Para a bolha mediática, Rui Rio ter-se-ia reinventado no dia em que venceu as eleições internas.
Essa inesperada vitória ter-lhe-ia oferecido uma imparável dinâmica que o levaria ao poder. Quando as sondagens finalmente se alinharam com a bolha mediática e a expressão mais ouvida passou a ser “empate técnico”, o país fora da bolha assustou-se. Se nas autárquicas de Lisboa as sondagens levaram à debandada da esquerda, porque já estava no papo, e o PS perdeu, nas legislativas a esquerda foi a correr votar no PS porque julgou que isto podia ser perdido. E aconteceu uma maioria absoluta que duvido que tenha sido desejada, deixando BE e PCP na penúria e a direita por mais quatro anos na oposição.
Na noite eleitoral, Rui Rio desarmou o sorriso postiço que o acompanhou no último mês e deu-nos, irritado e em alemão, um arzinho genuíno do que seria como primeiro-ministro.
Mas, até lá, fez a melhor campanha que podia ter feito, em contraste com um Costa errático. Só que a vida é o que é. Não atravessamos uma crise económica, o desemprego está em mínimos históricos e a avaliação da gestão da pandemia é boa. É muito difícil incumbentes perderem eleições nestas circunstâncias.
E a memória das pessoas também é o que é. Enquanto forem vivos os reformados do tempo da troika para além da troika e os outros não passarem por coisa pior, o PSD estará colado a Passos Coelho, que, tendo muitos viúvos na bolha mediática, tem muitos traumatizados no país.
Quando sente que eles podem voltar, a maioria mobiliza-se. Sobretudo os mais velhos. Mas a memória vai-se perdendo, como se vê com os jovens.
Quando mais alguns votarem, daqui a quatro anos, a chegada de Costa ao poder será uma longínqua lembrança de infância.
A esquerda que permitiu Costa governar sofreu quatro vagas de derrotas. A primeira é estrutural e atinge o PCP há anos. A segunda resultou do abraço do urso. O PS conseguiu ficar com todos os louros da ‘geringonça’. A terceira veio com o chumbo do Orçamento. Não há maiorias de Governo sem partilha de poder ou um programa comum. BE e PCP nunca quiseram o poder, o PS deixou de querer um programa comum depois da reversão da maioria das medidas da troika. Desde esse momento que Costa quis pôr fim à ‘geringonça’.
Tentou forçar uma rutura em 2018, com a crise dos professores. Depois das eleições de 2019 renegou qualquer apoio do PSD ou acordo de legislatura à esquerda, deixando a porta sempre aberta para uma crise política.
Estava escrito. A pandemia só o adiou.
E o Bloco foi a principal vítima, porque também alimentou o pântano. Por fim, a quarta vaga veio com o voto útil pressionado pelas sondagens.
Com maioria absoluta e o flanco esquerdo enfraquecido, este será um Governo que ficará onde Costa se sente melhor: na companhia do seu ideólogo, o blairista Augusto Santos Silva. Com o PSD persistentemente fraco e pressionado por xenófobos e liberais radicais, o centro ficará vazio.
É para aí que Costa se deslocará, tendo quatro anos para preparar um sucessor que enfrente o até agora inevitável Pedro Nuno Santos. Seja Fernando Medina ou outro qualquer. Esqueçam uma maioria absoluta de diálogo. Isso nunca existiu em lado algum. Mesmo que tenha sido por medo ou por irritação, o voto castigador, tático ou assustado dos eleitores de esquerda deu a Costa o direito a governar sem falar com mais ninguém para além do PS (e só com o PS que lhe interessa). As maiorias absolutas trazem arrogância. Uma maioria absoluta depois de seis anos de poder, liderada por quem, mesmo em minoria, carregou um Cabrita às costas quando isso parecia impossível, trará autossuficiência.
A não ser, claro, que Costa descubra nas próximas autárquicas o pântano de Guterres e decida abalar para a Europa.
Um Parlamento com 12 arruaceiros de extrema-direita não é um Parlamento com um Ventura.
