Ensaios sobre a lucidez

(Miguel Sousa Tavares, in Expresso, 09/12/2022)

Miguel Sousa Tavares

Comecemos pelas casas de banho e balneários nas escolas públicas, um tema pertinente e candente que interessa aos alunos que se declaram de sexo indeterminado ou contrário àquele que aparentam ter (peço desculpa por eventual imprecisão, mas isto é de compreensão difícil para leigos). Houve um primeiro despacho do Governo a regulamentar o assunto, em 2019, mas o Tribunal Constitucional declarou-o inconstitucional por ser matéria reservada da AR, sendo então retomado por projectos de lei do PS e do BE. E esses projectos foram agora a parecer do Conselho Nacional de Ética e Ciências da Vida, cujos conselheiros se dividiram: alguns propõem que às casas de banho e balneários já existentes, para rapazes e raparigas, se acrescentem novas construções para sexos indeterminados; outros, mais simplesmente, propõem que as casas de banho já existentes passem a ser “neutras”, servindo todos os sexos — existentes, declarados e a existir ou a declarar no futuro. Sobre isto e as soluções propostas tenho várias dúvidas substanciais e uma terminal.

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ILUSTRAÇÃO HUGO PINTO

São dúvidas substanciais as seguintes:

— uma casa de banho é um lugar onde se satisfazem necessidades fisio­lógicas ou é um lugar onde se afirma a identidade sexual perante o mundo?

— se, como pretende o segundo grupo de conselheiros, todas as casas de banho e balneários devem passar a ser de regime livre, como se assegura o apregoado direito à intimidade, por exemplo, de raparigas assumidas como tal que veem entrar nas suas instalações um rapaz que ali vai satisfazer as suas necessidades a pretexto de que se sente rapariga? E quem garante que está a ser genuíno?

— mas se, pelo contrário, se optar pela solução alternativa de cons­truir um terceiro género de instalações para o terceiro género de orientações se­xuais, calcularam os conselheiros defensores desta solução quanto custaria ao país — em grosso e por aluno interessado — proceder a esse acrescento nos milhares de escolas públicas?

— e, já agora e por força do princípio da igualdade, por que razão se há-de limitar este revolucionário direito a jovens quase todos menores de idade? Não deveria ele ser estendido a todos os portugueses e, por maioria de razão, a adultos com a sexualidade mais bem definida, em todos os edifícios públicos e privados do país?

Quanto à dúvida terminal, é muito simples:

— este importantíssimo passo, a que poderemos com justiça chamar a “Revolução das Casas de Banho”, é mesmo essencial para melhorar a qualidade da democracia e da vida em sociedade? Não seria mais digno darmos casas de banho decentes aos trabalhadores imigrantes da agricultura alentejana?

2 A mando do Chega, prepara-se uma revisão constitucional que temo seja pretexto para infestar a Constituição com mais um elenco de direitos e garantias que mais parecem saídos de um programa de Governo ou de uma aula de catequese do que de um texto fundamental. Quando foi feita, em 1976, os constituintes gabaram-se de ter parido a segunda maior Constituição do mundo, só atrás da da então Jugoslávia, ignorando que a História tinha já ensinado que quanto mais pequena é uma Constituição mais fiável, duradoura e respeitada se torna. Agora, entre outros acrescentos e “aperfeiçoa­mentos” ditados pelas modas do tempo, pretende-se criminalizar constitucionalmente os maus-tratos e abandono de animais. Mas uma Constituição não é um Código Penal, e mesmo um Código Penal não consegue reprimir aquilo que tem que ver com má-educação, maus instintos e má natureza. E, como disse alguém cujo nome infelizmente não retive, como se pode pretender criminalizar o abandono de animais e não o fazer para aqueles que abandonam seres humanos, os seus pais ou avós, em hospitais, lares ou sozinhos em casa? Se eu pudesse, acrescentaria apenas um artigo novo à Constituição: “São proibidas todas as formas de demagogia.”

