Tanta verdade junta mereceu publicação – take XXV

(Carlos Marques, 10/12/2022)


(Este texto resulta da resposta a um comentário a um artigo que publicámos de Stephen Bryen, ver aqui. Quanto ao referido comentário de André Campos: ver aqui. Perante tanta verdade junta, resolvi dar-lhe o destaque que, penso, merece.

Estátua de Sal, 11/12/2022)


E quem tornou a guerra inevitável?

1- Os EUA, ao insistirem em alargar a NATO e provocar e ameaçar ainda mais a Rússia; 2 – Os restantes países da NATO por aceitarem essas ordens dos EUA; 3- Os nazis ucranianos pois foi quem fez o golpe e ameaçou a vida dos muitos que são anti golpe Maidan.

E o que faz a máquina de propaganda (“imprensa livre” ou mainstream merdia) perante isto? Mente, manipula, omite, apoia os culpados, torce pela morte das vítimas do Donbass e Crimeia, atira a culpa para os últimos a intervir no conflito (Rússia), e ainda tem a lata de calar quem diz a verdade, e de perseguir quem defende a paz.

Sim, mais culpado do que quem faz a guerra, é quem a tornou inevitável. Mas olha que a culpa de quem mente sobre a guerra, branqueia nazis e crimes da NATO, e impede a maioria do povo de saber quem planeou, provocou, tornou inevitável, começou, e recomeçou a guerra violando acordos de paz, é também um cúmplice que merece muita condenação. Sem os “jornalistas” dos mainstream merdia, nada disto tinha sido possível. Portanto, nas mãos dos Rodrigo Guedes de Carvalho, das Ana Lourenço, etc, está também o sangue de todas as mortes que poderiam ter sido evitadas.

Que o Macron venha agora finalmente dizer que afinal tem que se negociar com a Rússia, tem de haver cedência territorial, e que as suas preocupações de segurança (feitas 2 meses antes da intervenção militar) têm de ser atendidas, só mostra a quão errada tem sido a posição do regime genocida ocidental, o quanto vai ter de mudar e engolir sapos, e o tamanho record das cambalhotas que os mainstream merdia ainda vão ter de dar.

É bom lembrar que Macron há 10 meses atrás pedia “só” para que a derrota da Rússia não fosse total e demasiado humilhante. Daqui a mais 10 meses, se continuar a pirueta completa, ainda ouviremos Macron a dizer que a Finlândia afinal não pode entrar na NATO, que não podem ir mais armas para a Ucrânia, e a pedir desculpa por ter traído o acordo de Minsk ao ajudar quem o violou. Deste ponto de vista, até vai ser engraçado observar as piruetas e cambalhotas.

E ainda agora está a começar o primeiro inverno desde o “início” desta estória… E ainda agora estão os 300 mil mobilizados a terminar os treinos… E ainda agora começou muito levemente o conflito económico (ainda só muito discretamente e com palavras muito tímidas), entre EUA e UE… E isto chega a um certo ponto em que já não é como começou, mas sim como acabará.

Do “nosso” lado, mente-se descaradamente e, quando se descaem (por exemplo sobre o PROPOSITADO bombardeamento ucraniano de falsa bandeira na Polónia, ou a Ursa can der Lata a falar dos 100 mil mortos nas tropas ucranianas), logo apagam tudo e assobiam para o lado. É mentira em cima de mentira. A partir de certo ponto o castelo de cartas começa a ruir!

Do outro lado a Rússia, mais propaganda menos propaganda, sabe o que está em causa, apoia a intervenção, e é informada sobre a realidade inconveniente: tem havido problemas. Até Putin já o reconheceu. Isto, para mim, foi a confirmação de que a Rússia irá ter uma vitória clara neste conflito. Quem fala abertamente, defende os factos, admite os problemas, e os resolve, é quem fica melhor no final.

Do lado de “cá”, a Rússia é o diabo, os nazis afinal são bons, a Crimeia é ucraniana, a NATO é defensiva, as sanções são legais e funcionam, os 100 mil mortos são do exército russo, a Rússia bombardeia-se a si própria na central nuclear, nenhuma bomba UcraNaziNato mata civis em Donetsk, e o herói e homem do ano, Zelensky, é o honesto democrata que está a levar os santos Azov até à vitória, em nome da liberdade. Se não fosse caso para chorar, dava para rir com o chorrilho de alarvidades ridículas com que esta gente constrói a narrativa ocidental.

