(Daniel Oliveira, in Expresso, 04/02/2022)

Para a bolha mediática, Rui Rio ter-se-ia reinventado no dia em que venceu as eleições internas.
Essa inesperada vitória ter-lhe-ia oferecido uma imparável dinâmica que o levaria ao poder. Quando as sondagens finalmente se alinharam com a bolha mediática e a expressão mais ouvida passou a ser “empate técnico”, o país fora da bolha assustou-se. Se nas autárquicas de Lisboa as sondagens levaram à debandada da esquerda, porque já estava no papo, e o PS perdeu, nas legislativas a esquerda foi a correr votar no PS porque julgou que isto podia ser perdido. E aconteceu uma maioria absoluta que duvido que tenha sido desejada, deixando BE e PCP na penúria e a direita por mais quatro anos na oposição.
Na noite eleitoral, Rui Rio desarmou o sorriso postiço que o acompanhou no último mês e deu-nos, irritado e em alemão, um arzinho genuíno do que seria como primeiro-ministro.
Mas, até lá, fez a melhor campanha que podia ter feito, em contraste com um Costa errático. Só que a vida é o que é. Não atravessamos uma crise económica, o desemprego está em mínimos históricos e a avaliação da gestão da pandemia é boa. É muito difícil incumbentes perderem eleições nestas circunstâncias.
E a memória das pessoas também é o que é. Enquanto forem vivos os reformados do tempo da troika para além da troika e os outros não passarem por coisa pior, o PSD estará colado a Passos Coelho, que, tendo muitos viúvos na bolha mediática, tem muitos traumatizados no país.
Quando sente que eles podem voltar, a maioria mobiliza-se. Sobretudo os mais velhos. Mas a memória vai-se perdendo, como se vê com os jovens.
Quando mais alguns votarem, daqui a quatro anos, a chegada de Costa ao poder será uma longínqua lembrança de infância.
A esquerda que permitiu Costa governar sofreu quatro vagas de derrotas. A primeira é estrutural e atinge o PCP há anos. A segunda resultou do abraço do urso. O PS conseguiu ficar com todos os louros da ‘geringonça’. A terceira veio com o chumbo do Orçamento. Não há maiorias de Governo sem partilha de poder ou um programa comum. BE e PCP nunca quiseram o poder, o PS deixou de querer um programa comum depois da reversão da maioria das medidas da troika. Desde esse momento que Costa quis pôr fim à ‘geringonça’.
Tentou forçar uma rutura em 2018, com a crise dos professores. Depois das eleições de 2019 renegou qualquer apoio do PSD ou acordo de legislatura à esquerda, deixando a porta sempre aberta para uma crise política.
Estava escrito. A pandemia só o adiou.
E o Bloco foi a principal vítima, porque também alimentou o pântano. Por fim, a quarta vaga veio com o voto útil pressionado pelas sondagens.
Com maioria absoluta e o flanco esquerdo enfraquecido, este será um Governo que ficará onde Costa se sente melhor: na companhia do seu ideólogo, o blairista Augusto Santos Silva. Com o PSD persistentemente fraco e pressionado por xenófobos e liberais radicais, o centro ficará vazio.
É para aí que Costa se deslocará, tendo quatro anos para preparar um sucessor que enfrente o até agora inevitável Pedro Nuno Santos. Seja Fernando Medina ou outro qualquer. Esqueçam uma maioria absoluta de diálogo. Isso nunca existiu em lado algum. Mesmo que tenha sido por medo ou por irritação, o voto castigador, tático ou assustado dos eleitores de esquerda deu a Costa o direito a governar sem falar com mais ninguém para além do PS (e só com o PS que lhe interessa). As maiorias absolutas trazem arrogância. Uma maioria absoluta depois de seis anos de poder, liderada por quem, mesmo em minoria, carregou um Cabrita às costas quando isso parecia impossível, trará autossuficiência.
A não ser, claro, que Costa descubra nas próximas autárquicas o pântano de Guterres e decida abalar para a Europa.

Um Parlamento com 12 arruaceiros de extrema-direita não é um Parlamento com um Ventura.
Um Parlamento com oito repetidores de chavões liberais de recorte maoista não é um Parlamento com um Cotrim. Aqueles 20 deputados serão um bálsamo para Costa, que pode manter vivo o perigo real da direita, desprezando um PSD que só daqui a quatro anos quererá escolher um sucessor a sério — talvez Carlos Moedas, que estará no mesmo lugar onde estava António Costa no tempo de Passos. Costa poderá ignorar o flanco esquerdo em perda e desmoralizar uma direita tradicional que só em intervalos chega ao poder.