3 A poucos dias de mais uma tentativa de votar uma lei da eutanásia que há nove anos se arrasta num exaustivo processo legislativo no Parlamento (e tudo menos precipitado, como disse Cavaco Silva), Luís Montenegro veio, a destempo, propor um referendo. É lícito que ele tenha — como eu tenho e tantos têm — dúvidas, porventura insolúveis, sobre a eutanásia. Mas para aqueles que ainda mais licitamente a reclamam para si mesmos não vejo que “outras alternativas” de que ele fala pudessem ser consideradas através de um referendo ou de mais um adiamento.

4 Para um jornal como o “Público”, que, desde o início da guerra na Ucrânia, subscreveu abertamente as posições e a informação da NATO e do Ocidente no conflito, é de saudar a entrevista feita ao historiador russo Yuri Slezkine. Embora Slezkine seja um historiador da nova geração, crítico de Putin e do regime e de há muito a viver nos Estados Unidos, como professor em Berkeley, o seu olhar sobre o conflito não deixa de reflectir uma outra visão das coisas — que a informação dos media ocidentais tem sido comodamente avessa a escutar. Sobretudo quando ele procura na História parte das razões do conflito — mais uma aversão dos comentadores pró-NATO, que acham que a História começou a 24 de Fevereiro: “Como historiador, não consigo imaginar nenhum governante russo, nenhum czar, nenhum secretário-geral do partido comunista a dizer que se a Ucrânia se quer juntar a uma aliança militar hostil está no seu direito… Se a NATO está a aproximar-se e a tornar-se mais hostil, o que faria se estivesse no Kremlin?” Slezkine recorda, aliás, como a Rússia pós-soviética tentou várias vezes aproximar-se do Ocidente — inclusivamente, pedindo a adesão à NATO — e foi sempre repudiada.

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Agora, que o Parlamento Europeu declarou a Rússia como um “Estado patrocinador do terrorismo” — uma figura inexistente no direito público internacional — e se fala na criação de um tribunal ad hoc para julgar retroactivamente os crimes de guerra russos na Ucrânia, as subsequentes declarações de Ursula von der Leyen parecem trazer alguma luz ao objectivo pretendido: condenar a Rússia ao pagamento de uma indemnização de guerra, destinada a financiar a reconstrução da Ucrânia e o custo de todo o armamento que lhe foi sendo fornecido para manter a guerra. Custo estimado: 300 mil milhões de euros — equivalente ao montante das reservas russas, públicas e privadas, congeladas em bancos ocidentais. A arquitectura jurídica que teria de ser montada para pôr de pé esta operação não tem precedente algum no direito internacional, nem sequer nos Acordos de Versalhes ou de Nuremberga, subverteria de futuro todo o comércio mundial e as próprias relações entre Estados e, obviamente, equivaleria a uma declaração de guerra formal à Rússia, com consequências permanentes para a paz no mundo e, em especial, na Europa.

É suicidário que seja a própria Europa a escolher este caminho e a recusar qualquer via negocial para o fim da guerra. E é incompreen­sível que o faça no momento em que os Estados Unidos dão sinais crescentes de estarem fartos desta guerra e cada vez mais virados para o Oriente, ao mesmo tempo que a uma Europa que já está a pagar, na energia e nos alimentos, o grosso da factura de guerra se preparam para lhe acrescentar o custo de uma guerra comercial “aliada”, desencadeada pela nova Lei de Redução da Inflação, autêntica machadada nas exportações europeias para os EUA. Já houve tempos em que o secretário de Estado Kissinger, para se justificar de maltratar a Europa, dizia que não sabia o número de telefone da Europa, querendo significar que não sabia quem respondia pela Europa. Esses tempos parecem repetir-se agora, mas com uma diferença: já há um número de telefone na Europa — é o do secretário-geral da NATO.

A “ressuscitada” NATO, tão saudada pelos europeus, que deveria ser o braço armado da política externa consensual do Ocidente, é hoje, pela mão do seu secretário-geral, apenas o braço armado da política externa americana — da Ucrânia até à China. Mas Stoltenberg é também, e se repararem, o ministro dos Estrangeiros da Europa. É ele quem viaja pelas várias capitais europeias, quem está presente em todos os fóruns, quem fala antes e acima de todos os dirigentes europeus não sobre a disposição de forças ou sequer sobre a política de defesa europeia mas sobre a política externa europeia — da Ucrânia até à China. Agora, quando os americanos querem falar com a Europa, falar pela Europa ou dar ordens à Europa, telefonam a Jens Stoltenberg.