Agora sei como se devem ter sentido pessoas como Stauffenberg[1], só não sei se alguém terá coragem e meios para fazer com sucesso uma operação Valquíria…
É que agora não basta um pequeno explosivo na Toca do Lobo. Há alcateias por todo o lado, e até já um conhecido judeu sionista veio dizer que os nazis ucranianos não são maus porque não matam judeus, “só” matam outros.

Este é o nível zero da decência da nossa civilização. Já tínhamos atingido este nível várias vezes na história, nas acho que, em particular na Europa, é a primeira vez que tal acontece com uma conjuntura em que o resto do Mundo tem meios e força para se livrar de nós ou pelo menos nos deixar para trás.

Na tentativa patética dos EUA de parar a SCO (Rússia + China + Eurásia) de forma a manterem a sua hegemonia, a Europa foi derrotada logo na primeira jogada, como um peão descartável. Que gente como Sanna Marin venha mesmo assim dizer que a Europa precisa dos EUA, só mostra o nível de traição ou ignorância destes “líderes”.

E aqui vamos à culpa que mais afeta os europeus: quem tornou inevitável a implosão de um projeto europeu de nações soberanas em cooperação para alcançar uma aliança continental com independência estratégica em relação aos EUA.
Por mim, era pôr todos os €uropeístas USAtlantistas atrás das grades.

Tiraram-nos a soberania, a democracia, a paz, a independência, a decência, a verdade. Tiraram-nos 20 anos das nossas vidas, a estabilidade, o crescimento, a distribuição de riqueza, os direitos, o Estado de bem-estar social, e agora tiraram-nos também o futuro.

Dito de outra maneira, o povo europeu está agora a perceber na pele o que é ser vítima do colonialismo europeu. Agora que os outros povos já são fortes de mais para colonizar, para assaltar, para aldrabar, as “elites” predatórias ocidentais viraram-se para os seus próprios plebeus. E esta nem é a parte mais triste. A parte mais triste é que o rei vai nu, e os plebeus, todos rotos, batem palmas ao rei, e atiram pedras a quem aponta o dedo e diz a verdade.

E foram os fanáticos e/ou corruptos €uropeístas USAtlantistas e seus vigaristas amestrados dos Mainstream Merdia quem tornou tudo isto inevitável. Quando serão condenados? Ou pelo menos criticados pela maioria, e substituídos por gente decente, honesta, e com princípios?

A resposta àquela pergunta é o que mais me faz doer o coração: NUNCA! Tal é o nível de manipulação e lavagem cerebral e o quão longe chegam os tentáculos desta máquina de corrupção e propaganda. Ao ponto de colocar do mesmo lado um Mário Machado e uma Ana Gomes, militantes do BE e militantes do Svoboda, gente do país do MFA e gente do país dos Azov, etc.

Como é que se combate isto?!


[1] Militar alemão que patrocinou um atentado contra Hitler, na chamada operação Valquíria.


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10 pensamentos sobre “Tanta verdade junta mereceu publicação – take XXV

    • Por isso é que eu só escrevo comentários em blogs e por vezes numa rede social, não escrevo nos Mainstream Merdia, que é onde pode ler os textos sem qualquer lição moral, entretidos, leves, e cheios de sabor. Os superficiais são assim e eu não os quero mudar. Apenas desabafar. Se a EstatuaDeSal de vez em quando acha que deve dar destaque, eu agradeço. Mas gosto mesmo é de ler o que outros têm para dizer, e que a EstatuaDeSal muito bem aqui publica. E tanta gente comenta bem também por aqui. Concorde-se mais ou menos, ou discorde-se mais ou menos. Aqui vai existindo conteúdo e pluralismo. É por isso que venho aqui, e já não coloco os pés num Mainstream Merdia há muitos meses (tirando uns screenshots que não consigo evitar nuns blogs ou numa rede social). Aqui vai-se dando espaço a quem quer escrever, comentar, e a quem quer ler, e debater. Sempre com conteúdo. Porque quem tem algo a dizer, tem conteúdo, tem pensamento. Outros têm também muito pensamento, mas preferem não comentar. Mas… e você, tem alguma coisa para dizer, alguma coisinha a passar dentro desse crânio e que resulte em mais que uma linha?