Um Parlamento com oito repetidores de chavões liberais de recorte maoista não é um Parlamento com um Cotrim. Aqueles 20 deputados serão um bálsamo para Costa, que pode manter vivo o perigo real da direita, desprezando um PSD que só daqui a quatro anos quererá escolher um sucessor a sério — talvez Carlos Moedas, que estará no mesmo lugar onde estava António Costa no tempo de Passos. Costa poderá ignorar o flanco esquerdo em perda e desmoralizar uma direita tradicional que só em intervalos chega ao poder.
E aproveitará o crescimento do Chega e do IL em seu favor. Gritará “não passarão” enquanto governa bem ao centro, dialogando consigo mesmo e cristalizando o PS como único verdadeiro partido de poder. Enquanto isso, cresce o que vem fora do “sistema”, que cada vez mais se confunde com o PS e, por isso, com a esquerda. O que aconteceu a França está ao virar da esquina.
É bom lembrar que a vitória do PS se fez quase exclusivamente à custa dos seus antigos parceiros.
A esquerda, toda ela, não tem razões para embandeirar em arco. Perdeu peso eleitoral e está a perder os jovens. Se acham que sou pessimista, o cenário pode ser ainda pior do que pintei. Em vez de Emmanuel Macron, podemos ter François Hollande, que, por de tudo ter, tudo destruiu.
Não vou continuar a discutir o que aconteceu no chumbo do Orçamento. Apesar de ter escolhido ter um governo minoritário que renegou qualquer apoio do PSD ou acordo de legislatura à esquerda para ter maioria, a narrativa de António Costa passou sem dificuldade. Conseguiu impor como normal a ideia de que existe uma maioria parlamentar sem programa comum. Escrevi-o vezes sem conta, desde 2019: se Bloco e PCP permitissem esta situação, seria o partido hegemónico a controlar o momento da crise inevitável, porque nenhuma maioria sobrevive assim. E controlando o timing, controlaria quem seria punido. Permitiram-no e acabaram esfolados.
Mas a derrota do Bloco de Esquerda e do Partido Comunista veio em várias fases. A primeira, estrutural e com razões demográficas e sociológicas, atingiu o PCP. Mas, se quisermos ser rigorosos, depois das enormes perdas do século passado, o declínio até foi estancado, sobretudo com Jerónimo de Sousa. De 2005 a 2015, a CDU mantém uma votação estável, para não dizer igual, subindo de 14 para 17 deputados durante esse processo (a abstenção aumentou).
É com a “geringonça” e o abraço do urso do PS que a queda se torna imparável. De 2015 para 2019, os comunistas passam de 445 mil para 332 mil votos, perdendo 113 mil votos e passando de 17 para 12 deputados. De 2019 para 2022, perdem mais 96 mil votos, passando para 236 mil votos e de 12 para 6 deputados. Em todas as restantes eleições somaram derrotas. Nas autárquicas, passam de 11%, 552 mil votos, 213 vereadores e 34 câmaras, em 2013, para 9,4%, 489 mil votos, 171 vereadores e 24 câmaras em 2017. E, por fim, para 8,2%, 410 mil votos, 148 vereadores e 19 Câmaras, em 2021. Nas europeias, presidenciais e regionais o padrão repetiu-se.
A “geringonça” foi uma tragédia para os comunistas. Porque os eleitores castigaram esta opção de abertura? As coisas não funcionam assim. Os eleitores atribuíram ao PS os ganhos conseguidos por comunistas e bloquistas. E é por isso que entendimentos deste tipo, para além de exigirem um guião claro em que se perceba o papel de cada um, obriga que a liderança no partido hegemónico queira partilhar vitórias, não esvaziar os seus parceiros.
Extraordinariamente, os comunistas, num gesto que ainda não compreendo, acharam, em 2019, que a sua situação ficaria melhor sem acordo. Como já escrevi, é como um trabalhador achar que é mais livre se for precário. Não se pode dizer que o Bloco tenha sido beneficiado eleitoralmente pela “geringonça”. Passa de 10,2%, em 2015, para 9,5%, em 2019. O tombo foi menor porque os seus eleitores teriam uma visão mais utilitária desta cooperação e porque o Bloco, para enorme irritação de António Costa, que o considerava por isso desleal, foi sabendo, até 2018, vender melhor as suas conquistas.