5 Desde que a selecção de futebol chegou ao Catar, Cristiano Ronaldo fez tudo para chamar sobre si o exclusivo das atenções, e os jornalistas portugueses presentes fizeram-lhe a vontade, massacrando-nos diariamente com as novelas à volta do CR7 como se nada mais existisse de importante do que ele e os seus estados de espírito. E mesmo depois de três jogos de absoluta desilusão e de uma manifestação de mal-educada insubordinação contra o treinador, não ouvi nem li, entre as dezenas de jornalistas e comentadores de futebol que pululam por todos os lados — desde o mais insignificante estagiário até aos mais encartados, como Marcelo Rebelo de Sousa —, um só que se tenha atrevido a defender a sua saída da equipa. Porém, atreveu-se, enfim, o treinador. E, como já se tinha visto no ensaio geral contra a Nigéria, a equipa joga infinitamente melhor sem ele, liberta da escravidão de ter de servir os seus interesses pessoais, os seus recordes, o seu egoísmo, o seu ego. É, de facto, uma tristeza ver terminar assim uma carreira verdadeiramente notável, mas não se pode ajudar eternamente quem não quer e tudo faz para não merecer ser ajudado.

Miguel Sousa Tavares escreve de acordo com a antiga ortografia

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7 pensamentos sobre “Ensaios sobre a lucidez

  1. Bom, se uma casa de banho é simplesmente onde se faz as necessidades fisiológicas, a própria separação por género não faz sentido por definição, não? Um rapaz ou uma rapariga (estranho que estas nunca existem nas cabecinhas, já vão a meio caminho de assumir) que se identifique como outro género não vai, passa a ir. Se sendo sério já não é agradável ser um corpo estranho objectificado, porque haveria de o ser no caso oposto? O macho ibérico só não anda nú porque é proibido? Passa-lhes na cabecinha que a adolescência é sempre uma luta pela própria identidade face às opiniões mais ou menos exteriorizadas dos colegas, ou isso não atinge as famílias de bem nos colégiozinhos onde andaram?
    Não sei, Miguelito, dar oportunidades a que os adolescentes não se sintam pressionados a acabar com a vida parece mais importante do que ilegalizar o que já é ilegal, mas isso sou eu. Se é esse o seu problema, não devia estar preocupado, porque devia saber que não é para cumprir. Sei lá, pá, a coisa da demografia e dos futuros unicórnios que se deviam aproveitar parece que eram só retórica para tentar voltar a ser relevante.

  2. Deve ser milagre. Leio um texto do Miguel Sousa Tavares e chego ao fim a concordar com tudo, todos os pontos, todas os argumentos, todas as frases. Não acompanho o Mundial da vergonha no offshore do NeoLiberalismo Ocidental (a ditadura do Catar), mas sobre o CR7 (Cu Rapist 7) só posso subscrever este texto. É uma opinião futebolística que já tenho há vários anos.

    É interessante notar como numa vergonhosa competição para ver quem é o melhor vassalo, as colónias Europeias se atropelam a ver quem beija mais a mão do Stoltenberg, quem obedece mais aos EUA, e quem dá mais tiros nos pés em nome da guerra da NATO contra a Rússia. Os vassalos (desde os tímidos como A.Costa até até às mais desavergonhadas como S.Marin) são agora mais papistas que o papa. Ou melhor, mais USAmericanistas que os próprios savanas do establishment e do “governo” dos EUA.
    Que vergonha, mesmo.

  3. “Devemos condenar aquele que torna a guerra, mas devemos condenar mais aquele que tornou a guerra inevitável.
    Os responsáveis pelas guerras não são aqueles que as iniciam, mas aqueles que as tornaram inevitáveis”…
    Citação frequentemente atribuída a Montesquieu (ou de uma forma ligeiramente diferente).