    • Já foi CEE, já foi CE, e tem sido EU. Agora vai passar a ser CEU: Colónia dos Estados Unidos. Do que tenho lido, não costuma acabar bem para quem se deixa colonizar por esses tipos…

  1. Este admirável texto, é tanto mais justo que basta ler os planos dos EUA desde o fim da Segunda Guerra Mundial, para saber que destruir e partilhar os espojos da URSS e agora da Russia, foi sempre o objectivo dos americanos, plano que subtilmente impuseram à UE “ocupada” pela NATO/EUA , instalada confortavelmente nas centenas de bases militares espalhadas pela Europa e no Mundo. A Ucrânia veio em seu tempo como o ferro de lança ideal da Grande Armada ocidental, apos a queda da URSS, os paises de Leste do obsoleto Pacto de Varsóvia vindo fortalecer os flancos do ogre atlantista. Nada foi deixado ao acaso ! A cereja sobre o bolo sendo a adesão da Finlândia e da Suécia à NATO. O que o corpo expedicionário americano nao pôde realizar nos anos 20 na Sibéria, graças à resistência do jovem Exército Vermelho, seria realizado a partir do Oeste! Tal é o plano…

  2. Parabéns por este excelente texto Carlos Marques ….

    Recusamos a ideologia totalitária da construção e do pensamento único (ditadura ocidental e o novo totalitarismo cego em que não nos é permitido pensar de outra forma que não seja pelos seus pontos de referência. Esta fixação ideológica não permite ao Ocidente ver as mudanças dos outros e saber que não constitui a comunidade internacional.
    Roma desabou sob o ataque dos bárbaros.

    Pelo meu pequeno conhecimento histórico, os Vikings ocidentais invadiram as Ilhas Britânicas, a Normandia, Malta, etc. Os Vikings orientais (RUS) conquistaram as partes do nordeste da Europa, incluindo a Ucrânia. A origem da Rússia pode portanto ser rastreada até uma área ucraniana e anteriormente até à Suécia. A Rússia não poder negar as suas origens talvez seja uma explicação para o actual conflito?

    A guerra na Ucrânia, e não só compreendemos como o “mundo” está a ir neste momento, porque a Europa não está a ir muito bem, e em parte devido às más escolhas feitas pelos seus líderes.
    Certamente não somos um bom exemplo para os outros países do Planeta, e continuamos a mostrar que uma Democracia pode facilmente tornar-se “muito elástica” de acordo com os seus interesses..

    Infelizmente, as pessoas no Ocidente estão totalmente desligadas da realidade no terreno.

    As perdas ucranianas são muito consideráveis. O que vemos hoje é uma guerra de desgaste, que poderá transformar-se num conflito mundial.

    Está a tornar-se cada vez mais claro que esta crise nas fronteiras da Ucrânia e da Rússia esconde uma crise na Europa devido às rivalidades entre Inglaterra, Alemanha e França. A Inglaterra continua a desempenhar o seu papel histórico de dividir os países do continente europeu e o chamado casal franco-alemão demonstrou a sua incapacidade de trabalhar em conjunto para a segurança da União Europeia através da implementação dos acordos de Minsk, que os americanos obviamente têm trabalhado para sabotar.

    A situação do nosso país em termos de energia e economia deve ser entendida como o resultado de uma política de enfraquecimento levada a cabo contra o nosso país pela Comissão Europeia, impulsionada principalmente pela Alemanha.

    A Europa não fez nada para evitar esta guerra, uma vez que os motivos anteriores dos nossos incompetentes estão voltados para o esgotamento dos combustíveis fósseis e para as alterações climáticas. Apresentam-nos uma reedição dos nazis contra os soviéticos, mas de facto o objectivo inabalável desta guerra é cortar as energias russas, a fim de tornar os combustíveis fósseis mais caros e menos acessíveis, porque todos os indicadores mostram que precisamos de acelerar o ritmo, não há tempo para dar as chaves dos bloqueios legais nas COP (COP21), precisam de acelerar a transição energética
    Assim, deixam o golpe de Estado dos ultranacionalistas ucranianos em 2014 cair na exasperação dos russos, cujos métodos conhecemos. Portanto, não há necessidade de uma conspiração, apenas uma convergência de interesses entre incompetentes que se manipulam uns aos outros. Os riscos são subestimados de ambos os lados..
    Sem dúvida foi necessário dramatizar a transição, de forma incompetente..