Daqui não concluo que os entendimentos à esquerda sejam mortais para os partidos mais pequenos, apesar da história europeia dar essa indicação geral. Concluo que eles só não o são se a liderança do partido maior tiver como estratégia crescer ao centro e deixar os partidos à sua esquerda tratarem do seu espaço. Mal há competição, os pequenos são engolidos. E neste caso, não havia competição. Havia, sobretudo em relação ao BE, uma vontade de aniquilação. Nenhum entendimento resiste a isto.
Do chumbo do OE ao voto útil
Depois, veio a perda mais recente. O chumbo do Orçamento do Estado, em que António Costa, que preparava esta crise política desde 2019, vendeu melhor a sua narrativa do que aqueles que o puseram no poder em 2015, terá sido responsável por grande parte das perdas. Aí, o grande penalizado terá sido o Bloco, com muito mais vasos comunicantes com o PS.
Mas, se nos fiarmos nas sondagens, que não estou certo que sejam grande indicador, uma parte da perda ainda terá vindo depois, quando elas começam a dar um empate técnico entre o PS e o PSD. Aí, mesmo os bloquistas (mas também comunistas) que não compravam a narrativa do PS sobre o chumbo do Orçamento (e os estudos de opinião dizem que não eram assim tão poucos) foram sugados para o que afinal era um engodo, contribuindo involuntariamente para uma maioria absoluta que seguramente não desejavam.
As perdas do Bloco são impressionantes. Passa de 19 para 5 deputados (com representação em três círculos, em vez de nove). E passa de terceira para quinta força (sexta em representação parlamentar), sendo previsivelmente ultrapassado pelo Chega, mas também pela IL, que até ficou aquém das previsões. Este é o terceiro pior resultado de sempre. Pior, só nos primeiros anos depois da fundação: 132 mil em 1999, 153 mil em 2002, primeiro com dois e depois com três deputados eleitos, sempre abaixo dos 3%
O copo meio cheio, se ele pode existir nesta razia, é a comparação com a outra queda, em 2011, depois do chumbo do PEC IV, de que o BE viria a recuperar em 2015, conseguindo o melhor resultado de sempre. Olhando para os deputados, não é comparável. Na altura, passou de 16 para 8, exatamente metade. Agora, passa de 19 para 5, quase um quarto. Mesmo na percentagem é um pouco pior, apesar de menos mau: passa de 9,5% para 4,5%, menos de metade, enquanto de 2009 para 2011 passou de 9,8% para 5,2%, quase metade.
Quando se passa para os votos (a abstenção caiu), perde cerca de 260 mil votos, enquanto em 2011 perdera 269 mil. Não sendo previsível que tenha conquistado votos à abstenção, não há razões para dizer que não venha a recuperar mais tarde o que perdeu agora, como aconteceu no passado. Depende do BE e das circunstâncias nas próximas eleições.
A troca de líderes
E é aqui que chego ao futuro. Primeiro, o futuro quase imediato. Jerónimo de Sousa é um dos principais responsáveis pela extraordinária resistência do partido nas duas últimas décadas. Chegou a novas pessoas, deu um rosto humano ao discurso muitas vezes pouco flexível dos comunistas. Mas a idade, a saúde e as derrotas dos últimos anos exigem outros rostos. Quanto mais depressa fizer a transição (e estou a pensar no ritmo muito próprio de uma instituição centenária), mais rapidamente o PCP voltará à ofensiva.
Olhando para o cenário, parece evidente que a escolha seja João Ferreira, que com desistências até pode chegar a um grupo parlamentar muito depauperado. Mas o PCP tem as suas próprias evidências e nem sempre se sai mal com elas. Com o Bloco as coisas são ainda mais complicadas. Não acho que Catarina Martins tenha responsabilidades neste resultado. Fez a campanha possível numa situação dificílima, determinada por uma decisão unânime da Mesa Nacional do partido. Mas é óbvio que, até por ter gerido este período, a sua eficácia se perdeu.
