Voando sobre um ninho de cucos – IV

(Carlos Esperança, 17/10/2021)

Na observação da ornitologia política a que me propus, antes de regressar aos pássaros de maior porte, vale a pena depenar um pardal da direita dura, Nuno Melo, que pretende substituir o atual presidente da comissão liquidatária, Francisco Rodrigues dos Santos.

O deputado profissional, em Lisboa e Bruxelas, sem possibilidade de euro-deputar, quer deputar em Lisboa, sendo obrigado a disputar a liderança do clube, o CDS, ao Chicão.

Nuno Melo é uma ave canora da capoeira da direita tesa, capturada por Cavaco, Passos Coelho e Paulo Portas, onde Cavaco era considerado um intelectual e Passos Coelho estadista. Pontificavam aí os Drs. Relvas, Marco António e Nuno Melo, quando Cavaco entrou em defunção política, Portas no mundo dos negócios, e Passos Coelho na cátedra universitária que lhe arranjou Sousa Lara, ex-censor de Saramago e futuro porta-voz do partido fascista, e a D. Cristas geria o CDS. Um bando de aves sonoras!

Nuno Melo, independente de direita, entre Salazar e Rolão Preto, em tamanho reduzido, considera o Chicão com falta de maturidade democrática, ele que viu na referência ética e espiritual do ELP e MDLP, o cónego Melo, “uma personalidade com um papel ativo, à sua escala, para a implantação da República tal como hoje (2008) a vivemos”, e que, lastimoso, propôs um voto de pesar à AR, quando do passamento do explosivo clérigo.

O antigo pajem de Paulo Portas viu aprovada contra si uma moção de censura proposta pela direção de Ribeiro e Castro. Nuno Melo voou sempre à direita do seu bando.

Este pardal ficou mudo quando o CDS foi expulso do PPE por conduta antidemocrática e quando a fotografia do fundador, Freitas do Amaral, foi retirada do Largo do Caldas, mas não se coibiu de afirmar que “o VOX não é um partido de extrema-direita” quando logrou obter deputados na Andaluzia com um decálogo programático fascista.

Santana Lopes e Nuno Melo eram os delfins quando Rui Rio, no PSD, venceu a tralha cavaquista e Francisco R. dos Santos, no CDS, foi o insólito herdeiro dos despojos da D. Cristas.

Perante as lutas intestinas da direita, inconformado por não estar mais à direita, nem ter credibilidade eleitoral, para apagar o incêndio que lavrava nas suas hostes, teve de sair dos bastidores o incendiário-mor, D. Marcelo, que agora dirige as operações contra o PS, para já, e contra toda a esquerda no futuro próximo.

Nuno Melo tem grandes hipóteses de voar, muito baixinho, que a envergadura eleitoral não lhe augura grandes alturas, e é o preferido do regente da orquestra que, ansioso, teve de fazer uma OPA amigável dos partidos da direita democrática.

Eanes tentou lançar um partido novo, a D. Marcelo bastou-lhe falar aos microfones para lhe caírem 2 no regaço. Nuno Melo é o ornamento do PSD à espera de entrar para a AR.

Começa a ser intolerável a conduta do PR em relação aos partidos de esquerda. Não lhe permite a fogosidade nem a ambição manter-se na área das suas competências e evitar a intriga e a chantagem, sobre os partidos de esquerda e sobre o eleitorado.

Para já, foi determinante na candidatura de Paulo Rangel e do irrelevante Nuno Melo, mas, enquanto patrocina as aves referidas, devia recolher as asas e as garras.


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O CDS e a extrema direita

(Carlos Esperança, 30/04/2019)

A expulsão do CDS do Partido Popular Europeu (PPE) pelas suas posições reacionárias, incompatíveis com a matriz política dos partidos conservadores e demo-cristãos que o integram, parece esquecida.

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O regresso à família política europeia deve-se aos bons ofícios do PSD, que precisou de se coligar com o CDS, para que Durão Barroso se tornasse PM e pudesse prosseguir a gloriosa carreira, impulsionada pela invasão do Iraque, passando pela presidência da CE e acabando na dourada sinecura de chairman do banco Goldman Sachs, em Londres.
Foi assim que o CDS voltou ao Governo depois da saída do próprio fundador, Freitas do Amaral, inconformado com a deriva antieuropeísta e reacionária do partido que fundara com Adelino Amaro da Costa.

