(Por José Gabriel, in Facebook, 26/08/2023)

(Sobre a contratação de estrangeiros para as Forças Armadas, ver notícia aqui.)
A última ideia – chamemos-lhe assim – que aflorou ao córtex cerebral de alguns dos nossos governantes, dizem as notícias, é a de integrar estrangeiros nas nossas Forças Armadas. Soldados, claro, que oficiais superiores e generais temos para dar e vender -mas os infelizes não têm a quem dar ordens.
Logo, durante um recente brainstorming – não foi especificado o que lá se fumou, bebeu ou cheirou – alguém produziu esta proposta brilhante. Acho bem. Já estou a vê-los: a Marinha, poderá promover a formação de uma companhia fuzileiros que, por actuar em meio aquático, se poderá chamar “Mujahidin do Polvo”; os Comandos poderão constituir com os novos maçaricos um “Batalhão Basófia”; a Força Aérea formar, em homenagem ao Apocalypse Now e Coppola, o “Esquadrão Wagner-cavalgada das Valquirias”. E por aí fora.
Tudo correrá bem. Podemos, até, imaginar o capitão berrando para a Companhia: “em frrrreeeente, marche!”, e os comandados, hesitantes, perguntando uns aos outros nas mais bárbaras línguas, qual Torre de Babel, que raio tinha dito o homem.
Isto tem tudo para ser um sucesso. Portugal seria o primeiro país – dos verdadeiros – da Europa a ter verdadeiros mercenários – os da Rússia, da Ucrânia, do Reino Unido, de França e tudo o mais não são mercenários porque não só não são estrangeiros como obedecem a uma cadeia de comando, em última instância, governamental.
Sempre a inovar! Sempre a descobrir! Sempre a liderar! Não é por acaso que Portugal foi colocado pelo Criador na frente da Europa – à esquerda de quem vai. Go west!…
Abram, pois, concursos públicos internacionais! Exijam altura mínima de 1m80cm, experiência de matar bem, quociente intelectual de, pelo menos 120. Peçam referências, claro. Os concursos vão ficar vazios? As exigências são muito duras – e contraditórias?
Abram novo concurso. A altura passa ser facultativa, não é preciso conhecimentos ou experiência anterior – a gente cá ensina -, deem preferência quem tenha um QI inferior a 80, não exijam referências – querem lá saber quem eles são e o que fizeram. Vão ver que vai ser um sucesso.
Se não for, têm de pedir que se alistem aos milhares daqueles clientes inúteis dos chamados “partidos do poder” – chamados assim porque podem fazer o que querem – que estão espalhados aos magotes por serviços redundantes, dão cabo do juízo aos trabalhadores competentes, arrastam os traseiros pelas paredes dos corredores dos ministérios, fazem de assessores especialistas em instituições onde o porteiro tem mais habilitações literárias que eles, e, se não têm competências no uso de armas de fogo, têm no de uso de armas brancas, tal a perícia com que espetam facadas nas costas uns dos outros.
E pronto. Agora não digam que não faço propostas construtivas. Mas atenção: se ultrapassarem esta barreira e importarem militares estrangeiros, tudo, em matéria de contratação, passa ser possível. Podemos abrir concurso internacional para a contratação de ministros, secretários de estado e outras funções soberania – neste caso o primeiro-ministro poderia passar a ser chamado CEO.
E, vendo bem, passa a não haver razão para que o presidente da República não obedeça ao mesmo critério. Assim, podendo ser estrangeiro, eu propunha já Woody Allen que, maltratado que está pelos seus compatriotas, viria a correr. Se não vier, há sempre membros dos Monty Python em boa forma.