E aproveitará o crescimento do Chega e do IL em seu favor. Gritará “não passarão” enquanto governa bem ao centro, dialogando consigo mesmo e cristalizando o PS como único verdadeiro partido de poder. Enquanto isso, cresce o que vem fora do “sistema”, que cada vez mais se confunde com o PS e, por isso, com a esquerda. O que aconteceu a França está ao virar da esquina.
É bom lembrar que a vitória do PS se fez quase exclusivamente à custa dos seus antigos parceiros.
A esquerda, toda ela, não tem razões para embandeirar em arco. Perdeu peso eleitoral e está a perder os jovens. Se acham que sou pessimista, o cenário pode ser ainda pior do que pintei. Em vez de Emmanuel Macron, podemos ter François Hollande, que, por de tudo ter, tudo destruiu.
Agora é que vai ser um fartar vilanagem.
Mais um artigo com muita suposição e tal insustetável leveza na apreciação política
da situação do país e do sentimento dos portugueses que, deixaram de acreditar
nos comentadores vendidos à direita ou aos patrões!!!
Totobola,1×2….Previsões,só no final do campeonato…Têr um líder político que,para além de sêr honesto,tem em seu favôr um palmarés político invejável,causa no mínimo,estranhêza…Não vale a pêna,acreditar no que promete um político em Portugal,é pura perda de tempo….mas,talvêz valha a pêna reflectir,analisar aquilo que o político em causa,já conseguiu….A ponderação o grau de interêsse e vitórias conseguidas por A.Costa,denunciam,o trajecto que quer seguir…Lembra F.Miterrand,”Para cada problêma,há sempre uma solução”,era essa a frase pela qual ficou cohecido !.48 anos de podêr absoluto,com mais 20 anos de cavaquismo,deixam marcas numa sociedade em transição….Ainda muitos eleitores actuais,estão motivados pelo regime do tempo da outra senhora…Os avós ainda influenciam filhos e netos….A memória do mêdo,miséria e analfabetismo ,estão ainda colados a esta geração que tantas convulsões sofreu….Entrada na CEE,fundos europeus,abusos dêsses mêsmos fundos e,uma direita sempre pronta a pôr algum ao bôlso..Especulação,paraísos fiscais,vício por dinheiro fácil e,abusos de tôda a ordem, deram origem á queda da banca nacional sem qualquer controle…Os viciados em dinheiro fácil,querem mais mas o país , já está de tanga…A maioria de Sócrates,em que a direita é relegada para segundo plano,continua a têr mênos dinheiro e congemina o ataque…Lemonsbrothers,crise mundial….Marco António C…envia o peâo Passos “ou avanças,ou voltas para Massamá” e,”vão ao pote”…Com os juros descontrolados nos empréstimos e chumbo do PEClV,Sócrates é forçado á demissão por tôdos….”até tu Teixeira” ?…è depois do descalabro da vinda da troica,da vingança da direita acusando Sócrates que o Costa pega no país e no P.S em mão e reequilibra o partido e o país..Supônho que ninguém tem o direito de duvidar de alguém que ,numa época tão conturbada,tenha feito tanto em tão pouco tempo..Reequilíbrio do partido,e do país,da banca,pagamento de dívida pública com Centêno ,internacionalização e gestão da pandemia..O COSTA não é arrogante,tem mão forte ,sabe o que quer e é manhôso,mas,utiliza essas habilidades em prole do país…Uma maioria,vai permitir.-lhe.esperêmos ,a revisão da já habitual prepotência duma justiça doente,errática e conivente com uma comunicação social mercenária…
Com esta lenga lenga, o BE vai fazer companhia ao CDS
Daniel Oliveira faz-me lembrar uma mãe no juramento de bandeira: vêem o meu filho é o único a marchar direito. Daniel deixe de ver o cisco no olho do outro e olhe para a trave que têm no seu.
Embora tenha lido com grande interesse o artigo de Daniel Oliveira tenho ainda duas perguntas e um receio:
O que significa um sorriso irritado e “em alemão”?!
O que significa “chavões liberais de recorte maoista”?!
Não sabia que o Mao tinha sido um liberal.
Receio que Le Pen seja a sucessora de Emmanuel Macron.