Com Durão Barroso, Santana Lopes e Passos Coelho, o CDS esteve sempre disponível para formar governos de direita, legitimidade que não se contesta. Só a desconfiança na competência da Dr.ª Maria Luís, para ocupar a pasta das Finanças, levou Paulo Portas a pôr em causa a avença. Persiste a lembrança da demissão irrevogável e da farsa da posse da ministra, num governo fantasmagórico, só do PSD. O regresso do CDS, com poderes reforçados de Portas, foi a legalização à posteriori de espetáculo circense protagonizado pelo PSD e o notário privativo, Cavaco Silva.

Com a posse do atual Governo, que a AR impôs a Cavaco, o PSD foi ardendo em lume brando, à espera do Diabo, enquanto Paulo Portas tirou ilações e foi tratar da vida, sem precisar da uma cátedra de favor, deixando o partido à Dr.ª Cristas que, eufórica e com surpreende estridência, se julgou a líder da direita.

Esquecida da sua irrelevância, face ao PSD, começou a declarar-se candidata a PM e a alternativa ao atual governo, convencida de que destruiria o partido de que o seu está condenado a ser satélite.

A deputada, acusadora e ruidosa, sempre pronta para censurar outros partidos, não pode agora remeter-se ao silêncio depois da declaração do candidato do CDS ao Parlamento Europeu ter negado que o VOX espanhol fosse um partido de extrema-direita. Nenhum deles pode ignorar as 100 medidas que o partido fascista apresentou para Espanha onde o carácter antidemocrático, homofóbico e xenófobo atingem o apogeu da demência.

Compreende-se que Paulo Portas finja de morto, face às declarações de Nuno Melo, ou que Adriano Moreira se cale, depois de branqueado o passado, graças à sua inteligência e cultura, como se não tivesse reaberto o Campo de tortura do Tarrafal em 1961. O que não se compreende é o ruidoso silêncio de Assunção Cristas e a manutenção do cabeça de lista em representação de um partido que se diz conservador e democrata-cristão.

Já é tempo de a Dr.ª Cristas cacarejar qualquer coisinha a este respeito, a menos que se identifique com as declarações de Nuno Melo a respeito do VOX.

A líder do CDS não pode limitar-se, com o que aprendeu no ministério da Agricultura, a ensinar os deputados a distinguir um repolho de um eucalipto.


As melhoras, Rio…

(Por Joaquim Vassalo Abreu, 25/02/2019)

Quando chegamos a uma época como esta, pré-eleitoral, eu tenho um estranho fetiche que é o de olhar para os painéis de publicidade que os Partidos e seus líderes decidem exibir e tento descortinar, vislumbrar e mesmo adivinhar as mensagens que eles, mesmo que de um modo subliminar, nos tentam impingir…

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E a verdade é que já vi dois dignos de acerca deles me de debruçar. E, mesmo com algum sacrifício e dor, da responsabilidade dizem que de uns bicos de um papagaio que um nunca vi nem tive, sobre eles me debruçarei…assim como quem diz, percebem?

Da substância do Melo nem me vou alongar muito, pois já muitos o comentaram e eu parece que me atrasei! Nele ele diz que ” A Europa é aqui”! Todos foram pelo óbvio: claro que é porque tu estás sempre aqui, apressaram-se todos a dizer!  Mas é claro que é e se todos o dizem é porque é mesmo e quem sou eu para o contradizer?

Agora, no que diz respeito ao Portugal ., traduzindo : Portugal “ponto” , aí a coisa muda mesmo de figura e eu dou por mim bloqueado: nem ando para trás nem para a frente! Digamos que esbarrei contra aquele “ponto”, ponto acerca do qual ainda não vi uma única palavra escrita! Que raio quererá ele significar?