    Há muitos cépticos , mas visto de longe, de onde eu estou, os europeus estão a perder o seu poder de compra, o mercado do petróleo e do gás é a favor dos americanos que fizeram muito dinheiro, para não falar do renascimento da máquina petrolífera americana, Os comerciantes de armas americanos estão encantados com os maiores números de vendas jamais vistos, a Ucrânia está ainda mais pobre e em mãos americanas (ver quem é dono da terra com o melhor trigo), a moeda europeia está em colapso, as fábricas vão ser relocalizadas novamente devido ao custo da mão-de-obra e da energia na Europa. …MAIS DESEMPREGO….ETC. Pobres europeus!!!

    A Rússia ainda é forte e a economia também. A inflação é estável, tendo mesmo caído e tendo mesmo um melhor desempenho do que os países bálticos ou escandinavos, o desemprego é muito baixo (cerca de 3-4%), e o rublo continua a ser uma moeda forte.

    Os americanos querem negociar com a Rússia a fim de não perder os benefícios da privatização americana da Ucrânia através do acordo assinado entre a BlackRock e o Estado ucraniano, a fim de não perder, entre outras coisas, os pagamentos mensais do leasing relativos aos reembolsos das armas dadas à Ucrânia pelos Estados Unidos, que não são dadas mas, dependendo do caso, emprestadas ou alugadas. Observamos que na sequência da intervenção americana sobre Charles Michel, de acordo com media alemã, é a UE que paga estes pagamentos mensais aos EUA através da Ucrânia. Contribuinte europeu! Está a pagar pelas armas dadas a Zelensky por Biden.
    A coligação ucrano-russa, que se tornou uma “coligação russa” pela ligação dos territórios ucranianos à Rússia, terminará o trabalho no Donbass e Odessa e levará Kiev. É assim toda a Ucrânia que passará sob a bandeira deste..
    “Coligação Russa”.
    Os americanos perderão todos os seus investimentos na Ucrânia. A única negociação será a capitulação do exército ucraniano. As outras opções que são impulsionadas pelos media, tais como os americanos ou a UE manter um pé na Ucrânia, são apenas blá blá blá blá para tentar justificar a ruína dos europeus.

    Todos são livres de ouvir o que quiserem e de se entusiasmarem com a tese de que gostam.
    Pessoalmente, este conflito não é uma guerra assimétrica entre a Rússia e a Ucrânia, quando na realidade é uma guerra assimétrica entre o Ocidente americano e a Rússia.

    Quem beneficia com esta guerra? Resposta: os ocidentais ricos..

  3. Os filmes e séries policiais criaram-nos a sensação que a Mafia estava controlada, se não mesmo derrotada.
    A corrupção e o medo que grassam nas nossas “líderanças”, instituições, comunicação social e na sociedade em geral demonstram que a Cosa Nostra domina.
    E não é aquela associação criminosa relativamente limitada que se via na TV ou nas telas dos cinemas, é um polvo monstruoso, agressivo, omnipresente, com tentáculos transnacionais que sugam recursos e destroem tudo em que tocam.
    Lembram-se como os personagens que denunciavam a obscura organização eram ridicularizados, ostracizados e mortos?
    Agora são apelidados de “teóricos da conspiração” ( “putinista”, neste caso) pelos mérdia e o resultado ainda é mais eficaz. Só em casos extremos sofrem um “acidente”.
    No entanto, o controle é tal que permitimos casos como o do Assange e nem sequer pestanejamos.
    Que “admirável” é este mundo “novo” em que vivemos.

  4. Mais um texto belíssimo que agradeço do todo o coração ao seu autor e à Estátua de Sal. Para entender melhor estas temáticas e a sua profundidade e também o impacto na Europa actual aqui deixo uma entrevista memorável da porta voz do MNE russo, Maria Zakharova, a que todo o jornalista deveria assistir (e não só, todos os europeus!) em https://youtu.be/BBr1sN4Qo0I
    Espero que um dia seja traduzida, mas tentem o tradutor automatico, pois é muito interessante ouvir.

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