    Qualquer ideologia Globalista só pode ser hegemónica, uma vez que afirma expandir-se por todo o planeta.
    Da mesma forma, qualquer governação mundial só pode ser totalitária e unificadora.
    É evidente que a ideologia Global-socialista (a dos americanos, nomeadamente “democratas”, dos hiper bilionários de Davos como Gates, Soros ou Klaus Schwab, bem como dos seus vassalos, nomeadamente europeus) que procura impor um Mundo globalizado unipolar sob uma governação mundial (a deles!) Só pode ser hegemónica em relação aos povos que desejam preservar a sua cultura, os seus hábitos e costumes, a sua civilização…
    Estes actores no âmbito do Global-socialismo só podem, por conseguinte, ser os verdadeiros fazedores de guerra mesmo quando agem, discretamente, apenas por desestabilização ou provocação para forçar outros a reagir “visivelmente”.
    Este mundo unipolar que tentam impor só pode ser esclerótico e totalitário para os seus cidadãos, e só irá esmagar a diversidade que, muito geralmente, é uma riqueza porque é uma fonte de potencialidades e caminhos…

    Um mundo bipolar só pode ser instável, violento e perigoso (historicamente, a guerra fria)…
    Apenas um mundo multipolar em equilíbrio dinâmico pode permitir o desabrochar da Humanidade em Liberdade.
    E queremos que surja um mundo multipolar onde nenhum pólo ou associação de pólos possa assumir a ascendência sobre os outros (porque há sempre demasiados), um mundo onde as trocas económicas serão feitas de acordo com a regra da oferta e da procura, não distorcidas por guerras, interferências ou desestabilização interna … nem pela posse/mestado por apenas um destes pólos da unidade de troca de referência.

    Finalmente, para atingir os seus objectivos, o Socialismo Global deve ou infiltrar-se (desestabilizar internamente e/ou inserir os seus próprios homens) nas estruturas do poder estatal ou esmagar militarmente/economicamente todos os estados do planeta, mas especialmente e em primeiro lugar os mais poderosos, bem como as zonas economicamente fortes que poderiam constituir os principais pólos de um futuro mundo multipolar.
    Este seria o caso da Grande Europa, desde o Atlântico até aos Urais.
    É por isso que quando Putin pediu à Rússia para aderir à NATO, os americanos recusaram.
    Tiveram absolutamente de fracturar esta Grande Europa antes da sua emergência.
    Precisavam de dividir este pólo potencial de um mundo multipolar a fim de melhor governar o planeta:
    A Rússia contra a Europa Ocidental!
    Depois de ter colocado as suas marionetas no topo da Europa e dos principais países europeus, o Socialismo Global utiliza a Nato para provocar a Rússia e criar a linha de falha.
    Além disso, os americanos não têm nada a fazer no nosso continente, estão aqui apenas para se fracturarem.
    Os russos não posicionam os seus mísseis em torno dos EUA..

    Quando os homens compreenderão que esta guerra não é uma guerra simples, mas uma verdadeira guerra espiritual e económica, os homens perderam de tal forma a sua razão que estão cegos pelo ódio e as cabras de ambos os lados aplaudem e encorajam, não vêem tudo o que está no horizonte.

    O Ocidente está falido, o sistema financeiro capitalista está em falta, os défices são demasiado grandes, pelo que criaram um conflito e uma situação de escassez à escala global. Escondem-se atrás do COVID, depois atrás da situação climática desastrosa que criaram, e agora atrás da Rússia. Uma coisa é certa, os pequenos povos estão habituados a lidar com as dificuldades impostas pelo Ocidente. Veremos como os líderes ocidentais irão lidar com o seu povo quando estes compreenderem que os têm andado a tramar..

    A Rússia e os Estados do Golfo foram os principais financiadores das obrigações soberanas ocidentais. Depois da China, que preferiu gastar os seus dólares excedentários na construção de estradas em vez de comprar títulos do tesouro americano, os russos e os sauditas deixarão de financiar a dívida pública: congelar os activos russos foi uma ideia catastrófica porque será complicado rolar agora a dívida…

    Quanto ao embargo da Rússia a algo que não seja gás e petróleo, estamos à espera para ver o que a Rússia fará com as suas relações com “países hostis” e, acima de tudo, quando há carvão, urânio (os EUA dependem em 50%), outros metais (alumínio e titânio em particular), fertilizantes, cereais… E até as garrafas de vidro em que os belgas bebem cerveja.

