Galamba e os princípios de Goebbels

(Carlos Matos Gomes, in Medium.com 14/11/2023)

Luís Paixão Martins, um dos grandes especialistas portugueses em Comunicação política e empresarial, certamente um dos de maior sucesso, que recentemente publicou um livro sobre o que são as sondagens, desmontou uma frase feita, um soundbyte destinado a criar efeito planeado, que serve de muleta em todos os meios de comunicação: “João Galamba é um ativo tóxico do PS”. Pode ser lido no seu FB e compara o que a comunicação — televisões e centros de propaganda dos partidos — fizeram com a figura de Sócrates. Segue-se a minha prosa:

O facto da frase que considera João Galamba um ativo tóxico do PS ser repetida até à exaustão em todos os grandes meios de manipulação e pelos funcionários que neles propagam as mensagens dos seus patrões prova que estamos perante uma campanha orquestrada.

As televisões são hoje igrejas universais do reino dos deuses e os seus funcionários — apresentadores e comentadores — são os pregadores, os missionários.

Se entendermos a missão, o objeto do negócio dos meios de comunicação (o core business — para utilizar a linguagem da moda) como o de empresas de propaganda é muito fácil decifrar as suas mensagens e campanhas.

Não é por causa do não se sabe o quê de irregular e indiciador de corrupção que Galamba é o alvo a abater e vai servir de tambor durante a próxima campanha eleitoral — o ativo tóxico que está no guião das televisões. É por causa dos grandes negócios que o seu ministério tutelava, é por causa do acesso à mesa dos concursos para as obras do Estado, potenciadas pelo PRR. Não deixa de ser curioso serem os que se afirmam liberais os que mais se batem pelos favores do Estado, pelos avales do estado, pelos lucros de negócios garantidos pelo Estado. Os liberais são, os principais corruptores do Estado, porque são os que mais dependem dele. As televisões são o seu meio de atirar areia aos olhos dos crentes para que não vejam o que se passa com os acusadores.

Quanto à campanha que se centra em João Galamba leiam-se os princípios da propaganda nazi, organizada por Joseph Goebbels e que serve de base a todas as campanhas de marquetingue político e empresarial, que são ensinadas nas escolas de ação psicológica militares e civis.

1.- Princípio da simplificação e do inimigo único.

Simplifique e não diversifique. Escolha apenas UM inimigo por vez. concentre-se num até acabar com ele.

3.-Princípio da Transposição

Transladar todos os males para esse inimigo.

4.-Princípio do Exagero e da Desfiguração

Exagerar as más noticias até as desfigurar transformando um delito em mil delitos criando assim um clima de verosimilhança.

6.-Princípio da Orquestração

Ecoar os boatos até se transformarem em notícias sendo estas replicadas pela “imprensa”.

Durante a campanha será utilizado o:

10.-Princípio da Transferência

Potencializar um facto presente com um facto passado. Sempre que se noticia um facto se acresce com um fato que tenha acontecido antes.

O caso Galamba é um caso construído segundo as regras de um velho manual de APSIC, que a geração da Guerra Colonial conhece, e também os militares que vão às televisões analisar as guerras na Ucrânia e na Palestina. E também os gabinetes de comunicação dos contendores.

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7 pensamentos sobre “Galamba e os princípios de Goebbels

  1. Após anos de compreensão através de viagens leitura,etc,etc, compreendi o quão psicologicamente doente é a sociedade Portuguesa. Como esta sociedade nos deixa loucos porque, façamos o que fizermos, nunca será bem feito. Quer sejamos ricos, pobres, inteligentes, estúpidos… nada funcionará e o peso que a sociedade coloca sobre todos dá os resultados actuais. Já não sabemos qual é a nossa posição. Porquê? Só a loucura ou a depressão tomam o seu lugar.