Que quererá ele significar se não passa de um inócuo simples ponto e não tem acoplado uma simples virgula de modo a se poder dizer que é um ponto e virgula para assim se poder dar sequência ao Portugal, tipo um País situado na extremidade ocidental da Europa; à beira mar plantado e coisas assim…ou então mais um ponto, de modo a ficar dois pontos, significando esses dois pontos depois do tal Portugal um aviso, ou uma lembrança, vá lá, à Europa, avisando-a de que ” A Europa (agora) é aqui”. Mas falhou o “agora”!

O facto é que o Melo esqueceu-se ( eu ter-lho-ia lembrado mas, na sua sobranceria, nem uma ideia me pediu.,.) e assim se desvaneceu para ele aquilo que poderia ter sido uma grande conquista! O que resta é aquela frase seca e isolada do ” A Europa é Aqui”, como que alguém nisso possa acreditar…Só se for para ti, é o que muitos dizem, ó “Dandy” de Joane! Como é que um tipo tão loquaz tanto simplifica?

Ora deste estamos, portanto, libertos (ufa…) mas, ainda hoje mesmo, em chegando a Esposende, naquela primeira rotunda junto ao Continente, que é que eu vejo ali escarrapachado na minha frente, pois fazia a rotunda para  virar à direita para Góios? Um cartaz do Rui Rio, um cartaz que nem na Póvoa ainda exibe, com a sua cara retocada a botox, só pode ser, e sem aqueles prolongados pêlos que lhe escapam atrás, que significam desleixo porque moda não parecer ser, mas que a produção tratou de eliminar, tudo isto em tom alaranjado, tal como as palavras a seguir no mesmo cartaz impressas: “Conto contigo, ou consigo já nem sei, para melhorar Portugal”!

Desde já vos digo que aquele modo tão directo e franco de a mim se dirigir, não tendo tido aquela ousadia do Seguro quando escrevendo-me uma carta a pedir-me ideias me tratou por caro amigo…ele que nunca me tinha visto mais gordo…nem mais magro, ok?, me embeveceu! E verifiquei que, ao contrário do outro, o tal de Seguro, que queria a minha ajuda para ambos mudarmos Portugal, o Rui é mais comedido e só quer “melhorar” Portugal, o que significa que é contra radicalismos bacocos!

Mas nem ele nem os dele pensaram bem no que escreveram pois é bom de ver que ao querer “melhorar” Portugal é porque admite implicitamente que ele goza de boa saúde, está razoavelmente bem de vida e não apresenta sintomas negativos…Então? Quer contar comigo para quê? Para “melhorar” não conte comigo! Ainda se fosse para “mudar”...

Ele e os seus se tivessem escrito “mudar Portugal”, e talvez por lhe terem lembrado qual era a minha receita, não o escreveram, pois tinham por certo conhecimento do que eu disse ao Seguro quando ele aqui há uns anos me mandou aquela célebre carta em que, tratando-me por amigo, me solicitou ideias, que ele sabia que eu tinha, para ambos mudarmos Portugal!

É que eu, depois de muito matutar sobre o assunto, depois de estudar tudo e mais alguma coisa sobre a nossa génese e os feitos da nossa grei, cheguei à revolucionária solução que, de um modo desinteressado e sem reclamar qualquer soldo, enviei ao Seguro…

António, eu sei que tu sabes que eu decidi concorrer às Primárias para te abater mas, ciente que as oitenta ideias que tens não te chegam para nada, o Costa mesmo sem ideias come-te de cebolada, digo-te de uma vez por todas o que penso, e toma nota:

Mudar Portugal para outro País, um assim tipo Holanda seria até interessante mas como tem diques a coisa fica feia e os custos seriam astronómicos…de modo que te sugiro uma solução mais em conta, restringida ao espaço interno e sem aqueles custos de contexto da outra…

Qual? É simples meu caro: Mudas o Minho para o Algarve; o Algarve para Trás os Montes; Trás os Montes para o Ribatejo; o Douro para o Douro pois está muito bem onde está; o Alentejo para a Estremadura e Lisboa para a Corunha…

Lisboa para a Corunha? Mas isso seria tomar a Galiza? Exacto: não é o crescimento por que anseias? Ora aí esta!