Genebra (UG) não renovou o contrato do Dr. Barroso e prescinde dos serviços do “prof” foi tornada pública na última semana pelos jornais suíços, mas entre nós passou quase total e convenientemente despercebida.

O estabelecimento de ensino da Genebra não revelou as razões que o levou a não renovar o contrato com o professor Barroso, mas o jornal “Le Temps” adianta que o seu vínculo ao Goldman Sachs é o motivo para tão drástica decisão. Durão estudou e trabalhou nos anos 80 naquela universidade e agora dava ali aulas sobre políticas europeias.

Uma coisa é certa: a Universidade de Genebra considera que o banco de investimento norte-americano, que agora dá emprego a Barroso, é um dos grandes responsáveis pela crise financeira de 2008. Uma crise que, recordo, provocou a falência de estados e empresas e dizimou milhares de famílias em todo o mundo.

O “Le Temps” assegura que o meio académico suíço se considera “traído” por Barroso. Dr. Barroso que, antes de ser anunciada a sua contratação pelo Goldman Sachs, revelou aos seus pares que iria ter menos tempo disponível, pois iria trabalhar para uma “grande” entidade. “Disse-nos que não nos ia agradar”, lembra René Schwok, diretor do Instituto de Estudos Global, da Universidade de Genebra.

Como se vê, o Dr. Durão não se importou em desagradar e trair. O meio académico suíço e a presidência da UE foram apenas as camas de aluguer que utilizou para se deitar na alcova dos gangsters globais..

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PAPINIANO CARLOS – Depois de amanhã, cumprem-se cinco anos sobre a morte do poeta e escritor que é um dos mais destacados nomes do neo-realismo. Temos a obrigação de o manter vivo. Pela obra que deixou  e pelo exemplo de vida que nos legou.

ZÉ PEDRO – Frontal, irreverente, insubmisso foi assim o Zé Pedro dos Xutos & Pontapés. Um rebelde empenhado na defesa dos direitos sociais, que deu a cara pela despenalização do aborto e sempre se manifestou contra a guerra.

CULTURA DO FOGUETÓRIO – A falta de apoio à Cultura continua a ditar a morte lenta de muitos projectos. Apesar de Portugal ter um ministro que é poeta e do primeiro-ministro dizer-se socialista. Dizem que não há dinheiro para tudo. É mentira, pois não falta dinheiro para a festança. Eis um exemplo: a Secretaria Regional da Economia, Turismo e Cultura da Madeira vai estourar 1.819. 839,90 euros em iluminações de Natal e no foguetório de Fim de Ano. Isto, enquanto o apoio às Artes-DG Artes-Artes de Rua em todo o país se queda por uns insignificantes 250 mil euros.


Fonte aqui