    1 em cada 2 Portugueses sofre de um culto da perfeição! Assim, 1 em cada 2 Portugueses nunca estará satisfeito, nunca estará feliz, estará sempre a gritar, estará sempre a apontar o dedo ao outro sem soluções. É claro que 1 em cada 2 Portugueses vai gritar com os outros sem dar o exemplo, porque um perfeccionista tem sempre razão e os outros estão sempre errados! Todos têm razão, todos estão errados.
    Bem-vindos ao manicómio dos Doze Trabalhos de Astérix.
    Algumas pessoas compreenderam isto e agem como individualistas ferrenhos. Cada um faz o que quer sem ter de prestar contas a ninguém, porque, faça-se o que se fizer, não vai resultar. É uma total desfaçatez a todos os níveis. Esta cultura está a criar uma sociedade individualista!

    Os Portugueses querem ser bem sucedidos. Ser felizes. Serem colectivos!
    Será que isso é tudo? Este país não os ajuda e, pior, empurra-os para baixo ou, na melhor das hipóteses, fecha-os em “caixas” de onde não podem sair.

    Durante estes anos completos (agora com 54), compreendi a minha personalidade, os meus defeitos, as minhas qualidades, as minhas capacidades cognitivas, as minhas contradições com este sistema, porque é que tive esta carreira e porque é que não tive outra carreira. Percebi onde devia estar e onde não devia estar. Compreendi as minhas emoções e as minhas necessidades. Compreendi o meu lugar na sociedade. Compreendi o equilíbrio.

    Tudo isto… não graças à educação nacional, nem ao Estado, nem aos meus pais, nem aos meus amigos… mas apenas porque decidi deixar de suspender a minha vida e, de facto, deixar de a suspender para os outros. Agora que fiz este trabalho em mim próprio, vejo que estou rodeado de pessoas tristes, cansadas, esgotadas, perdidas, frustradas, competitivas, individualistas, etc… e que fazem um trabalho que detestam, mas no qual estão presas. Consolam-se comprando o último carro, o último telemóvel, a última moda ou polémicas sobre assuntos efémeros e fúteis. Consolam-se tentando sair do trabalho 5 minutos mais cedo, e fazem o mesmo aos outros.

    Não estou a falar da desumanização do ser humano.
    Não estou a falar do impacto das redes sociais no nosso cérebro, criando défices cognitivos dignos dos tempos primitivos.
    A capacidade de atenção de uma criança é de 8 segundos, o que a impede de pensar muito à frente.
    Não estou a falar do impacto da alimentação ultra-processada e enriquecida com açúcares refinados, que alimenta a depressão.
    As redes sociais que criam comparações de vida a cada segundo também alimentam a depressão.

    Esta sociedade não é preguiçosa, está doente e envenenada por vários meios… (mídia).
    Ou o Estado toma consciência disso, ou cabe a cada um de nós dar os passos, assumidamente extremamente egoístas e individualistas, para que todos saiam desta situação com uma vida feliz e realizada.

    Pelo menos tento contribuir com a experiência e testemunho, que me permitiu uma melhor compreensão do mundo que nos rodeia através de exemplos concretos e reais.

    Ilustrando o problema oposto, daqueles que vivem confortavelmente da sua profissão, fechados “na sua bolha”, sem se aperceberem, por vezes mesmo sem conceberem, que as dos outros se estão a deteriorar a uma velocidade vertiginosa. Há uma diferença entre viver (ou sofrer!) a realidade e percebê-la através de vários prismas (meios de comunicação, informação estatística, etc.).

    Não há vontade de fazer o mínimo esforço porque se conhece fulano ou sicrano. Já vi pessoas entrarem sem qualquer experiência e tornarem-se directores ao fim de três meses (apesar de terem acabado de sair das saias das mães).
    Ainda não vi nenhum deles riscar o chão com os dentes. A única coisa em que são bons é passar o tempo em frente aos seus smartphones.

    E quanto mais o tempo passa, mais vejo tão deficientes como eu, a tornarem-se cada vez mais inertes, incompetentes e totalmente desinvestidos no seu trabalho, por isso consigo compreender o que se passa.

    Chegámos ao fim de um sistema que não faz sentido,cujo o povo está exausto. A nossa sociedade está demasiado formatada para questionar este sistema de fábrica de ovelhas. Mas sim a maioria da sociedade está totalmente fora de contacto com o mundo real! Todo o sistema está sem fôlego, assim como o nosso ambiente, exausto pelo desprezo da nossa sociedade insensível, embalada em solo incestuoso.