    No que diz respeito ao clima, estamos em condições que nos comparam com 2010. É um erro, mas os registos de 2009 foram apagados pelos de 2010, por isso tudo de 2009 foi esquecido…

    A mensagem é clara: 2023 será pior que 2022

    A europa vai ser a principal parte do mundo a sofrer a força total das sanções contra a Rússia. No final, o interesse da Europa neste momento não é ser o aliado dos Estados Unidos, mas sim o aliado da Rússia. Contudo, na realidade, o verdadeiro problema advém da tomada em consideração das utopias ambientalistas que nos levaram a abandonar o nosso desejo de autonomia energética. Em conclusão, os nossos líderes míopes conduziram-nos ao abismo.

    Continuamos confrontados com o mesmo problema, ou seja, que com uma dívida abismal..
    Além disso, a sobrevivência da Zona Euro depende disso. Se o BCE aumentar fortemente as taxas de juro para combater a inflação, os investidores terão de lidar com o pânico de se perguntarem como é que os países do Sul conseguirão pagar as suas dívidas e reduzir os seus défices públicos, sabendo que não o podem fazer mesmo com taxas de juro de 0%.
    Uma política keynesiana só pode ser aplicada a curto prazo.

    Para os líderes da UE, a Ucrânia merece todos os sacrifícios.
    Os europeus estão a perder em todas as frentes: a Rússia está a esmagar a Ucrânia, a sua economia baseada na produção de matérias-primas estratégicas essenciais para as economias modernas está a florescer, e a UE está literalmente a mergulhar numa crise para o deleite dos americanos.

    • E quem tornou a guerra inevitável?
      1- EUA, ao insistirem em alargar a NATO e provocar e ameaçar ainda mais a Rússia;
      2- restantes países da NATO por aceitarem essas ordens dos EUA;
      3- Nazis ucranianos pois foi quem fez o golpe e ameaçou a vida dos muitos que são anti-golpe Maidana;

      E o que faz a máquina de propaganda (“imprensa livre” ou mainstream merdia) perante isto?
      Mente, manipula, omite, apoia os culpados, torce pela morte das vítimas do Donbass e Crimeia, atira culpa para os últimos a intervir no conflito (Rússia), e ainda tem a lata de calar quem diz a verdade, e de perseguir quem defende a Paz.

      Sim, mais culpado do que quem faz a guerra, é quem a tornou inevitável. Mas olha que a culpa de quem mente sobre a guerra, branqueia Nazis e crimes da NATO, e impede a maioria do povo de saber quem planeou, provocou, tornou inevitável, começou, e recomeçou a guerra violando acordos de paz, é também um cúmplice que merece muita condenação.
      Sem os “jornalistas” dos mainstream merdia, nada disto tinha sido possível
      Portanto, nas mãos dos Rodrigo Guedes de Carvalho, das Ana Lourenço, etc, está também o sangue de todas as mortes que poderiam ter sido evitadas.

      Que o Macro venha agora finalmente dizer que afinal tem que se negociar com a Rússia, tem de haver cedência territorial, e que as suas preocupações de segurança (feitas 2 meses antes da intervenção militar) têm de ser atendidas, só mostra o quão errada tem sido a posição do regime genocida ocidental, o quanto vai ter de mudar e engolir sapos, e o tamanho Record das cambalhotas que os mainstream merdia ainda vão ter de dar.
      É bom lembrar que Macron há 10 meses atrás pedia “só” para que a derrota da Rússia não fosse total e demasiado humilhante.

      Daqui a mais 10 meses, se continuar a pirueta completa, ainda ouviremos Macron a dizer que a Finlândia afinal não pode entrar na NATO, que não podem ir mais armas para a Ucrânia, e a pedir desculpa por ter traído o acordo de Minsk ao ajudar quem o violou.
      Deste ponto de vista, até vai ser engraçado observar as piruetas e cambalhotas.

      E ainda agora está a começar o primeiro inverno desde o “início” desta estória… E ainda agora estão os 300 mil mobilizados a terminar os treinos… E ainda agora começou muito levemente o conflito económico (ainda muito discretamente e com palavras muito tímidas) entre EUA e UE…

      E isto chega a um certo ponto em que já não é como começou, mas sim como acabará.
      Do “nosso” lado, mente-se descaradamente e, quando se descaiem (por exemplo sobre o PROPOSITADOO bombardeamento Ucraniano de falsa bandeira na Polónia, ou a Ursa can der Lata a falar dos 100 mil mortos nas tropas ucranianas), logo apagam tudo e assobiam para o lado. É mentira em cima de mentira. A certo ponto o castelo de cartas começa a ruir!