Com o disparate tático de terem queimado (intencionalmente?) Marisa Matias numa absurda aventura presidencial, sobra-lhes, que eu veja, Mariana Mortágua. É eficaz no combate tribunício, não sei se é a líder para a reorganização de um partido em que pequenas tendências se sabotam mutuamente. Mas já me enganei, no passado, em relação a Catarina Martins, que levou o BE aos melhores resultados da sua história. No meio, ainda terá de adaptar a uma nova capacidade financeira, o que não vai costuma ajudar à moral.
Na oposição. E agora?
Mas a questão principal não é, para estes quatro anos, a liderança. Com maioria absoluta, uma direita fragmentada e radicalizada e o flanco esquerdo enfraquecido, o terceiro governo de António Costa nada terá a ver com os anteriores. Será muitíssimo mais centrista, para dizer o mínimo. E o PS também. Por medo ou por irritação, os eleitores mais à esquerda deram a Costa o direito a governar sozinho, livre para rumar à direita. A sedução da esquerda far-se-á, muito provavelmente, transformando o Chega no principal inimigo, e ao mesmo tempo governando ao centro. Até pode usar a IL como caricatura, para tudo parecer excelente.
Neste cenário, a ideia do diálogo à esquerda é estultícia. Governos de maioria absoluta não dialogam, quanto muito trocam umas ideias e ouvem uns conselhos. Entendimentos à esquerda não são um fim em si mesmo e dependem da correlação de forças existente. BE e PCP passarão, como é suposto perante estes resultados, para a oposição. E não lhes faltam tarefas. Começaria por duas: garantir que a representação do mal-estar social e político que se sentirá nestes quatro anos e a vigilância redobradamente necessária perante uma maioria absoluta não fica nas mãos da extrema-direita (o PSD, sem o combustível do poder, vai andar muito tempo a apanhar bonés). E trabalhar para que o debate ideológico e um discurso aspiracional mais ambicioso do que a mera gestão rotineira da governação não fica para a IL.
Para isto, o PCP tem de encontrar forças para reanimar alguma da sua adormecida capacidade de mobilização. Um dos problemas da “geringonça” foi repetir o erro habitual da esquerda, que desiste da rua quando está nas instituições. Já o Bloco tem de ressuscitar a sua capacidade de falar para fora da bolha partidária, trabalhar com independentes (muitos terão votado PS circunstancialmente) e voltar a falar para os jovens. Uma novidade: as ditas causas fraturantes já não chegam. Até a direita “liberal” as compra, desde que venham com benefícios fiscais.
BE e PCP têm quatro anos para se reorganizar. A maioria absoluta do PS, que os liberta da pressão tática dos últimos seis anos, torna esse trabalho difícil, mas possível.
Entendam-se!
A tarefa mais improvável para bloquistas e comunistas é, no entanto, a mais óbvia: falarem uns com os outros. É impressionante que partidos que votam mais de 90% das vezes ao lado um do outro, que se dividem apenas em questões internacionais e alguns temas de costumes, não se consigam sentar à mesma mesa sem que seja o PS a juntá-los. Seria injusto dizer que o sectarismo dos dois é equivalente, mas há responsabilidades partilhadas.
A “geringonça” teria sido bem diferente, com conquistas bem maiores, se se tivessem coordenado. A sua divisão foi uma forte aliada de António Costa. E as coisas teriam sido diferentes, em 2019, se tivessem travado juntos o jogo que os tramou. Também a oposição será diferente se conversarem um com o outro. E isso deve ser-lhes cobrado por eleitores e militantes. Não se pedem coligações – a soma pode excluir mais do que junta –, mas coordenação. A alternativa é disputarem migalhas, derrotando-se mutuamente.
A história que começava por “ia tudo tão bem e estes irresponsáveis quiseram deitar o Governo abaixo” funcionou. A que dentro de meses Costa nos vai contar é outra, e vai começar por “afinal não era bem isto com que contávamos…” Aí, claro, vai ser (temporariamente) tarde demais.