    Há alguma verdade nisto, sim, mas o facto é que a responsabilidade é de quem? Da sociedade? Da desculpa mais fácil, o sistema? A educação? A escola? A empresa? ? Tudo ao mesmo tempo? Algo que a dada altura nos escapou a todos e se tornou incontrolável, e para não acrescentar mais uma camada, tudo tem sido feito para que o Galamba seja o único responsável. Infelizmente, na minha opinião, é muito mais complexo do que isso.

    Também temos o sistema de vitimização que é constituído principalmente por indivíduos frágeis, incapazes de assumir responsabilidades, ocupados a apontar o dedo aos outros – todos exceto eles próprios, claro. Sim, esta geração deste sistema está mal adaptada ao mundo em que estamos a entrar. Sim, vai haver dor no processo de adaptação, como sempre acontece quando uma crise ocorre e, pelo seu próprio processo, inicia na vida do país indivíduos mais sólidos, capazes de assumir a liderança em direção a um futuro melhor.

    O sistema é o reflexo dos nossos governantes e da nossa sociedade. Deram-lhes os meios !

    Este sistema não prepara as pessoas para a realidade. O resultado é uma população que engole todas as mensagens transmitidas e, em última análise, pelas nossas “elites” que só querem uma coisa: que os mais pequenos sejam submissos, distraídos, apáticos, dóceis e estúpidos.
    Pessoas assim nunca desafiarão os poderes instituídos, por mais injustos que sejam.

    Por outro lado, uma enorme perda de sentido! Perda de identidade, também, com o excesso digital e, pior ainda, com o género e o wokismo da moda, portanto, perda de ancoragem e de sentido do tempo, da vida e do sagrado. Tudo isto faz parte deste desastre.

    O wokismo é o concentrado 2.0 de estupidez, ganância, incompetência etc …

    Para registro, usar a palavra “wokismo” é um elemento de vocabulário conotado.
    O mais triste é que, em muitos casos, pode ser substituído pelo “progressismo”, que mostra o profundo conservadorismo de quem o utiliza.

    Isto dá a impressão de um avião que voa a uma velocidade tecnicamente impossível de manter. O resultado é que as vibrações o destroem lentamente, mais depressa do que a tripulação consegue remendá-lo:
    – Ou abrandamos voluntariamente o avião e a tripulação e os passageiros,para trabalhar-mos em conjunto para o melhorar, de modo a que possa suportar as novas velocidades previstas,
    – ou o avião desintegrar-se-á progressivamente, com tantas tragédias quantos os passageiros que disputarão os poucos e velhos para-quedas escondidos na cabina e tentarão saltar sem qualquer noção de altitude!

    Os pilotos e a hierarquia de voo julgar-se-ão seguros ao fecharem o acesso aos lugares que lhes estão reservados. Mesmo que o seu desejo mais sincero, enquanto garantes temporários do voo, seja aterrar o que resta do avião para evitar a desintegração em altitude, o drama do provável acidente é suscetível de provocar um número máximo de vítimas.
    A equipa de voo será tentada a confiar nos seus para-quedas dourados e reforçados para poder aterrar e reorganizar eficazmente a sobrevivência do resto do grupo… A menos que saltem muito antes da queda!

    Só juntando as nossas forças e olhando realisticamente para além dos nossos “velhos valores” é que poderemos evitar uma tragédia.

  2. Sem dúvida! Admiro Matos Gomes, lúcido culto e corajoso! Sim, já preciso ser corajoso para dizer cousas simple e neste caso, bem ditas!

  3. Há ’empresários’ viciados em parasitar os recursos financeiros do estado. O novo lema liberal é simples: privatizar os lucros, socializar os prejuízos.

  4. Princípio da simplificação ou ‘o que não passa na TV não existe’. De repente, a Ucrânia e Gaza foram varridos para debaixo do tapete e todap a realidade do mundo ficou concentrada em João Galamba. O mestre Goebels, se ainda fosse vivo, estaria orgulhoso de tão virtuosos discípulos.

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