      Do outro lado a Rússia, mais propaganda menos propaganda, sabe o que está em causa, apoia a intervenção, e é informada sobre a realidade inconveniente: tem havido problemas. Até Putin já o reconheceu. Isto, para mim, foi a confirmação de que a Rússia irá ter uma vitória clara neste conflito. Quem fala abertamente, defende os factos, admite os problemas, e os resolve, é quem fica melhor no final.

      Do lado de “cá”, a Rússia é o diabo, os Nazi afinal são bons, a Crimeia é Ucraniana, a NATO é defensiva, as sanções são legais e funcionam, os 100 mil mortos são do exército Russo, a Rússia bombardeia-se a si própria na central nuclear, nenhuma bomba UcraNaziNato mata civis em Donetsk, e o herói e homem do ano Zelensky é o honesto democrata que está a levar os santos Azov até às vitória, em nome da liberdade.
      Se não fosse caso para chorar, dava para rir com o chorrilho de alarvidades ridículas com que esta gente constrói a narrativa ocidental.

      Agora sei como se devem ter sentido pessoas como Stauffenberg, só não sei se alguém terá coragem e meios para fazer com sucesso uma operação Valquíria…
      É que agora não basta um pequeno explosivo na Toca do Lobo. Há alcateias por todo o lado, e até já um conhecido Judeu Sionista veio dizer que os Nazis ucranianos não são maus porque não matam Judeus, “só” matam outros.
      Este é o nível zero da decência da nossa civilização. Já tínhamos atingido este nível várias vezes na história, nas acho que, em particular na Europa, é a primeira vez que tal acontece com uma conjuntura em que o resto do Mundo tem meios e força para se livrar de nós ou pelo menos nos deixar para trás.

      Na tentativa patética dos EUA de parar a SCO (Rússia + China + Euroásia) de forma a manterem-se número 1 e hegemónicos, a Europa foi derrotada logo na primeira jogada, como um peão descartável. Que gente como Samba Marina venha mesmo assim dizer que a Europa precisa dos EUA, só mostra o nível de traição ou ignorância destes “líderes”.
      E aqui vamos à culpa que mais afecta os Europeus: quem tornou inevitável a implosão de um projecto Europeu de nações soberanas em cooperação para alcançar uma aliança continental com independência estratégica em relação aos EUA.
      Por mim, era por todos os €uropeístas USAtlantistas atrás das grades. Tiraram-nos a soberania, a democracia, a paz, a independência, a decência, a verdade, tiraram-nos 20 anos das nossas vidas, a estabilidade, o crescimento, a distribuição de riqueza, os direitos, o Estado de bem-estar Social, e agora tiraram-nos também o futuro.

      Dito de outra maneira, o povo Europeu está agora a perceber na pele o que é ser vítima do Colonialismo Europeu. Agora que os outros povos já são fortes de mais para colonizar, para assaltar, para aldrabar, as “elites” predatórias ocidentais viraram-se para os próprios plebeus.
      E esta nem é a parte mais triste. A parte mais triste é que o rei vai nu, e os plebeus, todos rotos, batem palmas ao rei, e atiram pedras a quem aponta o dedo e diz a verdade.

      E foram os fanáticos e/ou corruptos €uropeístas USAtlantistas e seus vigaristas amestrados dos Mainstream Merdia quem tornou tudo isto inevitável.
      Quando serão condenados? Ou pelo menos criticados pela maioria, e substituídos por gente decente, honesta, e com princípios?
      A resposta a esta pergunta é a que mais me faz doer o coração: NUNCA – tal é o nível de manipulação e lavagem cerebral e o quão longe chegam os tentáculos desta máquina de corrupção e propaganda. Ao ponto de colocar do mesmo lado um Mário Machado e uma Ana Gomes, uns militantes do BE e uns do Svoboda, gente do país do MFA e gente do país dos Azov, etc.
      Como é que se combate isto?!?

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