Funcionou. Nem ele contava que funcionasse tão bem, mas a história contada por António Costa, que, simplificada, começava por “ia tudo tão bem e estes irresponsáveis quiseram deitar o Governo abaixo”, convenceu uns 90 mil votantes da CDU e 250 mil do Bloco, mais uns 40 mil outros (abstencionistas, restos do PAN), e deu-lhe a maioria parlamentar. 28% dos eleitores comunistas/verdes de 2019 e 51% dos bloquistas convenceram-se que dar maioria ao PS era a melhor forma de preservar o que terão achado ter sido a “geringonça” – aumentos de salário mínimo, pensões e prestações sociais, descida do preço dos transportes e das propinas, salário pago a 100% em período de lay-off. Sejamos claros: ao abandonar quem, à esquerda do PS, obrigou o PS a fazer o que o PS não queria fazer nem em 2015, nem em 2019, e obrigando-o a assumir a política social mais à esquerda que algum governo socialista assumiu desde 1976, estes 340 mil eleitores (40% de quem em 2019 votava à esquerda do PS) entregaram nas mãos de Costa a possibilidade de não ter de negociar mais coisa nenhuma que beneficie a sério quem trabalha, estuda e tem uma reforma – além de não impedir minimamente que negoceie à direita tudo aquilo a pomposamente chama “acordos de regime” (ou “de cavalheiros”, na semântica rançosa de Santos Silva). Com a inflação e a desvalorização do poder de compra dos assalariados e dos reformados, mais a iminente a subida das taxas de juro, vai ser preciso esperar muito pouco para que Costa regresse à austeridade e às políticas neoliberais que a social-democracia assume todas as vezes que grita “crise!” A história que dentro de meses Costa nos vai contar é outra, e vai começar por “afinal não era bem isto com que contávamos…” Aí, claro, vai ser (temporariamente) tarde demais.
Este foi para a esquerda a sério (PCP, Verdes, BE) o preço da colaboração com o PS. Para os que continuam a passar a cassete gasta da ortodoxia do PCP e do radicalismo do BE, recordo que ambos os partidos anteciparam já em 2015 o preço que poderiam pagar por pôr o PS no governo quando ele não tinha os votos para lá chegar, e obrigá-lo a atuar como o partido de esquerda que, nas políticas económicas (recorde de privatizações com Guterres), sociais (legislação laboral de Soares e Sócrates) e na apropriação patrimonial do Estado (governos Guterres e Sócrates), o PS nunca foi. Em 2019 a CDU (perdendo 110 mil votos para o PS) pagou mais esse preço que o BE (60 mil); agora é o inverso: o descalabro da votação do BE assemelha-se ao que sofreu em 2011 em favor de Sócrates (e veja-se para que serviu votar PS então…), enquanto a CDU resiste melhor. Revelador desta expectativa de que o PS mantenha as conquistas que lhe foram arrancadas pela esquerda é a votação na Margem Sul do Tejo, onde se concentra grande parte do eleitorado popular da CDU, onde o PS subiu bem mais (10-11% em alguns casos) que na média nacional (5%) e onde comunistas (e bloquistas) perderam mais que a média.
Em todo o caso, o homem que criticava as vitórias poucochinhas ficará para a história como o recordista destas: subiu ao poder com 32% dos votos, fez-se reconduzir em 2019 com uma das mais baixas vitórias da história do PS e agora obtém a mais barata das maiorias absolutas da história eleitoral (41,7%), bem abaixo da de Sócrates ou as da AD (45%-48%) ou de ambas as de Cavaco (acima de 50%). O único recorde histórico que Costa detinha queimou-o agora: assinar acordos à sua esquerda, negociar com comunistas e bloquistas, derrubando (chamou-lhe ele) um muro que separava a esquerda desde 1975. Ele ainda cá está. É o da leitura da Revolução e daquilo para que serve a democracia que ela criou: constituir a “Vila Morena” em que o povo é quem mais ordena ou “meter o socialismo na gaveta”?
Aos que há 30 anos juram que o PCP vai morrer ou já morreu, e que (re)anteveem a morte do BE ao virar da esquina, lembro que há 20 anos, em 2002, estes partidos juntavam o mesmo meio milhão de votos que têm agora. Em 2015, depois de terem sido eles e não o PS a estar na batalha contra a catástrofe da troika, juntaram um milhão e impuseram a derrota da direita.
Quando Costa começar a dizer que, afinal, não era bem como nos tinha contado, ele que se prepare. O 25 de Abril vai fazer 50 anos, e nós ainda cá vamos estar. Todos.